quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
PRECIOSIDADES DO LEGISLATIVO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Guedes, é um antigo e aguerrido garçom da larga e longa ceia legislativa de todas as semanas. Semigago, o nosso personagem veste sempre um terno preto com uma indefectível gravatinha borboleta. Vê-lo sem o terno é desconhece-lo. A roupa aderiu ao personagem ou impregnou-se a sua silhueta, a figura prazenteira que equilibra numa bandeja a gastronomia do Poder Legislativo. Certa tarde, quando atravessava o corredor entre o plenário e a lanchonete da Casa de José Augusto, um popular atreveu-se e retirou da bandeja um copo de refresco de goiaba. Guedes foi providencial: “É su, su, su, su...” Ai o intrometido, após sorver um gole, parou para pacifica-lo: “Eu sei que é suco”. E Guedes, num esforço supremo: “Não, é su, su, “subejo”!!”. De outra vez, à tarde, entra apressado para cobrir os trabalhos legislativos, o jornalista Joaquim Pinheiro e no corredor vai logo perguntando a Guedes se a sessão já havia começado. O garçom, entre solene e compenetrado dispara: “Tá, tá, faltando “cloro”!”. Joaquim riu e compreendeu que às 16 e 30 a Assembleia nunca realmente atingiu o quorum regimental.
02) Discursando para um plenário desatento a então deputada Fátima Bezerra, lá pras tantas do seu pronunciamento, recuperou a atenção geral quando soltou da tribuna um “não pagou porra nenhuma”. O presidente engoliu e o plenário riu. Era o governo Garibaldi Filho. A oposição sempre saía do prumo.
03) O então presidente da Assembleia Legislativa deputado Álvaro Dias, certa vez, jogou duro com os colegas a fim de obedecerem rigorosamente o tempo. Ia ser votado o orçamento com mais de trinta emendas. Os 10 minutos para cada um discursar eram sempre extrapolados. Conhecido pelos apartes quilométricos o deputado Tarcísio Ribeiro aparteia o deputado Pedro Melo esgotando o tempo regimental. O presidente cortou o som do orador mas, o aparteante (Tarcísio) saiu-se com essa: “Vossa Excelência agora presidente é quem está falando e o som devia ser cortado!!”.
04) Baixinho, estrábico, assim é o ligeiro visual do líder comunitário macaibense “Zanoinho” que fazia sucesso com a sua oratória direta e descomprometida. Num comício no bairro Campo da Santa Cruz, o candidato a vereador mandou pedir à multidão um minuto de silêncio em respeito a um falecido comunitário. Mas, a algazarra dos participantes sufocou a solicitação penitente de Zanoinho. Confiante de que a piedade cristã de mais um apelo desarmaria o barulho, apesar da inconveniência do pedido nesse tipo de evento, Zanoinho foi patético: “Se foi pedido o silêncio em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e ele não foi atendido, avalie se eu pedir, pobre, feio e "zanôio””.
05) Parece que a onda de minuto de silêncio pegou nos candidatos a vereador. O objetivo é claro: não perder os votos da família do desaparecido. Outra manifestação fúnebre ocorreu na Vila São José, bairro periférico de Macaíba. O ex-vereador e candidato Moacir Gomes, ao usar a palavra, inicia o discurso rogando aos assistentes do comício um minuto de silêncio pelo falecimento de uma pessoa do bairro. O seu assessor e cabo eleitoral, ao lado, imaginando o tamanho da família do falecido, sopra imediatamente ao seu ouvido “Um minuto é pouco. Peça cinco! Tem muito voto lá!”.
06) Certa vez, em uma das campanhas políticas, Caicó viveu momentos memoráveis. O candidato Vivaldo Costa quando discursava fazia verdadeiras parábolas, sermões com aquela voz cheia, reforçada pelo gosto de coalhada com rapadura da fazenda Trapiá. Explicava no palanque: “Irami Araújo quando era do nosso lado, a oposição o taxava de ladrão da farinha de trigo. Aderiu, foi pro outro lado, agora é santo. Silvio Santos quando era do meu lado, era chamado de ladrão do SUS, agora virou santo duas vezes” e virando-se para Nilson Cabecinha, triste e cabisbaixo, o Papa foi cruel no convite: “Ô Nilson, por que você também não vai logo para o outro lado!”.
(*) Escritor.
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