sábado, 23 de agosto de 2014

REGISTRO, COM TRISTEZA, NA ESPERANÇA DE QUE NÃO SE REPITA

Ficha de Miriam Leitão (ou Amélia) quando foi presa, em 1972 - Matheus Leitão / Arquivo pessoal
RIO — Dois dias depois de ser presa e levada para o quartel do Exército em Vila Velha, cidade próxima a capital Vitória, no Espírito Santo, a jornalista Míriam Leitão, na época militante do PCdoB, foi retirada da cela e escoltada para o pátio. Seu suplício, iniciado no dia 4 de dezembro de 1972, até ali já incluía tapas, chutes, golpes que abriram a sua cabeça, o constrangimento de ficar nua na frente de 10 soldados e três agentes da repressão e horas intermináveis trancada na sala escura com uma jiboia. A caminho do pátio escuro, os torturadores avisaram que seria último passeio, como se a presa estivesse seguindo para o fuzilamento.
— Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero viver”.
Míriam Leitão, 42 anos depois de viver a traumatizante experiência da tortura nos porões do regime, cedeu aos apelos do jornalista gaúcho Luiz Cláudio Cunha. Em longo depoimento divulgado nesta terça-feira pelo portal “Observatório da Imprensa”, ela deu detalhes sobre o que sofreu no quartel de Vitória, e revelou o nome do chefe da equipe de torturadores: Pablo. O mesmo codinome usado pelo tenente-coronel Paulo Malhães, na época agente do Centro de Informações do Exército (CIE), que contou ao GLOBO, há dois anos, que usava em seus interrogatórios uma cobra apelidada de “Míriam”.
Quando a reportagem com Malhães foi publicada, Míriam Leitão emocionou-se e teve vontade de chorar. Ela jamais esqueceu das horas de terror com a jiboia, período em que procurou não se mexer para não atrair o réptil. Porém, num primeiro momento, resolveu esconder sua experiência até dos filhos. Mudou de ideia, recentemente, depois da divulgação de relatórios produzidos pelas Forças Armadas, a pedido da Comissão Nacional da Verdade, nos quais Exército, Marinha e Aeronáutica negaram a ocorrência de “desvios de função” nas suas unidades durante o regime militar.
— Eu vivi o desvio de função — disse.
Leia a íntegra da matéria do Observatório da Impressa aqui.
A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DE MÍRIAM LEITÃO
“Eu morava numa favela de Vitória, o Morro da Fonte Grande. Num domingo, 3 de dezembro de 1972, eu e meu companheiro na época, Marcelo Netto, estudante de Medicina, acordamos cedo para ir à praia do Canto, próxima ao centro da capital. Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía.
Eu tinha dado quatro plantões seguidos na redação da rádio Espírito Santo e já tinha quase um ano de profissão. Eu vestia uma camisa branca larga, de homem, sobre o biquini vermelho. Caminhando pela Rua Sete em direção à praia, alguém gritou de repente:
– Ei, Marcelo?
Nos viramos e vimos dois homens correndo em nossa direção com armas. Eu reconheci um rosto que vira em frente à Polícia Federal. Meu ônibus sempre passava em frente à sede da PF e eu tentava guardar os rostos.
– É a Polícia Federal – avisei ao Marcelo
Em instantes estávamos cercados. Apareceram mais homens, mais um carro. Voltei a perguntar:
– O que está acontecendo?
Eles nos algemaram e empurraram o Marcelo para o camburão. Era uma camionete Veraneio, sem identificação. Eu tive uma reação curiosa: antes que me empurrassem sentei no chão da calçada e comecei a gritar, a berrar como louca, queria chamar a atenção das pessoas na rua. Mas ainda era cedo, manhã de domingo, havia pouca gente circulando. Achava que quanto mais gente visse aquela cena, mais chances eu teria de sair viva. Como eu berrava, me puxaram pelos cabelos, me agarraram para me colocar no carro. Eu, ainda com aquela coisa de Justiça na cabeça, reclamei:
– Moço, cadê a ordem de prisão?
O homem botou a metralhadora no meu peito e respondeu com outra pergunta:
– Esta serve?
As algemas eram diferentes, eram de plástico, e estavam muito apertadas, doíam no pulso. Viajamos sem capuz, eu e Marcelo, em direção a Vila Velha, onde fica o quartel do Exército. Eu ainda achava que não era nada comigo, que o alvo era o Marcelo. Ele estava no quarto ano de Medicina e tinha acabado de liderar a única greve de estudantes do país daquele ano, que trancou por dois dias as aulas na universidade de Vitória e paralisou os trabalhos no Hospital de Clínicas. Achei que estava presa só porque estava indo à praia com o Marcelo.
A Veraneio entrou no pátio do quartel, o batalhão de infantaria. Nos levaram por um corredor e nos separaram. Marcelo foi viver seu inferno, que durou 13 meses, e eu o meu. Sobre mim jogaram cães pastores babando de raiva. Eles ficavam ainda mais enfurecidos quando os soldados gritavam: “Terrorista, terrorista!”. Pareciam treinados para ficar mais bravos quando eram incitados pela palavra maldita. De repente, os soldados que me cercavam começaram a cantar aquela música do Ataulfo Alves: “Amélia não tinha a menor vaidade/
Amélia é que era mulher de verdade”. Só então percebi que minha prisão não era um engano. “Amélia” era o codinome que o meu chefe de ala no PCdoB tinha escolhido pra mim: “Você, a partir de agora, vai se chamar Amélia”. Quis reagir na hora, afinal não tenho nada de Amélia, mas não quis discordar logo na primeira reunião com o dirigente.
O comandante do batalhão era o coronel Sequeira [tenente-coronel Geraldo Cândido Sequeira, que exerceu o comando do 38º BI entre 10 de março de 1971 a 13 de março de 1973], que fingia que mandava, mas não via nada do que acontecia por lá. O homem que de fato mandava naquele lugar, naquele tempo, era o capitão Guilherme, o único nome que se conhecia dele. Ele era o chefe do S-2, o setor de inteligência do batalhão. Todos os interrogatórios e torturas estavam sob a coordenação dele. Ele pessoalmente nada fazia, mas a ele tudo era comunicado. Nesse primeiro dia me deu um bofetão só porque eu o encarei.
– Nunca mais me olhe assim! – avisou.
Fui levada para uma grande sala vazia, sem móveis, com as janelas cobertas por um plástico preto. Com a luz acesa na sala, vi um pequeno palco elevado, onde me colocaram de pé e me mandaram não recostar na parede. Chegaram três homens à paisana, um com muito cabelo, preto e liso, um outro ruivo e um descendente de japonês. Mandaram eu tirar a roupa. Uma peça a cada cinco minutos. Tirei o chinelo. O de cabelo preto me bateu:
– A roupa! Tire toda a roupa.
Fui tirando, constrangida, cada peça. Quando estava nua, eles mandaram entrar uns 10 soldados na sala. Eu tentava esconder minha nudez com as mãos. O homem de cabelo preto falou:
– Posso dizer a todos eles para irem pra cima de você, menina. E aqui não tem volta. Quando começamos, vamos até o fim.
Os soldados ficaram me olhando e os três homens à paisana gritavam, ameaçando me atacar, um clima de estupro iminente. O tempo nessas horas é relativo, não sei quanto tempo durou essa primeira ameaça. Viriam outras.
Eles saíram e o homem de cabelo preto, que alguém chamou de Dr. Pablo, voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me deixaram ali, sozinha com a cobra. Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. Era dezembro, um verão quente em Vitória, mas eu tremia toda. Não era de frio. Era um tremor que vem de dentro. Ainda agora, quando falo nisso, o tremor volta. Tinha medo da cobra que não via, mas que era minha única companhia naquela sala sinistra. A escuridão, o longo tempo de espera,
ficar de pé sem recostar em nada, tudo aumentava o sofrimento. Meu corpo doía.
Não sei quanto tempo durou esta agonia. Foram horas. Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo. O medo era ainda maior porque não via nada, mas sabia que a cobra estava ali, por perto. Não sabia se estava se movendo, se estava parada. Eu não ouvia nada, não via nada. Não era possível nem chorar, poderia atrair a cobra. Passei o resto da vida lembrando dessa sala de um quartel do Exército brasileiro. Lembro que quando aqueles três homens voltaram, davam gargalhadas, riam da situação. Eu pensava que era só sadismo. Não sabia que na tortura brasileira havia uma cobra, uma jiboia usada para aterrorizar e que além de tudo tinha o apelido de Míriam. Nem sei se era a mesma. Se era, talvez fosse esse o motivo de tanto riso. Míriam e Míriam, juntas na mesma sala. Essa era a graça, imagino.
Dr. Pablo voltou, depois, com os outros dois, e me encheu de perguntas. As de sempre: o que eu fazia, quem conhecia. Me davam tapas, chutes, puxavam pelo cabelo, bateram com minha cabeça na parede. Eu sangrava na nuca, o sangue molhou meu cabelo. Ninguém tratou de minha ferida , não me deram nenhum alimento naquele dia, exceto um copo de suco de laranja que, com a forte bofetada do capitão Guilherme, eu deixei cair no chão. Não recebi um único telefonema, não vi nenhum advogado, ninguém sabia o que tinha acontecido comigo, eu não sabia se as pessoas tinham ideia do meu desaparecimento. Só três dias após minha prisão é que meu pai recebeu, em Caratinga, um telefonema anônimo de uma mulher dizendo que eu tinha sido presa. Ele procurou muito e só conseguiu me localizar no fim daquele dezembro. Havia outros presos no quartel, mas só ao final de três semanas fui colocada na cela com a outras presas: Angela, Badora, Beth, Magdalena, estudantes, como eu.
Fiquei 48 horas sem comer. Eu entrei no quartel com 50 kg de peso, saí três meses depois pesando 39 kg. Eu cheguei lá com um mês de gravidez, e tinha enormes chances de perder meu bebê. Foi o que médico me disse, quando saí de lá, com quatro meses de gestação. Eu estava deprimida, mal alimentada, tensa, assustada, anêmica, com carência aguda de vitamina D por falta de sol. Nada que uma mulher deve ser para proteger seu bebê na barriga. Se meu filho sobrevivesse, teria sequelas, me disse o médico.
– A má notícia eu já sei, doutor, vou procurar logo um médico que me diga o que fazer para aumentar as chances do meu filho.
Mas isso foi ao sair. Lá dentro achei que não havia chance alguma para nós. Eu era levada de uma sala para outra, numa área administrativa do quartel, onde passava por outras sessões de perguntas, sempre as mesmas, tudo aos gritos, para manter o clima de terror, de intimidação. Na noite seguinte, atravessei a madrugada com uma sessão de interrogatório pesado, o Dr. Pablo e os outros dois berrando, me ameaçando de estupro, dizendo que iam me matar. Um dia achei que iria morrer. Entraram no meio da noite na cela do forte para onde eu
fui levada após esses dois dias. Falaram que seria o último passeio e me levaram para um lugar escuro, no pátio do quartel, para simular um fuzilamento. Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero viver”.
Um dia, um outro militar, que não era nenhum daqueles três, botou um revólver na minha cabeça e falou: “Eu posso te matar”. E forçou aquele cano frio na minha testa. Me deu um sentimento enorme de solidão, de abandono. Eu me senti absolutamente só no mundo. Pela falta de notícias, imaginava que o Marcelo estava morto. Entendi que iria morrer também e que ninguém saberia da minha morte, pensei. Mas não quis demonstrar medo. Lembro que o homem do revólver tinha olhos azuis. Olhei nos seus olhos e respondi: “Sim, você pode pode me matar”. E repeti, falando ainda mais alto, com ar de desafio: “Sim, você pode!”
Um dos interrogatórios foi feito na sala do capitão Guilherme, o S-2 que mandava em todos ali. Era noite, ele não estava, e me interrogaram na sala dele. Lembro dela porque havia na parede um quadro com a imagem do Duque de Caxias. Estava ainda com o biquíni e a camisa, era a única roupa que eu tinha, que me protegia. Nessa noite, na sala, de novo fui desnudada e os homens passaram o tempo todo me alisando, me apalpando, me bolinando, brincando comigo. Um deles me obrigou a deitar com ele no sofá. Não chegaram a consumar nada, mas estavam no limite do estupro, divertindo-se com tudo aquilo.
Eu estava com um mês de gravidez, e disse isso a eles. Não adiantou. Ignoraram a revelação e minha condição de grávida não aliviou minha condição lá dentro. Minha cabeça doía, com a pancada na parede, e o sangue coagulado na nuca incomodava. Eu não podia me lavar, não tinha nem roupa para trocar. Quando pensava em descansar e dormir um pouco, à noite, o lugar onde estava de repente era invadido, aos gritos, com um bando de pastores alemães latindo na minha cara. Não mordiam, mas pareciam que iam me estraçalhar, se escapassem da coleira. E, para enfurecer ainda mais os cães, os soldados gritavam a palavra que enlouquecia a cachorrada: “Terrorista, terrorista!...”
As primeiras três semanas que passei lá foram terríveis. Só melhorou quando o Dr. Pablo e seus dois companheiros foram embora. Entendi então que eles não pertenciam ao quartel de Vila Velha. Tinham vindo do Rio, é o que chegaram a conversar entre eles, em papos casuais: “E aí, quando voltarmos ao Rio, o que a gente vai fazer lá...” Isso fazia sentido, porque o quartel de Vila Velha integra o Comando do I Exército, hoje Comando do Leste, que tem o QG no Rio de Janeiro.
Quando o trio voltou para o Rio, a situação ficou menos ruim. Eles já não tinham mais nada para perguntar. Me tiraram da cela da fortaleza e me levaram para a cela coletiva. Foi melhor. Na cela do forte não havia janelas, a porta era inteiriça
e minhas companhias eram apenas as baratas. Fiz uma foto minha, agora em 2011, ao lado da porta.
Até que chegou o dia de assinar a confissão, para dar início ao IPM, o inquérito policial-militar que acontecia lá mesmo, dentro do quartel. Me levaram para a sala do capitão Guilherme, o S-2, e levei um susto. Lá estava o Marcelo, que eu pensava estar morto. Os militares saíram da sala e nos deixaram sozinhos. Quando eu fui falar alguma coisa, o Marcelo me fez um sinal para ficar calada. Ele levantou, foi até a parede e levantou o quadro do Duque de Caxias. Estava cheio de fios e microfones lá atrás. Era tudo grampo.
Depois disso, o Marcelo foi levado para o Regimento Sampaio, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, e lá ficou nove meses numa solitária. Sem banho de sol, sem nada para ler, sem ninguém para conversar. Foi colocado lá para enlouquecer. Nove longos e solitários meses... Nós, todos os presos, e os que já estavam soltos nos encontramos mais ou menos em junho na 2ª Auditoria da Aeronáutica, para o que eles chamam de sumário de culpa, o único momento em que o réu fala. Eu com uma barriga de sete meses de gravidez. O processo, que envolvia 28 pessoas, a maioria garotos da nossa idade, nos acusava de tentativa de organizar o PCdoB no estado, de aliciamento de estudantes, de panfletagem e pichações. Ao fim, eu e a maioria fomos absolvidos. O Marcelo foi condenado a um ano de cadeia. Nunca pedi indenização, nem Marcelo. Gostaria de ouvir um pedido de desculpas, porque isso me daria confiança de que meus netos não viverão o que eu vivi. É preciso reconhecer o erro para não repeti-lo. As Forças Armadas nunca reconheceram o que fizeram.
Nunca mais vi o capitão Guilherme, o S-2 que comandou tudo aquilo. Uma vez ele apareceu no Superior Tribunal Militar como assessor de um ministro. Marcelo foi expulso do curso de Medicina, após a prisão, e virou jornalista. Fomos para Brasília em 1977. Por ironia do destino, Marcelo só conseguiu vaga de repórter para cobrir os tribunais. E lá no STM, um dia, ele reviu o capitão Guilherme. Depois disso, não soubemos mais dele. Nem sei se o S-2 ainda está vivo.
O que eu sei é que mantive a promessa que me fiz, naquela noite em que vi minha sombra projetada na parede, antes do fuzilamento simulado. Eu sabia que era muito nova para morrer. Sei que outros presos viveram coisas piores e nem acho minha história importante. Mas foi o meu inferno. Tive sorte comparado a tantos outros.
Sobrevivi e meu filho Vladimir nasceu em agosto forte e saudável, sem qualquer sequela. Ele me deu duas netas, Manuela (3 anos) e Isabel (1). Do meu filho caçula, Matheus, ganhei outros dois netos, Mariana (8) e Daniel (4). Eles são o meu maior patrimônio.
Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro democrático do país. (Depoimento a Luiz Cláudio Cunha).
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sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Santiago discípulo de Jesus

