sábado, 3 de janeiro de 2015




CARTAS DE COTOVELO 02

(versão 2015)

Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

            O ano de 2015 não teve um bom início, confesso. Uma gripe que ainda reluta em não me deixar; as dificuldades de acessar a internet, aliada ao defeito na linha do telefone fixo, da prestadora “Oi”, pela qual pago o ano inteiro para aproveitar um espaço de 30 dias e que, da mesma forma ocorrida no verão passado, somente tem solução após cerca de cinco desgastantes reclamações. A assistência é sofrível e a falta de fiscalização revoltante. Não é justo. Na próxima vez “vou recorrer ao Bispo!”

Contudo, em compensação, do alto do meu alpendre, que dá visão para a pista de veículos que retornam do cone sul para Natal, tenho a possibilidade de contemplar a natureza e o movimento e notei que o cajueiro da minha vizinha Iêda está florindo – bom sinal!

O telhado da parte térrea está coberto de folhas secas e o soprar da brisa, que aqui é constante, promove uma dança cadenciada de idas e vindas, fazendo coro com a sinfonia das folhagens das árvores do entorno da casa, verdadeiro calmante para os momentos de devaneios.

Veículos trafegam provocando aquele barulho característico, mas por ser um tanto distante, não provocam maiores incômodos, salvo alguma moto com o escape mais aberto, na prática da ultrapassagem irresponsável.

Fico a devorar os muitos livros que selecionei com carinho, para os momentos mais agradáveis da praia, iniciando pelo Livro Santo com o Evangelho do Dia, entrecortando a leitura com um filme, igualmente escolhidos com esmero, geralmente os clássicos do cinema, com breves interrupções do tilintar do triângulo do “cavaco chinês”, que me estimula a descer a escadaria para comprar alguns pacotes e violentar a minha diabetes ou, quando o carrinho do “picolé caseiro de Caicó” convoca a meninada que, aos gritos, pedem “vovô manda alguns trocados” para o nosso picolé...

Tais interrupções são anunciadas pelo alarido espetaculoso de Malu e Toddynho, como quando chega alguém fora do convívio comum.

Nessa rotina despretensiosa, o dia vai caminhando, interrompido com os momentos de uma caminhada e banhos de mar, mas logo retornando ao cotidiano, que também convive com peladas improvisadas no alpendre e garagem, com as boladas mais fortes ecoando nas paredes e no portão de metal – alegria dos netos e desespero do avô.

            Coisas sérias somente ocorrem com o chamamento dos adultos para a hora o rango.

            O véu da noite é iniciado com o retorno dos pássaros em busca do seu lugar de dormir.

As noites são amenas e a parca iluminação permite apreciar melhor o céu recheado de estrelas ou da maravilha da lua, como está agora acontecendo diante de mim até cair o silêncio.

A TV somente os noticiários, pois os outros programas são censurados pelo papo noturno até ser vencido pelo sono, mesmo com a TV ligada até que a alma boa de Dona Thereza, sorrateiramente, pega o controle remoto e apaga os sons do dia.

Agora é esperar os primeiros raios da manhã que começa com os cantares dos passarinhos voltando à rotina da sobrevivência. Levanto e ajudo nas primeiras tarefas da manhã, inclusive na feitura do café e regar o pequeno jardim. E tudo se repete religiosamente.

           

