sexta-feira, 12 de janeiro de 2018


CARTAS DE COTOVELO versão 2018 - 04
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, veranista.
      Entre caminhadas e banhos de mar, não dou tréguas ao fundo da minha rede, nela escanchado, para o deleite das minhas leituras diárias. A bola da vez foi “Macaíba em Alvoroço”, do meu amigo e confrade Racine Santos – ele macaibense e eu macaibeiro, ambos conhecedores das coisas de Macaíba de Seu Mesquita.
Deleitei-me com a descrição da geografia física e humana da cidade, fazendo um ponto especial ao comentar a Feira, que também foi o meu encanto no tempo em que lá vivi, morando na rua Pedro Velho, bem pertinho da rabada da feira, ali no confronto com a rua do Solar Caxangá que faz quina com a rua do Gango. Ali me deleitava com os animais de carga amarrados com cangalhas e, vez por outra, um jumenta no cio provocava os garanhões que queriam fazer a cobertura com cangalha e tudo, aos coices, fazendo cair a mercadoria e sob os vivas e gritos da molecada. E eu lá.
Também naquela parte final ficavam os vendedores de cordel, que usando um velho microfone, envolvido em uma flanela rota, cantavam as suas estórias incríveis, talqualmente o fazia o açuense, brincante de João-Redondo da história do livro, que colocou em alvoroço o Prefeito, o Padre, o Delegado e o Poeta com a simples insinuação: ’tô de olho em você”.
Gozação? Vingança? Ou apenas feladaputagem?
O romance entremeia o enredo com as meninas do “Céu dos pecadores”, histórias de lobisomem e um crime de morte nunca desvendado, Zefinha catimbozeira, os encontros de Xexéu, Cancão, Sérgio Cabeceiro, regularmente no Bar Esperança, de Seu Jorge e, nos sábados, ao final da feira, no Gato Preto, de Seu Melquezedeque, aberto dia e noite, em todas as oportunidades, puxadas à aguardente “Dois tombos” – causadora do conhecido slogan: um pra frente e dois pra trás. (Recordo nos carnavais de Macaíba o caminhão desfilando com a alegoria de uma grande garrafa de propaganda). Alguma vez a bebida foi servida por Hélio Cobra, da Pensão Estrela da Madrugada, mais conhecida como Pensão de Dorinha.
No meu tempo existia uma das meninas com uma história famosa – seu nome Xibiu de Bolão.
Ademais disso, relembra a chegada do ônibus de seu Luiz, que parava junto do obelisco fronteiriço ao Mercado, cercado de correntes e nas sombras das árvores.
Fui um dos que às tardinhas esperava esse transporte com o gazeteiro que trazia minhas encomendas de Gibís (coleção que mantenho até hoje), enquanto não chegava me deleitava com os caminhões e mistos que passavam pelo centro da cidade tocando na buzina músicas de Luiz Gonzaga.
Ah que saudades que tive da autora da minha vida, da minha infância querida na eterna Macaíba, que os anos não trazem mais.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018


