Na semana passada estive na casa de um jovem chamado Thiago Gonzaga, na Cidade da Esperança, nesta Capital ensolarada. O nome do bairro não poderia ser mais expressivo para aquele momento e a visita me trouxe algumas fortes emoções que ora quero compartilhar com os meus poucos (mas, muito especiais) leitores.

Thiago Gonzaga é um jovem e simples trabalhador da Companhia de Limpeza Urbana de Natal. Exerce a difícil e nobre função de gari. Com o trabalho, vem pagando seus estudos e já é graduado por uma universidade particular e pretende, logo, fazer uma pós-graduação em Letras. Acontece que – até ter completado 23 anos de idade – Thiago sequer havia concluído o primeiro grau, em face das poucas condições econômicas de seus familiares, daí decorrendo a necessidade de começar a trabalhar bem cedo.


Como o nosso amigo Thiago retornou aos estudos? Talvez essa pergunta já esteja fervilhando na cabeça dos leitores. E a resposta vem das palavras do próprio jovem trabalhador: "- Olha, Lívio, a literatura potiguar teve e tem uma importância  muito grande pra mim. Foi praticamente através dela que eu me alfabetizei de verdade. Depois, prossegui com a educação formal...".


Thiago é, hoje, um dos poucos e dedicados pesquisadores (quase que exclusivamente, do ponto de vista da temática) acerca das obras literárias dos autores potiguares. Inclusive, tive a oportunidade de conhecer - nessa visita que lhe fiz - a sua biblioteca, quase toda formada por itens da literatura potiguar e que o rapaz compartilha com a comunidade de seu bairro e diversos estudantes e estudiosos da cidade.

E Thiago também já é autor. Recentemente, prestou rica homenagem em um livro que organizou (juntamente com Fátima Lina Lopes e Chumbo Pinheiro, este também gari) dedicado a Nei Leandro de Castro, por ocasião dos seus cinquenta anos de produção literária. Se eu fosse Nei, teria por esse pessoal uma gratidão eterna!


Vale lembrar que Thiago vem preparando outros estudos e trabalhos sobre autores de nossa terra, os quais homenageará com suas pesquisas. Inclusive, confessou-me Thiago – para minha profunda satisfação – que começou a formar mais sistematicamente a sua biblioteca quando leu o meu livro "Bibliotecas Vivas do Rio Grande do Norte", obra esgotada e que publiquei na Editora Sebo Vermelho, de Abimael Silva, no ano de 2005. 


A visita que fiz a esse jovem gari, que se transformou em estudioso e pesquisador das letras, fez-me renovar os melhores sentimentos quanto ao labor singelo que é desempenhado por nós, os escritores do Rio Grande do Norte, praticamente obscuros no contexto nacional (com poucas exceções), mas com uma bela missão a cumprir diante do nosso povo e da nossa querida província. 


Muito obrigado, Thiago, por tudo! E prossiga, com altivez, no seu digno papel cultural!