sábado, 13 de junho de 2015

POSSE NA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS na Cadeira nº 33 que tem como Patrono TONHECA DANTAS, O MAESTRO DOS SERTÕES



Na noite de ontem a sociedade potiguar prestigiou a posse do novo Acadêmico CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES,  na cadeira nº 33, cujo Patrono é o Maestro TONHECA DANTAS.
O evento contou com a representação dos Membros da ANRL e das Academias Macaibense de Letras, de Letras Jurídicas ALEJURN, da Academia Cearamirinense de Letra e Artes "Pedro Simões Neto", do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da União Brasileira de Escritores-RN, do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia, da Ordem dos Advogados do Brasil, da Comissão Nacional de Folclore e da Reitora Ângela Maria Paiva Cruz, da UFRN.
A Comissão de recepção, constituída dos Acadêmicos Valério Mesquita, Sonia Faustino e Paulo Macedo introduziu no recinto o novo Acadêmico, com a execução da Valsa Royal Cinema pela Banda de Música da Polícia Militar do Estado.
O orador oficial da ANRL foi o escritor Manoel Onofre de Souza Júnior.
O discurso do novo Acadêmico abordou o perfil do Patrono TONHECA DANTAS e dos anteriores ocupantes da cadeira, escritores OSWALDO DE SOUZA e PERY LAMARTINE.
A solenidade foi impecavelmente presidida pelo Acadêmico Diógenes da Cunha Lima e registrada pela Secretária Leide Câmara. 
Grande público, bela solenidade, recepção irreparável, ao som do músico Humberto Dantas.

REPRODUZIMOS INTERPRETAÇÕES DA MÚSICA "ROYAL CINEMA"





Royal Cinema
Versos de Joaquim Bezerra Júnior

Anjo do céu, flor de minh’alma 
Por que me deixas no deserto, amor?
Vivo sofrendo entre ruínas
Entregue ao dissabor
De tua ausência atroz eu fico a soluçar.
Ai! do pranto que derramo
Jamais teu pobre gaturamo vai
Gemer, oh astro do meu sonho
Como outrora em ternos carmes
Decantava estrema a trescalar do olor
Deste amor.
Ai! sorrindo me dizias,
Oh meu astro de poesias
Só a morte roubará
Nosso amor, nosso amor.
Que será!
Mas o tempo foi bastante
Pra teu amor inconstante,
Entre urzes do martírio
Me deixar, me deixar.
Oh!
Me deixas entregue aos dissabores
E vais em busca de outro amor,
Levando a alma cheia de esplendores
Que dera com loucura ao teu pobre cantor.
Lamentando a tua ausência eterna
Esta alma devaneia
Como um astro salutar e atroz
E a minha voz é um funeral de horror
Meu amor, do pobre trovador...


(Saraiva, Gumercindo, TROVADORES POTIGUARES,
1962.)










sexta-feira, 12 de junho de 2015

MINHA POSSE HOJE NA CADEIRA DE TONHECA DANTAS


Tonheca Dantas (1870 –1940)
144 ANOS DO MAESTRO DOS SERTÕES
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor

Nesta semana o Estado do Rio Grande do Norte estará comemorando o 144º de nascimento do extraordinário músico de Carnaúba dos Dantas TONHECA DANTAS, na realidade, Antônio Pedro Dantas, nascido no dia 13 de junho de 1871 no sítio Carnaúba de Baixo (Carnaúba dos Dantas-RN), cidade demarcada pelos Portugueses em 11 de abril de 1613, 5º filho do segundo matrimônio do viúvo Tenente-Coronel da Guarda Nacional João José Dantas, com a escrava alforriada Vicência Maria do Espírito Santo, celebrado em 1º de fevereiro de 1871, de um total de oito: Pedro Carlos de Maria, José Venâncio de Maria, João Pedro Dantas, Manoel Nicolau Dantas, Antônio Pedro Dantas, Francisca Urçulina da Conceição, Maria Clara do Monte-Falco e Luís Felipe Dantas. 
Pelos grandes feitos e pela notabilidade alcançada em sua vida, mereceu a eleição para Patrono da Cadeira nº 33 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, cujos primeiros ocupantes foram, respectivamente, Owaldo de Souza, também maestro e Hypérides Lamartine (Pery), aeronauta, escritor e poeta. Agora foi eleito para a referida cadeira o escritor Carlos Roberto de Miranda Gomes, que tomará posse HOJE, dia 12, que iniciou a sua vida também como artista de rádio, participando da radiofonia potiguar (Rádio Poti e Sociedade Artística Estudantil.
A cidade-berço de Tonheca estava fincada no coração do Seridó, no semi-árido subtropical, região de caatinga onde habitaram os indígenas das tribos Janduís, Canindés e Pegas. Apesar da paisagem sofrida da geografia sertaneja, cercania do riacho de Carnaúbas, as crianças sobreviviam livres, com pouca coisa a fazer, sobrando tempo para despertar a atenção para a música. Tonheca foi atraído pelos seus irmãos mais velhos, participando da banda da sua cidade, sob o comando de José Venâncio de Maria, costume que vem sendo conservado ao longo do tempo. Era instrumentrista de excelência com habilidades como flautista, trompetista, saxofonista, violonista, clarinetista.
A sua vida está retratada para a posteridade através do escritor Cláudio Galvão que escreveu “A desfolhar Saudades”, esgototando a sua biografia.
Teve experências marcantes na cidade de Belém do Pará onde pertenceu à Banda de Música do Corpo de Bombeiros; passagens por cidades da Paraíba, como João Pessoa, Campina Grande, Alagoa Grande e Alagoa Nova e em vários município do Estado do Rio Grande do Norte.
Por três vezes serviu na Corporação da Polícia Militar deste Estado, onde terminou os seus dias em 07 de fevereiro de 1940.
Foi professor de música, compositor de mais de 1.000 peças, entre as quais a imortalizada valsa Royal Cinema, gravada por orquestras sinfônicas, filarmônias e bandas de todo o país e de além mar, com destaque especial para a Valsa Royal Cinema, que ressoou pelas ondas da Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, até certo tempo executada como sendo de “autor desconhecido”, dentre outras composições de vários gêneros como valsas, dobrados, hinos, polcas, maxixes, mazurcas, sambas, choros, xotes e marchas.
Nunca deixou de ser reverenciado, tendo o seu nome colocado em rua desta Capital e criada uma sala especial no Teatro Alberto Maranhão, outra no Quartel da Polícia Militar do Estado, além de tornar-se Patrono da Cadeira 33 da Academia Maior do Estado a partir da reforma estatutária de abril de 1967.

O ex-prefeito de Natal, Djalma Maranhão, cujo centenário de nascimento acontece neste ano, costumava chamar Tonheca Dantas de Strauss Papa-Jerimum. 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Tonheca Dantas
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Tonheca Dantas.
Antônio Pedro Dantas (1871-1940), era filho de João José Dantas e da escrava alforriada Vicência Maria do Espírito Santo, natural deCarnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte, Brasil. Tonheca Dantas, como era conhecido, foi músico, compositor e maestro, sendo autor de uma obra de mais de mil peças musicais.
Despertou o gosto pela música desde criança, aprendendo com os irmãos em uma banda de música da sua cidade. Jamais teve formação superior como músico, era autodidata. Em 1898 foi contratado como maestro da Banda de Música da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, função que exerceu por três anos. Em 1903, mudou-se para Belém do Pará, sendo contratado como regente da Banda de Música do Corpo de Bombeiros. Em 1910, foi para a Paraíba onde regeu as bandas de música das cidades de Alagoa Grande e Alagoa Nova. Retornou definitivamente em 1911 para Natal, onde passou a integrar a Banda de Música da Polícia Militar.
Foi compositor de uma vasta obra até hoje executada pelas bandas filarmônicas Brasil a fora e até mesmo no exterior, é de sua autoria a Valsa Royal Cinema, que compôs para um cinema da cidade de Natal, pertencente a um amigo. Esta valsa foi tocada exaustivamente pela Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, infelizmente executada como sendo de “autor desconhecido”.
Suas composições eram principalmente valsas, mas também dobrados, maxixes, hinos, xotes, polcas, marchas e outros gêneros musicais orquestrados. São obras famosas também a Valsa Delírio, a suíte Melodia do Bosque, Valsa A Desfolhar Saudades, a marcha solene Republicana e o dobrado Tenente José Paulino.

O ex-prefeito de Natal na década de 60, Djalma Maranhão, costumava chamar Tonheca Dantas de Strauss Papa-Jerimum. O governo do Estado do Rio Grande do Norte prestou-lhe uma homenagem com a inauguração da Sala Tonheca Dantas, no Teatro Alberto Maranhão. Cláudio Galvão, em sua biografia sobre o maestro conta esse episódio ocorrido no teste para maestro da Banda de Música da PMRN, em 1898: Em seguida foi a vez de Tonheca Dantas. O comandante lhe entregou uma partitura diferente da primeira e perguntou ao candidato qual o instrumento que iria escolher. ‘Qualquer um…’ respondeu. ‘O Sr. Diga qual o que quer’. Os membros da comissão se entreolharam, surpresos com a audácia daquele sertanejo moreno e franzino e resolveram por a prova seus conhecimentos mandando que fosse tocando a peça nos diversos instrumentos da banda.

quarta-feira, 10 de junho de 2015



AD IMORTALITATEM

Ciro José Tavares.

