quinta-feira, 3 de abril de 2025

 ENQUANTO NÃO CHEGA 2026


Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
O Rio Grande do Norte é conhecido e estigmatizado por
gastar o tempo com discussões marginais, supérfluas e estéreis. Soou a
trombeta eleitoral do início da campanha do ano 2026. E com ela fica
decretado que os homens públicos estão livres do jugo da ação da mentira.
Não mais será preciso usar a carcaça da desfaçatez para denegrir o seu
semelhante. A praça pública não pode transformar-se em rinha real,
escarlate, com suas armadilhas e surpresas. Que a baba e a saliva dos
profissionais da política não estilhacem vidraças. E que os ácidos
laboratoriais com seu chiado contínuo e enfadonho não prevaleçam sobre
os lares honrados.

É preciso exorcizar as teorias esquisitas do pântano
enganoso das bocas detratoras. Pelos caminhos do litoral e do oeste não
vamos esquecer o andarilho alísio caminheiro portador de boas novas de
milho e feijão verde. Do Mato Grande o vento carpidor e viajante vai
modelar no dorso a canção triste de antigas estiagens. No palanque do dono
da eleição nenhum vento plangedor romperá a brida do cavalo aboiador.
Nessa eleição é preciso que a verdade seja servida antes
da sobremesa. Lembrem-se que candidato e eleitor são lobo e cordeiro e
que jantarão juntos . O pasto do político é qualificado, mas ele sabe que a
fome é certa. Determinados candidatos possuem uma malandra e esperta
fome de guaxinim. E o eleitor sempre foi um ser privatizável, inconsciente
e circunstancial. Vamos cultivar as boas ações. Tudo vai passar. Aquelas de
melhores dividendos serão leiloadas pelo Banco da Providência.
Imprivatizável. Indevassável. Anti-Proer. Inassaltável. Lugar onde o
dinheiro jamais poderá comprar o sol das manhãs vindouras. Local onde os

moedeiros falsos do papel podre das emendas parlamentares jamais
entrarão. Mesmo diante do difícil e corruptível instituto da reeleição, que os
eleitos saiam das urnas limpos e acreditados. O processo eleitoral não pode
se cobrir de manchas e distorções irreparáveis. O político é um ser que ama
somente a si mesmo. É tempo de divórcio. É obrigatório flertar com o povo
porque no baile da eleição é proibido o uso de máscaras. Passou a
pandemia.

Nesse país, grande templo dos desafortunados e famintos,
todos os ídolos têm pés de barro. Principalmente os ídolos oficiais de certos
políticos, que entram e saem de cena como bufões.

A ninguém não podem mais enganar. O processo de
empobrecimento do Nordeste, em curso, em nome de uma falsa
modernidade, não se restringe só aos bancos, às empresas estatais, mas,
principalmente, ao Poder Público, aos Estados e Municípios, visando
enfraquecê-los e deixá-los inferiores, de pires à mão, genuflexos. Até
parece que, em nome do real, se preconiza o nascimento de um Estado
Unitário, Monetário, Autoritário, Confederado, mas libertino porque
subjuga e corrompe governadores e parlamentares. Ultrajante é a violência
institucionalizada no país. Obsceno é o patamar dos juros bancários.
Hediondo é o estado falimentar do agropecuarista brasileiro.

(*) Escritor.

 

Sobre coelhos, colombas e ovos de páscoa

Padre João Medeiros Filho

Durante anos, elaborei projetos de cursos de teologia a fim de obter autorização de funcionamento do Ministério da Educação. Ali, incluía no perfil do teólogo a assessoria teológico-cultural a órgãos públicos e privados. Se houvesse tais graduados nas fábricas de chocolates Nestlé, Garoto, Kopenhagen, Cacau Show, Cacau Brasil etc., talvez os empresários mudassem de direcionamento e não produzissem coelhos, colombas e ovos pascais. Não se sabe exatamente quem fez a ligação de chocolate com a Ressurreição de Cristo. É corrente citar o coelho como símbolo de fertilidade e os ovos, o princípio da vida. Para muitos trata-se de uma metáfora um tanto forçada. Na Páscoa comemora-se a vitória de Cristo sobre a morte. Por isso, sua força renovadora requer algo mais simbólico, como a Luz do Círio, elemento litúrgico da Vigília Pascal. Cristo dissera: “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12).

