Oitenta
anos de Monsenhor Lucas
Padre
João Medeiros Filho
No
dia 23 de junho, celebra-se o natalício de Padre João Maria
Cavalcanti de Brito e Monsenhor Lucas Batista Neto. Inegavelmente,
este passará também para a história, como um dos grandes apóstolos
do RN. Seguiu o exemplo de seu conterrâneo Padre João Maria,
igualmente seridoense, nascido no município de Caicó (RN). Lucas
também exerceu o ministério sacerdotal na Matriz da Apresentação,
onde o “Santo de Natal” revelara a ternura divina.
Há
coincidências na vida de nosso estimado monsenhor. Foi ordenado cem
anos após a unção presbiteral dos padres Sebastião Constantino de
Medeiros (caicoense) e Cícero Romão Batista (Padre Cícero do
Juazeiro), ambos colegas de seminário de Padre João Maria, cuja
ordenação fora adiada, pois ele não tinha ainda a idade canônica
para o presbiterato. Tudo isto é motivo de agradecimento. Agradecer
faz parte da nobreza da alma. A poetisa Violeta Parra proclamou sua
gratidão ao Deus da Vida: “Graças à vida que me tem dado tanto.”
A inefável bondade do Pai Celestial culminou de bênçãos e graças
o pastor querido de muitos. Lucas é a expressão terrena do afeto e
carinho de Deus por nós. Sacerdote de muitas virtudes e dinamismo, é
também um místico. No âmago de seu ser dialoga com o Infinito de
Deus. Apaixonado pela Sagrada Escritura, pediu a Dom Nivaldo Monte
para ser ordenado no Domingo da Bíblia. Sempre tocado pela beleza do
Saltério, balbucia no silêncio de seu coração preces de louvor e
agradecimento. Como Exupéry, sabe que “no
silêncio alguma coisa irradia.”
Exemplo
de humildade, paciência e perseverança alimenta-se de sua fé: “O
Senhor é meu pastor, nada me faltará” (Sl 23/22, 1). Desafios e
lutas acompanham a sua trajetória humana. Sensível e solidário,
ainda jovem procurou ajudar os pais a educar uma família de onze
irmãos. Para tanto, chegou a ser frentista de posto de gasolina e
sorveteiro. “Combati o bom combate, guardei a minha fé” (2Tm 4,
7). Em todos os momentos de sua vida, Lucas conserva a alegria em sua
face e a bondade no coração.
Muito
lhe deve o Povo de Deus, especialmente o Arcebispado de Natal, onde
desempenhou importantes funções como: pároco, vigário episcopal,
professor, coordenador estadual do ensino religioso, membro dos
conselhos presbiteral, episcopal e de consultores da arquidiocese,
diretor de faculdade, criador de várias pastorais católicas.
Trabalhou arduamente para preparar a vinda de São João Paulo II a
Natal, quando do Congresso Eucarístico Nacional. Dentre muitas
virtudes que possui, distingue-se pela simplicidade e lhaneza,
disposição para servir, obediência e espírito de fraternidade.
Agradecemos-lhe
por buscar romper em nós, seus amigos e irmãos na fé, o
pretensioso parêntese da suficiência e nos convencer que só Deus
nos basta. Somos gratos pelas belas lições inspiradas no Evangelho.
Sempre foi profeta. Pregou firme, ao ver fraqueza. Ensinou ternura,
ao sentir aspereza. Mostrou diálogo, quando pressentiu
intransigência. Enfim, irradiou amor, quando presenciou frieza e
indiferença em tantos. Foi peregrino e viandante no seu profícuo
apostolado em Pendências, Macau, Natal (paróquias de Nossa Senhora
da Apresentação, Santa Teresinha, Santo Afonso e na Casa da
Criança). Demonstrou às pessoas de Igreja que ela não tem
fronteiras. “Não se pode prender a Palavra de Deus” (2Tm 2, 9).
Estamos unidos, pronunciando a palavra de gratidão de todos aqueles
que gozam do privilégio de sua amizade. Digo apenas que o amamos
muito. O amor não tem palavras suficientes para se expressar e o
reconhecimento é maior que o discurso.
Que
Deus o conserve são, lúcido, alegre, generoso e forte. Continue
dizendo que é importante o balbuciar da prece. Esta carrega a marca
de Deus, inscrição da nossa proveniência, fornalha que arde
secretamente em nosso coração. O Espírito Santo
o ilumine sempre, fortaleça a sua alma, console-o nas tribulações
e aumente a sua fé na graça divina, que transforma o homem e o
mundo. Sinta sempre a força do Alto e possa dizer como a Mística de
Ávila: “Ó Pai, por tanto tempo o teu poder me abençoou.
Conduziste-me pelas estradas do amor e da misericórdia.” Como
Nossa Senhora exalte: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o
seu nome” (Lc 1, 49).