Lamento não estar em Natal para assistir, neste dia 12 de junho, a posse de Carlos Roberto de Miranda Gomes na Academia Norte Rio-Grandense de Letras.

Carlos é um dos meus mais antigos amigos. Fomos colegas no Colégio Americano Batista, no Barro Vermelho, Natal Também Terezinha, hoje sua esposa.  Lembro-me que vinha ao colégio num transporte que me apanhava na Avenida Deodoro, em frente ao Cinema Rio Grande. O médico Costa Neto, que hoje passeia nas rotas estelares, e Edgar Ramalho Dantas faziam parte do grupo transportado.

Depois seguimos trajetórias diferentes, mas eu sempre sabia dos seus sucessos, principalmente, na área da música. Cantava bem, com um repertório de boa qualidade. Nos programas de auditório foi presença constante e destacada. Outro que sempre aparecia no panorama musical era o advogado e amigo Odúlio Botelho Medeiros. A época do Rádio provoca-me enorme saudade. Ótima programação e muita gente boa atuando nas cabines radiofônicas e nos microfones, o inesquecível Genar Wanderley e Luís Cordeiro entre tantos.

Nós vamos crescendo e inexplicável distância vai sem querer nos afastando. A distância é ainda maior se nos tonamos andarilhos. Comigo e Carlos certamente isto aconteceu. Estive fora da cidade muito tempo, sabíamos muito pouco dos nossos dias.

Formado em Direito, Carlos tornou-se um brilhante profissional e foi exemplar presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Norte. É uma unanimidade entre seus colegas. Se tiver adversários não será sua culpa. Pessoas como ele, sérias, competentes, inteligentes, dedicadas às atividades que exercem, quase sempre incomodam àquelas que se colocam num polo contrário, morrem de inveja e de  ambição.

Nas letras, é precioso estilista, escreve com clareza e objetivamente. Ao ser acolhido na Academia Norte Rio Grandense de Letras, recebe sua tríplice coroa acadêmica, pois já é membro da Macaibense de Letras e da ALEJURN.

A ANRL ficará ainda mais engrandecida com a presença de Carlos. Ocupará a cadeira cujo patrono é Tonheca Dantas, um músico, corroborando o ensinamento de que nada acontece por acaso, mas está predeterminado. O ocupante anterior era Hypérides Lamartine, outra figura digna de registro e de quem sentimos falta. Bom cristão Carlos que caminha a passos largos para a imortalidade perdoará a ausência do amigo mais uma vez distante.

   

terça-feira, 9 de junho de 2015

Renato Celso Dantas Neto

segunda-feira, 8 de junho de 2015


   
Marcelo Alves


Sobre Savigny

No meu tempo de UFRN, coisa de começo dos anos 1990, o alemão Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) era um dos juristas mais badalados. Sobretudo nas aulas de direito civil, mais especificamente de direito das coisas, ouvia-se muito falar de Savigny e da sua teoria subjetiva da posse, que exige o tal “animus domini” para a configuração dessa, em contraposição à teoria objetiva de Rudolf von Ihering (1818-1892). Segundo me recordo, entendíamos muito pouco o porquê dessa discussão quase sem fim (com a cabeça em coisitas muito mais interessantes, pelo menos esse era o meu caso, confesso). 

Friedrich Carl von Savigny nasceu em Frankfurt am Main (Frankfurt sobre o rio Meno, para quem não sabe), principal cidade do à época principado alemão de Hesse (que hoje é um dos dezesseis estados da República Federal da Alemanha). Embora tenha ficado órfão muito cedo, sua família fazia parte da “aristocracia” de então, com raízes na região francesa da Lorena. Em 1795, com apenas 16 anos, Savigny iniciou seus estudos de direito na Universidade de Marburg. Estudou também nas prestigiosas universidades alemãs de Iena e Leipzig, voltando a Marburg para concluir seu doutorado em 1800. Casando-se em 1804 com Kunigunde Brentano (1780-1863), que pertencia ela própria a uma família de literatos, Savigny viajou bastante pela Europa continental, sobretudo pelo sul da Alemanha e pela França, em muito aprimorando os seus conhecimentos do direito romano. Foi professor em Marburg e na Baviera. A partir de 1810, por indicação do fundador Wilhelm von Humboldt (Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand, Barão von Humboldt, 1767-1835), foi professor da cadeira de direito romano da então Universidade de Berlim (hoje “Humboldt-Universität”). Ali, foi um dos fundadores do curioso “Spruch-Collegium”, espécie de tribunal extraordinário criado para emitir pareceres em casos a ele encaminhados pelos tribunais judiciais ordinários. Li não sei onde que os irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) e até mesmo Karl Marx (1818-1883) foram seus alunos. Deixou a cátedra em 1842, nomeado Ministro da Justiça da antiga Prússia, cargo que ocupou até 1848. 

Savigny é autor de vários títulos. De 1803 é o badalado “Tratado da posse” (“Das Recht des Besitzes”), que foi imediatamente um sucesso de público e crítica. De 1814 é o não menos importante “Da vocação de nosso tempo para a legislação e a jurisprudência” (“Vom Beruf unserer Zeit für Gesetzgebung und Rechtswissenschaft”), sobre o qual voltaremos a falar mais à frente. Sua celebrada “História do direito romano na Idade Média” (“Geschichte des römischen Rechts im Mittelalter”) foi publicada entre 1815 e 1831. Os oito volumes do seu “Sistema do direito romano atual” datam de 1840 a 1849. Em 1850 é publicada uma coletânea, com cinco volumes, com muitos dos seus trabalhos mais curtos (“Vermischte Schriften”). De 1853 é o seu “Direito das obrigações” (“Obligationenrecht”). Savigny foi ainda editor (juntamente com Karl Friedrich Eichhorn e Johann Friedrich Ludwig Göschen), de 1815 a 1850, da prestigiosa “Revista para a história da ciência do direito” (“Zeitschrift für geschichtliche Rechtswissenschaften”). E por aí vai. 

Savigny é, sem dúvida, um dos maiores juristas alemães de todos os tempos (e, especialmente, uma figura luminar do século XIX). O seu legado, podem ter certeza, não se resume à querela sem fim com Ihering sobre o conceito da posse. Na verdade, a maior contribuição de Friedrich Carl von Savigny ao direito está na criação/desenvolvimento da chamada “Escola Histórica do Direito”, concebida na Alemanha, que ali teve como principais representantes, além do próprio Savigny, os juristas Gustav von Hugo (1764-1844) e Georg Friedrich Puchta (1798-1846). 

Sobre a “Escola Histórica do Direito”, já tive a oportunidade de escrever aqui. No que toca à Alemanha, ela veio como uma resposta ao desejo “nacional”, em 1804, da adoção de um Código Civil alemão, que seria uma réplica do Código Napoleônico e um símbolo da unidade da nação. Essa tendência, à época, encontrou expressão em panfleto (“Sobre a necessidade de um direito civil geral para a Alemanha”) de autoria do grande civilista Anton Friedrich Justus Thibaut (1772-1840). Foi em resposta a esse movimento que Savigny publicou o seu já citado “Da vocação de nosso tempo para a legislação e a jurisprudência”, no qual defendeu a ideia de um crescimento “histórico-orgânico” do Direito, dependente da “consciência sócio-jurídica espontânea” existente na sociedade. O “movimento” histórico do direito foi, por um prisma, uma contraposição ao jusnaturalismo, pois não acreditava na preexistência de um “Direito”, pronto e acabado, já “escrito no firmamento” ou inteiramente construído pela razão. Foi, também, em outro sentido, uma reação à visão positivista de um sistema infalível (em regra codificado). Negando a ideia de um “Direito” eterno e universal e a onipotência do legislador, a escola histórica afirmava ser próprio das instituições jurídicas conformar-se aos fatos e circunstâncias do momento e do lugar: elas (as instituições jurídicas) são produtos dos costumes e da história de um povo. 

Bom, embora se possa fazer críticas ao pensamento de Savigny (nesse ponto, remeto o leitor ao meu artigo “Uma visão histórica do Direito”), a verdade é que ele foi um “prussiano” arretado. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador da República
Mestre em Direito pela PUC/SP
Doutorando em Direito pelo King’s College London - KCL

domingo, 7 de junho de 2015

AMENIDADES DE DOMINGO



TRANSCENDENTAL...  VOCÊ, A LUA E EU.
... E FOI ASSIM...  AMANHECEU O DIA.
                (décima em decassílabos)

Um “cabernet”, chileno, especial,
Para uma noite morna, terna e nua,
Você tão linda quanto linda a lua,
E eu sem saber quem mais original.
Houve um sorriso, um beijo... o trivial...
Você sorria e eu também sorria.
E a nossa lua, que nos assistia,
Nos viu amando aos braços de  “Morfeu”.
TRANSCENDENTAL...  VOCÊ, A LUA E EU.
... E FOI ASSIM...  AMANHECEU O DIA.

Wellington Leiros
(22.08.2009)


O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Texto de Luiz Antônio Simas, 

(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).


Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".


Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. 
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. 
Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu me magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de veado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de veado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. 
Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

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Colaboração do leitor ADILSON GURGEL DE CASTRO