FALÊNCIA DE DESEMPENHO

Valério Mesquita

A governabilidade no Rio Grande do Norte está no volume morto. A atuação pessoal do governante continua abaixo da crítica. É preciso humildade. Baixar o orgulho, a vaidade e dialogar com todos. Poderia ter feito isso antes, muito antes, há trinta dias atrás e aí poderia ter evitado que a crise tivesse ido tão longe. Inclusive, foram tomadas medidas extremas que somente puseram lenha na fogueira. Prisões de policiais, auxílios de recursos federais para pagamento de funcionários estaduais, enfim, toda uma parafernália de interpretação mal-assombrada da lei. A população do Estado ficou à deriva, sujeita a violência, a anarquia, quando, somente agora, foram tomadas medidas emergenciais para revelar o incêndio: diminuir o tamanho da máquina estatal (exoneração de cargos comissionados na órbita do poder executivo e diminuição do número de órgãos da administração direta e indireta). Que o Poder Executivo assuma sozinho as dimensões de tal cometimento é dever de ofício.
Na reunião com o mundo político estadual (deputados federais e senadores), lá na governadoria, numa atmosfera na qual, sorrisos punhais escondiam, outro dever de casa se impôs para a equação do problema a médio prazo: a venda do patrimônio público (ativos) e de empresas de economia mista. Aliás, existem algumas que somente servem para empreguismo. E sobre essa tarefa hercúlea o governador Faria ainda vai se entender com a Assembleia Legislativa. Nas entrelinhas, indaga-se qual a contribuição que os outros dois poderes ofertarão para encolher o tamanho da folha de pagamento? E também, com relação as transferências mensais de recursos, denominados duodécimos?
A paralização da polícia militar por atraso de salário e por outros motivos já do conhecimento público, chegou como uma onda no mar, desde quando se iniciou o atual governo. O piloto afirmou que seria “o governador da segurança”. Esse presságio, ao longo do tempo, foi se desarmando. O perigo dele estava no tom. Foi medíocre, vulgar e chato. Via-se a primeira futilidade pública, infantil para dá no que deu: luta social, perda de diálogo com as polícias civil e militar, vitimas inocentes (o povo), depredação do patrimônio e humilhação do Rio Grande do Norte na mídia social e televisiva de todo o país. Vive-se um tempo trágico, perdulário, verdadeiro obituário de omissões.
Tudo se deveu ao fraco desempenho do governador, que procura guilhotinar os antecessores pela massa falida. Se as providências pactuadas na reunião com a chamada classe política não forem implementadas criteriosamente, no primeiro trimestre toda essa baixaria se repetirá. Até porque a combustão é mais fácil no ano eleitoral. Reforma administrativa e política de investimentos são ajustes urgentes para que modifiquem a máquina estatal de forma abrangente, em todos os seus segmentos para suportar a carga funcional, previdenciária, de forma superavitária. Essas assertivas são obrigações de Robinson Faria, para que o seu nome não fique na história de pior governador eleito pelo povo do Rio Grande do Norte. Elas são exigências do Ministério da Fazenda desde quando pediu indevidamente dinheiro para pagar o funcionalismo.
Lembrem-se que a memória registra que a debilidade do governo revelou-se quando sacou o dinheiro da Previdência (IPERN) para pagar os servidores, ano passado. De agora em diante, acabou o show de strip-tease dos fundos estatais. É hora de mostrar competência e abolir privilégios.
No Ceará, por exemplo, governado por um petista, desde agosto de 2016, o gestor reduziu e equilibrou a magnitude do déficit em trinta por cento, obedecendo o limite da lei da responsabilidade fiscal. Todavia, aqui desde 2015, apesar de ser permanentemente advertido pelo TCE, deixou ficar em sessenta e sete por cento a ultrapassagem da L.R.F.
Ante todo esse descalabro, digo que a revolta dos policiais tem um fundo social, humano, porquanto atinge a bolsa, o estômago e a família - enfim, a vida. Se tivesse acontecido tal inoperância (atraso) nos salários das autoridades constituídas do Estado, o clamor do “mundo oficial” já teria pedido e votado o impeachment do verdadeiro responsável.


(*) Escritor 
CARTAS DE COTOVELO versão 2018 - 03
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, veranista.
      Afinal, com uma semana de atraso no ano que começou, foi possível passar a primeira noite em Cotovelo. Dormida calma, da melhor forma que pretenda qualquer vil mortal, sem businasso, bem diferente do inferno dos finais de semana, onde a deficiência de uma via adequada de trânsito congestiona Cotovelo, praia de passagem para os paraísos do sul.
Este assunto vem sendo insistentemente cobrado pelos que enxergam além da ponta do nariz, mas sem uma resposta dos órgãos competentes do Estado, sem atentarem para os ganhos financeiros que advirão com a atração de empreendimentos novos em benefício dos turistas, com pleno proveito dos moradores e veranistas da região.
Aqui nas comunidades Pium-Cotovelo, esse benefício vem sendo aguardado e, particularmente a PROMOVEC, associação civil que alberga os interesses dos moradores, proprietários e veranistas tem sido vigilante em suas reivindicações, com muito bom entrosamento com o Prefeito de Parnamirim, que vem voltando suas ações para as melhorias reclamadas.
Mas existe um outro ponto que merece estudo e solução – a paz pública e o silêncio necessário após as 22 horas, que não são observados nas baladas de Pirangi, cujo som, regado a verdadeiros bate-estacas, incomoda todo mundo e não se conciliam com o sono dos que vêm para aqui buscar repouso, com sói acontecer nas regiões praianas. Possivelmente uma regulamentação do assunto permita a solução do problema.
Quando a noite deixou escapar os primeiros raios de sol e depois a sua aparição plena, fez-se a maravilha da confraternização das caminhas com o mar, um pouco de esporte e a exposição comedida a beira-mar e afinal o banho repousante que nos oferece o regresso ao lar revigorado – mais para uma boa refeição, uma rede ou uma dose cantada em versos – caju nasceu pra cachação – uma rede na varanda. O resto vem por acréscimo.
Tempo bom, inspirador para a convivência fraterna, um baralho, um dominó, uma cantoria, a brisa inigualável da costa, boas e inseparáveis leituras. Vai sair um poema, um conto ou romance.

Arre égua, que boommmm!