sexta-feira, 9 de agosto de 2024

BATE FORTE O TAMBOR Valério Mesquita* Mesquita.valerio@gmail.com Espero que esteja vivendo um tempo de desarmar os presságios. Não desejo acreditar que na política existam só amigos, mas, conspiradores que se unem. Aos olhos alheios, unidade partidária, coligação, ambas desapareceram para dar lugar a um consórcio, onde o partido menor nunca é sorteado. No meu entendimento virou tribo, facção e não tem quem junte os pedaços depois. Prefeitos, vereadores, líderes municipais, votam pacotes de candidatos díspares, de governador a senador, de deputado federal e estadual, como se fossem salada de frutas, ou coquetel exótico de bruxaria. A continuar assim, vamos chegar ao tempo de desarmar os frutos e até mesmo ao de querer desviver o tempo, ominoso e fatal para a coletividade. A reforma eleitoral neste país, é tema mais batido do que caminho de cemitério. Com o “fundão eleitoral”, o processo virou uma ação orquestrada que caracteriza as relações íntimas entre os lobos ideológicos contra pseudos pastores teólogicos. Presume-se, com o andar da carruagem, que estamos sob o fascínio do desconhecido, do buraco negro. A caixa preta do segundo turno está rondando a ressaca eleitoral dos candidatos. A hegemonia política de muitos líderes está morrendo. É o processo depurativo das figuras messiânicas, de megafone em punho, entoando chavões pela recuperação financeira do país e do Rio Grande do Norte. Esse caldeamento político dos nossos dias, é igual a despacho de encruzilhada. Lembrei-me daquele acordo de paz pública, no passado. Não há como acomodar numa mesa apetites tão difusos, confusos e obtusos. É por isso que bate forte o tambor da imprevisibilidade. Garimpando o pensamento do saudoso natalense João Sena, li essa jóia: “O ser humano não só morre quando desencarna, mas também, quando se desencanta”. E casados no desencanto continuam vivendo o povo e os políticos. Chegaram à exaustão. A praça pública virou banco de tormento. O povo aplaude mais os músicos do que os oradores. Todo orador, é um chato, cansativo e tedioso. Quando o candidato fala, o povo se afasta. Mas, o liseu não está no meio do mundo, pois o importante é não cair a Bastilha. Isso conforta os candidatos que se exporão tanto ao sereno, quanto ao sol, à chuva e ao mormaço das penosas aglomerações. São as fases da vida pública. Outro filósofo, já dizia “que a vida é feita de fases e de fezes”. As fases são as estações, as metamorfoses, e as fezes, o consumismo humano do Fundão. Outro fato relevante, que não dá para entender, são as pesquisas açodadas. Lembrei-me de Chesterton quando disse que “os vícios são as virtudes enlouquecidas”. Será que o povo brasileiro é tão volúvel assim? Essa eleição, face os perigos redibitórios, é uma esfinge? Antigamente, o silêncio antecedia o pleito, sem emitir sinais de mistérios, como a eleição presidencial deste ano. A sinfonia outonal vai deixar para trás, em outubro, muito candidato que empreende voo cego, impensado, sem bússola e sem bossa. Eu me recordo de Assis Besouro, experiente marqueteiro potiguar, explicando a situação daquele tempo (1998), das divergências do PMDB, PT, PSDB e etc., - com aquela fisionomia de permanente mormaço, proveniente das andanças políticas pelo Rio Grande do Norte - “que tudo numa eleição é estratégico”. Daí, ter surgido hoje, o orçamento secreto. E é fato que nas estações da política, as notas caem. E o outono chega. Pois eleição que não se ganha, se toma, dizem. Napoleão Bonaparte admitiu apenas duas potências no mundo: “a espada e o espírito. A longo prazo a espada sempre é vencida pelo espírito”. A espada é o poder e o espírito a palavra. É comum os dois não falarem o mesmo sotaque, o mesmo idioma. Mas, a canção do voto é tudo, pois tem sangue eterno e coração ritmado. Todo país já atravessou as noites escuras do tempo. É pobre o país que tem necessidade de mitos. (*) Escritor

