sábado, 15 de junho de 2019

PRESENTE DE AMIGO

Meu caro amigo,
Lembrei-me muito de você nestes últimos dias. E ao lado desta lembrança um poema recorrente, escrito no século XIX por uma 
poetisa inglesa de origem italiana, Christina Rossetti. E ocorreu-me como se sua amada pedisse para levá-lo até você. Aqui está, na bela tradução de nosso Manuel Bandeira: 

Remember

Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando não te tiver mais ao meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.

Quando não mais puderes, hora a hora,
Falar-me no futuro que hás sonhado,
Ah! de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.

No entanto, se algum dia me olvidares
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares

Um resto houver do afeto que em mim viste,
– Melhor é me esqueceres, mas contente,
Que me lembrares e ficares triste.


...................

AMOR SEM FIM

                        (À amada imortal)

Já me deste provas
Que me amas sempre
E que nosso amor
Não pertence ao tempo

Não pertence ao tempo
Mas à eternidade
Desconhece falta
Ou necessidade

Nasce e renasce
E perfeito assim
Em qualquer das vidas
Não conhece fim


(Horácio Paiva)

É profundo o ensinamento. Mas está claro que a alguém incomoda a tristeza e quer vê-lo longe desse sentimento.

Com a solidariedade e o abraço fraterno de seu amigo, 
Horácio Paiva. (No anexo, há um poema meu, AMOR SEM FIM) 

quinta-feira, 13 de junho de 2019


DATA INESQUECÍVEL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Era o DIA DOS NAMORADOS do ano de 1997, o relógio marcava em torno de 19 horas e estava eu em plena exposição de uma aula de Direito Tributário no Curso de Direito da UnP da Salgado Filho quando, inusitadamente, tive um aperto descomunal no peito e senti que estava perdendo as forças por não poder respirar. Encostei-me no quadro pois ficava numa parte mais elevada e fiquei em silêncio.
        A sala estava repleta, posto que reunidas duas turmas, haja vista que o professor do segundo horário informou que não viria. O meu silêncio despertou burburinho e, uma aluna da primeira fila – Daisy Leite, que fora enfermeira no passado, aproximou-se e verificou meu pulso, chamando em seguida o aluno Soares (que também era professor da UnP, creio que de Ciências Contábeis e ocupava a Secretaria de Tributação do Estado), que me conduziu ao Papi imediatamente. Dali saí nos braços dos alunos e em 10 minutos esperava-me na entrada do hospital a Dra. Maria José Pacheco, com uma maca e medicamento de emergência.
        Recolhido à UTI, ao meu lado reconheci a voz de Odeman, velho amigo dos carnavais do bloco Deliciosos na Folia, que também estava sendo atendido. Fiz uma comunicação com ele apenas me identificando enquanto a competente médica tomava as providências cabíveis, o que atravessou todo o restante da noite e começo da madrugada.
        A família avisada entrou em pânico, afinal controlada graças a Dona Therezinha, minha saudosa esposa que, em sua aparente fragilidade, foi mais uma vez a apaziguadora da situação. Pela primeira vez dormi alguns dias longe dela.
        Sinceramente, em nenhum momento temi pela minha vida, mas preocupei-me pelo fato de que faltavam duas aulas para concluir o semestre letivo. E aí? O assunto foi resolvido pelo aluno e, também professor Soares, que ministrou as aulas e ninguém teve prejuízo.
                Coincidentemente, dias antes fui chamado ao gabinete do Governador Garibaldi Ales Filho, ao qual compareci com o Conselheiro Nélio Dias e o Procurador Edgar Smith Filho e lá recebi o convite para ser o Controlador-Geral de um novo órgão que ele criara – A Controladoria Geral do Estado. Mentalmente reagi contra, mas a “pressão” da presença de dois amigos importantes, responsáveis pela ideia, resolvi aceitar em razão do que o Governador afirmara: ‘se você não aceitar eu não instalo a Controladoria’. Assumiria no dia 13 de junho de 1997. Não o fiz por conta do infarte da véspera, antes relatado. De certa forma achei que era um aviso e que o fato faria caducar o ato de nomeação.
        Ledo engano, antes de terminados os 30 dias da nomeação, foi esta renovada e eu não pude mais me furtar ao encargo.
        Ontem, comemorei a data dos Namorados levando flores para Thereza em sua morada terrena – O Morada da Paz. Travei diálogo com ela, troquei ideias, chorei naturalmente e voltei com a sua presença espiritual para o nosso quarto.
        Deus esteve conosco, pois à noite, com filhos e vizinhos, rezei um terço em honra de São Pedro, padroeiro da nossa paróquia. Dormi na paz do Senhor.
        