Há tempos, Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica sobre o tema. Reproduziu parte do diálogo entre um menino e seus pais sobre essa festa. A narração termina com a observação da criança: “Acho que se deveria substituir o coelho por uma galinha. Esta põe ovos, aquele não.” Não convêm histórias que podem confundir ou deformar a mente das crianças e pessoas incautas. Os textos bíblicos e litúrgicos não fazem referência a coelhinhos, colombas e ovos, elementos atuais da comemoração pascal.

Historiadores narram que antes do cristianismo, celebrava-se entre os povos anglo-germânicos a deusa Eostre (conhecida como “deusa da aurora”), da primavera e da fertilidade. Ainda hoje, ela é celebrada na tradição celta. Na Europa o período pascal ocorre sempre na primavera. Considerando a fecundidade dos coelhos, fizeram uma ligação com a Páscoa e o aumento de cristãos nos primeiros séculos. Entretanto, nela vivencia-se a renovação da vida espiritual e não a procriação ou fertilidade. Nas igrejas de ritos orientais (bizantino, ucraniano etc.) há o costume de pintar ovos e presenteá-los aos vizinhos na oitava pascal. Para eles, os ovos lembram o princípio da vida. Todavia, teólogos cristãos consideram elementos pouco significativos da plenitude da Vida em Cristo. O apóstolo Paulo já advertia: “Que ninguém vos faça prisioneiros de filosofias e conversas sem fundamento” (Col 2, 8).

Ultimamente, para simbolizar a Páscoa, optou-se pela pomba. Para alguns é mais icônica. A passagem do Gênesis sobre o dilúvio e a Arca de Noé (Gn 6, 11-20) narra que a pomba voou, apanhou um ramo verde de oliveira e o trouxe até Noé. Ela passou então a ser símbolo de vida. Uma das telas comoventes de Picasso é uma menina com uma pombinha em suas mãos. Os Evangelhos ressaltam que o Espírito Santo no momento do batismo de Jesus, “desceu sobre Ele em forma de pomba” (Lc 3, 22). Talvez, esses dados tenham influenciado a fabricação de colombas pascais, um tanto desfiguradas, segundo vários artistas sacros. Nenhum desses símbolos expressa com profundidade a Vida nova, trazida pela Ressurreição de Cristo.

Muitos desconhecem o significado da Páscoa. Continuam associando aos coelhos, ovos, colombas e outras guloseimas de chocolate. Desconhecem o seu sentido e não a celebram com uma mentalidade bíblico-religiosa. No período que antecede a Semana Santa, há toneladas de ovos de chocolate e outros produtos similares, em supermercados e lojas. Não há uma palavra sequer sobre o que representa a Páscoa. Fabricantes cristãos de tais produtos poderiam pôr ao menos nas embalagens um folheto explicativo sobre essa importante festa do cristianismo. Como faz falta um conhecedor da cultura religiosa. Quando estudava na Bélgica, ouvi de um sacerdote da Igreja Ortodoxa Russa que nela a Ressurreição é a solenidade máxima dos católicos. O comunismo, com todas as suas narrativas e imposições, não foi capaz de destruir a alma do povo, tocada pela fé cristã. No alvorecer do Domingo de Páscoa – retratado pelo clarão do Círio – as pessoas saem pelas ruas e se cumprimentam: “Cristo ressuscitou!” Responde-se com um largo sorriso: “Sim, Ele está vivo!” Na minha primeira noite pascal em Louvain, um jovem presenteou-me um Círio e dissera: “Cristo ilumine a tua vida e o teu Brasil.” Recomenda o apóstolo Paulo: “Faz-se necessário renovar-vos pela transformação espiritual de vossa mente” (Ef 4, 22-23).