José Eduardo Vilar Cunha
Jornalista e escritor

Em Santiago de Compostela tive a oportunidade de observar nos peregrinos, após longas e exaustivas caminhadas, a emoção que eles demonstravam, ao avistar na entrada da “Plaza do Obradoiro” a gloriosa catedral de Santiago. A nitidez resplandecente em suas faces sinalizava um sentimento de fé, de esperança, que fluía de uma maneira sublime, irradiando luz e iluminando todos nós, cristãos.

A história nos reporta que Santiago Maior, um dos doze discípulos de Jesus, após a sua crucificação, viajou para a região da Galícia, península Ibérica, cujo intuito era divulgar as mensagens do Mestre. Passaram-se anos e ao retornar a Palestina, o apóstolo foi decapitado, por ordem do rei Herodes Agripa e, em seguida, o seu corpo foi lançado às feras, dilacerado foi piedosamente recolhido pelos discípulos Teodoro e Atanásio.

Conta à lenda que Santiago foi colocado em um ataúde de pedra e transportado em um navio de volta às terras ibéricas sendo sepultado na cidade de Iria Flavia.

Um monge denominado Pelayo, por volta do ano 813, isolou-se em um bosque para viver como eremita. Certo dia, ele vislumbrou uma chuva de estrelas cadentes e seguindo aquele fenômeno, deparou-se com um antigo cemitério. Para aquele fenômeno denominou de "campo de estrelas", que em latim chama-se campus stellae, daí a origem da palavra Compostela, todavia, existem muitas outras versões para o nome Compostela.

  O bispo galego Teodomiro informado do ocorrido, dirigiu-se ao local e verificou que havia um sepulcro de pedra com inscrições e as identificou como sendo de Santiago Maior e dos discípulos, Teodoro e Atanásio.

O rei de Astúrias, Alfonso II, o Casto, ao tomar conhecimento da descoberta, ordenou a construção de uma capela de pedra sobre o sepulcro, no ano 829. A notícia da descoberta do túmulo espalhou-se rapidamente por toda parte, fazendo com que Compostela se tornasse um novo lugar de peregrinação da cristandade.

A invasão islâmica da península Ibérica iniciou a partir de 711 e nos séculos seguintes, os muçulmanos foram aumentando as suas conquistas na península, chegando a Santiago no ano 997. No combate contra os galegos o antigo templo sobre o túmulo de Santiago foi destruído e incendiado pelos mouros sob o comando de Abu Amir al-Mansur, conhecido como Almanzor.
  Muitos acontecimentos ocorreram naquela época, e, somente, entre os anos de 1075 a 1128 é que uma nova catedral de Compostela foi construída, justamente durante a reconquista cristã e é a que perdura até dias de hoje.

Em Compostela, participei da missa do peregrino que, normalmente é realizada ao meio dia. A catedral estava repleta de peregrinos em busca de uma benção, de uma proteção divina. Durante a celebração, realiza-se o ritual do “Botafumeiro” que é um turíbulo com muita fumaça e incenso que balança como pêndulo purificando o ambiente.

A gastronomia em Santiago é variada, apetitosa e interessante. O prato mais tradicional é o Pulpo a la Gallega, ou polvo a galega. Trata-se de um prato de polvo temperado com azeite, sal e pimenta. Os frutos do mar como mexilhões, ostras, caranguejos, camarões e lagostas, além do peixe que é de ótima qualidade, fazem parte desta culinária. Agora, para acompanhar todas essas iguarias é necessário um bom vinho galego e, não podia deixar de ser, o vinho Alvarinho branco.


COMEMORAÇÃO DO DIA DO FOLCLORE
(22 DE AGOSTO DE 2014) 
Festa de Reis, Procissão do Fogaréu e Saci-Pererê
Festa de Reis, Procissão do Fogaréu e Saci-Pererê

Dia do Folclore

 
     
     

Podemos chamar de folclore aquilo que é fantasia, invenção de um povo, onde são envolvidas suas tradições, costumes e lendas.
São as manifestações populares que podem aparecer em festas, alimentos, remédios, crenças, superstições, danças, contos populares, provérbios, adivinhações, apelidos, artigos de artesanato, brincadeiras infantis, dentre várias outras.
Esses elementos folclóricos são transmitidos de pai para filho, de geração a geração, sem que se percam ao longo do tempo. Variam de região para região, de grupo social, de etnia.
A palavra folclore é derivada das palavras “folk e lore”, que significam povo e conhecimento, respectivamente.
O surgimento da data se deu através do arqueólogo inglês William John Thoms, onde o mesmo resolveu fazer um estudo sobre as tradições e lendas do seu país, solicitando apoio a uma revista de Londres.
Para isso, William não usou seu nome, mas o pseudônimo de Ambrose Merton, pois temia não ser entendido. A revista publicou a carta no dia 22 de agosto de 1846, motivo pelo qual foi escolhido como o dia do folclore.
O folclore brasileiro se originou através da mistura de diferentes raças, como dos índios, dos negros e dos brancos que colonizaram nossa terra. A mistura dos conhecimentos de cada uma dessas raças foi sendo transmitida para a outra, formando nossa identidade cultural.
Os personagens folclóricos mais conhecidos da nossa cultura são: o Curupira, o homenzinho que vive nas florestas, tem os pés voltados para trás, cabelo vermelho e que protege a natureza dos homens que tentam destruí-la; o Saci-Pererê, negrinho de uma perna só, que usa uma carapuça vermelha e fuma cachimbo, faz travessuras, esconde objetos, entra em redemoinhos e também assusta pessoas que tentam destruir as florestas; o Boto é uma espécie de peixe que se transforma em homem, para encartar as moças, levando-as para morar com ele nos rios do Amazonas; e a mula-sem-cabeça, uma mulher que fez tanto mal que a própria natureza a fez soltar fogo pelo pescoço, como castigo.
Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola
 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014


