sexta-feira, 24 de junho de 2022

 

REENCONTRO ESPIRITUAL COM EVALDO GOUVEIA

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

         De um encontro casual com o colega José Maria Rodrigues Bezerra, hoje com domicílio em Fortaleza, comentei das minhas andanças pela capital Alencarina, a primeira das quais em visita profissional, quando cumpri contrato com a PRE-9, Ceará Rádio Clube (creio ser esse o nome) para apresentações artísticas em sua programação.

         Tinha eu 11 anos e acabara de ganhar um concurso musical na Rádio Poti de Natal – Programa Domingo Alegre, de Genar Wanderley, sagrando-me “Campeão Vic-Maltema 1950”.

         Nessa excursão, que durou 11 dias, tive a oportunidade de ser acompanhado pelo jovem violonista de 22 anos conhecido por Evaldo Gouveia, que também fazia parte da Orquestra do Maestro Mozart Brandão, com a qual gravei um disco.

         No caminhar da emissora para o Elcelsior Hotel, onde estava hospedado, juntamente com o meu empresário Francisco Gomes de Sales trocávamos prosa sobre a vida artística e Evaldo falava da criação de um trio (Nagô), inspirado no Trio Irakitan de Natal, com o qual fiz uma gravação em fita, depois colocada em acetato e que seria a primeira gravação da história do Trio potiguar, do qual os seus integrantes nunca tomaram conhecimento, mas eu guardei e transformei em CD, onde gravei em um lado e ele, o Trio, gravou na outra face.

         Esse assunto, por conhecimentos indiretos foi levado por José Maria até a Senhora Liduina Lessa, viúva de Evaldo que, em carinhoso autógrafo me enviou um exemplar do livro “O que me contou Evaldo Gouveia”, de autoria do escritor cearense Ulysses Gaspar.

         Voltei ao passado, já distante, revi papéis de rádio e a primeira foto oficial do Trio Nagô, oferecida a mim e logo passei a divagar pelo campo da espiritualidade e relembrar a figura ímpar daquele pranteado cantor, cuja viagem final aconteceu em maio de 2020 e então vieram à lembrança as suas canções, em especial as compostas com Jair Amorim: Que queres tu de mim; Sentimental demais; Alguém me disse; Tudo de mim; Brigas; Ave Maria dos Namorados; Ninguém chora por mim; Somos iguais, O Conde; Bloco da Solidão; O Trovador e dezenas de outras, gravadas pelos mais festejados artistas do Brasil.

         Acompanhei a sua carreira e tive a oportunidade de assisti-lo em canto solo  no Projeto Seis e Meia, aqui em Natal, na primeira década do século XXI. Não ousei procura-lo nos bastidores, por absoluto acanhamento.

         Nas minhas reminiscências, descobri uma partitura musical dedicada a mim, da canção “Que Linda Manhã”, da autoria de Luiz Assunção, que pediu para que eu gravasse. Esse cidadão é considerado como detentor de grande atuação e influência no meio artístico cearense e foi muito importante na carreira daquele cantor aqui comentado.

         Caso eu tivesse continuado nos caminhos do rádio, certamente que muitos encontros pessoais teriam acontecido com Evaldo. Contudo a minha saída da vida artística nos colocou em polos diferentes, ficando apenas a boa lembrança e os encontros espirituais ao ouvir as suas maravilhosas canções.

         Nos meus 82 anos de vida tive essa oportunidade de voltar ao passado e reviver momentos de tanta felicidade. Obrigado Deus.

 


quinta-feira, 23 de junho de 2022

  • ATRIBULAÇÕES DE UM PREGADOR 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Veja que beleza de narrativa do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 11.24-33: “Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas. Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase? Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não minto. Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem. E fui descido num cesto por uma janela da muralha e assim escapei das suas mãos”.

