sábado, 26 de julho de 2014

INTERESSANTE...


EXPRESSÕES CURIOSAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

JURAR DE PÉS JUNTOS:
A expressão surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado para dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado para expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz. 

TIRAR O CAVALO DA CHUVA: 

No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, num lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só
poderia pôr o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: "pode tirar o cavalo da chuva". Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa. 

DAR COM OS BURROS N'ÁGUA:

A expressão surgiu no período do Brasil colonial, onde os tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café, precisavam ir da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. O facto era que muitas vezes esses burros, devido à falta de estradas adequadas, passavam por caminhos muito difíceis e regiões alagadas, onde os burros morriam afogados. Daí em diante o termo passou a ser usado para se referir a alguém que faz um grande esforço para conseguir algum feito e não consegue ter sucesso naquilo. 

GUARDAR A SETE CHAVES: 

No século XIII, os reis de Portugal adoptavam um sistema de arquivamento de jóias e documentos importantes da corte através de um baú que possuía quatro fechaduras, sendo que cada chave era distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto eram apenas quatro chaves. O número sete passou a ser utilizado devido ao valor místico atribuído a ele, desde a época das religiões primitivas. A partir daí começou-se a utilizar o termo "guardar a sete chaves" para designar algo muito bem guardado... 

OK: 

A expressão inglesa "OK", que é mundialmente conhecida para significar algo que está tudo bem, teve sua origem na Guerra da Secessão, nos EUA. Durante a guerra, quando os soldados voltavam para as bases sem nenhuma morte entre a
tropa, escreviam numa placa "0 killed" (nenhum morto), expressando sua grande satisfação, daí surgiu o termo "OK". 

ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS: 

Existe uma história não comprovada, de que após trair Jesus, Judas enforcou-se numa árvore sem nada nos pés, já que havia posto o dinheiro que ganhou por entregar Jesus dentro de suas botas. Quando os soldados viram que Judas estava sem as botas, saíram em busca delas e do dinheiro da traição. Nunca  ninguém ficou sabendo se acharam as botas de Judas. A partir daí surgiu a expressão, usada para designar um lugar distante, desconhecido e inacessível. 

PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA: 

A história mais aceitável para explicar a origem do termo é proveniente das tradições hebraicas, onde os bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de pecados. Um filho do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim, após o animal morrer, ele ficou se lamentando e pensando na morte da bezerra. Após alguns meses o garoto morreu. 

PARA INGLÊS VER: 

A expressão surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas, e assim, essas leis eram criadas apenas
"para inglês ver". Daí surgiu o termo. 

RASGAR SEDA: 

A expressão que é utilizada quando alguém elogia grandemente outra pessoa, surgiu através da peça de teatro do teatrólogo Luís Carlos Martins Pena. Na peça, um vendedor de tecidos usa o pretexto de sua profissão para cortejar uma moça e começa a elogiar exageradamente a sua beleza, até que a moça percebe a intenção do rapaz e diz: "Não rasgue a seda, que se esfiapa." 

O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER: 

Em 1647, em Nîmes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D`Argent fez o primeiro transplante de córnea num aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a
enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse os  seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para história como o cego que não quis ver. 

ANDA À TOA: 

Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está à toa é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca vai. 

QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO: 

Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, adulterou-se. Inicialmente dizia-se quem não tem cão caça COMO gato, ou seja, esgueirando-se, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.  

VAI TOMAR BANHO: 

Em "Casa Grande & Senzala", Gilberto Freyre analisa os hábitos de higiene dos índios versus os do colonizador português. Depois das Cruzadas, como corolário
dos contactos comerciais, o europeu se contagiou de sífilis e de outras doenças transmissíveis e desenvolveu medo ao banho e horror à nudez, o que muito agradou à Igreja. Ora, o índio não conhecia a sífilis e se lavava da cabeça aos
pés nos banhos de rio, além de usar folhas de árvore para limpar os bebes e lavar no rio as redes nas quais dormiam. Ora, o cheiro exalado pelo corpo dos portugueses, abafado em roupas que não eram trocadas com frequência e raramente lavadas, aliado à falta de banho, causava repugnância aos índios. Então os índios, quando estavam fartos de receber ordens dos portugueses, mandavam que fossem "tomar banho".
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Colaboração do leitor, escritor IVONCISIO MEIRA DE MEDEIROS


