sábado, 11 de maio de 2013


Maracanã 1950: a história da construção se repetiu depois de 63 anos

Construção e reforma têm aspectos parecidos: preparação tardia e inauguração às vésperas do evento


Diego Salgado 
postado em 26/04/2013 11:37 h
atualizado em 26/04/2013 19:41 h
Os trabalhos no canteiro de obras entram num ritmo frenético. Faltam apenas algumas semanas para que o prazo de conclusão previsto pelo governo chegue ao fim. A desconfiança em relação ao cumprimento do cronograma é recorrente e o adiamento da entrega das obras se torna realidade. 
Esses fatos fizeram parte da reforma do Maracanã para a Copa do Mundo 2014. Mas serviriam também para as manchetes dos jornais de 1950, ano em que o país organizou seu primeiro Mundial. As obras do Maracanã, entre 2010 e 2013, seguiram os passos da conturbada construção do estádio, entre 1947 e 1950.
O primeiro ponto em comum é a demora para o início das obras. O Brasil foi escolhido sede do Mundial de 1950 no dia 25 de julho de 1946 e gastou metade do tempo de preparação para o evento com a burocracia anterior à construção do Maracanã. A pedra fundamental do estádio foi lançada no dia 20 de janeiro de 1948. O início da obra, por sua vez, deu-se no dia 10 de agosto do mesmo ano, a 22 meses da bola rolar.
A reforma do Maracanã para a Copa 2014 repetiu a história. De 30 de outubro de 2007 a 8 de setembro de 2010, nada foi feito no estádio. Os trabalhos, então, foram executados num prazo bem inferior, em 31 meses, concluídos às vésperas da Copa das Confederações 2013. 
Guerra políticaA construção de um grande estádio no Rio de Janeiro, então capital federal, foi idealizada em abril de 1941, no governo Getúlio Vargas. Após um concurso organizado pela esfera federal, com o objetivo de escolher o projeto, a prefeitura entrou na jogada. Começava, então, a guerra política pela paternidade da obra.
Depois de seis anos, já com o Brasil na posição de sede da Copa, o assunto voltou à tona. Vargas já havia deixado a presidência e o prefeito do Rio, Hildebrando Goes, instalou uma comissão de estudos para a construção do estádio.
Mendes de Moraes, que depois daria nome ao Maracanã, tornou-se prefeito do Rio de Janeiro em junho de 1946. Começara, dessa forma, mais uma briga política, ligada à localização da obra. Moraes defendia a construção no terreno do antigo Derby Club, próximo à linha ferroviária, no bairro da Tijuca. Carlos Lacerda, líder da União Democrática Nacional (UDN), queria o estádio em Jacarepaguá.
O prefeito, porém, contou com o providencial apoio do músico e radialista Ary Barroso e do jornalista Mário Filho. Com isso, Moraes ganhou a queda de braço. O estádio seria erguido mesmo no Derby Club, às margens do Rio Maracanã. 

Andaimes presentes na arquibancada superior na inauguração do Maracanã (crédito: Suderj)
As obras Como ocorreu nas obras da Copa 2014, a primeira previsão de término da construção do Maracanã não foi cumprida. A entrega estava marcada para abril de 1950. Somente em fevereiro, porém, a marquise do estádio começou a tomar forma. A primeira partida, então, entre as seleções paulista e carioca, foi adiada de 28 de maio para 17 de junho.
Nos últimos meses da construção, a pressão era grande. Com isso, o prefeito Mendes de Moraes recorreu às forças armadas. Primeiro, turbinou a entrega de material, com os caminhões do Exército. Depois, incluiu soldados ao contingente de 2,8 mil operários da obra, todos comandados pelo Coronel Herculano Gomes. 
A maior preocupação era a cobertura do Maracanã. Para agilizar a construção da estrutura, Gomes adicionou uma resina especial, com o intuito de realizar a secagem do concreto em menos tempo. Para provar que a marquise estava seca, o responsável pelas obras do estádio subiu no topo da estrutura.
Outro artifício usado para provar a resistência do estádio foi causar, propositalmente, o impacto da queda das madeiras que "seguravam" a cobertura. Com o processo, o concreto da arquibancada passava por sua prova de fogo.
Um trecho do espaço destinado aos torcedores, contudo, continuou escorado por andaimes até a semana do dia 17 de junho. No dia do primeiro jogo do Maracanã, a torcida presente na arquibancada localizada atrás de um dos gols assistiu à partida misturada entre os materiais de construção. No entorno do estádio, mais atrasos. A dias da abertura da Copa, ocorrida em 24 de junho, a obra estava inacabada.
Números
O Maracanã de 1950 tinha capacidade para receber 155 mil torcedores --na final da Copa, 173.850 espectadores assistiram à derrota brasileira por 2 a 1 diante do Uruguai. Hoje, o estádio pode receber "apenas" 78 mil pessoas. 
Em 1950, o estádio foi palco de oito dos 22 jogos do Mundial. A seleção brasileira, por sua vez, jogou cinco vezes no local. Em 2014, o Maracanã será palco de sete dos 64 confrontos do torneio. O Brasil só atuará no local caso chegue à final da Copa.
A obra de 1950 durou 675 dias, enquanto a atual foi concluída em 992 dias. O primeiro jogo do novo Maracanã, um amistoso entre os amigos de Ronaldo e Bebeto, será disputado a 49 dias da Copa das Confederações. Há 63 anos, o estádio recebeu a primeira partida a sete dias da abertura da Copa de 1950.
Siga o Portal Copa 2014 no twitterhttp://www.twitter.com/portalcopa2014

