sexta-feira, 1 de abril de 2016


BANHO DE CHUVA

O tempo se prepara, começa a chover. Depois que a chuva lava as telhas, não contamos tempo: vamos tomar banho, nas biqueiras. É um cortejo de alegria. É homem, é mulher, menino, adulto, idoso, no meio da rua, brincando, disputando a bica que despeje mais volume de água. É uma celebração de júbilo porque a vida está renascendo. É uma ciranda de amor porque cada pingo de chuva é um beijo que a terra ganha.
Ao se colocar debaixo de uma biqueira, o ser humano se embebe de gratidão porque, no sertão, a chuva é o alicerce da existência. É quando o céu está nublado que, para o sertanejo, o dia está mais bonito. O céu, assim, é mais sagrado e, em contato com a água, o ser humano se reconhece mais divino. 
O banho de chuva tem um toque que atinge a alma. Ele é a realização da esperança que foi acalentada durante anos de estiagem prolongada. Ele tem a capacidade de enxugar as lágrimas que ficaram presas dentro da alma. É triste ter que vender o rebanho para não vê-lo morrer de fome e sede. Beira o desespero ver um animal morrer em tempo de seca. O banho de chuva é um calmante que a natureza oferece ao sertanejo da zona urbana e da zona rural, bem como é um convite a recomeçar: plantar e colher, pensar e decidir como administrar a água, sem desperdício.
A chuva, no sertão, depois de um tempo de seca, é uma aspersão de água sagrada e é preciso guardar a preciosidade de cada pingo. Para o sertanejo, inverno chegando é páscoa, é vida nova, é caminho de ressurreição. É um verdadeiro sacrilégio pedir aos céus que derramem água e, depois que as chuvas caem, não querer aprender a reduzir, a reciclar e a reutilizar um bem de valor indiscutível, como é a água. A nossa gratidão a Deus pelo inverno que devolve a beleza ao sertão seja demonstrada pelo zelo na utilização da água. Uso, sim. Desperdício, nunca!

@gleiberdantas – Florânia, 30 de março de 2016.

(colaboração de Elza Medeios)

quinta-feira, 31 de março de 2016

Brasil


TEMPO DE CRISE
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor

Temos acompanhado a história do Brasil com muito cuidado e paciência e, em muitos momentos, sentimos circunstâncias extremamente difíceis, seja do ponto de vista econômico/financeiro, social e político, cujas soluções adotadas nem sempre foram as mais adequadas.

Nos últimos tempos, entretanto, vimos ressurgir intensamente um dos mais nefastos perfis da crise – aquele que gera a discórdia e o ódio fragmentando famílias, amizades, instituições e confrarias.

Referimo-nos à bifurcação política entre governo e oposição, sugerindo, de lado a lado, saídas pouco democráticas.

O reflexo desse caos se espraia em variados segmentos: primeiramente o social representado pela extrema pobreza e a adoção de uma política paternalista causadora de uma letargia na força de trabalho, acomodada com o “maná” que lhe é ofertado gratuitamente; o econômico é o mais preocupante, porque reduzindo a produção, aumentando o desemprego e gerando a ampliação da classe social menos favorecida, levando o nosso PIB a patamares perigosos e desestimulantes, sem a adoção de um plano consistente que aponte esperança de um futuro melhor.

Sob o visor financeiro a coisa se agrava porque a perspectiva de aumento da receita se esvai em decorrência da fraca produção, o que seria compensável se fosse adotado um plano de contingenciamento da despesa, proporcional às entradas públicas, o que não vem acontecendo, agravado por descoberta de escândalos de desvio do dinheiro público e um gasto deletério dos representantes do povo e dos entes federativos, numa verdadeira farra de gastos desnecessários e sem receberem a punição necessária para garantia da estabilidade do país.

O campo político é desastroso à falta de credibilidade do governo, do Parlamento e dos que estão à frentes dos seus destinos.

Paralelamente a tudo isso existe um desentrosamento gritante entre as instituições paraestatais, como a OAB, as Universidades, as representações das classes patronais e laborais e até contaminando as entidades sociais de prestação de serviços, que se digladiam entre correntes pró ou contra o governo, gerando entre os seus confrades um clima de cisão e consequente enfraquecimento dos seus quadros.

Lembramo-nos dos anos 60, onde a política criou desavenças entre amigos, familiares e companheiros de associações diversas.

Infelizmente estamos num tempo de crise e a saída deve ser buscada, a qualquer custo, nos instrumentos democráticos ofertados pela Constituição vigente, da qual o Supremo Tribunal Federal é o maior fiador.

Nosso apelo é que haja uma trégua, um recuo, para que o diálogo seja restabelecido com lucidez, prudência e sabedoria.