EU NÃO TROCO MEU OXENTE
 
Ariano Suassuna
 
 
Esse tal de rocambole
Esfirra, nissin, miojo
Quer-me ver cuspi com nojo
Ofereça-me um rizole
Prefiro uma fruta mole
Beliscada do vem-vem
Feijão de corda xerem
Canjica com leite quente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
 
Tomar wiski importado
Na taça pra ser bacana
Sou mais um gole de cana
Num caneco enferrujado
Não sou muito refinado
Nem tenho inveja também
Druris conhaque almadem
Prefiro minha aguardente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
 
Esses verbetes do inglês
Que usam no dia a dia
Não me trazem simpatia
Estragam meu português
Vou ser sincero a vocês
Sou muito mais meu quinem
Adonde, prumode, eim?
Acho mais inteligente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
 
Eu não falo REDBUL
Prefiro touro vermelho
MIRROR pra mim é espelho
BLUE BIRD pássaro azul
Bonito e não BEAUTIFU
Falo dez em vez de TEN
BABY pra mim é neném
E HOT pra mim é quente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
 
 
Não gosto de pancadão
Nem de RAP improvisado
HIP HOP  pé quebrado
Sem métrica e sem oração
Sou muito mais gonzagão
No forro do xem nhem, nhem
Gosto de aboio e também
De um baião de repente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém

sexta-feira, 25 de julho de 2014


A calça Lee

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Na década de 1960, começaram todas as revoluções jovens nos Estados Unidos: Guerra do Vietnã, liberação sexual, liberação feminina, black power, minissaia e o jeans. Isso influenciaria o mundo todo.
Naquele tempo, as calças de índigo blue começaram a se popularizar em Natal – era a onda do rock’n’roll e do movimento hippie. 
A juventude da época dava preferência à marca Lee, com seu tom desbotado, embora já existissem similares nos Estados Unidos há décadas, como a Levi’s e a Wrangler.
Talvez a razão dessa preferência fosse o fato de a Lee ter sido a pioneira no uso do zíper, bem mais aceito pelos jovens que os botões metálicos difíceis de abrir.
A calça Lee virou uma febre. Todos nós, garotos da época, sonhávamos em ter nossa calça Lee importada, o que não era fácil. Importada e sobretaxada custava muito caro. Mas, esse não era o principal problema. Como ela era produzida nos moldes americanos tinha que ser reformulada (recortada) para cair bem no nosso corpo.
Vocês devem lembrar de Chiquinho Alfaiate, que funcionou inicialmente na Rua General Osório, e depois mudou-se para cima da Casa Rio. Vivia lotado!
Muitos cantores usavam o tema em suas músicas. Wilson Simonal gravou em 1965 Garota Moderna: “Tão bonita que ela é; cabelos lindos como eu nunca vi; camisa esporte e calça Lee”.
Roberto Carlos lançou em 1971 I love you: “Uma calça Lee agora vou comprar; vou ficar moderninho  para chuchu”.  
Chico Buarque gravou em 1979: “No Tocantins, o chefe dos Parintintis vidrou na minha calça Lee”.  
Surgiram então vários acessórios Lee – do cinturão largo, estilo “caubói americano”, aos blusões feitos do mesmo material – sarja de algodão cru, tingido de índigo, corante natural de azul intenso, extraído da raiz de uma planta indiana (índigo).
Até o início da década de 1970 para nós o bom era a calça Lee, embora no Brasil já houvessem alguns modelos lançados que não foram bem aceitos. Uma das razões principais era que não desbotavam como a Lee.
Muitos ainda traziam suas calças Lee diretamente dos EUA – por intermédio de algum amigo ou parente que viajasse para lá ou fizesse intercâmbio cultural, uma prática já bastante comum naquela época.
Da marca norte-americana, o “blue jeans” se tornou uma preferência nacional e muitas marcas brasileiras se distinguiam na produção dessas peças.
O jeans era um estilo de ser, um estilo de vida.
Na década de 1980, os produtos confeccionados em denim índigo blue tinham uma aceitação e consumo tão grande que dominavam o mercado de roupas prontas no Brasil.
Até os dias atuais, a geração que adotou o jeans nunca deixou de usá-lo.