sexta-feira, 10 de maio de 2013



COMBATE ÀS TREVAS – II  
(A QUESTÃO DAS DROGAS)
Por Eduardo Gosson(*)
ANJO FERIDO


para Fausto Gosson

“Não se pode ferir as asas de um anjo,
mas o fizeram nas franjas da noite;
as ruas traem a quietude da casa,
a paz do Senhor é bandeira defraudada.
Não se deve dizer mais que herói é o homem
com seus sonhos, seu vigor, espada e nome,
se as fantasias de querer mais que o céu na terra
tornam impura a estrada, dilui passos em quimeras.
   (Meu querido menino, santos eram teus olhos,
o Senhor da paz está contigo em óleo)
Não fica impune o que rouba a inocência,
O barro de Deus é obra de Suas mãos.
Esta aliança não é perdida no azul do infinito,
ainda que a mordida do tempo rasgue o manto.
Uma criança chora no pai que enterra a semente,
mas ele tem a esperança de um dia ouvir o canto
                                                                                                      do que hoje em letra e coração dorme eternamente.”
Alexandre Abrantes


O Estado no  Brasil e, em particular, no RN não tem uma política para tratar  os dependentes químicos. Senão vejamos  a situação dos três hospitais que “cuidam” do problema:
Hospital João Machado. Referência no passado em Psiquiatria, hoje está na contramão: projetado para atender as doenças mentais, atualmente os doentes mentais lá assistidos são em torno de 10%; os 90% restantes são dependentes químicos que lá permanecem por no máximo uns 15  dias até terem alta, ficando à-toa; os novos medicamentos para combater  a dependência,  não tem;no menu, só há medicamentos básicos para as doenças mentais. Para completar o quadro, as mentes iluminadas da Secretaria de Saúde resolveram abrir novas enfermarias, misturando doenças mentais, dependência química e doenças comuns. É sabido de todos que um paciente com doença mental em crise pode fazer loucuras com os demais. Tenho pena de um diretor de um hospital nestes moldes: viverá sendo chamado pelo Ministério Público ou Conselho de Medicina para se explicar ou explicar o inexplicável.
Casa  de Saúde Natal. Do saudoso Severino Lopes, um pioneiro no tratamento das doenças mentais  é, ao nosso ver, o pior dos três, uma vez que é todo verticalizado, parecendo um campo de concentração. Praticamente, não tem área verde.
Clínica Santa Maria. Atendia ao SUS até recentemente, quando sérias denúncias fizeram com que a mesma fosse descredenciada. Se antes estava ruim, agora ficou pior. Já tive filhos internados lá por causa da dependência química. Pude constatar que os traficantes em motos  jogavam a droga por cima do muro. Tive certa vez a oportunidade de relatar para a senhora Marione, esposa do Dr. Agamenon Fernandes, proprietário da clínica. Solução imediata: mandaram subir em torno de um metro o muro, mas o problema continua porque diz respeito a todos nós.  Em vez de jogarmos o problema para debaixo do tapete, precisamos empreender um COMBATE ÀS TREVAS.
 Nos últimos 15 anos, na esfera municipal, foi criado outro modelo: CAPS, no rastro da antipisiquiatria desenvolvida por Basaglia na Itália, que na década de 70, com ajuda dos pacientes, literalmente desmontaram o hospital psiquiátrico tradicional. Aqui se partiu do velho modelo para um “novo” duvidoso. Tem estados da Federação que os seus formuladores  colocaram na Constituição do Estado, que a partir da Promulgação do texto legal, nenhum hospital psiquiátrico seria mais construído. Resultado:  o velho e o “novo” não funcionam.
(*) É Escritor. Presidente da União Brasileira de Escritores – UBE/RN. Perdeu o filho Fausto no ano passado no dia 26.05.2013, vítima de overdose de cocaína. E-mail: eagosson@gmail.com

quinta-feira, 9 de maio de 2013


Lembrai-vos de 1937
Ticiano Duarte - jornalista

Em 1937, com o Estado Novo, o ditador Getúlio Vargas extinguiu os partidos e fechou o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais. A Constituição de 1934 proibia a reeleição e Getúlio tinha sido eleito indiretamente pela Constituinte daquele ano. O ano de 1938 se aproximava e o seu mandato de 04 anos estava prestes a se encerrar. Ele então armou a “capoeira”, como era do seu estilo, tornando-se definitivamente ditador até 1945, quando foi deposto pelos militares.

O Estado Novo era contra a democracia parlamentar, a pluralidade de partidos (como hoje o PT também é contra) e a representação autônoma de interesses, valorizando o Estado forte, tutor da sociedade civil com a máquina própria de propaganda, o famigerado DIP, fechando os principais veículos de informação. Getúlio era o pai dos pobres e os que não rezassem na sua cartilha eram expulsos do país.

Alguns radicais do PT estão tentando ressuscitar um Estado Novo do século 21, mais moderno do que o inspirado pelo caudilho e seus seguidores da década de 30, nos moldes dos hermanos da Venezuela, Argentina e Bolívia, o que a mídia nacional está chamando de emenda bolivariana, que submete o Supremo Tribunal Federal à vontade dos deputados federais e senadores. Em 1937, no Estado Novo, o Presidente da República podia cassar decisões do Supremo e confirmar constitucionalidade de leis, relembrou o ministro Gilmar Mendes.

Os partidários do PT, os mais radicais, miram à liberdade de imprensa, tentando controlá-la, a imprensa que os incomoda, que denuncia os seus militantes envolvidos em escândalos de negociata com os dinheiros públicos.

O Judiciário está impedindo a tentativa de dificultar a criação de partidos, mas o PT tem na sua agenda um projeto de maior alcance, a reforma política dando suporte ao absurdo financiamento público das campanhas, das listas fechadas e mais outros casuísmos com vistas ao vale tudo para manter-se no poder.

O deputado petista, do Piauí, autor da emenda constitucional que fere a harmonia dos poderes, é conhecido pelas tarefas que os seus colegas não tem coragem de executá-las. Como por exemplo, um projeto limitando o máximo de consumo para cada brasileiro e o que sobrasse seria confiscado para uma “poupança fraterna”. Outro, querendo restringir os poderes do Supremo Tribunal Federal, por ter liberado a realização de pesquisa com uso de células-tronco embrionárias. Ele se diz católico praticante: “Sou a favor da vida. Um dia fui embrião”.

Patético, esse Nazareno Forteneles, desta vez na sombra de seus correligionários, Genuíno e João Paulo, condenados no escândalo do mensalão, por corrupção e peculato, armou um cenário, com aprovação da bancada bolivariana, imaginando intimidar os ministros que vão julgar os recursos dos condenados no maior escândalo de nossa história republicana.

Há muita coincidência de inspiração ideológica dos parlamentares argentinos e bolivianos, com os atuais petistas radicais que atuam na presente legislatura. A revista “Veja, na sua última edição, dá notícia que os aliados do ex-presidente Lula, Hugo Chávez, na Venezuela, e Cristina Kirchner, na Argentina, “conseguiram manietar o Judiciário, de seus respectivos países, depois de receber decisões contrárias a seus projetos de poder. Na última quinta-feira, deputados kirchneristas aprovaram a lei de restringir a emissão de liminares contra o estado”.  Segundo um cientista político daquele país o objetivo “é acabar com as situações que no passado, impediam o governo de avançar contra “O Clarin”, (Jornal independente).

Esse sonho de calar a imprensa independente e livre ainda continua latente no sentimento petista. Fazer no Brasil parecido com o que se está praticando na Argentina. Amordaçar, controlar, regular, uma espécie de DIP, à moda bolivariana não com os sotaques nazistas e fascistas da época getuliana, mas dos hermanos, mui amigos, nossos vizinhos “democratas”, que estão na periferia dando lições aos mussolines e salazares da vida.

O então deputado Café Filho, na Constituinte de 1945, quando pressentia manobras totalitárias do governo do marechal Dutra, alertava: lembrai-vos de 1937.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

A Árvore dos meus Amigos

Existem pessoas em nossas vidas que nos deixam felizes pelo simples fato de terem cruzado o nosso caminho. Algumas percorrem ao nosso lado, vendo muitas luas passarem, mas outras apenas vemos entre um passo e outro.

A todas elas chamamos de amigos. Há muitos tipos de amigos. Talvez cada folha de uma árvore caracterize um deles. O primeiro que nasce do broto é o amigo pai e mãe. Mostram o que é ter vida. Depois vem o amigo irmão, com quem dividimos o nosso espaço para que ele floresça como nós. Passamos a conhecer toda a família de folhas, a qual respeitamos e desejamos o bem.


Mas o destino nos apresenta outros amigos, os quais não sabíamos que iam cruzar o nosso caminho. Muitos desses denominados amigos do peito, do coração. São sinceros, são verdadeiros e nos trazem muitas alegrias.
Mas também há aqueles amigos por um tempo, talvez umas férias ou mesmo um dia ou uma hora. Esses costumam colocar muitos sorrisos na nossa face, durante o tempo que estamos pertos.

Falando em perto, não podemos esquecer dos amigos distantes. Aqueles que ficam nas pontas dos galhos, mas que quando o vento sopra, sempre aparecem novamente entre uma folha e outra.
O tempo passa, o verão se vai, o outono se aproxima, e perdemos algumas de nossas folhas.

Algumas nascem num outro verão e outras permanecem por muitas estações. Mas o que nos deixa mais feliz é que os que caíram continuam por perto, continuam alimentando a nossa raiz com alegria através das lembranças de momentos maravilhosos enquanto cruzavam o nosso caminho.

Simplesmente por que: Cada pessoa que passa em nossa vida é única. Sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.
Hoje seria o aniversário do nosso amigo  Dr LUCIANO NÓBREGA, não está mais entre nós, mas sei que permanece vivo em cada coração, pelo simples fato de ser uma pessoa humilde, sincera, amiga, leal, e entre outras virtudes.

atenc.

Ana Lúcia Oliveira
ASPERN
3221-0486
9609-0158
 
__._,_.___
NEI LEANDRO LANÇA NOVO LIVRO


Em mais um retorno à Natal, para interromper a prescrição (como dizia Dr. Mário Porto), desta feita para lançar mais uma das suas obras - "PASSÁRO SEM SONO", da Editora JOVENS ESCRIBAS.

*  *  *

A parceria entre a Editora Jovens Escribas e o Solar Bela Vista (SESI) renderá mais um evento de lançamento de um importante livro da literatura potiguar. Desta vez será a estreia de Nei Leandro de Castro na seara das narrativas curtas. Isso mesmo. Será publicado o primeiro livro de contos de um dos maiores romancistas potiguares. Os contos do livro foram escritos pelo autor ao longo das últimas décadas. Vários deles lhes renderam prêmios nacionais e publicações em importantes revistas. A festa de lançamento será no dia 9 de maio de 2013 (quinta-feira), a partir das 18h, no Solar Bela Vista (em frente à Capitania das Artes), ocasião na qual o autor e os editores reunirão amigos e leitores.
Nas histórias reunidas em “Pássaro sem sono”, um tema permeia várias delas: o erotismo. É a sensualidade utilizada como importante recurso a estabelecer tensão entre os personagens. O erotismo de Nei Leandro expressa a naturalidade do desejo sexual. Nelas, o desejo, a vontade, os impulsos incontidos de cada um não são gratuitos, mas partes de um enredo que transmite valor literário às histórias magistralmente contadas pelo autor.A publicação de “Pássaro sem sono”, aliás, vem em um momento em que a literatura comercial explora o erotismo de forma tão penosa e vulgar, este livro vem cumprir a nobre missão de redimir um estilo tão desvalorizado e vítima dos mais vis preconceitos. Os contos do livro se diferem de algumas publicações recentes por não sofrerem de uma nefasta fixação pelo secundário. Pelo contrário, eles se valem primeiramente de histórias bem contadas, narrativas bem escritas, personagens magistralmente construídos.
NEI LEANDRO DE CASTRO
Nei Leandro de Castro nasceu em Caicó (RN), em 1940. Viveu em Natal e no Rio de Janeiro, onde reside atualmente. Publicou os romances “O dia das moscas” (1983, com reedição em 2008), “As pelejas de Ojuara” (1986, com reedições em 1991, 2002 e 2006, adaptado para o cinema no filme “O home que desafiou o diabo”), “As dunas vermelhas” (2003, com reedição em 2013) e “A fortaleza dos vencidos” (2009), além de vasta obra poética.
EDITORA JOVENS ESCRIBAS
Este é o 4º lançamento do ano realizado pela Jovens Escribas no Solar Bela Vista, que vem se consolidando como um ponto de encontro dos fãs da boa literatura sempre na primeira quinta-feira do mês. E é o último lançamento antes da realização da AÇÃO LEITURA 2013, realizado pelo SESC em parceria com a editora que terá início no dia 13 de maio e levará diversos autores para um contato direto com estudantes e leitores.
Extras:
Além do lançamento os leitores que se fizerem presentes ao Solar Bela Vista poderão adquirir outros livros de Nei, além de todos os livros da editora Jovens Escribas.
Serviço:
Lançamento do livro “Pássaro sem sono” de Nei Leandro de Castro.
Local: Solar Bela Vista.
Data: 09 de maio de 2013 (Quinta-feira)
Hora: A partir das 18h
Preços dos livros: R$ 30
_____________
CRÉDITO: SUBSTANTIVO PLURAL

COMBATE  ÀS  TREVAS  - I
(A QUESTÃO DAS  DROGAS)
Por Eduardo Gosson (*)

“Meu querido menino, santos eram teus olhos,
o Senhor da paz está contigo em óleo” (Alexandre Abrantes)

O tráfico existe porque há mercado. Se  há mercado é porque o tráfico existe. Parece  lógica formal, mas não é. A  sociedade está profundamente doente e não quer se dá conta desta afirmativa. Sob a bandeira  É PROIBIDO PROIBIR é  que chegou-se ao presente com poucas esperanças.
No ambiente familiar, o álcool é incentivado desde muito cedo. Os jovens não sabem que de cada 100, 10 desenvolverão dependência química – doença incurável que a cada dia  destrói seres humanos, sobretudo os jovens. Fumar, beber e cheirar passaram a ser “valores normais”. É  considerado careta quem não adota estas práticas.Fui jovem, hoje estou maduro. Andei e conheci o  céu e o inferno de Natal.  Foram oferecidas drogas e prontamente recusadas. Perguntavam sempre:  “-você é careta?”
“-Sim,”  respondia com convicção
. Para  ser feliz ninguém precisa destes acessórios. Para ser  feliz o ser humano precisa no máximo de “açúcar, afeto e o doce predileto”, conforme canta o camarada Chico Buarque. Para ser feliz  é preciso ser feliz. E nada mais. O resto é tabela de co-senos e considerações de apreço ao senhor diretor.
________________________________________
(*) É Escritor. Presidente da União Brasileira de Escritores – UBE/RN. No ano passado, em 26 de maio, perdeu o filho Fausto vítima de overdose de cocaína.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Merval Pereira

Em questão de poucos dias, uma instrução normativa da Receita Federal e uma resolução do COAF - Conselho de Controle de Atividade Financeira – confirmaram a tendência autoritária do governo federal.
Uma violação da privacidade, na definição do tributarista Everardo Maciel, ex-secretário da Receita. Um Big Brother multiplicado por milhões, segundo o advogado tributarista Brasil do Pinhal Pereira Salomão, do escritório Brasil Salomão e Matthes Advocacia, que deu o alerta em seu site.

