terça-feira, 25 de outubro de 2022

 MACAÍBA: 145 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

 

Pesquisa e Texto de Valério Mesquita

e Anderson Tavares

mesquita.valerio@gmail.com


 

Os núcleos populacionais mais antigos e conhecidos nas terras onde atualmente ergue-se a cidade de Macaíba foram o arraial e o engenho Potengi (Ferreiro Torto), o segundo da capitania do Rio Grande. Foi construído pelo capitão Francisco Rodrigues Coelho e o seu sócio, o vigário do Natal Gaspar Gonçalves da Rocha. Esse primitivo engenho, bem como o arraial, tiveram vida curta. Foram destruídos e o proprietário massacrado pelas mãos invasoras holandesas em dezembro de 1634.

Ato contínuo, tendo em vista a decadência da cidade do Natal, arrasada pelos batavos, estes subiram o rio Potengi e na confluência do rio Jundiaí foi fundado a Nova Amsterdã, a qual chegou a possuir a câmara dos escabinos cujos moradores viviam da pesca, da produção de farinha e do plantio de fumo.

Porém, a história oficial do município teve início em 1770, com a demarcação do sítio Coité pelo coronel Manoel Casado. Coité era uma árvore abundante na região que o coronel passou a criar e plantar em sua propriedade. Em 1850, passa a pertencer ao capitão Francisco Pedro Bandeira de Melo, cuja filha, D. Damiana Maria Bandeira, consorciou-se com o comerciante Fabrício Gomes Pedroza, morador no engenho Jundiaí.

Fabrício Pedroza, comerciante de alto prestígio e larga visão comercial, notando a boa localização do sítio do sogro, constrói o primeiro estabelecimento comercial à margem do rio Jundiaí , e numa cerimônia em 1855, no quintal do referido estabelecimento, onde plantou duas macaíbas, muda o nascente povoado de Coité para Macaíba. E convida amigos comerciantes para instalar-se na localidade. Em 1870, o major Fabrício funda a casa comercial dos Guarapes, importadora e exportadora de produtos, direto do seu porto para os EUA e Inglaterra, com a mudança do velho para Rio de Janeiro: o negócio foi fechado e abalou a frágil economia provincial.

A freguesia foi criada pela lei n° 815, de 07 de dezembro de 1877, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, santos Cosme e Damião.

A lei provincial n° 801, de 27 de outubro de 1877, deu ao povoado da Macaíba o predicamento de vila, ganhando assim autonomia administrativa, sendo transferida à câmara municipal de São Gonçalo cujo presidente era o capitão Vicente de Andrade Lima. Outra lei provincial n° 1.010, de 05 de janeiro de 1889, elevou-a à condição de cidade.

Como distrito, ou termo judiciário, Macaíba foi elevada à categoria de comarca do Potengi pela lei provincial n° 845, de 26 de junho de 1882, suprimida, posteriormente, em 1898, restaurada em 1907, foi novamente suprimida em 1914, e afinal restaurada em 08 de abril de 1918.

Pioneira em vários aspectos, Macaíba libertou seus escravos em 06 de janeiro de 1888, tendo a frente deste movimento o comendador Umbelino Freire de Gouveia Mello, presidente da sociedade libertadora “Padre Dantas”. A primeira casa bancária do estado foi nesta cidade, fundada pelo deputado Eloy Castriciano de Souza, que financiava as safras de açúcar de grande parte dos municípios do Ceará-Mirim à São José, incluindo o vale do Cajupiranga. Sendo ainda a promotora do trabalho feminino no comércio, uma vez que o senhor Francisco Campos era auxiliado por sua esposa e as quatro filhas em seu comércio no ano 1924.