 
Comerciantes enviaram ao Portal No Ar uma lista informal de alguns estabelecimentos que foram assaltados recentemente:

Fogo & Chama – 1
Açai do Grilo – 7
Toca do Açaí – 2 (em 15 dias)
Koneway – 1
Habbib’s – 1
Carlota Bistro – 1
Jatobar – 1
Pastelanche – 1
Churraspetto – (perdeu as contas)
Pizza da Vila – 1
Pizzaria Siciliana – 1
Quintal Pizzaria – 1
O Beco – 1
Old Five – 2
Cozinharia – 1
Terraço Espetinhos – 1
Manoa Loja Seaway – 1
Boca da Noite – 1
Bob’s – 1
Cachorro Quente do Josuel – 1
Barbearia Edson Carlos – 1
Jussara Coifeur Salão – 2
Bari Palesi – 1
Espetinho do Lucas – 1
Takami – 1


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

COMEMORAÇÃO DO DIA DO FOLCLORE
(22 DE AGOSTO DE 2014)


PERDÃO


terça-feira, 19 de agosto de 2014

CONVERSA DE ALPENDRE
Fórum de Genealogia de Famílias do Brejo, Sertão e Seridó
Homenagem póstuma ao genealogista SEBASTIÃO DE AZEVEDO BASTOS
João Pessoa - Paraíba

segunda-feira, 18 de agosto de 2014



O BÁLSAMO CULTURAL ALIVIANDO NOSSA
PASSAGEM TERRENA
 
Por Flávio Rezende*
 
         Toda viagem agrega uma série de acontecimentos. As mais comuns, que carregam nosso ser em deslocamentos curtos e locais, exigem apenas pequenas providências e, muitas delas, são realizadas praticamente no piloto automático, uma vez que ficamos tão condicionados aos roteiros repetidamente utilizados, que os seguimos sem nem mesmo pensar a respeito das curvas e sinalizações existentes.
         As viagens mais longas exigem atenção mais apurada, posto que nos remetendo ao novo, pedem um olhar mais atento, uma mala que substitui o guarda-roupa e vigilância para evitar que os malfeitores se interponham em nosso roteiro, transformando o bem bom num baixo astral daqueles.
         Tenho viajado bastante, colocando em prática real aquela música dos Novos Baianos que em bela letra revela, “vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta...”.
         Num desses deslocamentos, nem tão automático e nem tanto vigilante, fui bater na bela praia da Pipa, pertinho de Natal, recanto que albergou parte de minha juventude, onde maconha, surf, comida enlatada, água de coco e cerveja gelada, eram tão presentes quanto o sol e as moças bonitas, numa mistura emoldurada por rock progressivo e MPB e que deixou até hoje, boas recordações de um tempo muito interessante e bem curtido.
         Neste deslocamento pude presenciar e participar graças à bondade da amiga Yanna Medeiros, do Festival Literário da Pipa, conhecido como Flipipa. Foi puro encantamento. O desfrute da pousada Bicho Preguiça com Deinha e Mel, o banho de mar, o passeio pela rua principal e, o êxtase de ouvir palestrantes, bebendo cultura e me alimentando de conversas paralelas de teor literário, reavivaram em meu ser, o grande e fantástico prazer das coisas culturais, dando novo ânimo a minha vida e imantando potente satisfação a meu viver.
         Ouvir pessoas interessantes, falando de coisas legais, sorrir internamente em prazeroso gozo de absorção de saberes, é uma coisa extraordinária, mostrando mais uma vez para este escrevinhador, o quanto é importante e necessário este processo nutricional de alimentação cultural, tão salutar quanto as demais formas de sobrevivência, tais como respirar e comer, uma vez que um ser sem o usufruto da informação que edifica, é um ser sem essência, ficando faltando algo, como se sem alma passasse por sua existência material.
         A praia da Pipa vai nos brindar novamente com esse tipo de alimentação, agora na incrível área da música, aquele setor onde essa nutrição essencial adquire igual potência. Lá vai ocorrer, de 21 a 24 deste mês de agosto, o Fest Bossa & Jazz, tão bem organizado pela amiga Juçara Figueiredo, que promete colocar no palco gente muito boa do jazz como Street Band, Ricardo Silveira Quarteto, Mark Rapp Quartet, Rogério Pitomba, Nuno Mindelis, Camila Masiso, Marcos Valle, Roberto Menescal, Glen David Andrews Band, Sambossamba & Blues, Jaques Morelenbaum & Cello Samba Trio e o Eric Gales.
         Gente da qualidade de Dácio Galvão, Juçara Figueiredo, Yanna Medeiros e outros produtores e fomentadores culturais da cidade como Marcelo Veni, Diana Fontes, Zé Dias, Gustavo Wanderley, Zelma Furtado, Toinho Silveira, Candinha Bezerra, Jomardo Jomas, Daniel Rezende, Margot Ferreira, Claudia Soares, Alexandre Dunga, Jorge Elali, Abmael Silva, Carito Cavalcanti, Rodrigo Cruz, Alexandre Barros, William Collier, Ivonete Albano, Buca Dantas, Daliana Cascudo, Civone Medeiros, Laumir Barreto, Carlos Fialho, Marcílio Amorim, Cinthya Lopes, Yuno Silva, João Hélio, Fernando Mineiro, Hugo Manso, Neiwaldo Guedes, Franklin Jorge, Conrado Carlos, Marcos Sá de Paula, Marília Sá, Chico Guedes, Véscio Lisboa, Rejane Souza, Nalva Melo e Jeane Bezerril, entre tantos outros que me anistiem pela falta de memória momentânea, além de entidades culturais, deveriam ser reverenciados, uma vez que fornecedores de alimentação da melhor qualidade para nossas vidas tornam as passagens por estas paragens mais interessantes e agregam valor de alto nível ao nosso existir terreno.
         Quando escolhemos um destino para jogar nossos corpos, se nele estiver inserido o item cultura, pode colocar no automático e relaxar quanto à segurança, certamente você vai levitar e no fim achar, que valeu a pena ter estado ali para viajar numa fina estampa de alto valor espiritual, carnal e emocional.

