Ainda sobre o Juvenal Lamartine
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado
Há dias passados publiquei artigo alertando para a pretensão do Governo do Estado em leiloar o velho Estádio do Tirol, palco de tantas alegrias e de momentos imorredouros na história esportiva potiguar.
Minha ofensiva, naquela ocasião, procurava mostrar o absurdo jurídico de leiloar o Juvenal Lamartine para utilizar o dinheiro, cerca de 30 milhões, na construção de um hospital.
O assunto foi comentado em várias rodas sociais e em órgãos oficiais, tanto que o Procurador Geral do Estado,em recente entrevista, deu conta de que estava preparando um projeto-de-lei para desafetar o referido bem e, em seguida, abrir processo licitatório na modalidade concorrência.
Vale ressaltar, no entanto, que outros valores se apresentam para elidir essa intenção do Governo, seja pelo fato de que 30 milhões não daria para construir um hospital de vergonha e, por outro lado, a já pobre cidade de Natal, perderia um equipamento urbano de inegável valor histórico e potencial atração turística, atividade que vem reclamando contra a falta de museus, bibliotecas, casas noturnas que promovam o folclore etc.
Na sua última sessão ordinária, a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional deste Estado, em atenção ao meu artigo, resolveu enviar o assunto à comissão de esporte para acompanhar o assunto, tendo como rumo a sua preservação.
Tenho conhecimento de que audiências públicas vêm sendo realizadas pela Assembleia Legislativa, pelo Ministério Público e já encontra eco em parte da imprensa – a que ainda é comprometida com a tradição, onde os resultados são indicativos da preservação do acervo patrimonial em comento.
Minha sugestão é que o assunto ganhe corpo na sociedade e que se abra concurso público para apresentação de projetos de utilidade daquele velho estádio para servir de equipamento urbano sustentável, o que poderá acontecer para ali se fazer uma pista de atletismo, com robusta arborização no entorno e preservação da estrutura das arquibancadas, com sua total e possível recuperação. Na parte térrea, onde eram os antigos vestiários, a colocação de praça de alimentação, pequenas lojas, livraria, uma capela ecumênica, uma concha acústica, sanitários, um parque de estacionamento e, dentro do possível, restaurando-se a fachada original, que se tem conhecimento por fotografias.
Amigos, já que perdemos o Machadão pela total insensatez dos nossos governantes e ganância de algumas pessoas, vamos tentar salvar o Juvenal Lamartine.
A história potiguar certamente agradecerá por tal gesto!
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COMENTÁRIOS RECEBIDOS:
1. Prezado Carlos Gomes,
Além de você escrever bem, defende, sem “patriotada”, a história da cidade.
Grande abraço, e bom domingo.
Walter Gomes, jornalista
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2. PATRÍCIOS e PLEBEUS
Ciro Tavares, escritor/poeta
As cores da saudade estão fixadas num instante crepuscular sobre o rio Potengi, o eclipse das estrias vermelhas que se espreguiçam horizontais engolindo a terra que mergulha no começo da noite. Se pareço triste é porque escrevo no ocaso da terça-feira gorda, depois de releituras dos textos, escritos por Ticiano Duarte e Woden Madruga, duas emocionantes ressurreições dos carnavais de outrora. Aqui afasto a melancolia e ainda doído prefiro lembrar as estivais tardes de domingos no esquecido estádio Juvenal Lamartine.
Nós, os abecedistas mais favorecidos e marcados pelas nossas raízes canguleiras, ficávamos na ala oeste da arquibancada de madeira. Modestíssima Tribuna de Honra e a parafernália radiofônica de Aluisio Menezes e João Neto nos separavam dos americanos, com seus pavilhões e indumentárias cor de sangue, à direita. Quando o vento vencia a duna coberta de verdes sentíamos o cheiro dos xarias misturado aos gritos.