terça-feira, 11 de junho de 2019




VIAGEM INUSITADA

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Sem qualquer planejamento, minha família, preocupada com meu estado de saúde, decidiu proporcionar-me um breve fim de semana em João Pessoa, pois sabem que sempre tive simpatia pela Capital Tabajara.
            Aceitei a oferta pelo propósito de levar meu neto Carlos Victor para um conclave de design do qual haveria participação da amiga Marília, como de fato aconteceu, tudo devidamente cronometrado.
            Saímos – Ernesto, Rosa, eu e Victor no horário adequado e numa viagem confortável, sobretudo pela boa conservação da estrada e, ao passar nas cercanias de Emaús lembrei que ali repousa minha THEREZA e senti uma intuição das suas recomendações: cuidado, cuidado com o que vai comer.
            Uma parada “técnica” em Mamanguape, como costumava fazer quando eventualmente viajava com ela, um bom café e pé na estrada.
            Ainda não chegava nove horas e deixamos Victor em seu destino e lá estava Marília esperando na entrada do prédio. Depois rumamos ao centro da cidade e fomos visitar a Livraria do Luiz, a convite do amigo e escritor Irani Medeiros. Infelizmente ao indagar por ele me foi dito que ele avisou que teve uma viagem de emergência, mas deixou as devidas recomendações. De pronto fui recepcionado por vários intelectuais que formam uma interessante Confraria, aquela que tenho saudades em Natal desde que a Livraria Universitária fechou as suas portas.
            O local já me encantou posto que em um beco, sem acesso a qualquer veículo e o lugar está recheado de sebos e vendedores em bancas ao relento. O ambiente muito aconchegante, bem frequentado – dois lançamentos de livros anunciados, a presença da centenária irmã do General Bandeira, uma performance de um ator sobre um conto sobre passarinhos e assombrações.
            O meu principal parceiro naquele bom papo foi o escritor e cordelista Marco di Aurélio, que logo me passou boas informações e fez a minha apresentação, inclusive ao mais novo imortal da Academia Paraibana de Letras, o escritor Roberto Cavalcanti, que ali adentrou sob aplausos dos presentes. Um dos confrades tirava sequencialmente fotografias em flagrantes dos componentes da mesa, aproveitando seus descuidos e em posições gozadas que depois eram expostas aos risos dos presentes. Eu e Rosa compramos alguns livros e nos despedimos dos novos amigos, ficando de um breve retorno. Foi uma manhã que há muito não vivenciava num ambiente tão espontâneo.
            Almoçamos no Salutte e em seguida fomos para o descanso no Nord Luxxor, defronte do calçadão da orla marítima, que registro como bom hotel, calmo, bom atendimento, que nos trouxe comodidade suficiente para um fim de semana. Estranho é que os hotéis da região não têm redes e isso foi um tormento para mim, que sou um inveterado usuário desse apetrecho nordestino, cantado em verso e prosa.
            Passeios pela cidade que me deram a verdadeira dimensão do seu desenvolvimento e comprovaram alguns aspectos positivos dos quais sinto falta aqui na terrinha Natal – calçadões muito frequentados por banhistas, farofeiros, atletas, caminhantes, pedalantes – inclusive pessoas de idade avançada, sempre debaixo de árvores, o que, aliás, é outro ponto forte da capital paraibana, com grandes reservas  de mata nativa, equipamentos de exercício e lazer e duplas de policiais que garantem segurança, lanchonetes e bares que ficam abertos madrugada a dentro.
            Voltei a Natal inteiro, mas sem apagar a angústia da saudade de quem me acompanhava por todos os 56 anos de união. A vida continua ... a saudade também.