* É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)



Excelentíssimo(a) Senhor(a),

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Norte, por
seu Presidente Sérgio Eduardo da Costa Freire, tem a honra de convidar
Vossa Excelência, para abertura da VII Conferência Estadual do Advogado,
que tem como tema “Direito e Democracia: A Construção da Identidade
Brasileira”, a ser realizada no dia 20 de agosto de 2014, às 17 horas,
no auditório do Praia Mar  Natal Hotel.
Aproveito a oportunidade para agradecer a Vossa Excelência pelo
tratamento especial e cortês dispensado a OAB-RN.
Sem mais para o momento, apresento votos de consideração e apreço.

Cordialmente,

            Sérgio Eduardo da Costa Freire
                  Presidente da OAB-RN




Programação

Quarta-feira - 20 de agosto de 2014 - 16h

•Credenciamento
•17h - Solenidade de abertura
•18h - Mesa Inaugural
•"A Contribuição da Advocacia para o Quinto Constitucional."
•1. Presidente da mesa - Sérgio Eduardo da Costa Freire - Presidente da
OAB/RN
•2. Marcus Vinícius Furtado Coelho - Presidente do Conselho Federal da
OAB
•3. Conselheiro Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira – CNJ
•Homenagem: 100 anos de Miguel Seabra Fagundes


Quinta-feira - 21 de agosto de 2014 - 14h30

•Segunda Mesa
•"Educação Jurídica: Consolidando bases sustentáveis para o futuro."
•1. Presidente da mesa - Prof. Lúcio Teixeira dos Santos – Comissão de
Ensino Jurídico /CFOAB
•2. Prof. Adilson Gurgel de Castro - Comissão de Ensino Jurídico /CFOAB
•3. Professora Solange Moura - Coordenadora Nacional dos Cursos de
Direito da Estácio
•Homenagem: 100 anos de Otto de Brito Guerra


Quinta-feira - 21 de agosto de 2014 – 17h

•Terceira Mesa
•"1964/2014, 50 anos depois - do Brasil que temos ao Brasil que
queremos."
•1. Presidente da mesa – Marcos José de Castro Guerra - OAB/RN
•2. Felipe Santa Cruz - OAB/RJ
•3. Henrique Mariano – Comissão Nacional da Verdade/CFOAB
•Homenagem: 110 anos de João Maria Furtado


Quinta-feira - 21 de agosto de 2014 – 19h30

•Quarta Mesa
•"Um projeto Sustentável de Segurança Pública."
•1. Presidente da mesa - Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira – CNJ
•2. Marcello Lavenère Machado - ex-presidente do CFOAB
•Homenagem: Hélio Xavier de Vasconcelos
•21h às 23h – Happy Night no Peppers Hall
•                        Entrada gratuita para os conferencistas, depois
das 23h será reservado camarote para os participantes da Conferência da
OAB. Consumação a parte.


