sábado, 1 de agosto de 2015

O URUBU E COLIBRI
                    Públio José – jornalista(publiojose@gmail.com)



                            Conta a fábula que o colibri morria de inveja do urubu. Acostumado a voar em baixas altitudes, via o urubu ganhar o espaço em longo bater de asas, desafiar grandes distâncias, planar sereno sobre montes, montanhas, conviver na companhia de brancas nuvens. “Como é majestoso o vôo do urubu”, pensava, diante da insignificância do contexto em que vivia. Parado, ficava a imaginar a beleza dos cenários, a diversidade geográfica, a imensidão dos espaços observados do alto. Olhava para si e se via pequeno, frágil, impotente pela diminuta estrutura corporal que carregava. “Como alcançar grandes altitudes, conhecer novos horizontes, almejar ter uma visão larga do mundo sendo tão pequeno?”, se indagava. Perguntas, perguntas e mais perguntas. E quase nenhuma resposta para apascentar a sua angústia interior. De fato, de concreto mesmo, só a tristeza pela distância que o separava do urubu.
                        Acalentava um grande desejo de, um dia, conhecer de perto tão fascinante personagem. “Ah, pensava, quantas histórias bonitas o urubu terá para me contar, quantas pessoas interessantes ele deverá ter conhecido como fruto de suas exuberantes expedições aéreas”. Enquanto cuidava da casa, do seu exasperante dia-a-dia, o colibri remoía uma vontade enorme de travar conhecimento com o urubu, de vê-lo de perto diante dos olhos. Mexe daqui, indaga dali, tenta dacolá, terminou conseguindo marcar uma audiência com o importante viajor dos altos ares. O urubu recebeu-o entediado. “O que quererá comigo ave tão insignificante? Porventura pensa que posso ficar aqui perdendo tempo com as bobagens que, com certeza, me trará? Esse povo miúdo abusa da nossa educação, da nossa boa vontade. Afinal, receber colibri para tratar de quê? Colibri, bahhhh!”
                        Indiferente ao clima abusado que iria encontrar, o colibri antegozava a grande conquista. E se preparava para o dia do grande encontro. Que durou poucos minutos. Após manifestar a sua admiração por tão grande deferência, o colibri não deu nem tempo ao urubu de raciocinar. Sapecou-lhe um convite para almoçar em sua casa. Sem ter outra resposta em mente, o urubu aceitou. Agendaram o futuro compromisso para dali a quinze dias. O urubu bateu suas grandes asas e se foi. O colibri ficou embasbacado. Deu-se umas beliscadas para ter certeza de que não estivera sonhando e voltou para casa – saltitante. Passada a euforia inicial, uma coisa lhe chamou a atenção: o mau cheiro que exalava do urubu. “Seria dele próprio ou fruto de uma coincidência? Ah, certamente algum animal morto por perto fizera aquela descortesia”. Pediria desculpas ao visitante no dia do almoço – conformou-se.
                        O preparo da refeição lhe deixou afogueado. Pesquisou as mais finas iguarias, os repastos mais saborosos. Com rigor planejou sua agenda para que nada atrapalhasse tão esperado momento. Mas malditas das malditas desgraças!!!! Ao acordar naquele dia encontrou o corpo de um burro morto, putrefato, em frente à sua casa. O fedor era insuportável, nauseabundo. Tentou de todas as maneiras resolver a questão. Chamou o serviço municipal de limpeza, ensaiou um mutirão com outros habitantes do bairro. Não houve jeito. A hora se aproximava e o cadáver do burro permanecia lá, inamovível, impregnando a região com um odor terrível. O urubu chegou e – interessante – nem reclamou do forte mau cheiro, enquanto o colibri se desculpava e se esmerava nos salamaleques. Para piorar a situação, nada agradava ao ilustre convidado. O urubu rejeitava as iguarias e os manjares postos à sua frente.
                        Aflito, o colibri pediu licença ao urubu e internou-se na cozinha para tentar um novo prato. Perdeu tempo na nova empreitada. Quando deu por si imperava na casa um grande silêncio. “Onde estará o visitante?”, afligiu-se mais ainda. Procura, procura e nada. “Vergonha, vexame! Com certeza ele foi embora”. O colibri não se perdoava a afronta feita ao urubu – e lastimava a amizade perdida. Desalentado, deu uma chegadinha no terraço da casa. Qual não foi sua surpresa ao flagrar o urubu inclinado sobre o burro morto, refestelando-se com a carniça fedorenta, engolindo, com sofreguidão, nacos e mais nacos do corpo do finado animal. Estupefato – e impotente – o colibri a tudo assistia. Terminada a refeição o urubu bateu suas longas asas e alçou vôo. Do colibri nem se despediu. Como herança deixou apenas uma forte fedentina no ar. E foi curtir a podre refeição na imensidão azul celeste.  

sexta-feira, 31 de julho de 2015

quinta-feira, 30 de julho de 2015


SOPHIA    a  ANCIÃ
Jansen leiros







Quase sempre a natureza tem mecanismos de preservação da fauna. É o que se costuma ver nas florestas ou nas reservas florestais.

