OPERAÇÃO BANDA
LARGA
Valério Mesquita
A
frase do ex-deputado federal pernambucano Thales Ramalho de que “maior que a ilusão política só a ilusão do
amor” é de uma verdade tão cristalina que me fez refletir mais ainda sobre
os primeiros dias do atual processo eleitoral. A deterioração dos costumes
políticos, as debandadas, as infidelidades à 25ª hora, a substituição das
coligações eleitorais pela proliferação de legendas partidárias, as adesões no
varejo e no atacado em tom promocional e de liquidação, a troca de legendas,
tudo conduz o eleitor ao descrédito da vida pública, estarrecido com a conduta
pérfida dos seus protagonistas. Em nome da mudança, do novo, do diferente, alguns
agentes políticos estão destruindo a própria
biografia no jogo vantajoso das premissas e das facilidades dos governos
que estão por vir. Nunca a flauta mágica do fisiologismo tocou tão alto
desbotando clichês, ruborizando os céticos e dissolvendo bancadas tal e qual o
efeito Sonrisal. O que está acontecendo hoje com a chamada classe política? Deu
a louca no mundo? É tão grande assim o impacto das dívidas e das dúvidas se vai
ganhar ou não? Dir-se-á que o Partido dos Trabalhadores quando trocou a
ideologia pela convivência dos contrários, os partidos de esquerda e de centro
perderam o pudor e se misturaram no mais estranho e promíscuo hibridismo
partidário da história política do país.
Por isso, sou o eleitor anônimo perdido na passeata
que vai de Igapó ao Conjunto Soledade II. Misturo-me com o povo. Danço a
lambada e o frevo que desce e sobe ruas acima. Não carrego a bandeira dos
candidatos mas o gosto doce da aventura da noite dos comícios, das mulheres
balançando os bustos e os quadris, como nas pesquisas eleitorais que sobem e
despencam. No circuito ciclístico da Grande Natal, pedalo bem perto da
bicicleta da morena do short branco que faz todo eleitor mudar de partido.
Sou o incógnito cidadão que escuta o orador no palanque sob a
penumbra da marquise da padaria mais próxima. Sou o decifrador de caracteres,
das reações fisionômicas do homem do povo. Pastoreio as estrelas sobre a
multidão sôfrega em desvarios pela hegemonia dos seus eleitos. A paz cósmica de
ser livre e isento me apascenta.
Nessa eleição ainda
quero o flerte da mulher jovem. A força misteriosa do encanto das meninas de
branco, namoradas. Sem interagir música, política e paquera não há palanque,
nem povo, nem discurso. Sou o eleitor do showmício, dos acordes do Wesley
Safadão, Aviões do Forró, Mastruz com Leite, porque a música veste o voto do
candidato.
Não há
necessidade de se esmerar, hoje em dia, na palavra rebuscada, na oratória
responsável e flamejante. Tudo é fátuo, fútil e fácil. Quero conhecer as preferências de todos como
se fosse o pároco da Igreja onde se confessam. O anônimo e o descomprometido
vêem e escutam melhor do que os marqueteiros. Acompanho o cortejo, me integro e
me divirto no calendário das passeatas, dos comícios para ver a juventude, a
garota magra e bonita que agita a bandeira dos presidenciáveis nas esquinas das
avenidas por dez reais ao dia e que expressam, em si, o melhor discurso contra
o desemprego.
Enfim,
nessa eleição, busco a claridade do sentimento popular, que não provém mais do
palanque iluminado dos condôminos. No entanto, quero ser eleitor encachaçado,
alegre, ritmado, até porque campanha eleitoral é festa e se não tiver mulher
não tem graça. Depois disso, só o grito de guerra: “Saber votar e dizer abaixo
a corrupção!”
Eu
digo isso porque é o que fica e se transfunde na condição humana de optar,
escolher e votar no candidato. O político parece haver largado o sotaque do
povo e dos seus costumes, que o “feiticeiro” Aluízio Alves sabia fazer com
humor e ironia. Embora, entenda que o político, às vezes, é como o fogo (“se
renova das cinzas”). Vemos hoje na propaganda novos vultos e ambientes difusos,
mas também a sociedade viúva ainda de lideres verdadeiros. As lideranças
viraram sublegendas.
(*) Escritor.