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

CARTAS DE COTOVELO 01
(versão 2015)
Carlos Roberto de Miranda Gomes
 
            No primeiro dia do novo ano, sob a égide da Paz, assistimos em Cotovelo, e com boa imagem, as solenidades de posse e assunção dos nossos novos governantes, nos planos federal e do Estado do Rio Grande do Norte (este, complementado já no retorno a Natal).
            Enfocando a esfera federal, a Presidenta Dilma Roussef não foi feliz em seu discurso, desprovido de novidades, porém proclamando sua meta prioritária – a educação e, num momento posterior, a segurança, para o que deverá usar dos meios que permitam alteração constitucional, para induzir a otimização da segurança e da Democracia. A impressão que ficou foi a de a continuidade, senão com o indispensável ajuste nas finanças, sem o que o Brasil não sairá das dificuldades com que terminou 2014.
            Voltando as vistas para o plano do Estado do Rio Grande do Norte, a efetuar conceitos pelos termos do forte discurso do Governador Robinson Faria, tirante a divagação crítica do ranço que persiste da última campanha eleitoral, foi muito claro no ataque, sem especificar prioridades, na trilogia Educação, Saúde e Segurança, argumentando que os problemas são tantos e tão graves que não permite a escolha, devendo agir nos três segmentos com a mesma urgência.
            Em seu discurso, não descurou da necessidade de parcerias para ações sociais e culturais, acenando para a UFRN e classes empresariais, num direcionamento técnico, mas sob uma condução ditada pela vontade política consistente.
            Assumiu o compromisso de tudo fazer em favor da recuperação dos homem decaído pela contingência das drogas e não esqueceu de dar esperanças aos servidores públicos, atendendo as suas reivindicações na medida do possível, mediante uma postura de eficiência e combate à burocracia desnecessária.
            Na visão de veranista e membro da comunidade praiana, encontramos um visível trabalho de remoção dos múltiplos entulhos decorrentes das costumeiras reformas ou construções que antecederam o período de veraneio, fatos que se repetem anualmente para a conservação e comodidade do setor imobiliário.
            Continuam sem definição dois aspectos fundamentais para a qualidade de vida dos caiçaras e veranistas: a conclusão do sistema de saneamento básico que se arrasta num período de quatro administrações; o outro é a necessidade de construção de uma estrada definitiva que solucione o gargalo que impede acesso razoável às praias do cone sul, o que tem motivado a redução da acorrência a essas estâncias, quebrando uma tradição quase secular.
            Bem, o ano de 2015 começa agora e o trabalho não pode demorar no encontro de soluções consistentes.
            É tempo de mudanças efetivas e é já!!!!!  

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

UMA OPINIÃO


 
2015: PERIGO FASCISTA IMINENTE
MIRANDA SÁ (E-mail:mirandasa@uol.com.br)
 
Levantamento automático que mapeia acesso ao meu Blog e interação com as mensagens do Twitter, registra um surpreendente número de pessoas que comentaram e retuitaram inserções sobre o fascismo alemão.
Um deles foi a lembrança de que o partido nazista era “dos Trabalhadores”, e outro apontava a coincidência do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) ter sido fundado por um metalúrgico, Anton Drexler.
Isto sugere um debate na posse da petista Dilma Rousseff, que cumpre mais uma etapa do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores brasileiros, às custas de violência, falcatruas, falências e expropriação do Tesouro.
Completará 16 anos esse indefinido regime, conquistado em pleitos suspeitos, com discurso estelionatário que esconde os dados reais de economia, da educação e números sobre miséria; eleições realizadas sob o comando de um advogado do PT, com urnas eletrônicas não confiáveis e uma apuração duvidosa.
Mais do que coincidência, o Brasil atravessa uma fase semelhante à que precedeu a ascensão nazista na Alemanha. Podemos listar o descrédito nacional na política e nos políticos; a dissolução dos costumes, o crescimento incontrolável da criminalidade, instituições republicanas enfraquecidas e uma economia desorganizada com inflação ascendente.
As descrições da Alemanha na década de 1930 do historiador Joachim Clemens Fest e do jornalista americano William Lawrence Shirer estimulam uma analogia impressionante com a conjuntura que vivemos. Fest, como respeitado biógrafo de Hitler, e Shirer, pela observação pessoal e pesquisa de documentos do Terceiro Reich, apresentadas na “Ascensão e queda do Terceiro Reich”.
Ao lado da angustiante degenerescência social do após guerra que tomava conta da Europa, coexistia e se avolumava uma tremenda agitação política graças à revolução bolchevista e o caótico debacle econômico do crash norte-americana.
Confrontando a influência da Internacional Comunista, surgiu a reação com Mussolini com os seus “fasci di combattimento” e centenas de associações conservadoras e nacionalistas na Alemanha. Segundo Fest, só em Munique haviam perto de 50 associações políticas... Foi quando Hitler encontrou o Partido dos Trabalhadores Alemães e assumindo a liderança, acrescentou à sigla o lema “nacional socialismo” e criou a cruz suástica.
A cinematografia nos oferece, também, um perfeito quadro da Berlim no início da década de 30 com o filme de 1972,  “Cabaret - Adeus Berlim”, dirigido por Bob Fosse com notável interpretação de Liza Minelli.
A prostituição, as drogas e o Charleston empolgavam a mocidade e as sátiras teatrais divulgavam o amor livre e a tese leninista de que o sexo é um copo d’água, que bebe quem tem sede. Viam-se manifestantes empunhando cartazes “Pelo caos para o recomeço” e “Pela honra dos assassinos”.
Carismático, Hitler chegou ao poder através de eleições com seus discursos inflacionados de promessas fantasiosas; mas o pleito de 1933, não foi tão livre; o NDASP teve a cobertura do exército, um farto financiamento de grandes industriais e, por medo, até de banqueiros e empresários judeus...  As tropas de choque – “camisas pardas” – impuseram o terror ameaçando o partido católico, os sociais democratas e entrechocando-se com anarco-sindicalistas e a juventude comunista.
Na atual conjuntura latino-americana revive a tendência totalitária do passado, usa a legenda socialista, o anti-capitalismo e a xenofobia antiamericana. Implantam o narco-populismo, herdando dos “coronéis” e “terratenientes” o paternalismo e aliam-se aos plantadores e traficantes de cocaína e maconha.
Está nos planos do populismo lulo-petista, como ideologia (capenga, mas ideologia) fazer a marcha fascista com o controle dos meios de comunicação, usando a mídia para sua propaganda enganosa. Prepara-se para intervir nos meios de comunicação e disciplinar os jornalistas que não se corrompem.
O segundo passo será a instalação da ditadura dos “conselhos populares” – nova versão dos fracassados soviets – através do decreto fascista 8.243/14 editado pela Presidência da República em 23/05/14 e publicado no Diário Oficial no dia 26 do mesmo mês e ano.
Entrega o poder à pelegagem dos movimentos sindical e popular, entidades controladas pelo PT, as decisões governamentais como ocorre na falida Venezuela chavista. Felizmente é repudiado como um “golpe legal” contra o Legislativo e o Judiciário. Feliz e surpreendentemente foi derrotado na Câmara Federal e vai ao Senado.
Esperamos que os pais da Pátria lembrem Martin Luther King: “Não esqueçam de que tudo o que Hitler fez na Alemanha era legal para os juízes daquele País”.
O decreto 8243 é um perigo fascista iminente, totalmente inconstitucional, antidemocrático e impatriótico.
  