Sexta-feira - 22 de agosto de 2014

•9h - Direito Eleitoral
•Palestrante: Edilson França (Advogado e Coordenador do Comitê 9840)
•10h – Solenidade de entrega de carteiras
•Encerramento


*Programação sujeita à modificação

domingo, 17 de agosto de 2014

POEMAS DE VIDA E DE AMOR



quando em mim perder a humanidade
 (Manuel Maria Barbosa l’Hedois Du Bocage)

Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia  o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrõ
es, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."
 _________________
Colaboração de Wellington Leiros





AMOR NA PAISAGEM DA VIDA
Ivam Pinheiro.

Uma única e linda paisagem
Certeza de que você voltou.
Miragem que flui à margem,
Sei que o afeto é o mesmo.
O nosso viver e o vivo amor
Sereno segue a bom termo.

Nossos corações pedem luz,
Desejo de querer bem mais.
Paixão para sempre ter você,
Flash de paisagem que seduz.
Como é bom te amar em paz
E alumiar de bom dia o viver.

Uma paisagem e nosso amor
Doce viagem no bem querer.
E o ritmado toque da emoção 
Colhem alegrias de luz e flor.
Refeitos beijos de puro prazer
São encantos reais no coração.
 
Thiago de Mello
Pérez Alencart considera que “Desde ‘Silencio y palabra’ (1951) la obra toda de Thiago de Mello atiende a las veinticuatro horas del hombre y su entorno, selvas y ríos y carnalidades necesitando de su lenguaje para manifestar un otrora clamor enmudecido. Con él la poesía cívica de Brasil se hace universal; con él también la ternura hacia los prójimos alcanza distinción mayor; con él la querencia o el ovidiano arte de amar  edifica memorables ‘criaturas’ que alcanzarán lo porvenir. Difícil sencillez la suya, hecha a base de sentir y trabajar y trabajar…”.
 
LOS FUNDAMENTOS
 
La leyenda, por ser leyenda, es verdadera.
 
Por ello diré que, aunque transmitida
por mi boca – ciénaga de engaños –
es de verdad la herencia que te dejo.
Por verdadera, penetra sobre el tiempo
de las cosas sucedidas que ella cuenta,
de las cuales en el mundo no existen señales.
 
Solo declaran su tiempo cosas concluidas,
las que perdieron habla pero balbucean
cuando, por locos, vamos despertándolas
en sus tristes tumbas abiertas.
Los ojos inmutables de la verdad
nos espían planeando sobre el tiempo.
 
Pena, no obstante, que no quede sombra o rastro
de lo que floreció en los dominios de la leyenda.
Por más que se anden leguas y se excaven
planicies y peñascos se derrumben,
no se encuentran vestigios, salvo de los dos
que, hermanos de la leyenda, permanecen intactos:
el hombre y el mundo – siempre recusados
porque son evidentes, son las únicas
señales que prueban todas las verdades.
 
La leyenda, por ser leyenda, es verdadera.
Pues lo propio de las leyendas es la verdad.
 
 
EL AMARGO APRENDIZAJE
 
Llega un día en que el día se termina
antes que la noche caiga por completo.
Llega un día en que la mano, ya en el camino,
de pronto se olvida de su gesto.
Llega un día en que la leña ya no alcanza
para encender el fuego de la chimenea.
Llega un día en que el amor, que era infinito,
de pronto se acaba, de repente.
 
Fuerza es saber amar, cerca o distante,
con el encanto de la rosa libre en el tallo,
para que el amor herido no se acabe
en la eternidad amarga de un instante.
 
 
EL PAN DE CADA DÍA
 
Que el pan encuentre en la boca
el abrazo de una canción
construida en el trabajo.
No el hambre fatigada
de un sudor que corre en vano.
 
Que el pan del día no llegue
sabiendo a regusto de lucha
y a trofeo de humillación.
Que sea la bendición de la flor
festivamente cogida
por quien dio ayuda al suelo.
 
Más que flor, sea fruto
que maduro se ofrece,
siempre al alcance de la mano.
De mi mano y de la tuya.
 
Valparaíso,
enero del 63.