A resolução do COAF determina que pessoas físicas ou jurídicas que vendam itens com preço maior que R$ 10 mil precisam, obrigatoriamente, fazer um cadastro de seus clientes, com nome, CPF ou CNPJ, documento de identidade e endereço completo, que deve ser mantido por cinco anos.
Se o cliente, no período de seis meses, fizer aquisições de serviços ou produtos em valor superior igual ou superior a R$ 30 mil, o vendedor ou prestador está obrigado a comunicar o COAF, pelo site.Já a instrução normativa da Receita Federal exige que quem gaste mais de U$ 20 mil dólares por mês com serviços no exterior informe onde esses valores foram gastos, com notas fiscais.
A regra vale para hospedagem, transportes, alimentação ou mesmo saúde para as pessoas físicas, e viagens, honorários advocatícios, treinamentos, licenciamento, direitos, software, prestação de serviços em geral para as jurídicas.A declaração deve ser feita no site da Receita, no centro virtual de atendimento ao contribuinte (e-CAC) e ficará no Siscoserv (sistema criado no ano passado para monitorar compra e venda de serviços de pessoas físicas e jurídicas no exterior).

O advogado tributarista Brasil Salomão diz que a primeira regra, referente aos gastos de R$ 10 mil já é extremamente gravosa para o empresário, mas não o transforma em "agente" do governo. No segundo caso, “serei obrigado a comunicar o COAF, dando início a um expediente administrativo de verificação da vida do cliente. É terrível”.

Ele considera a medida “uma violação inconteste aos artigos 1º e 170 da Constituição, que enaltecem, como fundamento do Estado democrático de Direito, a livre iniciativa”. Salomão está aconselhando a seus clientes que questionem essa nova regra na Justiça.
A Ordem dos Advogados do Brasil já conseguiu isentar os advogados no exercício da profissão dessa obrigação.

Brasil Salomão vê ainda “uma violação ao sigilo de dados porque em toda operação empresarial (prestação de serviços ou venda de mercadorias) há um contrato, entre pelo menos duas partes, ainda que verbal, e, alguns dos seus dados estão protegidos pela Carta Constitucional”.

Já Everardo Maciel, ex-secretário da Receita, classifica as medidas como “tentativas de controlar a vida das pessoas”, e compara com o que foi feito na Argentina, “coisa de país subdesenvolvido”. Maciel cita o advogado Paulo José da Costa, autor do livro “O direito de estar só”, para falar da “violação da privacidade das pessoas” que essas medidas representam: “São contra nosso direito de estar só”.

Por que elas não correspondem ao dever fundamental de pagar impostos, nem a nenhuma obrigação fiscal, Maciel as considera “uma violência, bisbilhotagem desnecessária”.
Ele diz que o que estão fazendo na área tributária é inacreditável. “Lido com isso há 40 anos e nunca vi uma coisa tão desastrada como essa. Há uma sinfonia das loucuras, crise da estupidez desassistida”.

Há diferenças entre as duas novas regras. Enquanto o advogado Brasil Salomão alerta que “a nova e draconiana regra, se não atendida, poderá gerar multas pecuniárias de até R$ 200 mil, cassação de registro profissional e, para o comércio, vedação do exercício da atividade”,
Everardo Maciel lembra que a instrução normativa da Receita Federal é inócua para as pessoas físicas, pois a Receita não tem autorização para multar os que se recusarem a colocar os dados no Siscoserv. A portaria prevê apenas multa para as pessoas
FÓRUM ESTADUAL DO LIVRO, DA LEITURA,  DA LITERATURA E  DAS BIBLIOTECAS  – FLEB/RN
Carta convite nº 05/2013                                                         Natal, 04 de maio de 2013.
Assunto: REUNIÃO DE ENCAMINHAMENTOS
A comissão colegiada do Fórum Estadual do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas do Rio Grande do Norte convida a quem interesse: escritores, editores, livreiros, profisionais do livro, da literatura, da leitura e das bibliotecas,  autônomos, instituições, movimentos organizados e privados, interessados em participarem das iniciativas e  deliberações sobre as questões que exigem o fortalecimento das políticas ligadas a este setor,  como também contribuir na construção dos Planos Municipais e Estadual do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas – à luz do Plano Nacional – cumprindo o seu papel de mediador entre a sociedade civil e o Poder Público,  na perspectiva ética e democrática.
Decorre dessa iniciativa a necessidade dessa instituição designar  representante para participar e  se fazer representada neste espaço coletivo de construção, sendo a próxima  reunião no dia 06 de maio, segunda-feira, às 17 horas, na livraria Nobel, ao lado Midway
Serão discutidos:
a)  Socialização do regimento do fórum,
b) Agenda de audiências institucionais para tratar do Plano
c) Encaminhamentos
Nesse sentido, encarecemos a presença de um representante dessa instituição ou entidade na supracitada reunião, e pedimos que nos informe pelo e-mail ducacn@hotmail.com - caso  seja do interesse dessa instituição participar da iniciativa.
Atenciosamente,             
Maria do Carmo da Silva
Articuladora da Comissão Provisória do FLEB-RN

POSSE DE BENEDITO

 A Academia Norte-Rio-Grandense de Letras por seu Presidente Diógenes da Cunha Lima convida V Sa. e família para a Sessão Solene de posse do Acadêmico BENEDITO VASCONCELOS MENDES, na Cadeira 38 do Patrono Luís Antonio Ferreira Souto dos Santos Lima, o empossado será saudado pelo Acadêmico Ernani Rosado Soares.
Data: Sexta-feira, 10 de maio
Hora: 19:30
Endereço: Rua Mipibu, 443, Petrópolis - Natal
Telefone (84) 3221 1143

segunda-feira, 6 de maio de 2013

DE VOLTA AO PASSADO VII – ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS – Parte II
 
Por Ormuz Barbalho Simonetti
 
         Os blocos ditos “de elite” a princípio desfilavam em caminhões. As carrocerias eram estilizadas com desenhos de motivos carnavalescos onde pierrôs, colombinas e arlequins, personagens símbolo dos carnavais, sempre eram retratados. Confetes, serpentinas e lanças perfumes, davam um tom de alegria, às figuras retratadas por todos os espaços das alegorias.   
Com maior destaque e em local bem visível vinha o nome da agremiação. Para animar os foliões, contratavam uma pequena orquestra, ao contrário dos blocos dos anos 50, onde a maioria dos instrumentos musicais eram tocados pelos próprios componentes.
         Fazia parte desses carnavais os famosos “assaltos”, que se constituíam em visitas que os blocos faziam nas residências, geralmente de familiares ou de amigos dos componentes, previamente acertada com os donos das casas selecionadas. Nos “assaltos” os foliões eram recebidos com muita bebida e salgadinhos. Lembro-me particularmente de um desses salgadinhos. Composto por uma azeitona, um rodela de salsicha e um cubo de queijo, tudo enfiado em um palito, era servido em grandes bandejas ou espetado em uma melancia ou jerimum envolto em papel alumínio. Era conhecido pelo pitoresco nome de “sacanagem”.  
A orquestra tocava pelo menos duas horas, com intervalo para descanso. Nessas ocasiões os promotores do “assalto” convidavam amigos e parentes para fazerem parte da festa. Quando a alegoria parava em frente à residência que ia ser visitada, logo a frente da casa se enchia de curiosos que acorriam ao local para também, mesmo que do lado de fora, participarem da festa.
         Daquela época recordo ainda do bloco Bacurinhas. Arnoudzinho, amigo e colega de madrugadoras caminhadas na Avenida Rodrigues Alves, que fez parte do bloco por vários anos, me ajudou no garimpo de alguns de seus componentes. Foram fundadores: Dozinho compositor do hino, deputado Márcio Marinho e Décio Holanda, de saudosas memória, os irmãos Euzébio (galego) e Manoel Maia, Ronaldo e Márcio Brilhante Fernandes, Marconi Lima (filho do deputado estadual João Aureliano de Lima) e Alcindo (dentista). Outros componentes que participaram do bloco no decorrer dos anos: os irmãos Daniel, Gilberto e Antônio Lira, Manoel e Henrique Gaspar, Jussier e Roberto Trindade Santos, João (Galinha) e Manoel (Mano Frango), Dantas, Edmundo e Fred Aires (figurinista de destaque entre as socialites da época, Bentinho (mago Bento) Manoel Otoni (Baba), ex-prefeito de Goianinha  e seu irmão Alfredinho Otoni de Lima, Manoel, Clementino (Biliu) e Luiz Martins da Silva, Antônio (Tota), contador conhecido nas décadas de 70/80, Nilton, João, Dantas, Zélio, Peninha, mais dois irmãos cujos nomes não recorda, sendo um deles, oftalmologista com consultório próximo da Maternidade Januario Cicco, João Maria Galiza, Alcindo, Gley Fernandes Gurjão e outros.
 
         Posteriormente, o caminhão foi substituído por carroças puxadas por trator, mais fácil de se conseguir nas fazendas da região, e com a vantagem de ser mais baixa que a carroceria do caminhão, facilitando assim o embarque e desembarque tanto na ocasião dos “assaltos”, como quando desfilavam no “corso” na Avenida Deodoro. Outra grande vantagem foi que as quedas, embora raras, quando ocorriam, não resultavam em maiores danos, ao contrário das ocorridas de cima das altas carrocerias dos caminhões.   
         Nesse período, as cidades de Ceará-Mirim e Goianinha eram as mais visitadas pelos presidentes dos blocos, pois sendo área canavieira, a facilidade para conseguir os tratores e carroças, era bem maior. A antiga Usina São Francisco, atualmente Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim, na época de propriedade do saudoso Roberto Varela, sempre autorizava o empréstimo desses equipamentos para os blocos. Outros tratores e carroças também se conseguiam em fazendas de familiares dos próprios componentes ou de amigos. 
         A orquestra, considerada o coração do bloco, tinha lugar reservado na frente da alegoria. Geralmente era composta por seis a oito músicos, assim distribuídos: Um sax baixo, um sax tenor, dois trombones, um de vara e outro de pistão, um surdo, um tarol e uma caixa. Lembro-me de um soldado da polícia militar de cognome Marimbondo, apelido que ganhou por ter a pele do rosto avermelhada, era disputado pela maioria dos blocos, pois além de ser responsável pela orquestra que formava com componentes da banda de música da policia militar, era exímio trompetista. Sempre que o bloco iniciava seu desfile pelas ruas e avenidas da cidade ou quando à noite entrava no “corso” na Av. Deodoro, lá estava Marimbondo caminhando na frente do bloco. Com ares de Pavarotti, andar cadenciado, bochechas vermelhas e inchadas prestes a estourar, apertava a boquilha do clarim de encontro aos seus lábios, e arrancava do instrumento as mais belas notas musicais, na introdução da marchinha Zé Pereira, anunciando a entrada do bloco no “corso”, a chegada ou saída das casas “assaltadas”.
                  Esses blocos se multiplicaram e em cada bairro ou turma de colégio surgia uma dessas agremiações. Cito alguns que me chegam à lembrança: Escandalli, Penetras, Lord’s, Deuses, Apache, Plebe, Jardim de Infância, Kings, Lunik, Jardineiros, Colônia Pinel, Saca-Rolha, Ressaka e outros que me fogem da memória.

Convite: O Mundo Varzeano de Manoel Rodrigues de Melo

Vem aí o lançamento do Livro escrito por Salete Queiroz da Cunha com fotografias de João Vital Evangelista Souto.

domingo, 5 de maio de 2013

DOMINGO DE DOÇURA E DE POESIA



BOLERO
                Nota à margem de Maurice Ravel
            Ciro José Tavares
A conhecida composição de Ravel tem forte conotação espanhola, mais precisamente da região da Andaluzia, por onde andaram, antes de Cristo, gregos, fenícios, cartagineses. Portanto, um território construído pela miscigenação de raças diferentes, entre elas os visigodos e vândalos vindos do Norte da Europa. Há um cheiro cigano e mourisco que parece ser a bela roupagem do flamenco, na dança e na música associada à região. O flamenco que, no princípio, era apenas canto, deixou-se, introduzir pela guitarra e o sapateado, mas é som dolente e melancólico. O cenário que inspirou o compositor francês teria sido montado no interior de uma taberna da Andaluzia. Ali em volta de uma mesa circular, um grupo de ciganos assiste a noite passar com sôfregas e repetidas taças de vinho quando, de repente, um som baixo, lento e estranho invade o ambiente. Como hipnotizados os convivas aquietam-se e no meio do silêncio uma jovem dançarina ocupa o centro da mesa e inicia sua dança sensual. Na medida em que rodopia, o som da música vai aumentando. Os ciganos puxam suas facas para cravá-las na madeira. O gesto renovado tem a semelhança da marcação de tambores fazendo a música crescer e agilizar a dança.Ao último toque dos punhais, a dançarina some como se tivesse sido arrebatada e a música termina.
Creio ter sido essa, em parte, a ideia do coreógrafo Maurice Béjart na cena final do filme Retratos da Vida, com o bolero sendo dançado pelo inesquecível Jorge Donn.
__________________

Poema da Noite

"Já chorei vendo fotos e ouvindo musica;
Já liguei só para ouvir uma voz;
Me apaixonei por um sorriso;
Já pensei que fosse morrer de saudade;
E tive medo de perder alguem especial...
(e acabei perdendo)
Já pulei e gritei de tanta felicidade;
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas...
"quebrei a cara muitas vezes!"
Já abracei para proteger;
Já dei risadas quando não podia;
Já fiz amigos eternos;
Amei e fui amado;
Mas tambem já fui rejeitado;
Fui amado e não amei..."


Charles Chaplin

_____________________

ENCONTRO COM A POESIA: QUINTUS HORATIUS FLACCUS

                                                                       (Por Horácio Paiva)

                Na seção anterior, apresentamos Kaváfis, um clássico grego dos tempos atuais. Agora, trazemos, de Roma (ou dos montes Sabinos?) Horácio, clássico latino da antiguidade. Agrada-nos manter a alternância entre novos e antigos.

            Enquanto a poesia de nosso contemporâneo Kaváfis  -  embora singular, original (não se filiou a qualquer escola ou modismo)  -  não traz inovações formais, Horácio, além de grande mestre na expressão verbal e em sua precisão (muitos de seus versos se tornaram verdadeiros provérbios), foi um inovador em sua época. Ele mesmo o diz, no memorável poema “Aere Perennius”:

                                               “Sim, hão de celebrar-me
                                               por ter sido o primeiro
                                               a usar o metro eólio na poesia itálica.”

            Sobre ele escreveu o poeta e tradutor Péricles Eugênio da Silva Ramos: “Horácio é poeta de notável acabamento formal e de uma felicidade de expressão que tornou proverbiais muitas de suas frases. Sua influência tem sido poderosamente ampla na poesia ocidental, de um de cujos assentos bem altos ele continua inarredado; dos líricos de Roma, é talvez o único de nível realmente helênico.”

            Com efeito, o “nível helênico” advém de sua própria formação, da esmerada educação que recebeu em dois avançados centros da civilização antiga: Roma e Atenas. Dos gregos herdou, também, o seu perfil filosófico, notadamente epicurista, sem faltar-lhe, entretanto, sobretudo em escritos de cunho político ou patriótico, fundamentação estóica.

            E é certo que a sua influência até hoje é constatada na literatura ocidental. Tomemos como exemplo notável, transcorridos dois mil anos, o nosso Fernando Pessoa, das odes horacianas de Ricardo Reis (um de seus famosos heterônimos).

            Filho de um liberto, certamente agregado à tradicional gens Horácia, que dera a Roma, no passado, alguns de seus ilustres heróis: Horácio Cocles, que defendeu, sozinho, uma ponte romana assediada pelo exército inimigo, e os três célebres irmãos Horácios que representaram Roma, com vitória, na disputa contra Alba Longa.

            Nasceu o poeta Horácio em Venúsia, no ano de 65 a.C., e faleceu em Roma, no ano 8, também antes de Cristo, faltando-lhe poucos dias para completar 57 anos. Viveu o fim da República e o começo do Império. Era republicano e pela República lutou (como tribuno militar e comandante de uma legião romana) e foi derrotado ao lado de Brutus, em Filipos, Grécia (42 a.C.). Anistiado, tempos depois, retornou a Roma, reconciliando-se com o então imperador Otávio Augusto, através dos amigos comuns Vergílio e Mecenas. Mas a partir daí preferiu, à agitação de Roma, a vida do campo, recolhendo-se à sua propriedade rural (que lhe presenteara Mecenas) nos montes Sabinos, onde escreveu grande parte de sua magnífica obra poética.
QUINTUS HORATIUS FLACCUS (n.8/12/65, Venúsia; m. 27/11/8, Roma  - a.C.):

POEMAS  – Livro I – Ode 11


                        NÃO INDAGUES, LEUCÓNOE


Não indagues, Leucónoe, ímpio é saber,
            a duração da vida
que os deuses decidiram conceder-nos,
nem consultes os astros babilônios:
            melhor é suportar
            tudo o que acontecer.
Quer Júpiter te dê muitos invernos,
            quer seja o derradeiro
este que vem fazendo o mar Tirreno
            cansar-se contra as rochas,
mostra-te sábia, clarifica os vinhos,
            corta a longa esperança,
que é breve o nosso prazo de existência.
            Enquanto conversamos,
            foge o tempo invejoso.
Desfruta o dia de hoje, acreditando
o mínimo possível no amanhã.



                                   (Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)

                        -x-x-x-

NOTAS: Fiz uma tradução livre e quase literal da Ode (mas o latim é insuperável, sobretudo na concisão). Eis os dois textos, o original e a minha tradução:

(1)
CARMINA  -  Liber Primus


                        11

Tu ne quaesieres (scire nefas) quem mihi, quem tibi
finem Di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. Vt melius quicquid erit pati!
Seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Thyrrhenum, sapias, vina liques et spatio brevi
Spem longam reseces. Dum loquimur, fugerit ínvida
aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.


           
POEMAS – Livro I

            ODE 11

Não indagues (ímpio é saber), ó Leucónoe,
qual fim reservarão, a mim ou a ti, os Deuses,
nem te prendas à numeralogia babilônia.
Melhor tudo suportares, quer te dê Júpiter muitos
invernos ou apenas este último que agora
se desfaz nos penhascos do mar Tirreno.
Sê sábia, o vinho decanta e ajusta
a longa esperança à vida breve.
Enquanto conversamos, foge invejoso
o tempo: colhe o dia de hoje, crendo
o mínimo possível no amanhã.

 2)
            Esses dois últimos versos (onde se vê a expressão “carpem diem” (colhe ou aproveita o dia) são ainda muito citados, mesmo na mídia atual e até em propagandas de produtos comerciais. Mas atenção para o seu correto entendimento que nos traz a leitura do conjunto da obra de Horácio. Horácio situava a regra do bem viver no meio termo  encontrado no conjunto das oportunidades apresentadas. A felicidade estaria no equilíbrio (no viver “medíocre”, palavra tomada em sua acepção original, isto é, no viver com moderação) e não no prazer instantâneo, aproveitado sem consideração a qualquer consequência ou custo moral. Neste caso, era um adepto das teorias do grego Epicuro e não um hedonista. Interessante: numa comparação distante, e de índole religiosa, mas não despropositada, lembra-me Buda, que ensinava a sabedoria encontrar-se no caminho do meio. E pergunto-me que influência teria acaso exercido o cristianismo sobre Horácio, falecido pouco antes do nascimento de Jesus Cristo, se vivido em período posterior ao seu advento?



3)

            A propósito da reflexão sobre a longa esperança, excessiva à breve duração da vida, diz, noutro poema, “Ad Sestium”, dedicado a esse amigo:

“Ó feliz Séstio,
a brevidade da vida
nos impede alimentar
uma longa esperança.
Em breve a noite pesará sobre ti,
e os Manes da fábula,
e a casa estreita de Plutão,
aonde uma vez tenhas chegado,
não sortearás pelos dados
o reinado do vinho...”

            (Trad. livre, de José Lodeiro)


-->