terça-feira, 20 de março de 2018

UMA OPINIÃO




OPERAÇÃO BANDA LARGA

Valério Mesquita

A frase do ex-deputado federal pernambucano Thales Ramalho de que “maior que a ilusão política só a ilusão do amor” é de uma verdade tão cristalina que me fez refletir mais ainda sobre os primeiros dias do atual processo eleitoral. A deterioração dos costumes políticos, as debandadas, as infidelidades à 25ª hora, a substituição das coligações eleitorais pela proliferação de legendas partidárias, as adesões no varejo e no atacado em tom promocional e de liquidação, a troca de legendas, tudo conduz o eleitor ao descrédito da vida pública, estarrecido com a conduta pérfida dos seus protagonistas. Em nome da mudança, do novo, do diferente, alguns agentes políticos estão destruindo a própria  biografia no jogo vantajoso das premissas e das facilidades dos governos que estão por vir. Nunca a flauta mágica do fisiologismo tocou tão alto desbotando clichês, ruborizando os céticos e dissolvendo bancadas tal e qual o efeito Sonrisal. O que está acontecendo hoje com a chamada classe política? Deu a louca no mundo? É tão grande assim o impacto das dívidas e das dúvidas se vai ganhar ou não? Dir-se-á que o Partido dos Trabalhadores quando trocou a ideologia pela convivência dos contrários, os partidos de esquerda e de centro perderam o pudor e se misturaram no mais estranho e promíscuo hibridismo partidário da história política do país.
Por isso, sou o eleitor anônimo perdido na passeata que vai de Igapó ao Conjunto Soledade II. Misturo-me com o povo. Danço a lambada e o frevo que desce e sobe ruas acima. Não carrego a bandeira dos candidatos mas o gosto doce da aventura da noite dos comícios, das mulheres balançando os bustos e os quadris, como nas pesquisas eleitorais que sobem e despencam. No circuito ciclístico da Grande Natal, pedalo bem perto da bicicleta da morena do short branco que faz todo eleitor mudar de partido.
Sou o incógnito cidadão que escuta o orador no palanque sob a penumbra da marquise da padaria mais próxima. Sou o decifrador de caracteres, das reações fisionômicas do homem do povo. Pastoreio as estrelas sobre a multidão sôfrega em desvarios pela hegemonia dos seus eleitos. A paz cósmica de ser livre e isento me apascenta.
Nessa eleição ainda quero o flerte da mulher jovem. A força misteriosa do encanto das meninas de branco, namoradas. Sem interagir música, política e paquera não há palanque, nem povo, nem discurso. Sou o eleitor do showmício, dos acordes do Wesley Safadão, Aviões do Forró, Mastruz com Leite, porque a música veste o voto do candidato.
Não há necessidade de se esmerar, hoje em dia, na palavra rebuscada, na oratória responsável e flamejante. Tudo é fátuo, fútil e fácil.  Quero conhecer as preferências de todos como se fosse o pároco da Igreja onde se confessam. O anônimo e o descomprometido vêem e escutam melhor do que os marqueteiros. Acompanho o cortejo, me integro e me divirto no calendário das passeatas, dos comícios para ver a juventude, a garota magra e bonita que agita a bandeira dos presidenciáveis nas esquinas das avenidas por dez reais ao dia e que expressam, em si, o melhor discurso contra o desemprego.
Enfim, nessa eleição, busco a claridade do sentimento popular, que não provém mais do palanque iluminado dos condôminos. No entanto, quero ser eleitor encachaçado, alegre, ritmado, até porque campanha eleitoral é festa e se não tiver mulher não tem graça. Depois disso, só o grito de guerra: “Saber votar e dizer abaixo a corrupção!”
Eu digo isso porque é o que fica e se transfunde na condição humana de optar, escolher e votar no candidato. O político parece haver largado o sotaque do povo e dos seus costumes, que o “feiticeiro” Aluízio Alves sabia fazer com humor e ironia. Embora, entenda que o político, às vezes, é como o fogo (“se renova das cinzas”). Vemos hoje na propaganda novos vultos e ambientes difusos, mas também a sociedade viúva ainda de lideres verdadeiros. As lideranças viraram sublegendas.

(*) Escritor.

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