terça-feira, 6 de agosto de 2024

“A história se repete”: novos bispados Padre João Medeiros Filho Há muito de verdade no supracitado axioma popular. Dom Marcolino Esmeraldo de Sousa Dantas, baiano de Inhambupe, quando bispo de Natal, desvelou-se para dotar o RN de mais duas circunscrições eclesiásticas. Foram quase dez anos de árduo trabalho, entre 1929- 1939, coroado de pleno êxito. Sentiu a alegria de ver as origens das dioceses de Mossoró e Caicó, das quais foi administrador apostólico até a posse de seus primeiros bispos. Pelas bulas papais “Pro eclesiarum omnium” (datada de 28/07/1934) e “E dioecesibus” (promulgada em 25/11/1939), Pio XI e Pio XII erigiram os bispados, respectivamente, de Mossoró e Caicó. Dom Marcolino foi além. Durante mais de oito anos, empenhou-se juntamente com Dom Moysés Sizenando Coelho, arcebispo de João Pessoa, em prol da elevação de Campina Grande à categoria de sé episcopal. Teve mais um sonho realizado. Em 14 de maio de 1949, pelo documento pontifício “Supremum Universi”, Pio XII constituiu diocese aquela cidade paraibana, desmembrando-a dos bispados de João Pessoa e Cajazeiras. Dom Marcolino foi um prelado diligente e de grande atuação pastoral. A elevação daquela cidade paraibana à condição de bispado possibilitaria Natal em se tornar sé metropolitana, separando o RN da Província Eclesiástica da Paraíba. Isto ocorreu, em 16 de fevereiro de 1952, pela bula “Arduum onus”, de Pio XII, menos de três anos após Campina Grande ser constituída sé diocesana. Há de se reconhecer que para as condições da época, o bispo de Natal foi célere em suas decisões e gestões, em favor do Povo de Deus. Decorridas mais de oito décadas, Dom João dos Santos Cardoso (também baiano, de Dário Meira), arcebispo de Natal, em seu dinamismo, zelo pastoral e ampla visão eclesial, dá prosseguimento à tarefa de tornar a Igreja mais próxima dos fiéis. Em apenas sete meses de pontificado em solo potiguar, propôs a criação de duas dioceses no RN: uma na Região Trairi (sediada em Santa Cruz); a outra no Vale do Assú (com sede nessa cidade), incluindo a Região Salineira pertencente ao arcebispado natalense. A iniciativa conta com o total apoio do metropolita, as bênçãos do bispo mossoroense, Dom Francisco de Sales Alencar Batista e a colaboração do clero e fiéis católicos. Gesto nobre do arcebispo, que, além de ceder parcela significativa do território de sua jurisdição, sugeriu que a sede fosse em Assú, freguesia pertencente a outro bispado. A comissão interdiocesana, responsável pela elaboração do projeto, é presidida pelo eminente canonista Monsenhor José Valquimar Nogueira do Nascimento. Cumpre o seu cronograma, estando na fase de formação das subcomissões e escolha de assessores para o desempenho de sua missão. Em 25 de julho passado, recebi um primoroso estudo do advogado assuense e militante católico, Dr. Gregório Celso Medeiros de Macêdo Silva, sobre o futuro bispado. A obra resulta de pesquisas, iniciadas em 2022, sobre a região do Vale do Assú e seu entorno. Será de grande valia para ajudar a comissão a atingir os objetivos propostos. O ilustre autor de “Uma nova diocese no Rio Grande do Norte”, não poderia inicialmente vislumbrar a perspectiva pastoral do metropolita natalense, quando integrou a Região Salineira no projeto da sede diocesana a ser criada. Dr. Gregório aborda aspectos e dados geográfico-históricos, patrimoniais, socioeconômicos, pastorais e antropológico-culturais da futura diocese. A partir de elementos hauridos das paróquias que integrarão o novo bispado, a equipe responsável pela elaboração do texto final delineará o perfil da tão desejada sé episcopal. “Ad maiorem Dei gloriam”, tudo para a maior glória de Deus, afirmava Santo Inácio de Loyola, cujos discípulos evangelizaram os habitantes da primitiva paróquia do Assú na época colonial. Os católicos vinculados ao território da sonhada circunscrição eclesial não poderão ficar indiferentes a este projeto de Igreja, devendo cooperar com recursos humanos, financeiros e orações. Ele é obra do Reino de Cristo e uma necessidade do Povo de Deus. “Somos servidores inúteis” (Lc 17, 9), afirmara Cristo. É salutar que os fiéis leiam atentamente o trabalho de Dr. Gregório, com a participação do Professor Nestor Vieira de Melo Neto. Nosso reconhecimento aos que abraçaram essa causa. Convém lembrar as palavras do apóstolo Pedro: “Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, formai um edifício espiritual” (1Pd 2, 5).