 
 

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 - 2015


ANO VELHO

Neste dia, último do ano, faço o inventário das ações do ano velho que termina e contabilizo mais sucessos do que percalços.
Fui contemplado com novas amizades, recebi algumas homenagens, publiquei mais um livro, fui eleito para a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, ajudei a reativar novos projetos no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
A saúde foi um ponto negativo, mas já entrei em tratamento para superar as mazelas que a vida nos entrega e tenho plena confiança nos meus médicos terrenos e no Grande e Maior dos Médicos que governa nossos destinos.
Espero que 2015, após o exílio voluntário em minha tradicional Pasárgada (Cotovelo), possa retornar à lida diária, com a mesma disposição, na direção de outras vitórias.
FELIZ ANO NOVO A TODOS OS MEUS LEITORES E AMIGOS/AMIGAS.
UM ABRAÇO DE CARLOS GOMES

 


Manuel Bandeira

Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "
Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".

 
AGENDA PARA
2 0 1 5
 
BRASIL, SEMPRE 
 
ETERNO GUIA
 
 
A LUTA CONTINUA - IHGRN

MINHA PASÁRGADA - COTOVELO
 
 
NOVA DINÂMICA - INRG
 
 
CENTENÁRIO DO GLORIOSO

 
 
MINHA CASA PERMANENTE
 
 
NO RUMO DO CRESCIMENTO - ALEJURN
 
 
UM NOVO DESAFIO - ANRL
 
 
 UMA LUTA HERÓICA - CASA DO ESTUDANTE


OUTROS PROJETOS - UBE-RN
 
 
 CUMPRIMENTO DE MISSÃO - UFRN


FORTALECIMENTO - AML
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014



D Ú V I D A S ?????????????
APAGAR O O LAMPIÃO
E DERRAMAR O O GAZ
Registra Erasmo Firmino em seu blog "Tio Colorau":
– O cangaceiro Lampião sofreu a pior derrota de sua vida em Mossoró - RN, em 1927, onde perdeu um de seus braços direitos, Jararaca, que foi baleado e enterrado vivo. O episódio sempre foi muito marcante para a cidade. O Memorial da Resistência, no centro, conta toda a história da invasão. A única falha é a gigantesca foto de Maria Bonita no local. A primeira cangaceira mulher só viria a conhecer Lampião em dezembro de 1930, mais de três anos após o embate em Mossoró. Ela deixou o marido, sapateiro, para viver com o Rei do Cangaço.
Faltou dizer apenas que o lendário Virgulino Ferreira da Silva também jamais pusera as alpercatas em solo potiguar. Teria ele ido dançar xaxado na Paraíba?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014