Sabe-se que toda a Bíblia, desde o Pentateuco, os cinco livros de Moisés, até o Apocalipse de João, tudo foi inspirado pelo Espírito Santo. A reflexão que ora faço constata que todos aqueles que escreveram a História Sagrada passaram por provação. Principalmente, os escolhidos e convertidos para a propagação da fé após a ressurreição de Jesus. Todos perseguiram os cristãos: judeus, romanos, árabes, mulçumanos, comunistas, nazistas, fascistas etc., etc. 

Mais adiante, no capítulo 12.10, o próprio Paulo ensina: “Sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte. O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Que belíssimo exemplo de humildade e humanidade comum.

Por que essas deduções hoje? Ora, na modernidade do nosso tempo outras perseguições contra o cristianismo se manifestaram através de muitos fatores. Da parte da ciência (a tecnologia está mais a serviço do mal do que do bem), da libidinagem pedagógica dos meios de comunicação (novelas, filmes etc.), da liberalidade da pornografia, dos costumes (casamento entre homossexuais), da negação da divindade de Jesus através de falsas alegações arqueológicas na Terra Santa, da divulgação sistemática da malignidade, modismos religiosos, a mornidão espiritual, a falta de amor pela violência, os efeitos perniciosos do mundanismo na família e a educação materialista no seio da infância e da juventude. 

Esses são poderes diabólicos hodiernos que substituíram a espada, o apedrejamento, a prisão, a crucificação, a deportação e a tortura de antigamente. O cristianismo, os ditames bíblicos, são perseguidos pela inversão e subversão dos valores morais e éticos. Não há mais regra, rumo nem prumo. Tudo está se transformando em bandalheira. A maioria do povo não lê a Bíblia para encontrar, compreender e evitar todos os malefícios. Uma leitura da palavra de Jesus Cristo através dos quatro evangelistas ou dos Salmos de Davi, números 1, 4, 6, 23, 30, 40, 91, 121, 140 e tantos outros, você se sentirá leve e espiritualizado. “Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”, disse Jesus em Mateus 11.30. Vale a pena. Muito mais do que os chatos iguais a Paulo Coelho.

O planeta que hospeda a humanidade está aflito. Não por causa de Deus ou dos elementos naturais que Ele criou. Mas, por culpa do maior predador do universo: o homem. Deus sempre foi misericordioso com o mundo. Tanto antes quanto depois de o seu Filho unigênito ser mutilado na cruz para remissão dos nossos pecados. Sacrifício vicário a fim de que se cumprissem as Escrituras. E Assim caminha a humanidade para a autodestruição numa encruzilhada que nem o gênio e a sabedoria científica dos geógrafos, geólogos, oceanógrafos, geobotânicos, astrônomos, biólogos e ecologistas podem deter ou evitar a catástrofe.

 

(*) Escritor.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

 

NOMES (ESTRANHOS?) DA NOSSA TERRA

 

Diogenes da Cunha Lima

 

Um dia, o mestre Câmara Cascudo, que pesquisava nossos topônimos, perguntou-me sobre o nome, aparentemente contraditório, de Passa e Fica. Respondi que sabia ter sido uma antiga fazenda que dava arrancho a quem se dirigia à Paraíba, acrescentando: com voz de baixo profundo, a boca da Pedra da Boca costuma dizer você passa, mas seu coração fica. O Mestre riu da tirada e passou a me chamar “o menino de Passa e Fica”.

         O nosso Rio Grande foi o primeiro e único por dois séculos. Outro Estado do Sul pediu emprestado o nome e nunca devolveu.

         Recentemente, viralizou, com mais de 400 mil acessos, comentário sobre o tema nas redes sociais do inteligente e bem-humorado Tiago TDog. Ele registrou nomes “estranhos” do RN. Temos um país aqui, “Equador”. “Venha Ver” é outra cidade que opera milagres. O influenciador superou-se fazendo graça com “Jardim de Piranhas”.

         Nomeando cidades, o potiguar homenageia países, Estados brasileiros e até o nosso heroísmo militar.

         A Espanha é celebrada com Barcelona e o Egito com Alexandria. Portugal deu-nos São Gonçalo do Amarante, sede do aeroporto internacional; Macau, que é separado de Hong Kong pelo rio das Pérolas. Uma linda designação, Vila Flor.

Macau daqui faz parte, com Guamoré e Galinhos, do “Roteiro do Cavalo Marinho”. Além das riquezas do chão e do mar, tem rico patrimônio poético. Lembro Gilberto Avelino e Horácio Paiva, entre tantos.  

         Paraná é cidade da Tromba do Elefante, vizinho a Equador. Os dois municípios têm jazimentos de pedras preciosas, como águas marinhas e esmeraldas. Em suas entranhas estão também um louvor à Paraíba, a turmalina paraibana, a mais valiosa dessas gemas.

         Os viçosenses do RN pouco sabem da homônima Viçosa de Minas Gerais, que tem até uma pujante universidade federal. O poderoso São Paulo é topomográfico: São Paulo do Potengi. O Pará está bem entre nós, com a cidade de Parazinho. Temos, ainda, como um pequeno Estado vizinho, o Ceará-Mirim. A minha cidade, Nova Cruz, tem a mesma designação da pernambucana, mas já se chamou Anta Esfolada, com direito a uma lenda comovente. O animal esfolado assombrava os habitantes à noite quando apenas queria uma aproximação. O caçador enterrou a pele da anta nas areias do rio Curimataú e as águas ficaram salobras até hoje.

         O povo do Rio Grande do Norte faz o que quer e até escolhe como grafar. Nada de cedilha, indicado para nomes indígenas. Mossoró e Assu a gente escreve com dois esses. Não o jota, mas o gê anima o rio Potengi.

         A nossa topografia não é inusitada, apenas aproveitamos a inteligência de outros povos.

        

 




O PAÍS DOS PESADELOS

Tomislav R. Femenick - Historiador

 

Houve uma época em que ser brasileiro nos dava orgulho. Aqui e lá fora, o Brasil era um país respeitado, embora que menos conhecido. Tínhamos heróis nos esportes. Pelé iniciava o seu reinado, ainda hoje inabalável. Airton Sena, celebrando mais uma vitória na Fórmula 1 e acenando com a bandeira nacional, era uma visão esperada e comemorada por todos nós. Maria Ester Bueno imperou nas quadras de tênis por três décadas. Acelino “Popó” Freitas, era tetracampeão Mundial de Boxe, fazendo parceria com Eder Jofre.

Nas artes, tínhamos nomes como Jorge Amado – cujos livros foram traduzidos em 49 idiomas e publicados em 80 países – e Mário de Andrade, Joaquim Inojosa, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre e Manuel Bandeira. Na pintura tivemos Anita Malfatti, Portinari, com mais de mais de cinco mil obras, inclusive o monumental painel Guerra e Paz, exibido na sede da ONU, em Nova Iorque. José Panceti pintava suas marinhas.  Na música tivemos o estouro da Bossa Nova, capitaneado por Antonio Jobim (brasileiro até no nome), Vinícius de Moraes e tantos outros. São tantos, que a citação somente dele serve para nomear a todos os outros músicos. Mas vale a pena mencionar Nelson Gonçalves, as irmãs Batista, Francisco Alves e as Rainhas do Rádio, Emilinha Borba e Marlene.  

Nas ciências, despontava a psiquiatra Nise da Silveira, com seu inovador método de terapia por meio da arte, principalmente pintura e música. Lembremos de Mário Schenberg, considerado o maior físico teórico do país, também atuante nas áreas de termodinâmica, mecânica quântica, mecânica estatística, relatividade geral, astrofísica e matemática. Entra também nessa lista Milton Almeida dos Santos, que renovou a percepção da geografia e foi professor das universidades de Sorbonne, Columbia, Toronto, Dar es Salaam, UFBA e da USP. Josué de Castro, com sua Geografia da Fome, e Celso Furtado, com sua Formação Econômica do Brasil, abriram campo para os estudos econômicos e sociais do nosso país.