Macaíba hoje tem uma população de mais de 80 mil, uma área de 492 km, mais de 70 escolas públicas municipais, 04 distritos (Traíras, Mangabeira, Cajazeiras e Cana-Brava), 16 comunidades urbanas e mais de 30 comunidades rurais. Tem na mandioca sua agricultura de subsistência. Destacamos, ainda, a cultura do caju e a apicultura como meio de geração de emprego e renda, além da plantação do mamão na zona rural do município. Outro ponto importante para economia do município é a ascendente atividade da carcinocultura, destacando-se como um dos mais promissores do RN. No trinômio comércio, agricultura e indústria tem sua fonte econômica. O abastecimento de água é feito pela CAERN (Companhia de Água e Esgotos do RN) e a energia elétrica é de responsabilidade da COSERN (Grupo Neoenergia).

Faz fronteira com 08 municípios (Natal, Parnamirim, São José do Mipibú, Vera Cruz, Bom Jesus, São Pedro, lelmo Marinho e São Gonçalo do Amarante), 17 vereadores integram o poder legislativo municipal. FPM e ICMS são as maiores fontes da receita pública.

A população católica representa 73%, com cerca de 60 mil fiéis. A paróquia integra a Arquidiocese de Natal e a festa da sua padroeira é 08 de Dezembro. As outras denominações religiosas são: a Igreja Assembléia de Deus, Igreja Batista de Macaíba e Batista da Convenção, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Presbiteriana, Igreja Deus é Amor, Igreja Pentecostal, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Congregação Cristã no Brasil, Testemunhas de Jeová e Igreja Cristã em Células. Nos cultos de cultura Afro destacamos o terreiro de Dedé de Macambira, terreiro do Mosquito e terreiro de Paulo da Lagoa.

Macaíba localiza-se a 18 quilômetros de Natal e é cortado por duas BR's 304 e 226, e pela RN 160. Tem a melhor água da Grande Natal. Possui um distrito industrial composto por cerca de 20 empresas entre pequenas, médias e grandes (a Sam’s, Multidia, Coteminas, Coca-Cola, Rufitos, Temperos Sandio, Argamassa Potengy, Center Massas, Água Mineral Cristalina, Água Mineral Riogrande, Águia Piscina), entre outras, e como órgão representativo da categoria patronal temos a ASPIM. CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) e SindComércio (Sindicato do Comércio Varejista) são as entidades representativas do comércio local, com uma média de 2000 mil empregados diretos no ramo comercial em cerca de 400 lojas nos mais diversos ramos de atividade. A empregabilidade está no serviço público (três esferas), comércio, agricultura e indústria.

Salve a data aniversária de 27 de Outubro e salve Macaíba enquanto é tempo!

domingo, 23 de outubro de 2022

A frase do ex-deputado federal pernambucano Thales Ramalho de que “maior que a ilusão política só a ilusão do amor” é de uma verdade tão cristalina que me fez refletir mais ainda sobre os últimos dias de Pompéia. A deterioração dos costumes políticos, as debandadas, as infidelidades à 25ª hora, a substituição das coligações eleitorais pela proliferação de legendas partidárias, as adesões no varejo e no atacado em tom promocional e de liquidação; a troca de legendas antes mesmo de o candidato assumir o mandato, tudo conduz o eleitor ao descrédito da vida pública, estarrecido com a conduta pérfida dos seus protagonistas. Em nome da mudança, do novo, do diferente, alguns agentes políticos estão destruindo a própria biografia no jogo vantajoso das premissas e das facilidades dos governos que estão por vir. Nunca a flauta mágica do fisiologismo tocou tão alto desbotando clichês, ruborizando os céticos e dissolvendo bancadas tal e qual o efeito sonrisal. O que está acontecendo hoje com a chamada classe política? Deu a louca no mundo? É tão grande assim o impacto das dívidas e das dúvidas pendentes da campanha que passou? Dir-se-á que os partidos vencedores quando trocaram a ideologia pela convivência dos contrários, os partidos de direita e de centro perderam o pudor e se misturaram no mais estranho e promíscuo hibridismo partidário da história política do país. Já que não posso entender, após exaustivas reflexões, espero que tanta gente junta dê certo, tanto aqui quanto alhures, como diria o nosso saudoso Paulo Macedo. Talvez isso tudo seja mesmo uma fogueira das vaidades. E ponto final. Tudo é mesmo ilusão. Nada além de uma ilusão, sobre a qual nos falava o saudoso ator e comunista Mário Lago. Refletir sobre os fatos e factóides da vida talvez seja a melhor postura diante do mar de Cotovelo. O dom da observação é importante para aprender a viver e dissipar os contrapontos insurgentes. Ergui-me da rede para repensar o imponderável. Vamos devagar com o andor que o santo é de barro e não faz milagre. Para o conhecimento do crítico de cinema Valério Andrade, o cenário é o mesmo, os figurantes idem. Mudam os atores, os diretores, produtores e roteiristas. A trilha sonora continuará sendo o hino nacional de Fafá de Belém, e por aqui a velha e ilusória marchinha carnavalesca “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...”. E o filme? O filme é o mesmo para que muitos, mais tarde, possam repetir novamente: já vi essa fita antes. Está escrito que, na história da humanidade, todos haverão de passar e que o Messias prometido só existiu um. E uma Cleópatra, também. Política, enfim, é mais do que circunstância. É ilusão, mesmo. E muita vaidade. É ilusão gratulatória. (*) Escritor Responder , Responder a todos ou Encaminhar Enviar


  • ACOMODAÇÕES DA 25ª HORA

    Valério Mesquita*

    Mesquita.valerio@gmail.com

    A frase do ex-deputado federal pernambucano Thales Ramalho de que “maior que a ilusão política só a ilusão do amor” é de uma verdade tão cristalina que me fez refletir mais ainda sobre os últimos dias de Pompéia. A deterioração dos costumes políticos, as debandadas, as infidelidades à 25ª hora, a substituição das coligações eleitorais pela proliferação de legendas partidárias, as adesões no varejo e no atacado em tom promocional e de liquidação; a troca de legendas antes mesmo de o candidato assumir o mandato, tudo conduz o eleitor ao descrédito da vida pública, estarrecido com a conduta pérfida dos seus protagonistas. Em nome da mudança, do novo, do diferente, alguns agentes políticos estão destruindo a própria biografia no jogo vantajoso das premissas e das facilidades dos governos que estão por vir. Nunca a flauta mágica do fisiologismo tocou tão alto desbotando clichês, ruborizando os céticos e dissolvendo bancadas tal e qual o efeito sonrisal.

    O que está acontecendo hoje com a chamada classe política? Deu a louca no mundo? É tão grande assim o impacto das dívidas e das dúvidas pendentes da campanha que passou? Dir-se-á que os partidos vencedores quando trocaram a ideologia pela convivência dos contrários, os partidos de direita e de centro perderam o pudor e se misturaram no mais estranho e promíscuo hibridismo partidário da história política do país.

    Já que não posso entender, após exaustivas reflexões, espero que tanta gente junta dê certo, tanto aqui quanto alhures, como diria o nosso saudoso Paulo Macedo. Talvez isso tudo seja mesmo uma fogueira das vaidades. E ponto final. Tudo é mesmo ilusão. Nada além de uma ilusão, sobre a qual nos falava o saudoso ator e comunista Mário Lago.

    Refletir sobre os fatos e factóides da vida talvez seja a melhor postura diante do mar de Cotovelo. O dom da observação é importante para aprender a viver e dissipar os contrapontos insurgentes. Ergui-me da rede para repensar o imponderável. Vamos devagar com o andor que o santo é de barro e não faz milagre.

    Para o conhecimento do crítico de cinema Valério Andrade, o cenário é o mesmo, os figurantes idem. Mudam os atores, os diretores, produtores e roteiristas. A trilha sonora continuará sendo o hino nacional de Fafá de Belém, e por aqui a velha e ilusória marchinha carnavalesca “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...”. E o filme? O filme é o mesmo para que muitos, mais tarde, possam repetir novamente: já vi essa fita antes. Está escrito que, na história da humanidade, todos haverão de passar e que o Messias prometido só existiu um. E uma Cleópatra, também. Política, enfim, é mais do que circunstância. É ilusão, mesmo. E muita vaidade. É ilusão gratulatória.

     

    (*) Escritor



 


UMA NOITE DESVAIRADA NA PAULICÉIA

Tomislav R. Femenick – Jornalista e historiador

 

Tempo atrás, um amigo paulista mandou-me, via Internet, uma foto tirada no início dos anos setenta. Lá estavam o cineasta Cacá Diegues, a cantora Nara Leão, o jornalista Samuel Wainer, a jornalista Sheila Leirner, o cartunista Geandré e o jornalista e escritor Jorge da Cunha Lima. Seria apenas um grupo de intelectuais, algo sem importância, não fosse também a presença da famosa Dona Laura, proprietária da boate La Licorne (onde a foto foi tirada) e de outra casa noturna, a Scarabociu.

Para quem não nunca ouviu falar, o La Licorne, principalmente, e o Scarabociu, integravam o famoso circuito da Boca do Luxo, onde estavam os melhores cabarés e boates da capital paulista. Tão famosas quanto essas casas eram suas meninas, geralmente estudantes e algumas já formadas, que optavam por continuar na noite. Mais famosos ainda eram seus frequentadores. Dizem que o charme dessas mulheres encantou o Secretário de Estado americano, Henry Kissinger; o presidente do Chile, Eduardo Frei; o piloto Niki Lauda, o cantor Julio Iglesias e até uma comitiva da primeira-ministra hindu, Indira Gandhi. O La Licorne estava para São Paulo assim como o Moulin Rouge está para Paris.

Mesmo morando em São Paulo, a verdade é que eu nunca tinha ido ao La Licorne. Foi então que, por essa época, o meu primo Carlos (o Dr. Charley do DNER) foi à capital paulista participar de um seminário sobre construção de estradas. Caxias como ele era com o dinheiro público, ficou hospedado na minha casa. No dia do encerramento do encontro ele descolou um convite e me chamou para ir ao jantar no Hotel Hilton. Terminado o banquete, os promotores do evento fizeram uma surpresa: todo mundo estava convidado para tomar uns scotts no Scarabociu e, depois, assistir ao show e tomar outros drinques no La Licorne. Fomos todos, até dois engenheiros que eram evangélicos. No Scarabociu fomos recebidos pelas hostesses da casa e por algumas garrafas de whiskies Buchanan’s, Old Par e President, todos devidamente com maioridade plena, isso é, 21 anos. O ambiente era pequeno, agradável e aconchegante, como devem ser as casas do ramo. Mas lá estávamos apenas fazendo hora. Perto da meia-noite levantamos acampamento e fomos em direção ao La Licorne.

Aqui se deu um fato insólito. Quando estávamos entrando na famosa casa, o show já havia começado e as luzes do salão estavam apagadas. Ao meu lado estavam Charley e um engenheiro do Paraná. Este me perguntou:

– Você conhece bem o ambiente daqui?

– Não porque, como você, está é a primeira vez que entro aqui – respondi.

Como se fora uma deixa de teatro, no mesmo instante uma voz saída da escuridão gritou:

– Tomislav!!!

Eu fiquei sem jeito – ou, como se dizia naqueles anos, perdi o rebolado. Como Tomislav é um nome incomum, ninguém acreditou no que eu havia dito antes.

Fique em pé, esperando as luzes se acenderem. Terminada a apresentação, notei uma mão acenando para mim. Era meu amigo José Laorte, que morava em Brasília, estava visitando São Paulo e, como eu, visitava o La Licorne pela primeira vez. Depois das explicações, acho que tinha convencido que eu não era um habitué daquele cabaré. Eis que aconteceu o mais inesperado. Um outro amigo de Mossoró, que há muito tempo eu não via, aproximou-se de mim, cumprimento-me e disse:

– Hoje você vai conhecer Dona Laura – era outro mossoroense, seu motorista particular.

Depois dessa, ninguém mais acreditou em mim. Acho que nem mesmo eu.