CARTAS DE COTOVELO 02
(versão 2015)
Carlos Roberto de
Miranda Gomes
O ano de 2015 não teve um bom
início, confesso. Uma gripe que ainda reluta em não me deixar; as dificuldades
de acessar a internet, aliada ao defeito na linha do telefone fixo, da prestadora
“Oi”, pela qual pago o ano inteiro para aproveitar um espaço de 30 dias e que,
da mesma forma ocorrida no verão passado, somente tem solução após cerca de
cinco desgastantes reclamações. A assistência é sofrível e a falta de
fiscalização revoltante. Não é justo. Na próxima vez “vou recorrer ao Bispo!”
Contudo, em compensação, do alto do meu
alpendre, que dá visão para a pista de veículos que retornam do cone sul para
Natal, tenho a possibilidade de contemplar a natureza e o movimento e notei que
o cajueiro da minha vizinha Iêda está florindo – bom sinal!
O telhado da parte térrea está coberto de
folhas secas e o soprar da brisa, que aqui é constante, promove uma dança
cadenciada de idas e vindas, fazendo coro com a sinfonia das folhagens das
árvores do entorno da casa, verdadeiro calmante para os momentos de devaneios.
Veículos trafegam provocando aquele barulho
característico, mas por ser um tanto distante, não provocam maiores incômodos,
salvo alguma moto com o escape mais aberto, na prática da ultrapassagem
irresponsável.
Fico a devorar os muitos livros que selecionei
com carinho, para os momentos mais agradáveis da praia, iniciando pelo Livro
Santo com o Evangelho do Dia, entrecortando a leitura com um filme, igualmente
escolhidos com esmero, geralmente os clássicos do cinema, com breves interrupções
do tilintar do triângulo do “cavaco chinês”, que me estimula a descer a
escadaria para comprar alguns pacotes e violentar a minha diabetes ou, quando o
carrinho do “picolé caseiro de Caicó” convoca a meninada que, aos gritos, pedem
“vovô manda alguns trocados” para o nosso picolé...
Tais interrupções são anunciadas pelo alarido
espetaculoso de Malu e Toddynho, como quando chega alguém fora do convívio
comum.
Nessa rotina despretensiosa, o dia vai
caminhando, interrompido com os momentos de uma caminhada e banhos de mar, mas
logo retornando ao cotidiano, que também convive com peladas improvisadas no
alpendre e garagem, com as boladas mais fortes ecoando nas paredes e no portão
de metal – alegria dos netos e desespero do avô.
Coisas sérias somente ocorrem com o
chamamento dos adultos para a hora o rango.
O véu da noite é iniciado com o
retorno dos pássaros em busca do seu lugar de dormir.
As noites são amenas e a parca iluminação
permite apreciar melhor o céu recheado de estrelas ou da maravilha da lua, como
está agora acontecendo diante de mim até cair o silêncio.
A TV somente os noticiários, pois os outros
programas são censurados pelo papo noturno até ser vencido pelo sono, mesmo com
a TV ligada até que a alma boa de Dona Thereza, sorrateiramente, pega o
controle remoto e apaga os sons do dia.
Agora é esperar os primeiros raios da manhã
que começa com os cantares dos passarinhos voltando à rotina da sobrevivência.
Levanto e ajudo nas primeiras tarefas da manhã, inclusive na feitura do café e
regar o pequeno jardim. E tudo se repete religiosamente.