Aqui, em lugar de destaque, o nosso Luís da Câmara Cascudo. Historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista. Embora tenha passado toda a sua vida em Natal, dedicando-se ao estudo da cultura brasileira, seu nome tem ressonância internacional. Ainda vivo, recebeu comenda da Ordem das Artes e Letras da França, da Real Academia Espanhola, do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia; da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Na política despontavam nomes como Juscelino Kubitschek, Afonso Arinos, Carlos Lacerda, Otávio Mangabeira, San Tiago Dantas, Gustavo Capanema, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, José Maria Alkmin, Adauto Cardoso, Almino Affonso, Petrônio Portella, Paulo Brossard, Jarbas Passarinho, Marcos Freire, Roberto Campos, Nelson Carneiro, Ulysses Guimarães, Pedro Simon, Fernando Henrique Cardoso, Antânio Carlos Magalhães e Darcy Ribeiro.

E hoje, o que temos? Pablo Vittar, Anita, o BBB, um desfile de modelos despudoradas, jogadores celebridades, desmantelamento das instituições de pesquisas e práticas científicas, Tiririca, Romário e obscuridade em nosso futuro.    

Estava bem errada a previsão do judeu-austríaco Stefan Zweig, quando escreveu o seu livro “Brasil, país do Futuro” Nem do passado somos. Talvez sejamos o país dos pesadelos.

Tribuna do Norte.18 jun. 2022

 

PEDALAR PARA A VIDA – Berilo de Castro

PEDALAR PARA A VIDA –

Nesse mundo cheio de modernizações permanentes e constantes, de inovações as mais inusitadas e  inimagináveis; o homem vive a era das viagens turísticas espaciais oferecidas por empresas privadas;  conhecer e passear na lua, “desfrutar” do calor de Marte; enaltecer a precisão da cirurgia robótica; o uso das últimas gerações de ultra computadores, atirando em todas as frentes. Estamos, sim, vivendo o Mundo “Moderno de Charles Chaplin”, que beleza!?

Em uma outra visão, estamos assistindo o aumento substancial da população idosa, graças às simples mudanças nos hábitos de vida, com ênfase para a reeducação alimentar, com a atividade física regular e bem orientada, com a prática da leitura, do exercício da escrita, tudo isso aliado à  imunoterapia vacinal aplicada regularmente, eis a boa e indispensável lição para uma aproveitável longevidade com qualidade de vida, sem grandes custos.

Por outro lado, algo me apareceu na contramão dessa boa abertura de vida saudável. Trafegando na orla praiana de Areia Preta, deparo-me com um exercitante bem aparelhado e confortavelmente montado, locomovendo-se em uma bicicleta elétrica (hoje bike, valei-nos Woden Madruga e Ariano Suassuna). Achei estranho, e voltei a pensar no que havia comentado no início do texto.

Tracei um paralelo e imaginei: se a moda pega, passaríamos a ter que usar motores em máquinas esportivas, aquelas que exigem de nós força, empenho e dedicação para mantermos os músculos, os ossos, enfim, o nosso corpo saudável e a nossa mente sã. Já pensou os barcos de competição (as ioles) munidos de potentes motores? Não teria graça alguma a  disputa dessa regata de rio afora, sem o uso da força da forte musculatura de seus remadores. Já pensou as academias de ginásticas motorizadas (tudo na base da eletricidade), ninguém se exercitaria a contento, as musculaturas não reagiriam tão bem. Tudo elétrico? Ninguém suaria! Não haveria mais esforço! Seria bem estranho e até doentio. Não acha? Lembra bem a história daquele vizinho que pagava ao seu secretário para correr 10 km três vezes por semana por ele e se sentia o “bicho forte e varonil”.

Concluo com um só conselho para o nobre e acomodado morador da orla da praia de Areia Pedra: encoste de uma vez por todas essa bike elétrica e compre uma bicicleta pé duro e “caia” nas ciclovias; vá desfrutar da boa, bela e salutar atividade muscular e ganhar em troco uma longevidade cheia de músculos ativos, mente leve e fresca.

Despreze a sua moderna e sofisticada bike elétrica e ganhe vida pedalando.

 Berilo de Castro – Médico e Escritor,  berilodecastro@hotmail.com.br

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores