COMBATE ÀS TREVAS – II
(A
QUESTÃO DAS DROGAS)
Por Eduardo Gosson(*)
ANJO FERIDO
para Fausto Gosson
“Não se pode ferir as
asas de um anjo,
mas o fizeram nas franjas da
noite;
as ruas traem a quietude da
casa,
a paz do Senhor é
bandeira defraudada.
Não se deve dizer mais
que herói é o homem
com seus sonhos, seu
vigor, espada e nome,
se as fantasias de
querer mais que o céu na terra
tornam impura a estrada, dilui passos
em quimeras.
(Meu querido menino, santos
eram teus olhos,
o Senhor da paz está contigo em
óleo)
Não fica impune o que rouba a
inocência,
O barro de Deus é obra de Suas
mãos.
Esta aliança não é perdida no azul
do infinito,
ainda que a mordida do tempo rasgue o
manto.
Uma criança chora no pai que enterra
a semente,
mas ele tem a esperança de um dia
ouvir o canto
do que hoje em letra e coração dorme
eternamente.”
Alexandre Abrantes
O Estado no Brasil e, em particular,
no RN não tem uma política para tratar os dependentes químicos. Senão vejamos
a situação dos três hospitais que “cuidam” do problema:
Hospital João
Machado. Referência
no passado em Psiquiatria, hoje está na contramão: projetado para atender as
doenças mentais, atualmente os doentes mentais lá assistidos são em torno de
10%; os 90% restantes são dependentes químicos que lá permanecem por no máximo
uns 15 dias até terem alta, ficando à-toa; os novos medicamentos para combater
a dependência, não tem;no menu, só há medicamentos básicos para as doenças
mentais. Para completar o quadro, as mentes iluminadas da Secretaria de Saúde
resolveram abrir novas enfermarias, misturando doenças mentais, dependência
química e doenças comuns. É sabido de todos que um paciente com doença mental em
crise pode fazer loucuras com os demais. Tenho pena de um diretor de um hospital
nestes moldes: viverá sendo chamado pelo Ministério Público ou Conselho de
Medicina para se explicar ou explicar o inexplicável.
Casa de Saúde Natal. Do saudoso Severino Lopes, um
pioneiro no tratamento das doenças mentais é, ao nosso ver, o pior dos três,
uma vez que é todo verticalizado, parecendo um campo de concentração.
Praticamente, não tem área verde.
Clínica Santa Maria. Atendia ao SUS até recentemente,
quando sérias denúncias fizeram com que a mesma fosse descredenciada. Se antes
estava ruim, agora ficou pior. Já tive filhos internados lá por causa da
dependência química. Pude constatar que os traficantes em motos jogavam a droga
por cima do muro. Tive certa vez a oportunidade de relatar para a senhora
Marione, esposa do Dr. Agamenon Fernandes, proprietário da clínica. Solução
imediata: mandaram subir em torno de um metro o muro, mas o problema continua
porque diz respeito a todos nós. Em vez de jogarmos o problema para debaixo do
tapete, precisamos empreender um COMBATE ÀS TREVAS.
Nos últimos 15 anos, na esfera municipal, foi
criado outro modelo: CAPS, no rastro da antipisiquiatria desenvolvida por
Basaglia na Itália, que na década de 70, com ajuda dos pacientes, literalmente
desmontaram o hospital psiquiátrico tradicional. Aqui se partiu do velho modelo
para um “novo” duvidoso. Tem estados da Federação que os seus formuladores
colocaram na Constituição do Estado, que a partir da Promulgação do texto
legal, nenhum hospital psiquiátrico seria mais construído. Resultado: o velho e
o “novo” não funcionam.
(*)
É Escritor. Presidente da União Brasileira de Escritores – UBE/RN. Perdeu o
filho Fausto no ano passado no dia 26.05.2013, vítima de overdose de cocaína.
E-mail: eagosson@gmail.com
Infelizmente essa não é uma "obra de ficção" (aliás, texto real excelentemente escrito pelo Dr. Ticiano, conhecedor profundo de nossa história) e as coincidências atentam contra a democracia, contra os reais anseios do povo brasileiro.
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