sexta-feira, 5 de novembro de 2021

 


VOCÊ É AQUILO QUE APROVA

Valério Mesquita*
As minhas sensações se revezam depressa. Por mais que me esforce, não consigo me fixar em coisa alguma. Se penso ou sinto algum tema, deduzo que tudo será esquecido e me calculo inútil. Esse prelúdio indefectível talvez chegue a algum lugar. Gostaria de denunciar, por exemplo, aquilo que muitos já fizeram: a deterioração institucional do país que teve quebrados todos os padrões éticos e estéticos. A fragilidade e a inoperância dos poderes se tornaram tão patentes que já se comentam medidas autoritárias. Continuo pensando que é preciso urgentemente humanizar o político brasileiro. Ele mesmo animalizou os seus traços.
Quando me apetece voltar a suplicar às autoridades públicas e privadas a restauração do empório dos Guarapes, onde o pioneiro e gigante desbravador Fabrício Gomes Pedroza ambientou um dos maiores domínios comerciais de que se tem notícia no estado, recebe-se em troca repetidamente a leniência e a indiferença. Ai eu indago: pra que escrever mais? Pergunto-me se não estou me transformando em esteta contemplativo com uma tendência zen. Mas, continuarei lutando porque não é apenas um impulso da mente nem do corpo. Os “Guarapes” representam para aqueles que o ignoram, o equilíbrio entre a beleza e o passado.
Falar, por exemplo, das poças profundas de sangue que fluidificam a área metropolitana da grande Natal. Nela a juventude continua sendo executada nas ruas pelo cartel das drogas. Sinto que falecem os dons que me ligam a Macaíba, hoje, tão irreconhecível a ponto de não me rever mais em suas paredes e praças. A fuga é dormir à distância, debaixo de qualquer céu, como diria o poeta. Minha terra padece de uma enfermidade física, orgânica, urbana, suburbana, sensível, visível, palpável chamada “comércio de droga” que tem escravizado e mutilado suas melhores tradições.
Poderia até discorrer sobre as opiniões e posturas dos políticos potiguares repletas de privilégios para si contra os servidores públicos, todos num beco sem saída. Os efeitos especiais empregados são improvisados. E parece que não há pressa em definir situações. Tudo deve ser queimado subrepticiamente a fogo lento. Tem gente gastando anos luz para compor o arquipélago da obra de chegar ao poder queimando incenso no velório da própria falência do poder público. Na política, sabemos que acidentes e incidentes nunca surpreenderam ninguém. Todos têm rostos e máscaras. Trata-se de uma peça de teatro onde o fascínio é exibido em prosa e gestos fesceninos. Que importa tudo isso, se depois da tempestade todos se unirão novamente para começar tudo de novo? O palco será o mesmo. Só muda a idade.
E o pugilo da saúde pública nos hospitais da capital? Esse merece veemente repulsa. É um libelo à competência dos administradores. A situação deplorável me infunde a convicção de que ninguém mais se comove com a dor humana. O melhor homem é o homem morto. Vivo é desprezível. Doente e pobre, ele fede. Onde deveriam remunerar melhor, paga-se pior e se gasta menos. Hospital público é a antessala da morte iminente porque está desprovido das condições de higiene e serviços. Denunciar o estado de calamidade financeira não constitui falar apenas em atraso dos vencimentos mas assistir privilégios vergonhosos das elites. Lembro ao leitor que o ser humano coisificou-se. Deixou de ser carne inteligente. Hospital “lugar de repouso e cura”, virou empório do estado, verdadeiro guardador de rebanho, onde o pobre, sem nenhum plano de saúde, tem defeito de circulação do sangue no corpo à alma.

terça-feira, 2 de novembro de 2021


 


OREMOS PELOS QUE SE FORAM

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

         O dia 02 de novembro foi escolhido, no calendário religioso, como data de reverenciar os entes queridos que já retornaram para os Domínios do Criador. Recebeu a denominação de Dia de Finados, instituído inicialmente no século X, na abadia beneditina de Cluny, na França, pelo abade Odilo (ou Santo Odilon [962-1049], logo depois do Dia de Todos os Santos.

         Assim, com integral justiça, homenageio meus saudosos antepassados e, com maior reverência a minha sempre lembrada companheira de 71 anos de cumplicidade Dona THEREZINHA ROSSO GOMES, filha de Rocco Rosso e Rosina Louvisi e, na esfera espiritual, de Maria e José.

         Com esse carinho especial, renovo minha devoção à Senhora Mãe da humanidade, não tão reverenciada por algumas religiões, desprezando a realidade bíblica quando preconiza (João, 19 25-27):

25. Junto à Cruz de Jesus estavam Sua Mãe e a irmã de Sua Mãe, Maria    mulher de Clopas, e Maria Madalena.

26. Ora Jesus, vendo ali a Sua Mãe, e que o Discípulo quem Ele amava estava presente, disse à Sua Mãe, eis aí o Teu filho.

27. Depois disse ao Discípulo: Eis aí Tua Mãe. E desde aquela hora o Discípulo a recebeu em sua casa.

         Esse procedimento é sagrado, divino e humano ao mesmo tempo, para fixar no tempo permanente o amor e reconhecimento pelos que já se foram e deixaram os frutos.

         A vida tem continuidade pelos que ficaram, é verdade, mas sem o mesmo brilho e conforto de antes.

         Nesse descortinar da realidade, busco o consolo na oração, única força capaz de aplacar a tristeza e a saudade.

         Vamos todos reverenciar nossos mortos, conscientes que eles estão perto de DEUS.