Após
63 anos de falecimento do dirigente que ousou, pela primeira vez,
construir verdadeiramente a nação brasileira, o que nos ficou, além da
profunda
tristeza?
Os
mesmos males, a mesma ignomínia de uma classe que vive em águas turvas e
se agarra como cracas ao Estado para entregar das riquezas do Brasil.
O exemplo, o tiro daquele personagem tumular que, nas páginas de seu jornal,
escreveu a 6 de agosto de 1954:
“....
perante Deus acuso um só homem como responsável por esse crime. É o
protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como
o desta noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas” (Tribuna da
Imprensa).
No
dia 23 daquele agosto, injustamente acusado pelo oportunista – que como
todos os seus seguidores, sempre foi inimigo da nossa soberania –
responde
o grande Presidente, na manchete do único jornal que lhe dá acolhida:
“ Apenas morto sairei do Palácio do Catete” (Última Hora).
Na
distância de mais de meio século, com volumosa literatura desvendando
diversas vertentes deste momento infeliz de nossa história, procurarei
traçar um paralelo com a desdita de hoje.
Como
se forma a mente de um brasileiro, sem qualquer ganho com a submissão
aos interesses estrangeiros, às potencias coloniais ou sistemas
dominadores,
que busca na mentira da publicidade enganosa dos fatos, no engodo das
falsidades evidentes, em sua própria miséria, condenar os que lutam pela
emancipação nacional e defender os traidores da Pátria? Não é resposta
fácil, nem aceito a paranoia de ter a verdade.
Coloco em questão a formação da cidadania.
Quantos
já reproduziram piadas degradantes, quantas vezes se manifestaram
desilusão, descrença na força da nação, em quais situações procuram
demonstrar
nossa irresponsabilidade, nossa vocação para o êrro, o escamotear? E
por que esta autodepreciação? O que é a cidadania, ser cidadão? Em
primeiro lugar a dificílima aceitação da paridade; considerar que todos
os brasileiros são iguais, pares nas decisões sobre
o País.
Esta
é uma questão crucial, mas me deterei neste artigo à importância de
Vargas em nossa história. Sem dúvida polêmica. Se prendeu e torturou
brasileiros,
cujo crime era discordar de sua administração, foi o primeiro
governante a promover o efetivo desenvolvimento da indústria brasileira e
a reconhecer a importância do trabalhador na formação nacional. Vinte
anos após, por coincidência, outro presidente, que
também prendeu e deixou que se torturasse opositores, Ernesto Geisel,
promoveu a capacitação industrial brasileira nos segmentos de ponta, que
hoje nos fazem falta: informática, nuclear e aeroespacial. Também este
sofreu um golpe para designar seu sucessor.
Getúlio
foi crescendo na compreensão do Brasil e do mundo durante seu primeiro
governo e chega ao segundo, eleito pelo povo, com a certeza de que
só o Estado, atuando com profundidade na economia, poderia desenvolver o
Brasil. Isto era, e ainda é, constatado em todo mundo, e só os
ideologicamente contrários ao Brasil Soberano podem defender a invasão
estrangeira, com as falsidades liberais ou neoliberais,
promovidas pela banca, o sistema financeiro internacional. E como
vemos, não se trata de esquerda ou direita, mas de nacionalismo ou
entreguismo.
Vargas
viveu um momento em que as ideologias mais extremas galvanizavam as
opiniões, restando um espaço desprezível para posições menos radicais.
E como é óbvio, foi arrastado nesta disputa. Daí a acusação de ser um
simpatizante do fascismo, como apontam alguns historiadores e biógrafos.
Mas
no inconsciente popular ele foi e continua sendo “O Grande Presidente”,
que defendeu o trabalhador, os menos afortunados, o “Pai dos Pobres”.
Tive,
há dois anos, uma experiência significativa. Meu amigo do tempo de
faculdade, o poliemérito intelectual, artista e escritor Nei Lopes
lançava
seu romance "Rio Negro, 50", cuja história transcorre em 1950.
Participavam do evento amigos sambistas do Nei, que usaram a rua,
transformada em de pedestre naquele sábado, para homenageá-lo com
músicas da época. Haveria bem mais de 100 pessoas, entre os convidados
e os que ocupavam as mesas do bar próximo. Surge o samba que fala de
Vargas. Um uníssono e arrepiante aplauso se delonga, vindo de todos. A
referência a Getúlio Vargas, num ambiente de classe média, em 2015,
despertava esta manifestação. Não é outro o motivo
que desde os governos militares, do entreguismo tucano de FHC, mesmo de
Lula, para nem falar dos golpistas de 2016, há o desejo de extinguir a
Era Vargas. E seus verdadeiros ou pretensos herdeiros sempre foram
atacados, caluniados e criminalizados nas páginas
da “grande imprensa”.
Que
possamos prosseguir, com a adequação temporal, social e tecnológica, a
Era Vargas, é uma verdadeira saída para o impasse brasileiro.
No
blog "Meu Lote", Nei Lopes publicou, em 03/08/17, “Outro agosto, muitos
anos atrás”, sobre suas recordações do 24 de agosto de 1954. Recomendo.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado