Listas foram
feitas para serem contestadas, isso desde que Moisés cunhou as Tábuas da
Lei.
Nenhuma lista,
seja dos melhores ou dos piores, é completa, mas elas servem de parâmetro
para se avaliar melhor o tema pelo qual se gerou tal amostragem.
O movimento
Jovem Guarda foi o que melhor traduziu o pop internacional
da época e que inseriu a instrumentação básica do rock na música jovem
brasileira, expandindo o universo da juventude com canções românticas, mas
também repletas de gírias e de toques juvenis. Muitas dessas canções ainda
hoje soam modernas e atualíssimas.
As listas
representam um guia daquilo que se propõe analisar e conhecer melhor. Por
isso, não foi tarefa fácil elaborar esta dos melhores álbuns da Jovem
Guarda, pois muitos outros grandes discos acabaram ficando de fora, mas
acredito que estes 50 álbuns, uns mais outros menos, representam bem o que
foi o movimento Jovem Guarda, cuja expressão ultrapassou os limites de um
programa de TV, generalizando o termo "Jovem Guarda" já naquele momento
em que ocorriam os fatos.
Foi baseado no
movimento como um todo, e não apenas no programa Jovem Guarda, que elaborei
esta lista como uma forma de homenagear estes 50 anos de música e curtição.
Alguns álbuns
fundamentais que não entraram na lista, como o primeiro da Martinha, o
primeiro da Elizabeth, o álbum do grupo The Sunshines e também o LP do
grande Rossini Pinto, gravado com os Blue Caps em 1964, estes discos
pretendo resenhá-los e apresentá-los como "álbuns-bônus" à lista,
em breve.
A Jovem Guarda
foi também responsável pela inserção do humor na música pop brasileira e
avançou os sinais da sexualidade e da liberdade juvenil.
Viva os 50 anos da Jovem Guarda!
Montagem por Rubens Stone
Álbum Nº 50
LP
"Verdadeiro Amor"
Ed Wilson
(CBS – 1966)
O garoto Edson
Vieira de Barros começou sua carreira no final dos anos 50, juntamente com
os irmãos Renato e Paulo Cesar Barros, no conjunto Renato e Seus Blue Caps.
A banda em seu início, gravou dois 78 rotação no minúsculo selo Ciclone,
acompanhando respectivamente o grupo vocal Os Adolescentes e o cantor Tony
Billy, como eles, artistas lutando por um lugar ao sol.
Na TV, o grupo
fez algumas apresentações no “Hoje é dia de rock”, programa de Jair de
Taumaturgo, na Rádio Mayrink Veiga, até que chegaram à TV Continental, onde
se apresentaram no programa do Carlos Imperial, que achou o conjunto
interessante e os convidou para voltar mais vezes. Além disso, conseguiu
que participassem de“Twist”, LP que Cleide Alves e Reinaldo Rayol dividiam,
sob a produção de Imperial. O ano era 1962. Foi neste mesmo ano, depois de
um tempo convivendo com o grupo, que Imperial sugeriu que Edson se lançasse
em carreia solo, enquanto os Blue Caps continuariam suas atividades.
O garoto, que
na época tinha apenas 16 anos, aceitou a proposta. Mas, segundo Imperial,
para seguir carreira solo, o jovem Edson precisava ganhar um nome
artístico. E o nome escolhido pelo gordo apresentado e agitador cultural,
foi Ed Wilson. Na época, Imperial estava ouvindo bastante o cantor
americano Jack Wilson, e ele acabou sendo a fonte inspiradora para o nome
artístico do novo pupilo de Imperial.
Em seguida,
Imperial conseguiu um contrato para Ed Wilson na Odeon, por onde lançou seu
primeiro compacto, em 1963. Em 1964, mudou-se para a RCA e lançou “O Carro
do Papai”, um rock-twist composto pelo irmão Renato Barros. A música fez
relativo sucesso nas rádios, e em seguida, Ed Wilson emplacou outro
sucesso, a balada “Como Te Adoro Menina”, versão de Renato Barros para o
sucesso “Quiereme Mucho”, da cantora argentina Violeta Rivas.
Em 1966, foi
contratado pela CBS, onde gravou em março daquele ano, seu primeiro LP,
“Verdadeiro Amor”, disco que teve o acompanhamento da banda dos irmãos e do
tecladista Lafayette. O disco emplacou os sucessos “Sandra” (versão de Leno
para “Sorrow”, do grupo inglês The Merseys), “Pode Ir Para O seu Novo Amor”
(composição de Leno) e a belíssima faixa-título, uma versão do “negro gato”
Getulio Cortes para “It’s Only Make Believe”, sucesso de 1958 do cantor
Conway Twitty.
Este foi o único
LP de Ed Wilson na CBS, nos anos seguintes, o artista seguiria lançando
compactos de sucesso, além da efetiva participação na série As 14 Mais.
Mesmo sem ter uma grande discografia no período, Ed Wilson foi um dos
principais nomes da Jovem Guarda. Sua importância para a música jovem da
época foi devidamente registrada por Erasmo Carlos na música “Festa de
Arromba”, nos versos em que o Tremendão dispara: “Lá fora um
corre-corre/Dos brotos do lugar/Era o Ed Wilson que acabava de chegar/Hey,
hey, que onda/Que festa de arromba”. (rstone)
Álbum Nº 49
LP
"Leno"
Leno
(CBS – 1968)
Os dois
primeiros álbuns solos do cantor Leno merecem constar de qualquer galeria
dos grandes discos do movimento jovem guarda, porém, como tínhamos que
escolher apenas um deles para essa pesquisa, dei preferência ao primeiro,
por um simples motivo: “Leno” foi lançado em estéreo genuíno, enquanto o
segundo, “A Festa dos Seus 15 Anos” é totalmente em mono, o que, na minha
opinião, prejudicou em muito a sonoridade do álbum.
Canções como
“Quando você me deixou”, “Na saída da escola”, “Chorando no parque” e a própria
“A festa dos seus 15 anos” jamais deveriam ter sido lançadas somente em
mono.
Após o
encerramento da dupla Leno e Lilian – uma das mais importantes da Jovem
Guarda – , o cantor e compositor Leno seguiu em carreira solo, e no início
de 1968, lançou o compacto-simples CBS-33543 que trazia no lado A, a balada
“A Pobreza”, composição de Renato Barros, dos Blue Caps, e no lado B, o
rock “Me Deixa em Paz”.
“A Pobreza”
tornou-se um grande hit nas rádios, e em outubro daquele ano, chegou às
lojas “Leno”, seu primeiro LP solo, um disco repleto de baladas e rocks
flamejantes. Ainda embalado pela sonoridade da jovem guarda, Leno concebeu
um dos mais belos álbuns dos anos 60, cujo repertório, apontava inclusive,
para os novos caminhos que sua música iria seguir dali para a frente, ao
gravar temas diversos como a versão de “Fever”, sucesso de Elvis no início
dos anos 60, assim como a gravação de “Um minuto a mais”, versão assinada
pelo amigo Raul Seixas, com o qual iria desenvolver uma excelente e obscura
parceria nos anos seguintes.
“Leno” Abre com
“Papel picado”, composição de Renato Barros e um dos sucessos do disco,
segue com “Eu tenho febre” (“fever”) e “sozinho sou feliz”, versão de Leno
para “Wait for me baby”, de G. Stevens. O grande hit “A pobreza” é a quarta
faixa, e logo em seguida vem a balada “Um minuto a mais”, uma das primeiras
versões assinadas por Raul Seixas, que buscou esta incrível canção, “I
Will”, no repertório do roqueiro inglês Billy Fury.
Outras canções
de destaque neste primeiro álbum de Leno: “Garotinha”, de Getulio Cortes;
“Tudo que pedi a Deus”, do próprio, e a estupenda regravação de “Eu não
existo sem você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
“Leno” traz no
acompanhamento os grupos Renato e Seus Blue Caps e Golden Boys, além do
tecladista Lafayette e o cantor Pedro Paulo, e conta também com a
participação de alguns membros do grupo Os Panteras (de Raulzito Seixas).
(rstone)
Álbum Nº 48
LP
"Antonio Marcos"
Antonio Marcos
(RCA-Victor – 1969)
Antonio Marcos
Pensamento da Silva nasceu em São Paulo, em 8/11/1945. Antes de se tornar
artista, trabalhou como office-boy, vendedor de lojas de calçados e passou
por diversos programas de calouros. No início dos anos 60, atuou como
rádio-ator, destacando-se também como cantor, violinista e humorista. Em
1966, fundou, ao lado do irmão, Mário Marcos, o conjunto Os Iguais, banda
cuja sonoridade típica da jovem guarda, lançou alguns compactos e o LP
“Juventude”, em fevereiro de 1967, pela RCA.
Em meados de
1967, Antonio Marcos deixou Os Iguais para se tornar artista solo da RCA.
Seu primeiro compacto, lançado em julho de 67, trazia as canções “Perdi
você” e “A história de alguém que amou uma flor”, ambas de sua autoria em
parceria com o irmão, Mário Marcos. Mas foi somente em março de 1968,
quando lançou o compacto “Tenho um amor melhor que o seu”, uma composição
de Roberto Carlos (o lado B trazia a balada “Pra que fingir”), que Antonio
Marcos tornou-se conhecido em todo o Brasil, devido ao enorme sucesso da
canção, que tocou em todas as rádios do país.
Em 1969, já um
dos maiores ídolos da música brasileira, lançou seu primeiro álbum,
“Antonio Marcos”. O disco vendeu cerca de 300 mil cópias somente naquele
ano, consagrando definitivamente o artista, que passou também a atuar no
cinema, nos filmes “Pais Quadrados, Filhos Avançados (1969) e “Som, Amor e
Curtição” (1970).
Neste primeiro
LP, Antonio Marcos mostra sua forte influência do rock, da Jovem Guarda e
da música romântica, com canções que se tornaram clássicos do pop pós-jovem
guardista, como “Você pediu e eu já vou daqui”, “Sou eu”, “Quando lembro
você”, “Não fico mais sem o teu carinho” e “Por Que?”, todas estas canções
foram sucesso radiofônico, consagrando definitivamente o artista, que a
partir de então, desenvolveria uma das mais brilhantes carreiras da música
brasileira.
Falecido em 5
de abril de 1992, aos 47 anos, Antonio Marcos é hoje um mito da música
romântica do Brasil, seus discos são cultuados e sua obra tem sido aos
poucos resgatada por fãs, artistas e pesquisadores. (rstone)
Álbum Nº 47
LP
"Edição Extra Vol. 1"
The Jordans
(Copacabana – 1967)
Na virada para
os anos 60, surgiu nos Estados Unidos e na Inglaterra uma nova vertente do
rock, a dos grupos instrumentais, dos quais, os maiores representantes
foram The Ventures (EUA) e The Shadows (Inglaterra), estilo que depois
ficou conhecido como surf rock, a partir do surgimento de novos expoentes,
como Dick Dale & His Del-Tones, The Tornados e Duane Eddy.
No Brasil, um
dos conjuntos mais expressivos da cena instrumental foi o The Jordans, que
apareceu na TV pela primeira vez em 1958, no programa de Tony e Celly
Campello (“Crush em Hi-Fi”, da TV Record). Estrearam em LP em 1962, com “A
Vida Sorri Assim!...”, disco considerado um dos principais marcos do rock
instrumental brasileiro, este álbum ajudou a introduzir o gênero das
“guitarras que cantam” no país.
O segundo
álbum, “Suspense”, de 1963, trazia versões convincentes de clássicos como
“Peter Gunn”, “Apache” e “Walk Don’t Run”, além da regravação extasiante do
sucesso “Blue Star”, do grupo inglês The Shadows. Com esta canção, os
Jordans, liderados pelos guitarristas Aladdin e Sinval, conseguiram
permanecer por diversas semanas nas paradas de todo o Brasil.
Depois, viria a
Jovem Guarda e o grupo se tornou um dos mais requisitados no programa de
Roberto Carlos. Inseridos no novo movimento, continuaram gravando
excelentes discos instrumentais, como o álbum “Studio 17” (Copacabana,
1966), no qual lançaram uma versão do “Tema de Lara” com enorme sucesso, e
este “Edição Extra Nº 1”, de 1967 (primeiro de uma série de cinco álbuns),
cujo repertório era pura jovem guarda, com versões instrumentais de canções
como “Last Train to Clarksville”, dos Monkees; “Namoradinha de Um Amigo
Meu” (Roberto Carlos); “Born Free” (Matt Monro); “Vem Quente Que Estou
fervendo” (Sucesso do momento com Erasmo Carlos); e mais um tema inspirado
na música russa: “Midnight in Moscow”. (rstone)
Álbum Nº 46
LP
"A Onda É Boogaloo"
Eduardo Araújo
(Odeon – 1968)
Em 1968, a
Jovem Guarda já era, e Eduardo Araújo, um dos ídolos do movimento,
percebendo que a música jovem soprava para novos rumos, se despiu das
vestes de cantor de iê-iê-iê para trilhar o caminho da black music, para
isso, juntou-se a um cara que entendia do assunto: Tim Maia.
E como a coisa
ainda estava muito imberbe, nem se usava ainda o termo soul music, Eduardo
achou de intitular seu novo disco de “A Onda É Boogaloo”, talvez
referindo-se a uma espécie de dança africana, algo do tipo, mas a verdade é
que o disco veio repleto de versões de músicas da Motown e da Staxx, selos
norte-americanos que estavam exportando para o mundo inteiro o melhor da
música negra americana, e tome-lhe versões de James Brown “Cold Sweat”),
Wilson Pickett (“Got To Have a Hundred”), Ray Charles (“Come Back Baby”) e
Aretha Franklin (“Since You’ve Been Gone”), todas vertidas pelo síndico Tim
Maia. É desse disco a primeira gravação da balada entorta coração “Você”,
que se transformaria em sucesso estrondoso alguns anos depois, quando o
próprio Tim Maia a lançou no seu segundo LP.
