AINDA SOBRE O MUSEU NILO PEREIRA – ENGENHO GUAPORÉ
ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Rio-Grandense de Genealogia e membro do IHGRN e da UBE-RN)
Felizmente nosso “Grito de Alerta” teve ouvidos lá fora. Os dois artigos publicados neste periódico “VERGONHA” e “GRITO DE ALERTA”, alcançaram o confrade Carlos Barata, Presidente do Colégio Brasileiro de Genealogia, com sede no Rio de Janeiro, Instituição a qual pertencemos desde 2008. O professor Carlos Barata ficou chocado com a atual situação do museu e principalmente com as imagens do vídeo que lhe enviei, onde vândalos aparecem apedrejando o Museu Nilo Pereira.
Segue o desdobramento a partir das matérias publicadas.
Carlos Barata escreveu: Prezados amigos museólogos e estudantes de Museologia, segue mensagem que foi enviada, por e-mail, pelo amigo Ormuz Barbalho Simonetti, Presidente do Instituto Norte-Rio-Grandense de Genealogia. Matéria será publicada em O JORNAL DE HOJE edição de sexta-feira dia 24/09/2010.
E-mail enviado a Carlos Costa, Presidente de COREM 4° Região (Conselho Regional de Museologia) por Magda Beatriz Vilela,Presidente COREM 2ª Região-RJ, ES e MG, Museóloga responsável do Museu do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Telefax:(21)2233-2357 Tel cel.: (21) 8182-7810
Prezado Carlos,
Encaminho o email que recebi a fim de que você possa tomar conhecimento do alerta/denúncia lançado pelo Sr. Ormuz Barbalho Simonetti, o qual me fora encaminhado pelo Prof. Carlos Barata. Não sei se terás como agir nesse caso em especial, pois me parece tratar-se de um caso onde há, nitidamente, a influência da política imunda de nosso país que tem força maior do que qualquer lei. Me senti na obrigação de repassar para você.
Desde já agradeço sua atenção.
De: Conselho Regional de Museologia
Data: 27 de setembro de 2010 20:31
Assunto: Re: URGENTE AO IBRAM: Grito de alerta - Ainda sobre o museu Nilo Pereira
http://www.youtube.com/watch?v=lE5lMb7DvNc
O VÍDEO ANEXO É UM ABSURDO (Carlos Barata)
Para: Conselho Regional de Museologia COREM
Cc: Mario Chagas, nascimento@iphan.gov.br, Julio Chaves , Olímpia , Raimundo Cova Figueiredo, Raimundo Cova Figueiredo, Raimundo Figueiredo, Ana Claudia dos Santos, Rafaela Caroline Noronha Almeida, caubarat@globo.com
Carlos,
Agradeço sua pronta resposta e também devido ao encaminhamento a quem possa, talvez, agir da melhor forma para salvaguardar esse patrimônio.
Att.
Magda Beatriz Vilela
Presidente COREM 2ªRegião-RJ, ES e MG
Telefax:(21)2233-2357
Em 26 de setembro de 2010 23:05, Conselho Regional de Museologia COREM escreveu:
Prezada colega Magda Vilela,
De fato, trata-se de uma situação lamentável. Como bem observa, não sei se teremos como agir, frente aos parcos recursos que dispomos e as forças políticas que existem por trás da situação. Por outro lado, não nos parece que seja atribuição legal do sistema COFEM/COREMs, frente ao que versa os Arts. 7º e 8º da Lei nº 7.287/84. Tendo em vista dispormos de um instituto federal que trata de museus, encaminharei a situação ao IBRAM, através deste e-mail, especialmente ao Mário Chagas e ao Nascimento Júnior, para avaliarem a questão e indicarem um encaminhamento.
Cordialmente,
Carlos Costa.
Museólogo - COREM 1R 0211-I
Presidente do COREM 1R
Hoje quarta feira, estive no Solar João Galvão de Medeiros onde funciona o CEDOC, Centro de Documentação Cultural do Estado, órgão da Fundação José Augusto, mas infelizmente não fui autorizado a ter acesso ao acervo do Museu Nilo Pereira, que se encontra sob responsabilidade daquela Fundação. Fui informado que as peças estão bastante deterioradas e por isso, impedidas de serem vistas mesmo por pesquisadores, como no meu caso. Este acervo que até 2006 era guardado no Palácio da Cultura, hoje se encontra “armazenado” em precárias condições no Papódromo, que funciona como depósito de coisas velhas e quebradas descartadas das diversas Secretarias do Estado do RN. Não tive acesso nem mesmo ao inventário das peças que lá se encontram, mas consegui a informação de que pelo menos o piano de calda, principal peça do acervo, com certeza não se encontra dentre as peças amontoadas naquele depósito. Sumiu, ninguém sabe, ninguém viu.
