terça-feira, 15 de outubro de 2024

RELEMBRANDO OS OITOCENTOS ANOS DE ASSIS Valério Mesquita* Mesquita.valerio@gmail.com Foi o momento mais terno e denso do senado da república. Nunca, lá, havia presenciado cenário semelhante. O senador Pedro Simon, tal qual um anjo da noite, discorreu da tribuna sobre a vida e o exemplo do santo e cidadão Francisco de Assis, que celebra oitocentos anos de existência. O notável parlamentar gaúcho, elaborou um texto que emocionou a todos. O fundador da Ordem Franciscana, segundo ele, reeditou no tempo, através da caridade e do sofrimento, a vida do próprio Jesus Cristo, somente tendo lhe faltado as chagas da crucificação e a eugenia do Criador que somente o Filho Unigênito recebeu. Num plenário calcinado por gestos menores, por retaliações pessoais, viu-se uma luz, um momento santificado, como se Deus ali tivesse permitido uma trégua. Como o Congresso Nacional se ergueria se recitasse e fizesse da oração de São Francisco o instrumento de sua paz e o encontro com a verdadeira missão de legislar em favor dos mais pobres? Na primeira década de 1.200, Francisco de Assis elaborou a sua carta a todas as nações da época, suplicando ajuda para estancar a fome e curar as doenças. Hoje, como ontem, Pedro Simon relembra o fato no sentido desse documento ser revivido entre as autoridades do país, em favor dos pobres, enfermos e oprimidos. O santo italiano era de origem burguesa. Seu pai, rico comerciante, não entendeu quando o filho abandonou toda a riqueza para criar no mundo a mais completa situação de humildade e caridade cristã: a “pobreza franciscana”. Ao final, num verdadeiro toque mágico e sobrenatural, a palavra de Simon se alçou ao patamar superior do seu grande mérito. Enquanto no mundo hodierno, os mais poderosos países do mundo sacam verdadeiras e colossais fortunas de bilhões de dólares para socorrer os papéis podres do mercado financeiro e bancos gananciosos – a humanidade pasma e estarrece ao concluir quanta fortuna as nações ricas armazenam em detrimento de milhões de seres humanos que passam privações e morrem de fome. Esta é a grande reflexão a ser feita nesses oitocentos anos da vida de Francisco de Assis. A sovinez, a avareza, a indiferença dos governantes de hoje pelo sofrimento humano são de causar revolta, asco, choro e genuflexão contrita de perdão ao Pai Eterno pelo equívoco da raça humana. O senado brasileiro, naquela tarde/noite, pela voz gaúcha de pregador do senador Pedro Simon lembrando versículos, capítulos, salmos e epístolas, como se fosse de um novíssimo testamento, tornou-se, por instante, num templo de santidade e de denúncia contra o mundo moderno de perversidade e contradições. Vi a minha paz cósmica satisfeita. (*) Escritor
MUNDO PATOFÓBICO Valério Mesquita* Mesquita.valerio@gmail.com Tenho me questionado ultimamente com o surgimento de inúmeras epidemias funestas nos últimos vinte anos. Umas nascidas na Ásia e outras na África, vitimando milhares de pessoas. Não vou discutir os aspectos científicos ou caracterológicos dessas pestes que devastam ao meio dia, no dizer do Salmo 91. O céu celebra triunfo sobre o pecado? Pode-se levar o diagnóstico da aids e das febres (gripes) do frango, do macaco, das ovelhas, dos porcos, da vaca-louca, para o plano religioso? O que está acontecendo com o novo século? Apesar do avanço excepcional da medicina em todas as especialidades no mundo inteiro, novas viroses inexplicáveis surgem para desafiar a ciência como se ela sempre devesse permanecer desafiada? Às vezes, penso que há algo apocalíptico nesse pretenso determinismo que desafia a capacidade terrestre. “Eu sou o Alfa e o Omega”, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que vem, o Todo-Poderoso, fala o Apocalipse. Estaria a tecnologia do mundo moderno destruindo o homem através dos novos tipos de gêneros alimentícios inventados para aumentar a cadeia de produção industrial de carnes? Isso porque a “epidemia do frango” nasceu em países superpovoados e não em outros de menor densidade territorial! E a inteligência artificial é benéfica ou maléfica? Em breve, serão os peixes dos oceanos. As frutas, os cereais, as flores, as roupas, os brinquedos, porque o terrorismo já exporta mulheres e homens bombas que explodem shoppings e sinagogas. Volto a perguntar: por que as pestes provêm dos bichos? Daqui à pouco, irão aparecer a febre do veado-louco, a peste da burra-cega, a fúria da pomba-gira, e, por aí vai, zoologicamente, na agonia aflita e singular do homem que animalizou os traços e os gestos. Diante de tudo, imagino, que cabe um estudo sociológico, religioso, científico e econômico, sobre a matéria que envolve toda a humanidade. A sua trajetória, pelo menos. Febres, gripes, epidemias, pestes, desde a Antiguidade existem, dizimando civilizações e todos com uma história, uma raiz, uma geratriz em cada época, em cada tempo. Só que, agora, essas doenças têm outras patogenias ou patologias. O homem envenenou o mundo em todas as linhas de produção animal, vegetal e, principalmente, na cadeia alimentar. Os cientistas, os pesquisadores e os historiadores com a palavra. Do contrário, vou consultar em vão a Anvisa, o oráculo de todos os mistérios invisíveis do país. Outras pestilências arrasadoras estão chegando de Brasília. Ainda sem vacina. Elas se alçam a Covid, a Influenza, a Dengue, a Zica e a Chikungunya. É a PEC dos benefícios do alimento, do caminhoneiro, do taxista e por aí vai. A Câmara Federal é a tenda dos milagres dessa pirataria eleitoral. Depois de parir o famoso “orçamento secreto”, a ser pago em módicas prestações. Ali tudo é de Babá, tudo pode, devagar, devagarinho... E no comando, Arthur da Távola tocando a sua lira no trono da presidência. Quarenta e hum bilhões de reais descendo pelo ralo. Quantos na história do Congresso Nacional não “comeram bola” para votar ou relatar processos escusos para favorecer governos ou grupos? E, por extensão, no próprio judiciário, na administração pública em geral, além de outros segmentos punitivos institucionais? Aí, estão os exemplos marcantes e lamentáveis dos escândalos verificados no Banestado, no INSS, nos Ministérios da Saúde, da Educação, no TRT de São Paulo, Valdomiro Diniz, Sérgio Naya e um elenco imenso de predadores dos cofres públicos que a Lavajato revelou! Tudo passou dentro de um criminoso prazo de validade. “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará”. Oremos. (*) Escritor.