"A Onda É
Boogaloo" foi mal recebido, tanto pelos fãs de Eduardo Araújo quanto
pela crítica, na época do seu lançamento. A exemplo do álbum psicodélico de
Ronnie Von, lançado no mesmo ano, este disco também estava à frente do seu
tempo, hoje é um clássico do soul brasileiro, um dos primeiros a apontar um
novo horizonte para o cenário da música pop brasileira, prenunciando o
trabalho de artistas como o próprio Tim Maia, Cassiano e Hyldon, entre
outros. (rstone)
Álbum Nº 45
LP
"George
Freedman"
George
Freedman
(RCA-Victor – 1967)
Nascido na
Alemanha, George Freedman veio para o Brasil ainda muito criança. Fã de
Elvis e do rock’n’roll dos anos 50, Freedman iniciou sua carreira por volta
de 1959, quando lançou pela gravadora California seu primeiro disco,
interpretando, de sua autoria, o rock balada "Leninha", e de
Steve Rowlands, em versão de Fred Jorge, o rock-calipso "Hey, little
baby". Nessa época, Freedman se apresentava com frequência na TV Tupi
de São Paulo.
Em 1960, obteve
seu primeiro sucesso com "Olhos cor do céu", versão de
"Pretty blue eyes", belíssima balada que fizera sucesso com o
cantor Steve Lawrence. Em 1961, gravou pela Continental, os rocks
"Advinhão" e "Inveja", ambos da autoria de Baby
Santiago. Em 1962, lançou um excelente compacto duplo com "O
jato", "Canção do casamento", "Good luck charm" e
"Um beijinho só". Nesse mesmo ano chegaria às lojas seu primeiro
LP, "Multiplication", cuja faixa-título, um original do cantor
Bobby Darin, fez grande sucesso nas rádios do Rio e São Paulo.
Depois de um
tempo afastado da música, George Freedman retornou em 1966 com tudo, quando
gravou a música "Coisinha estúpida", versão do cantor Leno para o
hit “Something Stupid”, que na época fazia sucesso mundial com Frank
Sinatra e sua filha Nancy. O sucesso de “Coisinha estúpida” inseriu George
Freedman no movimento Jovem Guarda, e em 1967, o artista gravou um
belíssimo álbum, intitulado “George Freedman”, que incluía, além de
“Coisinha Estúpida”, outras canções ao estilo jovem da época, como “Uma
Dúzia de Rosas”, de Carlos Imperial, também gravada por Ronnie Von no seu
terceiro LP; “Meu Tipo de Garota”, “Vá Embora” e “O Autógrafo”.
Um dos grandes
destaques deste disco é a regravação que Freedman fez do clássico “Beijinho
doce”, a faixa de abertura do álbum. Com sua voz poderosa, Freedman
resgatou com sentimento e graça este “standard” do cancioneiro brasileiro,
esta é uma das melhores regravações dentre as dezenas que já foram feitas
de “Beijinho doce”. (rstone)
Álbum Nº 44
LP
"Rosemary"
Rosemary
(RCA – 1967)
Musa da jovem
guarda, fada loira do iê-iê-iê. Muitos são os títulos que deram à cantora
Rosemary, apesar de há muitos anos ela se recusar a falar do movimento que
a propagou para todo o Brasil. Desde o final dos anos 70, nas poucas
entrevistas que deu, evitou falar sobre sua participação na jovem guarda.
Em uma destas, nos anos 80, a cantora afirmou que, se falasse toda a
verdade sobre a Jovem Guarda, iria magoar muita gente. Que segredos guarda
a “fada loira do iê-iê-iê”?
Rosemary
Pereira Gonçalves nasceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de dezembro de 1947.
Começou a cantar aos 14 anos, e em 1963 gravou seu primeiro compacto pela
RCA-Victor. Neste mesmo ano lançou o primeiro LP, “Igual A Ti Não Há
Ninguém”. Em 1967, lançou o álbum “Rosemary”, no qual, emplacou vários
sucessos, com destaque para os iê-iê-iês “Feitiço de Broto” e “Não Te Quero
Mais”. Muitos consideram este o melhor álbum de toda sua carreira.
Após o fim da
Jovem Guarda, Rosemary enveredou por outros estilos musicais, gravando
sambas e canções românticas. Seu próximo LP só seria lançado em 1974,
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