HOJE, DIA 29, A ACADEMIA MACAIBENSE DE LETRAS REALIZARÁ SESSÃO ESPECIAL E SOLENE PARA OS ELOGIOS DOS PATRONOS DOS ACADÊMICOS IVONCISIO MEIRA MEDEIROS, SHEYLA RAMALHO E WELLINGTON LEIROS.
LOCAL: ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS - RUA MIPIBU - NATAL - RN
HORÁRIO: 19 HORAS.
INTELIGÊNCIA E CARÁTER – O EMBATE
Públio José – jornalista



                       Pesquisas mais recentes sobre o funcionamento da mente humana, sobre os elementos que regem a formação da inteligência e suas várias formas de manifestação, demonstram não haver, necessariamente, nenhuma relação entre a inteligência e a moral. Os estudos, da mesma forma, concluem pela inexistência de conexão entre a inteligência e a ética, como também entre ela e o caráter. Nesse território ainda pouco vasculhado da mente, a conclusão a que se chega, lamentavelmente, é que o personagem de uma história, para ser inteligente, não terá, obrigatoriamente, de agir em sua comunidade como pessoa de moral, de caráter, de boa índole. Por tais estudos, a inteligência está desatrelada dos demais elementos que constituem a base do comportamento humano, para planar, como águia, acima dos valores e escolher o rumo indicado pela individualidade e pelo livre arbítrio.
                        Tais considerações são pertinentes pelo momento de verdadeira inversão de valores que se observa, praticados na vida das pessoas, independente do segmento social que se venha a analisar. Maliciosos, antiéticos e imorais são visíveis em todos os quadrantes a olho nu, sem a necessidade, para descobri-los, de sofisticados instrumentos de medição científica. De todo modo, a conclusão dos estudiosos vem a calhar, pois passa a estabelecer uma rigorosa conexão científica entre o resultado dos trabalhos acadêmicos e a realidade que se vive no dia a dia contemporâneo. E no que isso tudo resulta? Que conclusões, do ponto de vista prático, podemos tirar de tais observações? É que, se antes o homem, em sua grande maioria, agregava à inteligência fortes conceitos carregados de moral e de ética, atualmente posiciona-se numa direção contrária, separando-a e cultivando-a para a prática de delitos de toda ordem.
                        Se agora está explicado, cientificamente, que a inteligência corre por fora, desligada do caráter, da moral, da ética, nos trejeitos que articula diante dos embates diários da vida, está justificada, então, a onda de safadezas e malandragens que abarrota o noticiário e enche de vergonha, entre outros, os espaços mais nobres da rotina nacional. É corriqueiro, pois, notar-se o uso que se faz da inteligência a serviço dos valores mais mesquinhos, para, como isso, glorificar-se a máxima de que o negócio é levar vantagem – em tudo. Rigor exagerado no que afirmo? Gostaria demais que assim fosse. Gostaria, inclusive, de serem totalmente erradas as observações que faço em torno deste assunto e de outros que compõem o cotidiano humano. Entretanto, não se tapa o sol com a peneira. E o que fica em nós, inexoravelmente, diante da realidade que rola, é o gosto amargo da decepção, da impotência, do desengano.
                        E o caráter como é que fica? Pra que direção se inclina, afinal? Segundo o dicionário, o caráter é o conjunto de traços psicológicos, o modo de ser, de sentir e de agir do indivíduo. Já a inteligência é a capacidade de fazê-lo perspicaz, de fazê-lo aprender com rapidez, de adaptá-lo a situações adversas. Enfim, de resolver pepinos e propor soluções. Daí, logo se vê que a inteligência trava uma luta renhida entre devotar-se a causas nobres, tendo no caráter um bom parceiro, ou amoldar-se de vez às exigências que afloram no contexto da tão apregoada modernidade. Para o caráter manter-se atrelado a princípios morais e éticos, com a inteligência se lambendo por vantagens imorais, não é tarefa fácil. Das duas uma: ou ele vence-a, subjuga-a – para permanecerem ambos num elevado padrão ético –- ou também embarca na gandaia.  Pois, como justificam – com cinismo – os tais inteligentes, resistir, quem há de?    

domingo, 28 de dezembro de 2014

RESISTÊNCIA CULTURAL NO CEARÁ-MIRIM , CRÔNICA DE FRANKLIN JORGE;.




