quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A Virgem Santíssima e os poetas Padre João Medeiros Filho Nossa Senhora está entre as figuras primordiais do Advento, agraciada com inúmeros oragos ou títulos teológicos e poéticos, dentre eles, Mãe de Deus e Mãe dos homens. Eles se constituem em fonte inesgotável de poesia. Na história da humanidade, nenhuma criatura teve o privilégio de escolher sua própria mãe. Apenas Cristo pôde fazê-lo, pois, desde a eternidade, Ela estava nos planos divinos. Nestes refulgia com intensidade a vinda do Redentor, que nasceria de uma mulher, isenta do pecado. À Virgem atribuem-se as palavras do Livro da Sabedoria: “Ela é o reflexo da luz eterna, mais bela que o sol, espelho sem mancha do poder de Deus e imagem de sua bondade” (Sb 7, 25-27). Os poetas costumam louvá-la em versos inspirados nos escritos bíblicos ou na devoção popular, enaltecendo os dons singulares com os quais Deus a dotou. A Liturgia das Horas a exalta diariamente com hinos poéticos e teológicos. A literatura universal é rica em poemas e odes à Mãe Celestial. Padre Anchieta, prisioneiro dos índios tamoios, escreveu em latim, nas areias da Praia de Peruíbe (SP), o Poema à Virgem, com mais de dois mil dísticos. Foi traduzido para o nosso idioma e comentado ricamente por Padre Armando Cardoso S.J. com o qual tive a alegria de conviver no Colégio Santo Inácio de Loyola, do Rio de Janeiro. Acompanhei de perto a esmerada tradução. Numa passagem, São José de Anchieta compara Maria à Árvore da Vida, “fértil de frutos eternos, cujas raízes se escondem nas entranhas da terra e franças sublimes chegam às estrelas do céu.” Ao descrever o mistério da encarnação do Verbo, exclamou: “Uma sombra orvalhada, sobre suas entranhas virginais descansa, e meiga aragem sopra no horto cerrado de seu seio. No mesmo instante, o Verbo escondido ocupa o seu sacrário e a Virgem Mãe concebe o Autor da vida.” Poder-se-ia recordar também os versos de Dante Alighieri, na “Divina Comédia”: “Virgem Mãe, por teu Filho procriada, humilde e superior criatura, por decisão eternal predestinada! Por ti se enobreceu tanto a humana natura, que o Senhor não desdenhou de se fazer, de quem criou, feitura.” O Papa Leão XIII, considerado em sua época o príncipe dos poetas latinos, no final do seu pontificado, tirou de sua lira a “Última prece à Virgem”, na qual enaltece Maria e os seus poderes: “Se eu atingisse o Céu, se contemplasse, por suprema mercê, de Deus a face, e, ó Virgem, teu olhar visse também... acolhe-me e se ali for eu um daqueles da cidade santa, direi eternamente que ao favor da Virgem Mãe devi ventura tanta.” Dom Silvério Gomes Pimenta – arcebispo de Mariana e primeiro eclesiástico a integrar a Academia Brasileira de Letras – louvando a beleza da alma de Maria, escreveu: “Tu és mais linda que as estrelas e as flores ... em ti mancha não há.” E Dom Francisco Aquino Corrêa, outro membro da referida ABL, proclamando a magnitude da Mãe do Criador, pergunta: “Quem fez o lírio de tua alma, ó Puríssima, quem fez as rosas dos teus lábios, ó Santa?” Não se pode esquecer, dentre a multiplicidade dos poemas marianos, os versos do vate mineiro Monsenhor Primo Vieira, outrora membro da Academia Santista de Letras (SP). Em belíssimas estrofes em seu livro “Litanias”, mostrando Maria como Porta do Céu (uma das invocações da Ladainha), rezou: “Porta do Céu à cuja entrada esquece o pecador as trilhas do pecado (...), da altura excelsa em que morais na glória, olhai os pequeninos sem história e a miséria de rojo pelo chão... Nós somos esses filhos que não param de caminhar nas réstias que ficaram da esteira luminosa da Assunção.” Eis algumas das inúmeras exaltações poéticas sobre a Mãe de Deus. Contemplando com fervor o rosto de Nossa Senhora, a Compadecida – há séculos venerada e louvada pelos cristãos – vislumbra-se algo celestial em seu semblante e um fulgor divinal no seu olhar. É a Imaculada, a Mãe dos pecadores e aflitos, auxílio dos cristãos. O profeta Zacarias precedeu os poetas marianos, quando escreveu: “Exulta e alegra-te, filha de Sião, porque eis que venho e habitarei no meio de ti” (Zc 2, 14).