Na parte contrária à nossa, as gerais concentravam o coração alvinegro, a legião dos humildes, vinda do Canto do Mangue, Areal, Rocas e outros bairros, a pé, pendurados nos estribos dos bondes, morcegando caminhonetes, carroças ou na carona de amigos como Antonio Farache, capaz de duplicar a lotação do seu fordeco 1929 para vê-los vibrando com Albano, Tidão, Tico, Nei Andrade, Badidiu, Gonzaga comandados pelo “professor” Jorge Tavares, o “Jorginho”, sem dúvida o maior jogador da história do clube.
Acostados à mureta que demarcava o limite do gramado, esperavam pacientemente “esfriando o sol”, mal protegidos por chapéus de palhas, bonés encardidos, folhas de jornais, guarda-chuvas derrotados pelo tempo. Multidão sem nome, sofrida, apaixonada e que, por ironia do destino, acabou sendo exaltada, ao receber glorioso epíteto pela voz espalhafatosa e arrogante do fanatismo americano.
A cena é inesquecível. Para alcançar seu lugar na ala leste da arquibancada, “Chico” Lamas fazia o trajeto da provocação e Geraldo, o bilheteiro, não conseguia impedi-lo. Era grande, forte, caminhar bamboleante resultante das cervejas ingeridas. Nas imediações da Tribuna de Honra, olhando o outro lado, acenava e gritava: “Fala frasqueira da geral”. As respostas imediatas eram dedos médios estirados e palavrões quase inaudíveis.E o certo é que a frase repetida muitas vezes acabou, orgulhosamente, guardada nos nossos espíritos.
Recentemente o ABC deu grandioso passo na direção do futuro e ninguém merece mais esse estádio de Ponta Negra do que os indomáveis e resistentes integrantes da amada frasqueira. No moderno complexo esportivo inaugurado estão gravados sonhos atravessando nossa história, desde Vicente Farache, Enéas Reis, Salviano Gurgel, Gentil e João Ferreira de Souza, Felizardo Moura, Pedro Batalha, José Prudêncio, Aluízio Bezerra, José Gobat, José Petronilo, José Ferreira de Souza Sobrinho, Francisco Souza Silva e todos aqueles que não puderam assistir a manhã dessa realidade.
As campanhas dos adversários, enxovalhando homens e nomes, de nada adiantaram. Anos a fio, com o apoio sórdido e histérico da mídia vassala, tentaram humilhar nossa gente, vilipendiar diretores, definitivamente lançar o clube num abismo sem volta. E para surpresa e decepção dos inimigos, quebrados e cobertos de vergonha, estamos bem vivos.Continuamos a exalar pelos poros o indescritível cheiro dos chama-marés, recolhidos pelos nossos antepassados meninos nas margens do rio que nos viu o nascimento e hoje é a primeira lembrança da terra distante e a grande saudade que não me abandona.
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3. Meu querido mestre e amigo Carlos Gomes,
Mais uma vez quero louvar o seu espírto público e a vontade de lutar pela seriedade que se deve atribuir ao trato com o patrimônio público. A sociedade deve se unir cada vez mais para coibir os desacertos e muitas vezes ações de governos que visam mais beneficiar grupos privados do que aquilo que se entende como decisão que traga maior vantagem para o povo, o que representa um maior compromisso com o bem comum.
Abraços Manoel Marques, escritor.
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4. Mensagem de Franklin Jorge, jornalista
Publicamos. Só não consegui, até agora, postar a bela (e rara) foto que ilustra seu texto... A propósito, nunca tinha visto uma foto da fachada do Juvenal Lamartine...
Obrigado
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5. Do blog "outras e outras" de Lúcia Helena, escritora
TRANSCREVO, COM IMENSA EMOÇÃO, A PÁGINA DO DR. CARLOS GOMES, SOBRE O ESTÁDIO JUVENAL LAMARTINE, DA HERMES DA FONSECA, DIANTE DA ANTIGA CASA DE N° 704.