quinta-feira, 24 de julho de 2014

A IMORTALIDADE E ARIANO

A imortalidade literária é um contrato social, que se perpetua desde muito tempo, até que o Acadêmico termine os seus dias nesta dimensão da vida, quando outro ocupa o seu lugar. Contudo, a verdadeira e definitiva imortalidade remanesce nas obras que deixa como legado de sua existência. 
ARIANO SUASSUNA morreu fisicamente, mas os seus escritos ficarão para sempre.
Bem Aventurados os que conviveram com ARIANO; Privilegiados os que conheceram e os que vão conhecer seus trabalhos. ARIANO CONTINUA VIVO NO MUNDO IMORTAL DA LITERATURA E SERÁ SEMPRE UM MARCO NA GEOGRAFIA SENTIMENTAL DO NORDESTE DO BRASIL.
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23/07/2014 18h01 - Atualizado em 23/07/2014 18h45

Morre no Recife, aos 87 anos, o escritor Ariano Suassuna

Ele sofreu um AVC na noite de segunda-feira e passou por cirurgia.
Nascido na Paraíba, ele vivia no Recife desde 1942.

Do G1 PE
Em março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)Em março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)

 Morreu no Recife, nesta quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna, aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico. Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. "O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana".
O velório do corpo do escritor começa ainda esta noite, no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, que decretou luto oficial de três dias. A partir das 23h, será aberto o acesso do público ao local. O enterro está previsto para a tarde de quinta-feira (24), no cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife.
Internamentos
Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita.
Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.
Na noite de segunda-feira (21), Ariano Suassuna deu entrada no hospital e foi operado após o diagnóstico do AVC. A cirurgia foi para a colocação de dois drenos, na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça, o quadro dele se agravou, devido a "queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada", conforme foi informado em boletim.
Na aula-espetáculo, Ariano mistura causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestin a (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco)Na aula-espetáculo que ministrou no Festival de Inverno de Garanhuns, na semana passada, mais uma vez Ariano misturou causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestina; o grupo Arraial foi o convidado para os números de música e dança (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco).

Ativo até o fim
Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.
Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada.  Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.
No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.
Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.
Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)
Obra
A primeira peça do escritor, "Uma mulher vestida de sol", ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, "O Auto da Compadecida", em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de "A pedra do reino".
Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.
H O J E




Eduardo Alexandre Garcia

Eduardo Alexandre Garcia  
Real Erário: A Vaca Amarela
Daliana Cascudo

Esse edifício “foi construído nas últimas décadas do século XVIII”, para nele funcionar os serviços administrativos da Fazenda Real, passando logo a ser chamado pelo povo Real Erário e a partir do século XIX, Provedoria da Real Fazenda. Está localizado na Praça André de Albuquerque, ao lado direito da antiga Catedral da Apresentação de Natal.

Diz Câmara Cascudo, em História da Cidade do Natal, que José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, em Memória Histórica do Rio de Janeiro, VI, conta em 1822 quatro sobrados na cidade do Natal: Casa de Câmara, com a cadeia em baixo (hoje inexistente), Residência dos Governadores (demolido em 1630), Fazenda Pública (demolido em 1865 e substituído pelo atual Palácio do Governo) e outro mais que estava por acabar nas suas obras, e que se acabou e é o número 601 da Rua da Conceição, apelidado a Noiva ou Sobradinho.

E o sobrado do Real Erário? (...)

Mais: História da Cidade do Natal
24 de Julho, 09 horas
Memorial Câmara Cascudo
Praça André de Albuquerque, Cidade Alta

Justiça





O tribunal espanhol

Na semana passada, conversamos aqui sobre o Tribunal Constitucional de Portugal. Hoje, sem irmos muito longe, trataremos do Tribunal Constitucional da Espanha. Os países são vizinhos na Península Ibérica. O primeiro, por sinal, já esteve sob dominação do segundo à época dos reis “Filipes” de Espanha (a propósito desse período, chamado de “Siglo de Oro” espanhol, vide a minha crônica “Ordenações e Literatura Filipinas”). De trem ou carro, vai-se facilmente de Lisboa a Madrid. E você, caro leitor, se fizer a viagem, vai gostar. Eu garanto!

Bom, o modelo constitucional espanhol de controle concentrado, previsto pela Constituição de 1978, foi inspirado, segundo se diz, nos exemplos alemão, italiano e francês, apesar de ter incorporado também a via de exceção, sendo um dos modelos mais completos da Europa.

Em conformidade com o art. 159 da Constituição de 1978, possui a Espanha um Tribunal Constitucional composto de doze membros (denominados “Magistrados”), nomeados pelo Rei, sendo quatro por proposição da Câmara, quatro por proposição do Senado, dois por proposição do Governo e dois por proposição do Conselho Geral do Poder Judiciário, todos juristas de reconhecida competência e com mais de quinze anos de exercício profissional. Não são vitalícios, sendo o mandato de nove anos, renovada uma terça parte a cada triênio. O Tribunal atua em Plenária, em “Salas” (que são duas, compostas por seis magistrados cada) e em “Seções” (duas para para cada “Sala”, perfazendo um total de quatro). A Presidência do Tribunal é exercida por um dos seus membros em mandato de três anos, renovável uma vez.

Dentre as várias competências do Tribunal Constitucional, previstas no art. 161 da Constituição, sobreleva a de conhecer o recurso de inconstitucionalidade contra leis e disposições normativas com força de lei (letra “a” do referido artigo). É importante lembrar, já que isso é muito comum na Espanha, que a expressão “recurso”, no caso, quer significar o que, para nós, é denominado de ação.

De conformidade com a Lei Orgânica do Tribunal Constitucional (arts. 1º e 13), as suas decisões através do seu Pleno (não por suas “Salas”) no controle de constitucionalidade - aquilo que se denominou de “doutrina constitucional” (melhor seria chamar de “jurisprudência constitucional”, eu acho) - têm caráter vinculante geral. Como intérprete supremo da Constituição e legislador negativo, o Tribunal, pelo Pleno, ao apreciar a constitucionalidade de uma lei e declará-la inconstitucional, profere uma decisão que tem a eficácia idêntica à da lei que ele apreciou.

Ignacio de Otto (em “Derecho constitucional: sistema de fuentes”, publicado pela editora Ariel), expõe a questão detalhadamente: “A força vinculante desta doutrina do Tribunal Constitucional provém da própria posição do Tribunal, que sua Lei Orgânica define como ‘intérprete supremo da constituição’ (art. 1º), qualificação que não se encontra expressamente na Constituição, mas que resume de modo expressivo as funções constitucionais do próprio Tribunal, conforme sua interpretação prevalece sobre a que tenha sido feita pelo legislador e sobre qualquer outra. Por isso mesmo há que dizer que, a rigor, o único que cria jurisprudência neste sentido é o Tribunal em pleno, não suas Salas, pois a posição de intérprete supremo da Constituição corresponde aquele, porquanto pode impor sua interpretação à do legislador, função que é unicamente da competência do Pleno. Devido a isto é que a Lei Orgânica do Tribunal dispõe, em seu art. 13º, que ‘quando uma Sala considere necessário afastar-se, em qualquer ponto, da doutrina constitucional precedente estabelecida pelo tribunal, a questão será submetida à decisão do Pleno’”.

À semelhança do que ocorre no controle concentrado de constitucionalidade no Brasil, a “doutrina constitucional” do Tribunal espanhol, assim entendida como aquela emanada do Pleno da Corte, se impõe aos tribunais do país. A isto alude a “Ley Orgánica del Poder Judicial” (LOPJ), de 1985, em seu art. 5.1, ao afirmar que os juízes e tribunais, vinculados obviamente à Constituição, “interpretarão e aplicarão as leis e os regulamentos segundo os preceitos e princípios constitucionais, de acordo com a interpretação dos mesmos que resulte das resoluções ditadas pelo Tribunal Constitucional em qualquer tipo de processo”. Com essa afirmação, entretanto, a LOPJ espanhola parece ir além do que se defende no Brasil: em essência, ela equipara a “doutrina” do Tribunal Constitucional à própria Constituição no que se refere ao seu valor normativo para a jurisdição ordinária, pois sempre que exista “doutrina constitucional” sobre um preceito da Constituição os tribunais haverão de interpretar esse preceito segundo aquela (a “doutrina constitucional”).

Interessante, não?

E que tal dar um pulo lá, no Tribunal Constitucional espanhol, para aprender mais? Procure pelo número 6 da Rua Domenico Scarlatti, bem pertinho do campus da gigantesca Universidade Complutense, onde fica, por sua vez, a saudosa (para mim, pelo menos) Casa do Brasil em Madrid. Nesta, em precisando, você terá um bom apoio. Com certeza!