Faço aqui um apelo à Assembléia Legislativa para que abrace essa luta em favor do Museu Nilo Pereira, instaurando uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar devidamente o que vem realmente acontecendo, ao longo desses últimos anos com aquele patrimônio histórico e cultural. Temos conhecimento de que os recursos que são conseguidos com tantas dificuldades, terminam voltando às suas origens pela incompetência das autoridades responsáveis, que numa clara demonstração de descaso e falta de compromisso com a cultura em nosso Estado, passivamente, permitem que tais recursos retornem, por falta de utilização?
Apelamos para a Ordem dos Advogados do RN, a Academia de Letras do RN, a UFRN como também a Associação dos Jornalistas do RN, enfim a Sociedade Civil organizada, para se engajarem nessa luta e numa ação conjunta, possamos devolver ao povo do Rio Grande do Norte, o museu Nilo Pereira totalmente restaurado juntamente com o que resta do seu acervo, antes que o tempo e o descaso dessas autoridades se encarreguem de tornar impossível, o sonho de sua restauração.
(publicado no JH de 8.10.2010)
sábado, 9 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
REFLEX
À margem da poesia de Paulo de Tarso
Aqui estou pássaro madrugador e antigo, pousado sobre os momentos de Paulo de Tarso Correia de Melo, saboreando o poema veneziano que outonal adormece,sonha fustigado pelo frio invernal de chuvas que torturam telhas. Desperta impulsionado pelo canto de míticas cotovias, arautos das auroras, no alto dos galhos das romãzeiras saudando a primavera.
Os versos são curtos, esculpidos nos coloridos multiangulares. Lembram vitrais e acendem na memória os brancos azulados, verdes, vermelhos e amarelos de Chagall que me comoveram na catedral de Saint Etienne de Metz.
Ainda que descubra no corpo apenas tempo e morte, é capaz de desatar sobre o corpo da amada a longa cabeleira dourada, mãos entrelaçadas, caminho adiante, assim como na Alvorada do Amor, de Olavo Bilac, Adão e Eva abandonam o paraíso:
“Ah! bendito o momento em que me revelaste
O amor com o teu pecado e a vida com o teu crime!”
Inspira-se na abertura virgiliana da Eneida e constrói seu teorema lírico, onde ritmo e estética são rigorosamente matemáticos nos decassílabos:
“tombaram magnólias
Quando passaste aqui.
Chovia no jardim
E eu não te conheci”.
Avançou-me a tarde e o Sabor de Amar, de Paulo de Tarso Correia de Melo, na companhia das Quatro Estações de Vivaldi, que o poeta multiplicou por outras mil encasteladas no seu espírito sensível voltou à estante, lido, relido e anotado pelo estudante que sou das coisas belas.
Ciro José Tavares, Brasília 2010.
Brasília, outubro de 2010.
À margem da poesia de Paulo de Tarso
Aqui estou pássaro madrugador e antigo, pousado sobre os momentos de Paulo de Tarso Correia de Melo, saboreando o poema veneziano que outonal adormece,sonha fustigado pelo frio invernal de chuvas que torturam telhas. Desperta impulsionado pelo canto de míticas cotovias, arautos das auroras, no alto dos galhos das romãzeiras saudando a primavera.
Os versos são curtos, esculpidos nos coloridos multiangulares. Lembram vitrais e acendem na memória os brancos azulados, verdes, vermelhos e amarelos de Chagall que me comoveram na catedral de Saint Etienne de Metz.
Ainda que descubra no corpo apenas tempo e morte, é capaz de desatar sobre o corpo da amada a longa cabeleira dourada, mãos entrelaçadas, caminho adiante, assim como na Alvorada do Amor, de Olavo Bilac, Adão e Eva abandonam o paraíso:
“Ah! bendito o momento em que me revelaste
O amor com o teu pecado e a vida com o teu crime!”
Inspira-se na abertura virgiliana da Eneida e constrói seu teorema lírico, onde ritmo e estética são rigorosamente matemáticos nos decassílabos:
“tombaram magnólias
Quando passaste aqui.
Chovia no jardim
E eu não te conheci”.
Avançou-me a tarde e o Sabor de Amar, de Paulo de Tarso Correia de Melo, na companhia das Quatro Estações de Vivaldi, que o poeta multiplicou por outras mil encasteladas no seu espírito sensível voltou à estante, lido, relido e anotado pelo estudante que sou das coisas belas.
Ciro José Tavares, Brasília 2010.
Brasília, outubro de 2010.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
RELEMBRANÇAS DE MACAÍBA
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
(Da UBE/RN, IHGRN, ALEJURN, INRG, OAB/RN e AML)
Este ano tenho recebido inúmeras dádivas relacionadas com a cidade de Macaíba, onde vivi bons tempos da minha vida, entre 1947 e 1950.
Inicialmente fui sensibilizado pelo livro de Osair Vasconcelos – A Cidade que ninguém inventou – trazendo de volta lembranças e saudades da terra das macaibeiras, da minha casa da inesquecível Rua Pedro Velho, cenário telúrico da minha infância, começo da adolescência.
Posteriormente fui honrado com a notícia de ter sido aprovado o meu nome como cidadão macaibense, numa iniciativa do Vereador Thomás José Medeiros de Sena e, logo em seguida, pelos meus amigos Valério Mesquita e Olímpio Maciel, sou informado que fui indicado para ocupar uma cadeira na novel Academia Macaibense de Letras.
Diante de tantas homenagens, dei-me ao esforço da lembrança e voltei à Macaiba do meu tempo e pude resgatar fatos e pessoas que moram em mim.
Fui morador da Rua Pedro Velho, para mim uma soberba avenida, numa casa de janelas altas e parapeito largo onde me acomodava para descortinar a paisagem e as pessoas, pois vizinho à antiga Igreja Protestante, esquina com o Hospital (Maternidade) Público, via a condução de pessoas enfermas em uma cadeira que servia, ao mesmo tempo, como padiola e ambulância.
De lá, contemplava o sítio do Major Andrade e a Igreja ou Capela de São José (que vivia fechada), onde terminava o calçamento e começava uma subida de piçarro e pedras arredondadas, algumas apanhadas por mamãe para fazer ‘leite ferrado’.
Na visão panorâmica da minha janela assisti o desfile de carnavalescos, o caminhão com a alegoria de uma garrafa de cachaça ‘dois tombos’, pois na minha idade era proibido acompanhar o cortejo, ainda mais sendo o filho do Juiz de Direito.
Também era local de alguma apreensão e até terror, pois a Igreja vizinha tinha inúmeras colméias de marimbondos e costumavam ser apedrejadas pela intolerância religiosa, principalmente quando por ali passava Frei Damião, não por ordem dele, mas pelo fundamentalismo de algumas pessoas. E o terror ficava por conta de uma casa mal assombrada, logo abaixo, em frente à casa de Gutemberg Marinho, irmão de Epaminondas – aquele que um dia constrangeu o seu pai, Senhor Luis Marinho de Carvalho (esposo de D. Emerlinda), respeitável líder espírita de Macaíba e que sonhava com a recepção de alguma entidade por esse seu filho. Um dia, chamado às pressas, fez uma sessão para a incorporação de que parecia estar tomado o dito filho e ao solicitar que a entidade se identificasse, Epaminondas respondeu: ’Papai Noel da graça de Deus’. Que decepção!
Falando no sítio do Major Andrade, recordo dos momentos em que tive acesso aos pés de jabuticabas, deliciosamente saboreadas no pé, de onde se avistava o começo de uma pedreira. Desculpem se a coisa não é bem assim, pois quem fala é a lembrança de um garoto nos seus 7 a 10 anos, cuja visão ofusca a realidade.
Ainda próximo ao sítio, já na entrada da Rua do Gango (Rua Rodolfo Maranhão, meu tio-avô), confluência com a Rua Visconde do Rio Branco e hoje Rua Marcos Mafra eu tinha aulas particulares com a Professora Albaniza. Essa rua era condenada pela sociedade, pois tinha pousada das meninas perdidas, uma das quais lembro do esdrúxulo nome ... Deixa prá lá...
Nos dias de feira, a esquina do sítio referido e até alcançar a Rua do Gango ficavam os animais que conduziam mercadorias para a feira e, às vezes, uma jumenta no cio despertava o instinto de um burro ou cavalo mais afoito, que iniciava a sua conquista sexual, perseguindo a presa por cima das cangalhas, com um relinchado ensurdecedor, espalhando apetrechos e mercadorias pela rua, debaixo dos gritos dos proprietários e aplausos da ‘molecada’ que adorava o ‘furdunço’, à qual eu pertencia. Os animais eram dominados lá pela frente do Cartório de Seu Aníbal Délio.
Também era na feira, na parte final das barracas, que ficavam os cordelistas, cantando suas loas e suas estórias e histórias num velho microfone de pé, amarrado com uma flanela ‘suja’, mas encantando todos os que passavam e paravam por algum tempo para se deliciar e comprar algum cordel.
Ainda na Rua Pedro Velho tínhamos o tradicional Pax, com um grande quadro representando o desastre com o balão de Augusto Severo e o não menos antigo Cine Independência, que funcionava com um único projetor, sendo obrigado a interromper várias vezes a sessão para a troca do rolo de filme, sob os assovios e gritos dos expectadores. Nesse cinema existia, perto da tele, um muro que dividia a platéia – era a geral com bancos, onde se alojava a ‘plebe rude’, sujeita a todos os tipos de saliências, desde ‘flatulências – daquelas consideradas pqp’ até algum excesso no campo amoroso. Era gostoso ver tudo isso e mais, antecedendo ao espetáculo, os comentaristas dos filmes, com ‘pronúncia estapafúrdia’ dos artistas estrangeiros como Johnny Mac Brown, Johnny Weissmuller... viixxee... E as músicas daquele tempo - uma delas que lembro era ‘O despertar da montanha’, no mais eram Luiz Gonzaga, Pedro Raimundo, Augusto Calheiros, o velho Chico, Orlando Silva e Nelson e também alguns bregas que começavam a acontecer.
O velho projetor hoje faz parte do acervo do “Solar do Caxangá” sede da nossa Academia de Letras, juntamente com outras relíquias dignas de uma visitação.
O cinema também se prestava a espetáculos teatrais. A minha irmã Elza Carlina, ainda garota dos seus 11/12 anos, trabalhava no conjunto ‘Céu Sereno” com um personagem criado pelo Coronel Libório, cognominado de ‘Doutor Rabufetele’, de cuja foto, velha e com o rosto sob maquiagem, aqui reproduzido, foi identificado recentemente pelo historiador Anderson Tavares, descobrindo tratar-se do ator Antônio Leiros, pessoa muito querida na cidade. Sobre quem, colhi a respeito o seguinte testemunho de Wellington Leiros:
“Amigo Carlos, esse é ANTÔNIO LEIROS COELHO, macaibense, boêmio e seresteiro, de uma voz maravilhosa. No teatro, era impagável. Filho de Maria Madalena Gomes Leiros (prima legítima de meu pai José Leiros) e de Francisco Coelho. Morreu afogado, numa praia do nosso litoral, sob o efeito de uma grave perturbação mental. A morte se deu acidentalmente. Consta que escorregou numa barreira, à beira mar (praia de barreira roxa ou barreira d’água, num final de tarde/começo de noite). Deixou viúva e um único filho. Há muito, perdi contato com eles. É o que posso informar. Um forte abraço, W.Leiros”.
Aliás, sobre a minha irmã, ela e eu andávamos de patins pelas calçadas da Rua Pedro Velho, sob os olhares admirados dos meninos, quando então aproveitávamos para trocar algumas palavras em inglês – algumas inventadas, para podermos ouvir os comentários: ‘os filhos do Juiz falam estrangeiro’. Sem maldades, nem menosprezo...apenas coisas de crianças enxeridas.
Passando pelo Mercado, com o seu obelisco em homenagem a Augusto Severo, cercado de correntes, ali ficava pelas 5 da tarde vendo a passagem dos ‘mixtos’ tocando Aza Branca na buzina e esperando a chegada do gazeteiro com os jornais do dia e as revistas em quadrinho das quais era freguês assíduo e me valeu formar, até hoje, a melhor coleção de quadrinhos do Estado, sem modéstia, dentre Almanaques, Super X, Xuxá, Cavaleiro Negro, Roy Rogers, Gene Autry, Rocky Lane, Tarzan – o meu preferido, Vida Juvenil, Vida Infantil, Superman, Família Marvel, Gibi, Guri, Edições Maravilhosas, Álbum Gigante e muitas outras mais. Nos filmes de faroeste havia um personagem constante – o bigodinho, representado pelo eterno bandido Roy Barchoff (ou coisa que o valha).
A Rua da Cadeia (na verdade – Rua da Cruz ou, corretamente, Rua Dr. Francisco da Cruz), onde moravam as figuras honoráveis de Alfredo Mesquita e Dona Nair (Valério era ainda um menino buchudo, não aparecia), era o meu caminho para assistir os circos (levando as cadeiras de casa) e do campo de futebol, que ficava vizinho ao Cemitério. Ali, quando os jogos demoravam um pouco mais e a noite começava a apontar, se a bola caísse entre os túmulos, ficava difícil de ser encontrada e, sem refletores e com a demora, a noite não esperava e só tinha um jeito – encerrar o jogo, debaixo dos protestos do público. Isso também acontecia quando o Cruzeiro estava ganhando contra time de fora e corria o perigo de empatar.
Particularmente no futebol, torcia pelo Cruzeiro e lembro os nomes de Galamprão – um goleiro de mãos enormes e de Taperoá, que foi protagonista de um episódio casual em que ao limpar uma arma de fogo, a mesma disparou e matou uma pessoa de sua família, parece que a esposa. Mas era um bom homem e deve lhe ter sido feita justiça, pois lembro que depois ele aportou por Natal, como massagista do ABC, salvo engano meu.
Sobre as coisas da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, comandada pelo Padre Chacon, de quem fui coroinha nas procissões e algumas vezes, ajudei nas missas, lembro de que certo dia ajudava em uma novena e na hora em que o Padre mostrou o Santíssimo para ser ungido pelo incenso, eu continuei balançando o turíbulo e o Santíssimo não foi ungido nessa noite. Já as festas, nos lados da Igreja eram magistrais – pau de sebo, pastorinhas dos cordões azul e encarnado, cocais de castanha, farinha de milho em barquinhos de papel salofane, venda de prendas e muita alegria, com algum excesso de ‘birita’.
Costumava fazer currais de gado com os manguitos caídos no chão, espetados em palitos de palha de coqueiro quando ia até o sítio dos Leiros – nem sei mais onde era!
A praça José Varela e o novo Pax estavam em construção quando deixei Macaíba, mas vim para a inauguração em um churrasco onde homenagearam papai. Nessa noite aconteceu um episódio comigo: a carne estava um pouco dura e eu resolvi parti-la no dente e o garfo escorregou e o pedaço de carne foi cair em cima de uma mesa próxima. Todos olharam indignados, mas era o filho do Juiz e não deu em nada. A minha família é que ainda hoje goza desse fato. Já do rio Jundiaí pouco desfrutei, pois o bom era curtir os mergulhos da ponte, mas isso era proibido para fedelhos como eu, mesmo sendo filho do Juiz.
Só voltei a Macaíba em 1958 para participar de uma eleição em que o meu tio afim Jessé Pinto Freire era candidato e tinha o apoio de Seu Alfredo Mesquita. Foi nessa ocasião que conheci Valério, alto, comprido junto à cadeira do seu pai. A chegada à Macaíba foi com Jansen Leiros e fui para a casa de Seu Aguinaldo. O Jeep que eu dirigia quebrou na estrada, já perto de Macaíba (tinha a placa DM – 1489). Após a chegada, beirando a noitinha, após um banho e o jantar, Jansen me levou a visitar algumas criaturas alegres, numa casa perto da Praça José Varela, parece que ali tinha alguma coisa como uma estação de energia. Isso é um passado muito passado, pois sou um homem direito e fiel desde o tempo de noivado, quase cinquentenário. Não achem graça que é verdade!
Depois fui outras vezes e até tínhamos um terreno em Mangabeira. Uma outra visita foi no dia do falecimento de Dona Nair. Tirei fotografias de alguns pontos que tanto estimei, mas a coisa mudou demais. Não existem mais o Mercado, o velho Pax e o Cine Independência. A casa onde morei ainda está lá, mas desfigurada; o sítio do Major Andrade se resume na casa velha e não tem mais acesso para a Rua Pedro Velho e sim pela Marcos Mafra (antiga Viconde do Rio Branco), onde se posta o “Solar do Caxangá”, sede do Instituto Pró-Memória de Macaíba, tão bem conduzido por Olímpio Maciel e também a sede da AML; a ladeira está calçada, a igreja dos crentes não é mais igreja e o hospital mudou de lugar. Não fui ao Cemitério nem procurei o campo de futebol. Fiquei apenas lembrando das pessoas, do dentista da Rua da Cadeia, de ‘Danga’ (Nássaro Nasser), de dois meninos que faziam caminhões de madeira, com luz e tudo, imitando os ‘mixtos’ daquele tempo. O resto foi saudade, muita saudade mesmo.
Hoje a ironia do destino me faz confrade de Academia de “Danga”, Osair, Jansen, Wellington,Anderson, Valério, Olímpio e outros (os aqui referidos são os que têm participação nesta história). Breve relatarei detalhadamente sobre a Academia, seus idealizadores, Patronos e Acadêmicos, apenas adiantando que ocuparei a cadeira n° 2, cujo Patrono é o meu ancestral, Alberto Maranhão.