PRECIOSIDADES DO LEGISLATIVO Valério Mesquita* Mesquita.valerio@gmail.com 01) Guedes, é um antigo e aguerrido garçom da larga e longa ceia legislativa de todas as semanas. Semigago, o nosso personagem veste sempre um terno preto com uma indefectível gravatinha borboleta. Vê-lo sem o terno é desconhece-lo. A roupa aderiu ao personagem ou impregnou-se a sua silhueta, a figura prazenteira que equilibra numa bandeja a gastronomia do Poder Legislativo. Certa tarde, quando atravessava o corredor entre o plenário e a lanchonete da Casa de José Augusto, um popular atreveu-se e retirou da bandeja um copo de refresco de goiaba. Guedes foi providencial: “É su, su, su, su...” Ai o intrometido, após sorver um gole, parou para pacifica-lo: “Eu sei que é suco”. E Guedes, num esforço supremo: “Não, é su, su, “subejo”!!”. De outra vez, à tarde, entra apressado para cobrir os trabalhos legislativos, o jornalista Joaquim Pinheiro e no corredor vai logo perguntando a Guedes se a sessão já havia começado. O garçom, entre solene e compenetrado dispara: “Tá, tá, faltando “cloro”!”. Joaquim riu e compreendeu que às 16 e 30 a Assembleia nunca realmente atingiu o quorum regimental. 02) Discursando para um plenário desatento a então deputada Fátima Bezerra, lá pras tantas do seu pronunciamento, recuperou a atenção geral quando soltou da tribuna um “não pagou porra nenhuma”. O presidente engoliu e o plenário riu. Era o governo Garibaldi Filho. A oposição sempre saía do prumo. 03) O então presidente da Assembleia Legislativa deputado Álvaro Dias, certa vez, jogou duro com os colegas a fim de obedecerem rigorosamente o tempo. Ia ser votado o orçamento com mais de trinta emendas. Os 10 minutos para cada um discursar eram sempre extrapolados. Conhecido pelos apartes quilométricos o deputado Tarcísio Ribeiro aparteia o deputado Pedro Melo esgotando o tempo regimental. O presidente cortou o som do orador mas, o aparteante (Tarcísio) saiu-se com essa: “Vossa Excelência agora presidente é quem está falando e o som devia ser cortado!!”. 04) Baixinho, estrábico, assim é o ligeiro visual do líder comunitário macaibense “Zanoinho” que fazia sucesso com a sua oratória direta e descomprometida. Num comício no bairro Campo da Santa Cruz, o candidato a vereador mandou pedir à multidão um minuto de silêncio em respeito a um falecido comunitário. Mas, a algazarra dos participantes sufocou a solicitação penitente de Zanoinho. Confiante de que a piedade cristã de mais um apelo desarmaria o barulho, apesar da inconveniência do pedido nesse tipo de evento, Zanoinho foi patético: “Se foi pedido o silêncio em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e ele não foi atendido, avalie se eu pedir, pobre, feio e "zanôio””. 05) Parece que a onda de minuto de silêncio pegou nos candidatos a vereador. O objetivo é claro: não perder os votos da família do desaparecido. Outra manifestação fúnebre ocorreu na Vila São José, bairro periférico de Macaíba. O ex-vereador e candidato Moacir Gomes, ao usar a palavra, inicia o discurso rogando aos assistentes do comício um minuto de silêncio pelo falecimento de uma pessoa do bairro. O seu assessor e cabo eleitoral, ao lado, imaginando o tamanho da família do falecido, sopra imediatamente ao seu ouvido “Um minuto é pouco. Peça cinco! Tem muito voto lá!”. 06) Certa vez, em uma das campanhas políticas, Caicó viveu momentos memoráveis. O candidato Vivaldo Costa quando discursava fazia verdadeiras parábolas, sermões com aquela voz cheia, reforçada pelo gosto de coalhada com rapadura da fazenda Trapiá. Explicava no palanque: “Irami Araújo quando era do nosso lado, a oposição o taxava de ladrão da farinha de trigo. Aderiu, foi pro outro lado, agora é santo. Silvio Santos quando era do meu lado, era chamado de ladrão do SUS, agora virou santo duas vezes” e virando-se para Nilson Cabecinha, triste e cabisbaixo, o Papa foi cruel no convite: “Ô Nilson, por que você também não vai logo para o outro lado!”. (*) Escritor.