É fundamental e urgente o posicionamento de inúmeras reformas, a começar da política, permitindo selecionar melhor os aspirantes aos cargos de representação e assim viabilizando que o povo soberano da Nação possa ter condições da escolha dos melhores, repudiando qualquer nome que tenha se envolvido em atitudes contrárias à ética e aos bons costumes.

Encontramos em nossa história o registro de golpes, ditaduras civis e militares, de esquerda e de direita, mas jamais havíamos convivido com ditadura partidária.

FORA AS IMPOSIÇÕES, O DESRESPEITO, A FALTA DE ÉTICA, ENFIM, A CORRUPÇÃO.

VAMOS PROCURAR UMA SAÍDA DENTRO DA DEMOCRACIA e da vontade soberana do povo OU NOS TORNAREMOS ARREMEDO DE UM HAITÍ!

quarta-feira, 30 de março de 2016

Artigo




Categoria: CENAS DO CAMINHO – 



OS FEIJÕES

Dona Francisca chegara aos setenta anos, gozando de boa saúde, até que nos seus exames de rotina foi descoberto que ela estava com insuficiência no pâncreas e com um quadro de diabetes do tipo 2.
Querida por todos, viúva, morava sozinha na sua casa em Parnamirim, RN. Como tinha cinco filhos e vários netos, a casa de Dona Francisca vivia cheia de gente, principalmente nas horas de refeições. Não tinha como não ser! Seu arroz bem temperado, e seu saboroso feijãozinho, eram imperdíveis. No jantar, era prato certo a gostosíssima sopa de feijão.

Aliás, a viúva tinha fixação em feijão. Para ela, era um alimento sagrado, e era o que dava sustança. Era a alma da alimentação. Sem feijão na mesa, o almoço perdia a graça. Por isso, o feijão era presença diária em sua mesa.
A mulher gostava de todas as espécies de feijão: Feijão verde, feijão azuki, feijão carioquinha, macássar, feijão preto, feijão branco, feijão vermelho, feijão, mulatinho, enxofre, cavalo branco, marrom, azul, e também fava, inclusive a “gloriosa fava rajada”, de Pernambuco.

Quando fazia feira, Dona Francisca, antes de tudo, colocava no carrinho de compras, todos os tipos de feijão que ela gostava.

A idosa era muito organizada e tudo dela tinha etiqueta. Fazia questão de marcar todos os potes do freezer e pôr a data. Sua distração em casa era cozinhar feijão e congelar, usando para isso, potes vazios de sorvete Kibon.
Os demais potes que ela colecionava eram todos identificados: Café, arroz, açúcar, farinha de trigo, farinha de rosca, farinha de mandioca, maizena, farinha de linhaça, tudo bonitinho e arrumadinho no seu armário de cozinha. A mulher era mais organizada do que o partido comunista de antigamente.

Com a vinda do diabetes, ela imediatamente cortou o açúcar e passou a tomar adoçante em gotas. O açúcar de cana refinado era usado pelos filhos e netos.
Muito regrada, Dona Francisca aboliu da sua vida o consumo de açúcar, doce, bolo e refrigerante. Quando ia às festinhas de aniversário, comia um negocinho, uma besteirinha, acompanhado de refrigerante “diet”, e pronto. Não aceitava docinhos e bolos, alegando que era diabética e que precisava dar bom exemplo aos filhos e aos netos.

Mesmo assim, uma vez por outra, Dona Francisca passava mal e ligava para um dos filhos, que a levava ao Pronto-Socorro.
O que ninguém entendia era por que a glicose de Dona Francisca estava sempre muito alta. Fazia o teste de glicemia capilar e sempre dava acima de 280 mg/dl (o normal é de 80 a 120 mg/dl).

Os filhos da viúva sempre explicavam aos médicos:
– Doutor, não é possível! Minha mãe não come muito, é regrada, usa adoçante, não come doces, e procura se alimentar direito. Não faz extravagância nenhuma!

E Dona Francisca retrucava também:

– É verdade, sim! Esses remédios são umas porcarias! Tudo feito de farinha de trigo!!! Eu tomava somente um. Agora, tomo três remédios! Não adianta nada. Esses laboratórios não prestam!
E assim, Dona Francisca ligava sempre para os filhos ou para os netos, e corriam todos para o hospital, levando a idosa, que passava mal.

Quando tudo se restabelecia, voltavam para casa. Era a hora de servir aquela deliciosa sopa de feijão, que Dona Francisca havia feito com muito carinho.
Num certo dia, para tristeza de toda a família, Dona Francisca foi encontrada caída na sala, ofegante e desacordada. Foi um alvoroço só.
A faxineira, que acabara de chegar, entrou em parafuso!!! Gritou, ligou para os filhos da patroa, correu, saculejou a velha, jogou água no seu rosto, pôs um algodão com álcool no seu nariz para que ela aspirasse, e, por fim, chamou o SAMU.

A ambulância do Samu chegou e levou Dona Francisca para o hospital. Infelizmente, Dona Francisca chegou em coma, indo direto para a CTI, onde foi entubada. De acordo com os resultados dos exames, a glicose de Dona Francisca estava bastante alta.

Após alguns dias, Dona Francisca foi a óbito, tendo coma causa mortis “falência dos rins, em consequência do coma diabético”.
No dia do enterro, era uma tristeza só. Filhos e netos desolados, lamentavam a perda daquela pessoa querida. Tão boa, tão atenciosa, cozinhava tão bem! Ninguém jamais iria esquecer das suas deliciosas sopas de feijão e das saborosas feijoadas, saladas e tudo o mais.

Estavam todos sem entender, como é que a avó, que tomava a medicação própria para diabetes, não comia doces, usava adoçante, e era moderada para comer, terminara morrendo de um coma diabético.
Após o enterro, decidiram que, por enquanto, nada seria mexido na casa da falecida.
Passadas algumas semanas, as três filhas de Dona Francisca resolveram arrumar as coisas e também se desfazer das suas roupas pessoais, e outros objetos.

Após a arrumação do quarto da pranteada senhora, as suas duas filhas passaram a arrumar a cozinha. Chegaram até o freezer e lá encontraram os potes etiquetados, impecavelmente distribuídos. Estranharam a variedade de feijões ali congelados, com os respectivos nomes registrados. Estranharam também nomes de feijão, totalmente desconhecidos para elas. Era tudo “lançamento”!!! Ali estavam os potes de feijão, assim distribuídos:

Na frente, estavam os potes com os feijões tradicionais, que elas conheciam:
Feijão branco, feijão preto, feijão carioquinha, feijão vermelho, fava, fava rajada “dos deuses”, feijão enxofre, feijão cavalo branco, feijão macassar.

Mais atrás, estavam outros potes, com “lançamentos de feijões”:
-1- Feijão de GRAVIOLA; 2-Feijão NAPOLITANO; 3-Feijão de FLOCOS; 4-Feijão de CHOCOLATE; 5- Feijão de CREME; 6- Feijão de PASSAS AO RUM; 7- feijão de ABACAXI; 8- Feijão de MORANGO; 9- feijão de CUPUAÇU; 10- feijão de BAUNILHA; 11 – feijão de COCO; 12 – feijão de CREME COM NOZES, 13 – feijão de MILHO VERDE e outros.
E as três filhas de Dona Francisca foram abrindo, pote por pote, até que constataram que ali somente havia sorvete, e nada de feijão!!! .
Estava claro o motivo do descontrole glicêmico de Dona Francisca, e o coma diabético que a vitimou. A causa mortis de Dona Francisca, na realidade, foi provocada por excesso de sorvete, disfarçado de feijão. A mulher entrou em coma diabético, porque diariamente, tomava potes e mais potes de sorvete!!!
A família não sabia se sorrisse ou se chorasse!!! Afinal, a matriarca tinha sido muito feliz, comendo seu feijão diariamente e o tomando o seu sorvete, o que, para ela, era sagrado!!!
Não é para rir, gente! Isso é coisa séria!!!

terça-feira, 29 de março de 2016

H O J E





O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE COMEMORA HOJE OS SEUS 114 ANOS DE FUNDAÇÃO.
Invocando artigo escrito pelo nosso Presidente Honorário Jurandyr Navarro da Costa, é a instituição mais antiga em atividade do nosso cenário cultural.
"Cinco colunas humanas sustentam, presentemente, o pedestal organizacional da veterana entidade: o presidente, Valério Mesquita, o seu grande maestro, que rege a orquestra, com equilibrada liderança; Ormuz Simonetti, o vice-presidente, voluntarioso, de conhecido dinamismo (daria um grande Prefeito Municipal); Carlos Gomes, o secretário-geral, especialista exímio, responsável pela parte jurídico-legal, nosso Helly Lopes Meirelles, atualizado; Odúlio Botelho, secretário-adjunto, experiente causídico, coube-lhe o encargo do acompanhamento dos assuntos lítero-jurídicos, redação oficial e derivações. Finalmente, Scilla Gabel, encarregada pela Contabilidade, da vetusta empresa cultural privada, tarefa por demais fatigante, na árida ciência dos algarismos".

Além das pessoas nominadas, a Diretoria tem outros membros complementares do seu quadro dirigente, com funções definidas: Eduardo Gosson, escritor talentoso, na função de Tesoureiro e Augusto Coelho Leal, o seu Adjunto.