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
(Da UBE/RN, IHGRN, ALEJURN, INRG, OAB/RN e AML)
Este ano tenho recebido inúmeras dádivas relacionadas com a cidade de Macaíba, onde vivi bons tempos da minha vida, entre 1947 e 1950.
Inicialmente fui sensibilizado pelo livro de Osair Vasconcelos – A Cidade que ninguém inventou – trazendo de volta lembranças e saudades da terra das macaibeiras, da minha casa da inesquecível Rua Pedro Velho, cenário telúrico da minha infância, começo da adolescência.
Posteriormente fui honrado com a notícia de ter sido aprovado o meu nome como cidadão macaibense, numa iniciativa do Vereador Thomás José Medeiros de Sena e, logo em seguida, pelos meus amigos Valério Mesquita e Olímpio Maciel, sou informado que fui indicado para ocupar uma cadeira na novel Academia Macaibense de Letras.
Diante de tantas homenagens, dei-me ao esforço da lembrança e voltei à Macaiba do meu tempo e pude resgatar fatos e pessoas que moram em mim.
Fui morador da Rua Pedro Velho, para mim uma soberba avenida, numa casa de janelas altas e parapeito largo onde me acomodava para descortinar a paisagem e as pessoas, pois vizinho à antiga Igreja Protestante, esquina com o Hospital (Maternidade) Público, via a condução de pessoas enfermas em uma cadeira que servia, ao mesmo tempo, como padiola e ambulância.
De lá, contemplava o sítio do Major Andrade e a Igreja ou Capela de São José (que vivia fechada), onde terminava o calçamento e começava uma subida de piçarro e pedras arredondadas, algumas apanhadas por mamãe para fazer ‘leite ferrado’.
Na visão panorâmica da minha janela assisti o desfile de carnavalescos, o caminhão com a alegoria de uma garrafa de cachaça ‘dois tombos’, pois na minha idade era proibido acompanhar o cortejo, ainda mais sendo o filho do Juiz de Direito.
Também era local de alguma apreensão e até terror, pois a Igreja vizinha tinha inúmeras colméias de marimbondos e costumavam ser apedrejadas pela intolerância religiosa, principalmente quando por ali passava Frei Damião, não por ordem dele, mas pelo fundamentalismo de algumas pessoas. E o terror ficava por conta de uma casa mal assombrada, logo abaixo, em frente à casa de Gutemberg Marinho, irmão de Epaminondas – aquele que um dia constrangeu o seu pai, Senhor Luis Marinho de Carvalho (esposo de D. Emerlinda), respeitável líder espírita de Macaíba e que sonhava com a recepção de alguma entidade por esse seu filho. Um dia, chamado às pressas, fez uma sessão para a incorporação de que parecia estar tomado o dito filho e ao solicitar que a entidade se identificasse, Epaminondas respondeu: ’Papai Noel da graça de Deus’. Que decepção!
Falando no sítio do Major Andrade, recordo dos momentos em que tive acesso aos pés de jabuticabas, deliciosamente saboreadas no pé, de onde se avistava o começo de uma pedreira. Desculpem se a coisa não é bem assim, pois quem fala é a lembrança de um garoto nos seus 7 a 10 anos, cuja visão ofusca a realidade.
Ainda próximo ao sítio, já na entrada da Rua do Gango (Rua Rodolfo Maranhão, meu tio-avô), confluência com a Rua Visconde do Rio Branco e hoje Rua Marcos Mafra eu tinha aulas particulares com a Professora Albaniza. Essa rua era condenada pela sociedade, pois tinha pousada das meninas perdidas, uma das quais lembro do esdrúxulo nome ... Deixa prá lá...
Nos dias de feira, a esquina do sítio referido e até alcançar a Rua do Gango ficavam os animais que conduziam mercadorias para a feira e, às vezes, uma jumenta no cio despertava o instinto de um burro ou cavalo mais afoito, que iniciava a sua conquista sexual, perseguindo a presa por cima das cangalhas, com um relinchado ensurdecedor, espalhando apetrechos e mercadorias pela rua, debaixo dos gritos dos proprietários e aplausos da ‘molecada’ que adorava o ‘furdunço’, à qual eu pertencia. Os animais eram dominados lá pela frente do Cartório de Seu Aníbal Délio.
Também era na feira, na parte final das barracas, que ficavam os cordelistas, cantando suas loas e suas estórias e histórias num velho microfone de pé, amarrado com uma flanela ‘suja’, mas encantando todos os que passavam e paravam por algum tempo para se deliciar e comprar algum cordel.