RESISTÊNCIA CULTURAL NO CEARÁ-MIRIM Por Franklin Jorge 

 QUEM É DO Ceará-Mirim, ou mantém algum laço afetivo com a terra e a história

 do município, não disfarça o mal-estar de ver a sua querência aviltada e reduzida a uma grande ruína gestada por sucessivas e desastrosas administrações e governos que parecem ter em comum o despreparo, a alienação, a ineficiência, o descompromisso com a realidade e a falta de projetos de futuro. Prova-o a estagnação econômica e os problemas de toda ordem que se avolumam, especialmente nos últimos anos, sob o atual prefeito que, por seu despreparo, parece zombar dos próprios cearamirimenses e de sua elite de indigentes. “Exemplo nacional”, por suas riquezas naturais e potencialidades econômicas, segundo um de seus mais argutos e criteriosos estudiosos - o engenheiro agrônomo Júlio Gomes de Senna-, o Ceará-Mirim destacou-se por muitos anos, desde o Império, como uma das regiões mais ricas do estado que se foi degradando no decurso do tempo em conseqüência das más escolhas e apatia de seus próprios filhos, ao mesmo tempo vítimas e responsáveis pela desgraça que se abateu sobre o governo do município, atualmente transformado em objeto de vergonha para aqueles que ainda guardam a lembrança de tempos melhores. Até a cultura canavieira - historicamente o fiel da balança de sua economia -, está estagnada e em franco processo de decadência que parece irreversível, se consideramos a baixa auto-estima de seu povo e a indiferença e irrelevância de sua classe política. Contudo, em meio à ruína geral de um município antes rico e em tudo diferente da “cidade-dormitório” em que se transformou o Ceará-Mirim, eis que surge um exemplo de resistência motivado pela atuação de um professor e seus alunos unidos num trabalho de resgate da nossa cultura – de uma cultura que deu ao país nomes como o do historiador Rodolfo Garcia, que chegou a presidente da Biblioteca Nacional; dos escritores Madalena Antunes Pereira, Edgar Barbosa e Nilo Pereira. Refiro-me ao trabalho desenvolvido em sala de aula pelo jovem e talentoso professor Severino Bill Martiniano - inspirador e orientador de um grupo de estudantes - nos fazem crer que nem tudo está perdido. Seu exemplo, como professor vocacionado e esclarecido devia servir de motivo de inspiração para todos nós que desejamos contribuir efetivamernte para a construção de um mundo melhor no qual a educação e a cultura constituem ferramentas necessárias ao desenvolvimento intelectual e humano. Recentemente o recebi em minha casa e surpreendeu-me a qualidade do trabalho que tem desenvolvido com os seus alunos, na área da literatura e da produção de vídeos que a par de sua qualidade põem em relevo o espírito de colaboração que soube despertar na sala de aula, melhor dizendo, que vão além da sala de aula. É o testemunho de que ainda há, no Ceará-Mirim semi-destruído por essa caterva de políticos vorazes que usam destrutivamernte o poder, gente capaz de sonhar e de resistir. Frutos dessa ação pedagógica, a produção de vídeos e de peças que mostram de maneira surpreendente o talento de alunos do Ensino Médio do tradicional Colégio Santa Águeda, entre os quais citaria Cinthya Caetano Ribeiro, Fabiana Emanuela Câmara de Moura, Monalisa Simonelly Rebouças de Oliveira, Marília Raquel Santiago da Silva Pessoa, Nathália Junnia da Silva, Rosilda Rayane de França Rodrigues, Jéssica Rayanny Rodrigues Silva, Josefa Thaynã de Lima e Silva, Lucas Felipe Pessoa, Josué Viana da Silva Júnior, Matheus da Silva Câmara, Samuel Batista Soares de Araújo, Aliane Mayara Araújo de Oliveira, Anderson Rafael de Oliveira Mendonça, Heitor Fagundes Calazans Silva, Maria Clara Moreira Oliveira França, Anderson Rafael de Oliveira Mendonça e Heitor Fagundes Calazans Silva, autores do Auto da Boca da Mata [denominação primitiva do município que muitos ignoram], inspirado no clássico português Gil Vicente, abordando porém uma temática que diz respeito ao Ceará-Mirim e os protagonistas de sua história. Segundo o professor Severino Bill Martiniano a obra “traz em seu bojo uma reflexão sobre o cotidiano de pessoas de uma sociedade imaginária, criada pelos jovens escritores do Colégio Santa Águeda”, que deve orgulhar-se de contribuir de maneira tão eficaz para o aprendizado e apoderamento do conhecimento usado em favor da coletividade. Todos nós que amamos e valorizamos a contribuição do Ceará-Mirim à cultura norte-rio-grandense, esperamos que um trabalho desse nível de qualidade tenha uma ampla divulgação e contribua para o fortalecimento da educação e sobretudo da conscientização da sociedade sobre os nossos problemas. Por isso se faz necessária a realização do projetado l Festival Literatura em Vídeo idealizado pelos participantes desse projeto que marca a história do Colégio Santa Águeda.
* * *
CRÉDITOS: LÚCIA HELENA
CIRO JOSÉ TAVARES, E POR QUE NÃO?