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6. Prezado Dr. Carlos Gomes.
Estou de pleno e total acordo com seu pensamento, como estava contra a demolição do Castelão. Porém pelo andar da carruagem, veremos mais uma vez o mal vencer o bem. Assim estamos vendo todos os dias, os Corruptos vencerem sem punição e a justiça nada fazendo para impedir. J. hélio, comerciante aposentado.
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PUBLICAÇÕES NA IMPRENSA:
MP é contra a venda do JL
Promotora Rossana Sudário afirmou: "Defendemos que o estádio seja mantido do jeito que está".
(Audiência Pública no dia 14.11.2011)
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ARTIGO NA TRIBUNA DO NORTE de 15.11.2011
"Éra só o que faltava!"
Professora Eleika Bezerra
A propósito na negociação do Juvenal Lamartine, disse:
"Que se construa um outro estádio - tudo bem! Que não se 'queime uma área tão preciosa quanto aquele do estádio do Tirol!" ... "Espera-se que os que têm poder de decisão sobre o assunto - tenham juízo! Não sejam imediatistas. Que os governantes se comportem como estadistas: pensem nas próximas gerações! Por fim, cabe a expressão - era só o que faltava!"
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COMENTÁRIOS RECEBIDOS:
1. Prezado Carlos Gomes,
Além de você escrever bem, defende, sem “patriotada”, a história da cidade.
Grande abraço, e bom domingo.
Walter Gomes, jornalista
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2. PATRÍCIOS e PLEBEUS
Ciro Tavares, escritor/poeta
As cores da saudade estão fixadas num instante crepuscular sobre o rio Potengi, o eclipse das estrias vermelhas que se espreguiçam horizontais engolindo a terra que mergulha no começo da noite. Se pareço triste é porque escrevo no ocaso da terça-feira gorda, depois de releituras dos textos, escritos por Ticiano Duarte e Woden Madruga, duas emocionantes ressurreições dos carnavais de outrora. Aqui afasto a melancolia e ainda doído prefiro lembrar as estivais tardes de domingos no esquecido estádio Juvenal Lamartine.
Nós, os abecedistas mais favorecidos e marcados pelas nossas raízes canguleiras, ficávamos na ala oeste da arquibancada de madeira. Modestíssima Tribuna de Honra e a parafernália radiofônica de Aluisio Menezes e João Neto nos separavam dos americanos, com seus pavilhões e indumentárias cor de sangue, à direita. Quando o vento vencia a duna coberta de verdes sentíamos o cheiro dos xarias misturado aos gritos.
Na parte contrária à nossa, as gerais concentravam o coração alvinegro, a legião dos humildes, vinda do Canto do Mangue, Areal, Rocas e outros bairros, a pé, pendurados nos estribos dos bondes, morcegando caminhonetes, carroças ou na carona de amigos como Antonio Farache, capaz de duplicar a lotação do seu fordeco 1929 para vê-los vibrando com Albano, Tidão, Tico, Nei Andrade, Badidiu, Gonzaga comandados pelo “professor” Jorge Tavares, o “Jorginho”, sem dúvida o maior jogador da história do clube.
Acostados à mureta que demarcava o limite do gramado, esperavam pacientemente “esfriando o sol”, mal protegidos por chapéus de palhas, bonés encardidos, folhas de jornais, guarda-chuvas derrotados pelo tempo. Multidão sem nome, sofrida, apaixonada e que, por ironia do destino, acabou sendo exaltada, ao receber glorioso epíteto pela voz espalhafatosa e arrogante do fanatismo americano.
A cena é inesquecível. Para alcançar seu lugar na ala leste da arquibancada, “Chico” Lamas fazia o trajeto da provocação e Geraldo, o bilheteiro, não conseguia impedi-lo. Era grande, forte, caminhar bamboleante resultante das cervejas ingeridas. Nas imediações da Tribuna de Honra, olhando o outro lado, acenava e gritava: “Fala frasqueira da geral”. As respostas imediatas eram dedos médios estirados e palavrões quase inaudíveis.E o certo é que a frase repetida muitas vezes acabou, orgulhosamente, guardada nos nossos espíritos.
Recentemente o ABC deu grandioso passo na direção do futuro e ninguém merece mais esse estádio de Ponta Negra do que os indomáveis e resistentes integrantes da amada frasqueira. No moderno complexo esportivo inaugurado estão gravados sonhos atravessando nossa história, desde Vicente Farache, Enéas Reis, Salviano Gurgel, Gentil e João Ferreira de Souza, Felizardo Moura, Pedro Batalha, José Prudêncio, Aluízio Bezerra, José Gobat, José Petronilo, José Ferreira de Souza Sobrinho, Francisco Souza Silva e todos aqueles que não puderam assistir a manhã dessa realidade.
As campanhas dos adversários, enxovalhando homens e nomes, de nada adiantaram. Anos a fio, com o apoio sórdido e histérico da mídia vassala, tentaram humilhar nossa gente, vilipendiar diretores, definitivamente lançar o clube num abismo sem volta. E para surpresa e decepção dos inimigos, quebrados e cobertos de vergonha, estamos bem vivos.Continuamos a exalar pelos poros o indescritível cheiro dos chama-marés, recolhidos pelos nossos antepassados meninos nas margens do rio que nos viu o nascimento e hoje é a primeira lembrança da terra distante e a grande saudade que não me abandona.
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3. Meu querido mestre e amigo Carlos Gomes,
Mais uma vez quero louvar o seu espírto público e a vontade de lutar pela seriedade que se deve atribuir ao trato com o patrimônio público. A sociedade deve se unir cada vez mais para coibir os desacertos e muitas vezes ações de governos que visam mais beneficiar grupos privados do que aquilo que se entende como decisão que traga maior vantagem para o povo, o que representa um maior compromisso com o bem comum.
Abraços Manoel Marques, escritor.
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4. Mensagem de Franklin Jorge, jornalista
Publicamos. Só não consegui, até agora, postar a bela (e rara) foto que ilustra seu texto... A propósito, nunca tinha visto uma foto da fachada do Juvenal Lamartine...
Obrigado
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5. Do blog "outras e outras" de Lúcia Helena, escritora
TRANSCREVO, COM IMENSA EMOÇÃO, A PÁGINA DO DR. CARLOS GOMES, SOBRE O ESTÁDIO JUVENAL LAMARTINE, DA HERMES DA FONSECA, DIANTE DA ANTIGA CASA DE N° 704.
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6. Prezado Dr. Carlos Gomes.
Estou de pleno e total acordo com seu pensamento, como estava contra a demolição do Castelão. Porém pelo andar da carruagem, veremos mais uma vez o mal vencer o bem. Assim estamos vendo todos os dias, os Corruptos vencerem sem punição e a justiça nada fazendo para impedir. J. hélio, comerciante aposentado.
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PUBLICAÇÕES NA IMPRENSA:
MP é contra a venda do JL
Promotora Rossana Sudário afirmou: "Defendemos que o estádio seja mantido do jeito que está".
(Audiência Pública no dia 14.11.2011)
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ARTIGO NA TRIBUNA DO NORTE de 15.11.2011
"Éra só o que faltava!"
Professora Eleika Bezerra
A propósito na negociação do Juvenal Lamartine, disse:
"Que se construa um outro estádio - tudo bem! Que não se 'queime uma área tão preciosa quanto aquele do estádio do Tirol!" ... "Espera-se que os que têm poder de decisão sobre o assunto - tenham juízo! Não sejam imediatistas. Que os governantes se comportem como estadistas: pensem nas próximas gerações! Por fim, cabe a expressão - era só o que faltava!"
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