CARTAS
DE COTOVELO versão 2018 - 04
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES,
veranista.
Entre caminhadas e banhos de mar, não dou
tréguas ao fundo da minha rede, nela escanchado, para o deleite das minhas
leituras diárias. A bola da vez foi “Macaíba em Alvoroço”, do meu amigo e
confrade Racine Santos – ele macaibense e eu macaibeiro, ambos conhecedores das
coisas de Macaíba de Seu Mesquita.
Deleitei-me com a descrição da
geografia física e humana da cidade, fazendo um ponto especial ao comentar a
Feira, que também foi o meu encanto no tempo em que lá vivi, morando na rua
Pedro Velho, bem pertinho da rabada da feira, ali no confronto com a rua do
Solar Caxangá que faz quina com a rua do Gango. Ali me deleitava com os animais
de carga amarrados com cangalhas e, vez por outra, um jumenta no cio provocava
os garanhões que queriam fazer a cobertura com cangalha e tudo, aos coices,
fazendo cair a mercadoria e sob os vivas e gritos da molecada. E eu lá.
Também naquela parte final ficavam os
vendedores de cordel, que usando um velho microfone, envolvido em uma flanela
rota, cantavam as suas estórias incríveis, talqualmente o fazia o açuense, brincante
de João-Redondo da história do livro, que colocou em alvoroço o Prefeito, o
Padre, o Delegado e o Poeta com a simples insinuação: ’tô de olho em você”.
Gozação? Vingança? Ou apenas feladaputagem?
O romance entremeia o enredo com as
meninas do “Céu dos pecadores”, histórias de lobisomem e um crime de morte
nunca desvendado, Zefinha catimbozeira, os encontros de Xexéu, Cancão, Sérgio
Cabeceiro, regularmente no Bar Esperança, de Seu Jorge e, nos sábados, ao final
da feira, no Gato Preto, de Seu Melquezedeque, aberto dia e noite, em todas as
oportunidades, puxadas à aguardente “Dois tombos” – causadora do conhecido
slogan: um pra frente e dois pra trás. (Recordo nos carnavais de Macaíba o caminhão
desfilando com a alegoria de uma grande garrafa de propaganda). Alguma vez a
bebida foi servida por Hélio Cobra, da Pensão Estrela da Madrugada, mais
conhecida como Pensão de Dorinha.
No meu tempo existia uma das meninas
com uma história famosa – seu nome Xibiu de Bolão.
Ademais disso, relembra a chegada do ônibus
de seu Luiz, que parava junto do obelisco fronteiriço ao Mercado, cercado de
correntes e nas sombras das árvores.
Fui um dos que às tardinhas esperava
esse transporte com o gazeteiro que trazia minhas encomendas de Gibís (coleção
que mantenho até hoje), enquanto não chegava me deleitava com os caminhões e
mistos que passavam pelo centro da cidade tocando na buzina músicas de Luiz
Gonzaga.
Ah que saudades que tive da autora da
minha vida, da minha infância querida na eterna Macaíba, que os anos não trazem
mais.
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