Excelentíssima Professora ÂNGELA MARIA
PAIVA CRUZ, Magnífica Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, em nome de quem saúdo todos os
Ilustres Membros da Mesa;
Colegas professores, advogados, magistrados, membros
do Ministério Público, estudantes, servidores, ex-alunos, familiares, Confrades
de Instituições Culturais, Amigos, Minhas Senhoras, Meus
Senhores,
Há um dizer retórico muito utilizado em momentos de
homenagens: “não esperava esse título; não sei se sou merecedor” ...
Eu digo diferente: ansiava sim por este
momento há alguns anos, pelo que ele representa na minha vida.
O ventos da infância não sopravam para este
desfecho. Menino ainda, iniciado na vida do interior, aprendi a amar a
natureza, onde conheci o alfabeto e a aritmética. Retornando à capital e sendo
de família pouco abastada, estudei em colégios menos custosos, mas
comprovadamente eficientes, precisamente no Instituto Batista do Natal, do meu
saudoso pastor Gabino Brelaz, onde conheci os primeiros traços da religião e do
respeito às pessoas de outros credos e, no segundo grau passei pelo Ginásio
Natal, do também inesquecível Professor Severino Joaquim da Silva, que me
oportunizou conhecer grandes Mestres e fazer fraternos amigos.
Nesses dois momentos despertou em mim um pendor
artístico inusitado e passei a participar dos eventos, aprofundado depois pela
Escola de Música de Natal, do maestro Waldemar de Almeida, que ficava vizinho
ao Cinema Rex, onde aprendi canto orfeônico e iniciei um caminho totalmente
diverso da vida estudantil comum de uma criança, pois aos nove anos já
despontava para o canto, tanto que participei das Caravanas da Sociedade
Artística Estudantil - SAE, sendo contemporâneo de Hianto e Haroldo de Almeida,
do trio Irakitan e dos talentos jovens de Edmilson Avelino, Odúlio Botelho,
Agnaldo e Selma Rayol, José Filho, Elino Julião e outros que as prateleiras da
memória não localizaram neste momento. Era conhecido como o “cantor mignon da
radiofonia potiguar”.
Quando o sucesso já era patente, com gravação de um
disco e shows em Fortaleza, Mossoró, Caraúbas e regularmente, em apresentações
nos programas semanais na Rádio Poti, notadamente no “Vesperal dos Brotinhos de
Luiz Cordeiro” e “Domingo Alegre de Genar Wanderley”, pela pressão familiar e
atendendo conselho do maestro Waldemar Ernesto decidi abandonar a ilusão da
vida artística e investir na realidade do estudo, embora tenha permanecido em
mim a semente do canto, vivendo os devaneios do velho Sílvio Caldas,
contemplando “nossas roupas comuns dependuras, na corda qual bandeiras
agitadas...” e cultuando “a deusa da minha rua, que tem os olhos onde a lua
costuma se embriagar e o sol, num dourado sonho vai claridade buscar”. De olho
na minha vizinha. Deixei os encantos musicais, mas continuei “mignon”!
Dei a minha atenção integral aos livros,
consolidado no curso científico do Atheneu, verdadeira Academia da cultura
espontânea onde concluí meus estudos, concomitantemente com o chamamento da
pátria, onde cumpri minha tarefa no Exército brasileiro, no qual assimilei os
mais relevantes valores da cidadania.
Recém saído da adolescência irrequieta, mas
responsável, pois desde cedo assumira encargos da casa paterna, fui fisgado
pelo amor de Therezinha, com quem travei estreita convivência e casei há 55
anos em Belém do Pará e nessa condição ingressei na vida universitária já pai
de Rosa Ligia, circunstância que me obrigou a desistir das serenatas, da
curtição do maluco beleza (Raul Seixas) e da maravilhosa irresponsabilidade das
músicas de Cazuza e, na UFRN, não participei dos movimentos estudantis
exatamente pelos encargos de chefe de família neófito, mas nela tive
trajetória de longo curso: tudo começando em fevereiro de 1964, quando, cheio
de esperanças, ingressei na velha Faculdade de Direito da Ribeira. Logo no mês
seguinte ao “trote”, e já em pleno período letivo, fui surpreendido pelo
movimento que instalou o governo militar e daí por diante vivenciei
os tormentosos dias dos estudantes, funcionários e professores - até o dia 8 de
dezembro de 1968, data da minha formatura e do mês fatídico do AI-5, cuja
colação de grau só foi possível pela ação enérgica dos professores Oto de Brito
Guerra e Onofre Lopes, que conseguiram juntos guiar esta Instituição
sexagenária pelos dias de escuridão, mantendo-a íntegra e independente,
atributos que permaneceram, como testemunhei, porquanto foi pequeno o espaço de
tempo em que dela estive separado, eis que em 1976 retornei para iniciar meu
caminho de docente, compartilhando as ameaças veladas da repressão, até o
restabelecimento da liberdade, como registrado no Relatório da Comissão da
Verdade da UFRN, que tive a honra de presidir, com a participação de legítimos
e operosos representantes de todas as categorias que formam a instituição e
valorosos estagiários que ajudaram a construir um relato verdadeiro e
elucidativo de um período que não deixou saudades, embora estejamos novamente a
juntar os pedaços de uma democracia esfacelada pelos novos e deletérios
costumes que assolam nossa sociedade nos dias presentes.