Nos assuntos técnicos contamos com Edgar Ramalho Dantas, Carlos Adel, João Felipe, Claudionor Barbalho, Eider Furtado e Tomislav Femenick, além do contador Jônatas e o pessoal de apoio da casa, liderado por José Maria.

As reuniões são diárias, presididas sempre pelo Presidente Valério Mesquita, não faltando visitantes ilustres, como o jornalista Vicente Serejo e outros sócios que abrilhantam as reuniões.

Teremos agora a posse de novos dirigentes que darão continuidade ao belo e eficiente trabalho da Diretoria atual, que não mais contará com a participação oficial do atual Presidente e do Secretário Geral Carlos de Miranda Gomes, este com outras missões a execução em outras instituições culturais.

São eles:

DIRETORIA

1.Presidente: ORMUZ BARBALHO SIMONETTI
2.Vice-Presidente: ROBERTO LIMA DE SOUZA
3.Secretário-Geral: ODÚLIUO BOTELHO MEDEIROS
4.Secretário-Adjunto: FRANCISCO JADIR DE FARIAS PEREIRA
5.Diretor Financeiro: AUGUSTO COÊLHO LEAL
6.Diretor Financeiro Adjunto: JOSÉ EDUARDO VILAR CUNHA
7.Orador: FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS FILHO
8.Diretor da Biblioteca, Arq. e Museu: CLAUDIONOR BARROSO BARBALHO
CONSELHO FISCAL 
1.EIDER FURTADO DE MENDONÇA E MENEZES, Membro titular
2.TOMISLAV R. FEMENICK, Membro titular
3. EDGAR RAMALHO DANTAS, Membro Titular
4. EDUARDO ANTONIO GOSSON, Membro Suplente
 

Sucesso é o que todos esperam da nova gestão.

segunda-feira, 28 de março de 2016

A REVISTA Nº 92 DO IHGRN


NOVOS TEMPOS, BELOS DIAS






RESSURREIÇÃO NA TV
Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor

Após uma longa noite de programas medíocres, repetitivos, oportunistas e/ou debochados, fui surpreendido com um novo momento para a televisão brasileira – o Programa “The Voice Kids”, do qual tive oportunidade de me reportar em pronunciamentos anteriores.
Inteligentemente procurou-se fazer um programa cativante até pela participação da criança, em toda a sua pureza pessoal e artística, com um repertório bem escolhido e, acima de tudo, com uma naturalidade agradável, sem imitação de ninguém nem clima de rivalidade, muito bem conduzido pelo apresentador Tiago Leifert, que com a sua emoção, deu um toque especial às apresentações.
Tornei-me cativo de todos os domingos e condicionei as minhas obrigações de forma a me dar o direito de assistir todos os programas, o que fiz curtindo as histórias do meu tempo, ainda que vinculado à Era de Ouro do rádio, posto que a televisão era ainda pouco difundida no Brasil.
A seleção dos participantes foi criteriosa e sem discriminações, da mesma forma que a escolha dos artistas técnicos, tutores dos pupilos que iam escolhendo no curso dos programas e lhes aplicavam todos os conhecimentos obtidos numa estrada artística já bem caminhada: Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e a dupla Victor e Leo.
O Rio Grande do Norte também esteve presente ao conclave com o jovem Elizaldo, do pequeno município de São Vicente e não fez feio. Enfim, todos os pontos cardiais ali se fizeram representados e ficou evidente a qualidade das apresentações ornadas por novas técnicas que lhes eram ministradas.
Pela primeira vez concordo que não houve derrotados, eis que todos cresceram em sua arte embrionária e se tornaram mais seguros para uma carreira futura, com muita possibilidade de sucesso.
Os finalistas Pérola, Rafa e Wagner Barreto, este último declarado vencedor dessa primeira versão, estiveram brilhantes e qualquer um que ganhasse estaria representando muito bem o objetivo do programa.
Emocionalmente eu estive no palco várias vezes, cantando da forma como, enquanto criança, me apresentava nos palcos do Cinema São Luiz e na Rádio PotÍ, sob as batutas de Genar Wanderley e Luiz Cordeiro, no Teatro Carlos Gomes, nos programas da SAE e em outros de lugares distantes e não menos sagrados para mim.
Fiz as minhas comparações com os meninos do meu tempo, como Edmilson Avelino, Odúlio Botelho, José Filho, Elino Julião, Agnaldo e Selma Rayol, Paulo Molin e poucos outros artistas mirins daquele tempo.
Vejo que as coisas estão mudando para melhor, lá e cá, cá e lá, ressaltando a qualidade dos programas locais “Rota e “Digaí”, apresentados aos sábados, cujo grau de excelência está se aproximando neste primeiro ano de exibição.
Novos tempos, belos dias!