Vinte
anos depois
Carlos
Roberto de Miranda Gomes*
No passar do tempo vamos vivendo inúmeras emoções – umas de
conquistas, outras de perdas e mais as que a vida põe em nosso caminho.
Neste dia 27 passado foi o aniversário do meu neto RAPHAEL
ROSSO GOMES ISMAEL FLÔR, filho de Rosa Ligia e Ernesto, estudante de psicologia
da UNI-RN, que adentrou nos 22 anos de existência. Resolvemos comemorar numa
pizzaria, com todas as cautelas de saúde pública, posto que em sua residência
existe uma Senhora enferma e não queríamos constrangê-la com qualquer barulho.
Até aí tudo trivial, mas veio a dúvida – devo sair da rotina
dos presentes? – uma roupinha (roupinha! para quem tem mais de 1,80 e excede aos 100
quilos e já paquera Laura). Dei-me a pensar. Achei a solução, mas tive dúvida
se teria capacidade de realisar a façanha.
Com as mãos trêmulas e a pouca força dos braços, ousei
retirar do porão do esquecimento um caminhãozinho, modelo de 20 anos atrás,
faltando algumas peças, que há muito dormitava debaixo da escada da nossa casa
de Cotovelo.
Fiz a remoção e levei-o ao meu atelier e dei-me a trabalhar
naquele brinquedo que tanto o encantou nos 2 anos de idade. Com régua e
compasso fiz o desenho das peças faltantes, com o restinho do conhecimento que
consegui guardar das habilidades oriundas de um cursinho de desenho por
correspondência (curso Universal) e algum tempo auxiliando meu irmão Moacyr em
seus projetos arquitetônicos.
Tudo bom, mas projetar não é executar e as mãos trêmulas? Mas
algo transcendental ocorreu – a lembrança de THEREZA, em nome de quem daria o
presente, e logo as forças e a paciência foram aparecendo e cerrei, uma a uma,
as peças faltantes. Concluída a tarefa iniciei a pintura seguindo as cores
originais e apenas a carroceria estava sem cor, mas lembrei-me dos caminhões da
minha infância, que tantas vezes vi passar defronte do mercado público de
Macaíba e escolhi a cor verde escuro e a delicada miniatura ficou pronta.
No momento da festa de Rapha fiz a entrega e com muita emoção
minha senti que alguma coisa lhe tocou o coração: ”Vô meu caminhãozinho! – vou
colocá-lo em meu quarto”. Discretamente saí de perto, pois meus olhos não
resistiram às lágrimas atrevidas.
E tudo correu bem na festa com os pais, este avô, a irmã
Gabi, os primos Lucas, Victor, Carlos Neto; os tios Carlinhos e Teta, a amiga
Conceição, a namorada Laura e, naturalmente a presença Dela, in memoriam. Não faltaria de jeito
nenhum!
Obrigado Senhor por mais esse dia de emoção. Um velho conta o
tempo por dia vivido e ontem foi bom demais, ainda mais com a surpresa de
verificar na manhã seguinte, após uma boa noite de sono, que a insulina estava inferior
a 170, fazendo úmidos os olhos.
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* escritor