 DO AMOR

 Ciro José Tavares.

Amo-te infatigável e indefinidamente.

Amo cada fragmento do teu corpo desolado.

Amo-te como amei inesquecíveis putas brancas,

acolhido no calor do leito de  lençóis macios.

Amo-te como rios que beijam margens e sem dizer adeus

passam sôfregos numa fuga inconsolável,

 ou como ventos outonais agitando árvores

e que veem nas ruas sonolentas o esvoaçar das  folhas secas.

Amo-te como amei dias venturosos num tempo de loucuras.

Amo-te degradada, infeliz, cristã, vazia sem ninguém.

Amo-te na pobreza e silêncio inquietantes porque és pura e meu amor.


DE SOMBRAS

  (Ciro  José  Tavares)  
De  onde está vindo o silêncio desses passos
despertando minha quietude debruçada na poesia? 
Ergo-me para encontrá-los e somem enigmáticos.
Quem anda tão doce sobre a terra e como o sol
passa veloz pelas vidraças das janelas, até afugentando
pássaros que se recolhem sob estrela vespertina? 
De onde chegam essas sombras parecidas
réstias de luas fugidias diante dos meus olhos?
Revela-te. Emerge do interior desse lusco-fusco,
e vem, anjo ou demônio num corpo de mulher .
São os teus receios que me abandonam no vazio?
Confessa sombra inalcançável o medo do amor.
Evola-se na escuridão a esperança de saber 
quem realmente és, e porque me atormentas.
Fico no vazio, nas mãos apenas os meus livros.
Como sombras não regressam deixo –te minha ausência no poema.






         O MANTO QUE ME AQUECE O CORAÇÃO

            Ciro José Tavares


Aberto e estendido sobre os ombros o manto

da Academia Cearamirinense

de letras e Artes Pedro Simões Neto,

dá-me a sensação de orgulhosamente ostentar

um largo colar cravejado de ouro e esmeraldas.

Agasalha-me de telúricas lembranças,

o brilho do olhar deitado na extensão verdejante dos canaviais

e o louro do sol acobertando  tetos e ladeiras da cidade.

É esse manto sagrado que me queima, refulge e borda

entre  as estrelas o imaculado azul da Virgem Padroeira.  


CONSTRUÇÃO

Ciro José Tavares


            Estou pela metade  submerso no que resta

            do lusco-fusco da meia luz de velas que se extinguem.

No fundo das sombras os renovados mistérios

farão emergir minha alma para construir

 a metade mais nobre e  mesmo entardecido,

 cego voltarei completo   aos claros, outra vez.




 Árvore do Fim do Mundo

 Ciro José Tavares


Finalmente alcancei-te árvore do fim do mundo.

À sombra entrego meu corpo mítico ao teu,

Abandonado ao mau e ferido pelo tempo.

E vejo a tentativa de podar os galhos nobres,

Os que pendiam sobre os muros espalhando flores pelo chão.

Apesar das dores não perdeste o cheiro antigo

E o fruto nos meus lábios tem o sabor do néctar dos deuses.

Venho de longe, navegante de Aiola,

Trazido pelos ventos, para deitar fadigas na terra sagrada que te cerca.

Alcancei-te e fico sob tua quietude árvore do fim do mundo,

Cabeça acostada no regaço contemplando estrelas,

O orvalho das manhãs caindo no meu rosto.

Fará lembrar as lágrimas que a brisa vespertina

enxuga antes que nos chegue a noite,árvore do fim do mundo.