VIAGEM INUSITADA
Por: Carlos Roberto
de Miranda Gomes
Sem qualquer
planejamento, minha família, preocupada com meu estado de saúde, decidiu
proporcionar-me um breve fim de semana em João Pessoa, pois sabem que sempre
tive simpatia pela Capital Tabajara.
Aceitei a
oferta pelo propósito de levar meu neto Carlos Victor para um conclave de
design do qual haveria participação da amiga Marília, como de fato aconteceu,
tudo devidamente cronometrado.
Saímos –
Ernesto, Rosa, eu e Victor no horário adequado e numa viagem confortável,
sobretudo pela boa conservação da estrada e, ao passar nas cercanias de Emaús
lembrei que ali repousa minha THEREZA e senti uma intuição das suas
recomendações: cuidado, cuidado com o que vai comer.
Uma parada
“técnica” em Mamanguape, como costumava fazer quando eventualmente viajava com
ela, um bom café e pé na estrada.
Ainda não
chegava nove horas e deixamos Victor em seu destino e lá estava Marília
esperando na entrada do prédio. Depois rumamos ao centro da cidade e fomos
visitar a Livraria do Luiz, a convite do amigo e escritor Irani Medeiros.
Infelizmente ao indagar por ele me foi dito que ele avisou que teve uma viagem
de emergência, mas deixou as devidas recomendações. De pronto fui recepcionado
por vários intelectuais que formam uma interessante Confraria, aquela que tenho
saudades em Natal desde que a Livraria Universitária fechou as suas portas.
O local já
me encantou posto que em um beco, sem acesso a qualquer veículo e o lugar está
recheado de sebos e vendedores em bancas ao relento. O ambiente muito
aconchegante, bem frequentado – dois lançamentos de livros anunciados, a
presença da centenária irmã do General Bandeira, uma performance de um ator
sobre um conto sobre passarinhos e assombrações.
O meu
principal parceiro naquele bom papo foi o escritor e cordelista Marco di
Aurélio, que logo me passou boas informações e fez a minha apresentação,
inclusive ao mais novo imortal da Academia Paraibana de Letras, o escritor
Roberto Cavalcanti, que ali adentrou sob aplausos dos presentes. Um dos
confrades tirava sequencialmente fotografias em flagrantes dos componentes da
mesa, aproveitando seus descuidos e em posições gozadas que depois eram
expostas aos risos dos presentes. Eu e Rosa compramos alguns livros e nos
despedimos dos novos amigos, ficando de um breve retorno. Foi uma manhã que há
muito não vivenciava num ambiente tão espontâneo.
Almoçamos no
Salutte e em seguida fomos para o descanso no Nord Luxxor, defronte do calçadão
da orla marítima, que registro como bom hotel, calmo, bom atendimento, que nos
trouxe comodidade suficiente para um fim de semana. Estranho é que os hotéis da
região não têm redes e isso foi um tormento para mim, que sou um inveterado
usuário desse apetrecho nordestino, cantado em verso e prosa.
Passeios pela
cidade que me deram a verdadeira dimensão do seu desenvolvimento e comprovaram
alguns aspectos positivos dos quais sinto falta aqui na terrinha Natal –
calçadões muito frequentados por banhistas, farofeiros, atletas, caminhantes,
pedalantes – inclusive pessoas de idade avançada, sempre debaixo de árvores, o
que, aliás, é outro ponto forte da capital paraibana, com grandes reservas de mata nativa, equipamentos de exercício e
lazer e duplas de policiais que garantem segurança, lanchonetes e bares que ficam
abertos madrugada a dentro.
Voltei a Natal
inteiro, mas sem apagar a angústia da saudade de quem me acompanhava por todos
os 56 anos de união. A vida continua ... a saudade também.