Ainda na Rua Pedro Velho tínhamos o tradicional Pax, com um grande quadro representando o desastre com o balão de Augusto Severo e o não menos antigo Cine Independência, que funcionava com um único projetor, sendo obrigado a interromper várias vezes a sessão para a troca do rolo de filme, sob os assovios e gritos dos expectadores. Nesse cinema existia, perto da tele, um muro que dividia a platéia – era a geral com bancos, onde se alojava a ‘plebe rude’, sujeita a todos os tipos de saliências, desde ‘flatulências – daquelas consideradas pqp’ até algum excesso no campo amoroso. Era gostoso ver tudo isso e mais, antecedendo ao espetáculo, os comentaristas dos filmes, com ‘pronúncia estapafúrdia’ dos artistas estrangeiros como Johnny Mac Brown, Johnny Weissmuller... viixxee... E as músicas daquele tempo - uma delas que lembro era ‘O despertar da montanha’, no mais eram Luiz Gonzaga, Pedro Raimundo, Augusto Calheiros, o velho Chico, Orlando Silva e Nelson e também alguns bregas que começavam a acontecer.
O velho projetor hoje faz parte do acervo do “Solar do Caxangá” sede da nossa Academia de Letras, juntamente com outras relíquias dignas de uma visitação.
O cinema também se prestava a espetáculos teatrais. A minha irmã Elza Carlina, ainda garota dos seus 11/12 anos, trabalhava no conjunto ‘Céu Sereno” com um personagem criado pelo Coronel Libório, cognominado de ‘Doutor Rabufetele’, de cuja foto, velha e com o rosto sob maquiagem, aqui reproduzido, foi identificado recentemente pelo historiador Anderson Tavares, descobrindo tratar-se do ator Antônio Leiros, pessoa muito querida na cidade. Sobre quem, colhi a respeito o seguinte testemunho de Wellington Leiros:
“Amigo Carlos, esse é ANTÔNIO LEIROS COELHO, macaibense, boêmio e seresteiro, de uma voz maravilhosa. No teatro, era impagável. Filho de Maria Madalena Gomes Leiros (prima legítima de meu pai José Leiros) e de Francisco Coelho. Morreu afogado, numa praia do nosso litoral, sob o efeito de uma grave perturbação mental. A morte se deu acidentalmente. Consta que escorregou numa barreira, à beira mar (praia de barreira roxa ou barreira d’água, num final de tarde/começo de noite). Deixou viúva e um único filho. Há muito, perdi contato com eles. É o que posso informar. Um forte abraço, W.Leiros”.
Aliás, sobre a minha irmã, ela e eu andávamos de patins pelas calçadas da Rua Pedro Velho, sob os olhares admirados dos meninos, quando então aproveitávamos para trocar algumas palavras em inglês – algumas inventadas, para podermos ouvir os comentários: ‘os filhos do Juiz falam estrangeiro’. Sem maldades, nem menosprezo...apenas coisas de crianças enxeridas.
Passando pelo Mercado, com o seu obelisco em homenagem a Augusto Severo, cercado de correntes, ali ficava pelas 5 da tarde vendo a passagem dos ‘mixtos’ tocando Aza Branca na buzina e esperando a chegada do gazeteiro com os jornais do dia e as revistas em quadrinho das quais era freguês assíduo e me valeu formar, até hoje, a melhor coleção de quadrinhos do Estado, sem modéstia, dentre Almanaques, Super X, Xuxá, Cavaleiro Negro, Roy Rogers, Gene Autry, Rocky Lane, Tarzan – o meu preferido, Vida Juvenil, Vida Infantil, Superman, Família Marvel, Gibi, Guri, Edições Maravilhosas, Álbum Gigante e muitas outras mais. Nos filmes de faroeste havia um personagem constante – o bigodinho, representado pelo eterno bandido Roy Barchoff (ou coisa que o valha).
A Rua da Cadeia (na verdade – Rua da Cruz ou, corretamente, Rua Dr. Francisco da Cruz), onde moravam as figuras honoráveis de Alfredo Mesquita e Dona Nair (Valério era ainda um menino buchudo, não aparecia), era o meu caminho para assistir os circos (levando as cadeiras de casa) e do campo de futebol, que ficava vizinho ao Cemitério. Ali, quando os jogos demoravam um pouco mais e a noite começava a apontar, se a bola caísse entre os túmulos, ficava difícil de ser encontrada e, sem refletores e com a demora, a noite não esperava e só tinha um jeito – encerrar o jogo, debaixo dos protestos do público. Isso também acontecia quando o Cruzeiro estava ganhando contra time de fora e corria o perigo de empatar.