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

quarta-feira, 23 de julho de 2014

DIA 23





 

PÓS-COPA: PASSANDO O PENTE FINO
Públio José – jornalista
                                                              
                               De tudo o que se viu, leu e ouviu a respeito da Copa do Mundo (tirando os exageros pornográficos, partidários, ideológicos, enfim, deixando de lado as baboseiras intempestivas), alguma lição deve ter ficado para o brasileiro de todos os níveis. Afinal, não é possível que tamanho desastre para a nação verde-amarela não traga pelo menos algum lucro – principalmente vendo-se os enormes gastos e os sacrifícios de todos. O perigo é o país passar por ondas gigantescas de fatalismo misturado com pessimismo, terceiro-mundismo, revoltismo inconsequente e manipulismo estéril – que não levam a nada. Algumas análises, por exemplo, levam os funestos acontecimentos para o campo do “deixa pra lá” puro e simples: “o Brasil é mais que um time de futebol”; “o Brasil vai superar tudo isso; bola pra frente”. Esse comportamento é perigoso por não considerar a análise fria dos fatos.
                               É o tipo do posicionamento centrado na música de Zeca Pagodinho (“deixa a vida me levar, vida leva eu”). Ou seja, eu não ligo para o que acontece. Eu chuto os fatos pra frente – numa gritante e vergonhosa demonstração de omissão e de falta de coragem para encarar fatos de dimensões relevantes. Outras colocações lançam o futebol para o terreno da desimportância, pois o Brasil “precisa mesmo é de saúde, educação e segurança de qualidade”. Outras inserem o insucesso da seleção no campo dos “altíssimos salários pagos aos jogadores brasileiros”, como se a remuneração dos tais não obedecesse às leis de mercado. Tem também aquelas que jogam toda a culpa do fracasso na corrução, na desorganização, na falta de disciplina do brasileiro, na nossa crônica impontualidade. E, pior dos cenários para o futebol, há os que prognosticam a inexistência de craques, de bons jogadores no solo pátrio.
                               Ora, se os jogadores da seleção são nomes de expressão em times do exterior, tal fato comprova que falta de craques não é a questão do futebol brasileiro. O problema é que, apesar de válidas e de conterem elementos positivos, tais colocações jogam fumaça demais em um tema que precisa de um diagnóstico preciso e objetivo. Para tanto, não se pode deixar de observar a questão na origem, na raiz: o estado atual dos times brasileiros e a inexistência de uma política de incentivo e de prática esportiva nas escolas brasileiras. Caindo aos pedaços – e entregue ao atraso, à desorganização e à dogmatização ideológica – o sistema de ensino pouco tem contribuído para o surgimento de talentos na seara esportiva. Por outro lado, os clubes... Misericórdia! É praticamente inalcançável um futebol de qualidade, de padrão internacional, com os clubes brasileiros vivendo na idade da pedra lascada no que diz respeito à gestão.
                               É impensável, com a estrutura atual, o futebol brasileiro continuar a ostentar o modelo que encantou o mundo até pouco tempo atrás, quando se vê times como o Vasco da Gama (o Vasco é só um exemplo; a praga acomete quase todos) precisando de empréstimo da Federação de Futebol do Rio (algo em torno de cinco milhões de reais) para pagar os salários dos jogadores referentes aos meses de abril e maio passados. E junho, e julho, e agosto, e setembro, e...? As dívidas do Flamengo já se aproximam do bilhão, as do Botafogo não ficam atrás, seguindo-se uma fieira sem fim de clubes pendurados em passivos a perder de vista. Em vista disso, como tê-los na função de celeiro natural de craques? Importante também se atentar para o fato do risco do Brasil perder um patrimônio incalculável – representado pelo conjunto das equipes de todo o país – conquistado a duras penas por mais de um século. 
                               E as consequências? Recentemente, o Brasil chegou a figurar na 19ª colocação do ranking da Fifa; os atletas jovens, mal despontam, já são negociados diretamente para o exterior, sem passarem pelos times locais; o surgimento de bons jogadores quase inexiste, levando os times a contratar gente que já deveria ter pendurado as chuteiras, etc, etc. Está na hora, portanto, da modernidade de gestão alcançar o futebol brasileiro. Como também é o momento ideal para o governo apresentar um plano consistente que, além de editar leis que punam os dirigentes irresponsáveis e desonestos que infestam a cena esportiva, coloque a escola de uma vez por todas no verdadeiro lugar que lhe cabe nesse negócio. Aí o futebol brasileiro voltará a brilhar no campo da excelência. E o torcedor voltará à condição de gritar gol a plenos pulmões. É gol, é gol, é gol. É goooooooooolll!!! Brasil!!!