E assim se passaram os anos até atingir a idade
compulsória e 35 anos de serviços, continuando mesmo depois de aposentado e
portador de doença traiçoeira, como colaborador na graduação e especialização,
participando das bancas e em sala de aula por algum tempo mais.
Se for indagado sobre o motivo de investir em tanto
saudosismo numa solenidade tão importante, responderei com a expressão de Simone
de Beauvoir:
“O meu passado é a referência que me
projeta e que eu devo ultrapassar. É ao meu passado que devo o meu saber, a
minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e
o meu corpo.”
Nesse percurso de vida pública, ocupei inúmeros
cargos, ingressei em várias instituições corporativas e de cultura, recebi
muitas comendas e honrarias. Mas confesso: de todas as homenagens
que recebi ao longo do tempo, nenhuma tem o significado igual ao deste título
que agora recebo, de “Professor Emérito”.
Os presentes não podem avaliar a emoção e o peso
que senti de tamanha responsabilidade e que me invadiram desde o momento em que
foi marcada a data desta solenidade. A síndrome da insônia tornou-se
companheira diária e houve momentos em que batia a emoção, agravada quando meu
estimado colega da Comissão da Verdade, o então estudante Juan de Assis
Almeida, hoje mestrando na UNB, me alertou que o Curso de Direito, nesses 60
anos, teve a outorga de apenas 21 títulos de Professor Emérito (entre esses o
meu pai, professor José Gomes da Costa), sendo o último agraciado o meu querido
amigo e colega de Procuradoria do Tribunal de Contas Múcio Villar Ribeiro
Dantas, que nos deixou nesta Universidade o talento do Professor Marcelo
Navarro RIBEIRO DANTAS – exemplo de cultura e dignidade.
A inatividade legal não retirou o meu entusiasmo
para continuar, agora entrei na luta para restaurar a velha Casa do Direito da
Ribeira “canguleira”, quase em ruínas, onde deveremos fazer ressurgir uma parte
heroica da nossa história.
Minhas Senhoras e Meus Senhores, neste momento de
grande emoção, só tenho palavras para agradecer a esta minha morada de grandes
lutas e de saudades, aos companheiros que aprovaram meu nome para tão
importante honraria, comandados pelo amigo Ivan Lira, que guardou a fidelidade
de ex-aluno, transcendendo o meu perfil ao fazer sua saudação, ao Professor
Tarcísio Gurgel, que apresentou o meu currículo de maneira competente, como
sempre, e aos meus amigos que se dignaram me prestigiar com suas presenças, em
especial os que aceitaram participar das Comissões, todos formatando um quadro
que ficará emoldurado em minha memória até o findar dos meus dias. Todavia, sem
ter qualquer pressa, proclamo que ainda tenho forças para outras jornadas.
Nestas últimas palavras, cai bem repetir a
extraordinária Simone de Beauvoir:
“A impressão
que eu tenho é de
não ter envelhecido,
embora eu esteja
instalado na velhice.”
OBRIGADO.
Natal, 20/4/2018
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MENSAGENS/COMENTÁRIOS:
Professor Carlos Gomes, gostaria de registrar meu agradecimento pelo convite a
compor a Comissão de Honra de aposição da Veste Talar. Foi um momento único que
ficará eternamente gravado em minhas lembranças. A simbologia do ato foi de um
verdadeiro encontro geracional de um iniciante jurista e advogado com um
experiente e notável advogado e professor numa cerimônia de congraçamento e
reconhecimento do legado intelectual, imaterial e material deixado pelas
gerações antecessoras (pelo senhor) para as novas e futuras gerações. O título
de Emérito era algo esperado porque merecido por tanta abnegação às causas
coletivas que enriquecem nossa cultura e nossa história. Confesso do meu
entusiasmo, porquanto procurei, mesmo de longe, acompanhar todo o processo de aprovação
nas instâncias da UFRN, o que ocorreu unanimemente em todas elas. Agradeço,
igualmente, por todas as referências feitas nos discursos oficiais e
informalmente a mim. Além de me envaidecer, é prova da sua generosidade e
envolvimento com as grandes causas que juntos enfrentamos e haveremos de
enfrentar. Da mesma forma que o senhor concluiu o discurso afirmando que aceita
as novas jornadas, também registro o meu empenho nas outras lides da vida.
Muito obrigado! Parabéns pelo Título de Emérito da UFRN! Abraços. (Juan de
Assis Almeida).
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Carlos de Miranda Gomes agora é Professor Emérito da UFRN
foto:Prof Angela Paiva
Ao Mestre com Carinho...
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) concedeu o Título
de Professor Emérito ao educador Carlos Roberto de Miranda Gomes na sexta-feira
(20). O título é conferido aos profissionais da área acadêmica de notório
legado para a sociedade e para a UFRN.
...Comissão da
Verdade
Um dos mais notáveis trabalhos do homenageado foi a contribuição como
presidente da Comissão da Verdade, que buscou investigar as violações aos
direitos humanos na Instituição durante a Ditadura Militar.
Atualizado: O Professor Carlos de Miranda Gomes foi homenageado pelo
professor e Juiz Federal Ivan Lira.
Tribuna do Norte, 21
de Abril