Particularmente no futebol, torcia pelo Cruzeiro e lembro os nomes de Galamprão – um goleiro de mãos enormes e de Taperoá, que foi protagonista de um episódio casual em que ao limpar uma arma de fogo, a mesma disparou e matou uma pessoa de sua família, parece que a esposa. Mas era um bom homem e deve lhe ter sido feita justiça, pois lembro que depois ele aportou por Natal, como massagista do ABC, salvo engano meu.
Sobre as coisas da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, comandada pelo Padre Chacon, de quem fui coroinha nas procissões e algumas vezes, ajudei nas missas, lembro de que certo dia ajudava em uma novena e na hora em que o Padre mostrou o Santíssimo para ser ungido pelo incenso, eu continuei balançando o turíbulo e o Santíssimo não foi ungido nessa noite. Já as festas, nos lados da Igreja eram magistrais – pau de sebo, pastorinhas dos cordões azul e encarnado, cocais de castanha, farinha de milho em barquinhos de papel salofane, venda de prendas e muita alegria, com algum excesso de ‘birita’.
Costumava fazer currais de gado com os manguitos caídos no chão, espetados em palitos de palha de coqueiro quando ia até o sítio dos Leiros – nem sei mais onde era!
A praça José Varela e o novo Pax estavam em construção quando deixei Macaíba, mas vim para a inauguração em um churrasco onde homenagearam papai. Nessa noite aconteceu um episódio comigo: a carne estava um pouco dura e eu resolvi parti-la no dente e o garfo escorregou e o pedaço de carne foi cair em cima de uma mesa próxima. Todos olharam indignados, mas era o filho do Juiz e não deu em nada. A minha família é que ainda hoje goza desse fato. Já do rio Jundiaí pouco desfrutei, pois o bom era curtir os mergulhos da ponte, mas isso era proibido para fedelhos como eu, mesmo sendo filho do Juiz.
Só voltei a Macaíba em 1958 para participar de uma eleição em que o meu tio afim Jessé Pinto Freire era candidato e tinha o apoio de Seu Alfredo Mesquita. Foi nessa ocasião que conheci Valério, alto, comprido junto à cadeira do seu pai. A chegada à Macaíba foi com Jansen Leiros e fui para a casa de Seu Aguinaldo. O Jeep que eu dirigia quebrou na estrada, já perto de Macaíba (tinha a placa DM – 1489). Após a chegada, beirando a noitinha, após um banho e o jantar, Jansen me levou a visitar algumas criaturas alegres, numa casa perto da Praça José Varela, parece que ali tinha alguma coisa como uma estação de energia. Isso é um passado muito passado, pois sou um homem direito e fiel desde o tempo de noivado, quase cinquentenário. Não achem graça que é verdade!
Depois fui outras vezes e até tínhamos um terreno em Mangabeira. Uma outra visita foi no dia do falecimento de Dona Nair. Tirei fotografias de alguns pontos que tanto estimei, mas a coisa mudou demais. Não existem mais o Mercado, o velho Pax e o Cine Independência. A casa onde morei ainda está lá, mas desfigurada; o sítio do Major Andrade se resume na casa velha e não tem mais acesso para a Rua Pedro Velho e sim pela Marcos Mafra (antiga Viconde do Rio Branco), onde se posta o “Solar do Caxangá”, sede do Instituto Pró-Memória de Macaíba, tão bem conduzido por Olímpio Maciel e também a sede da AML; a ladeira está calçada, a igreja dos crentes não é mais igreja e o hospital mudou de lugar. Não fui ao Cemitério nem procurei o campo de futebol. Fiquei apenas lembrando das pessoas, do dentista da Rua da Cadeia, de ‘Danga’ (Nássaro Nasser), de dois meninos que faziam caminhões de madeira, com luz e tudo, imitando os ‘mixtos’ daquele tempo. O resto foi saudade, muita saudade mesmo.
Hoje a ironia do destino me faz confrade de Academia de “Danga”, Osair, Jansen, Wellington,Anderson, Valério, Olímpio e outros (os aqui referidos são os que têm participação nesta história). Breve relatarei detalhadamente sobre a Academia, seus idealizadores, Patronos e Acadêmicos, apenas adiantando que ocuparei a cadeira n° 2, cujo Patrono é o meu ancestral, Alberto Maranhão.
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