Visitando um desses ambientes bucólicos, um amigo meu, Octávio Augusto, me chamou a atenção para uma coruja que se encontrava tranquilamente pousada no tronco de uma fruteira, próximo a seu ninho. Calma, tranquila, observadora, como se quisesse demonstrar como conseguia dominar seu “habitat”

Parei para admirá-la e percebi que ela não se assustara com nossa presença. Ao contrário, parecia  estar nos observando com certa curiosidade, tendo o absoluto domínio de sua hegemonia.


Curioso é que ela parecia querer demonstrar que desejava ser vista e que não tinha receio algum de nossa presença.

Nosso grupo, composto de Plathus, Octávio Augusto, Flávia e Eu, estávamos em sintonia com o ambiente natural e, paulatinamente fomos nos aproximando da simpática Coruja.

Vejam, disse Otávio Augusto, essa ave é linda! Trata-se de uma Coruja da variedade sabiá!   E tem olhos azuis!.  Que bela!  Sabem?  Me deu vontade de escrever uma crônica sobre ela.

Flávia, curiosíssima, tomou de um caderno de anotações e disse: - Vamos lá!  Comece a verbalizar sua crônica.

“Naquela manhã, Plathus. Flávia, Hermógenes, Antônius e Petros subiam a montanha por etapas. E, ao longo do caminho,  foram fazendo suas anotações, quanto à fauna, a flora e o universo de insetos, que pareciam povoar aquele sítio.

Deixavam sementes, frutos silvestres, faziam fotos e tudo o que pudesse parecer importante como registro de uma excursão daquela natureza. Flavia que demonstrava ser a mais interessada pelas aves, ia deixando ao longo do caminho que percorriam, algumas sementes ou pedaços de frutas silvestres e Plathus, curiosamente, se preocupava com os insetos, os quais ia colocando em frascos de ensaio, objetivando seus estudos específicos.

Continuaram a subir! De repente, o grupo chegou a uma clareira. Na verdade, aquele ambiente já havia sido visitado antes por outros excursionistas e Plathus convidou o grupo para fazerem o primeiro lanche da caminhada.

O interessante é que, em algumas circunstâncias ocorriam coisas inusitadas e, os componentes das equipes que das excursões participavam sempre encontravam um meio de relatar as ocorrências estranhas, encontrando, quase sempre, uma forma de as relatar, por mais estranhas que pudessem parecer.

Vejamos uma dessas situações!

Mal começara a distribuir o lanche, ouviu-se um bater de asas do lado oposto à direção, onde estávamos sentados. 

Flávia abrira a cesta de mantimentos e quase assustou-se com a abrupta chegada de Fênix – tratava-se de um condor, nosso conhecido de outras excursões  que, inclusive, tinha a faculdade de emitir sons que pareciam a articulação de palavras verbalizadas em português. Plathus, que estava observando a plantação de carvalhos, voltou-se e cumprimentou o amigo: Fhênix! Da próxima vez, não nos cause suspenses! Seja mais cavalheiro! Minhas desculpas! Pareceu dizer o condor com seu grasnar perecido com a voz humana. E olhou para Flávia, como que sorrisse.  Flávia, refeita do susto, esboçou uma risada! Plathus, então, verbalizou: Este ser das alturas não se habituou com as regras da superfície. Mesmo assim, ratificou suas escusas com um movimento de cabeça.
Otávio Augusto, continuava reflexivo, olhando o nobre príncipe das alturas. Plathus, então, questionou: E então, meu amigo, a que a que resultados chegou com suas  reflexões?
- Estou maravilhado com sua tese, amigo, o enunciado dela é perfeito! Ela vai ser aceita com louvores! Seu conteúdo é inquestionável! Racionalíssimo! É como se pudéssemos ver a DEUS! E, como ELE não é individualizável não tem como se mostrar na acepção semântica. Não entendi nada, disse Flávia! Nem eu, disse Plathus!
Em sendo assim, continuou Otávio Augusto, continuemos analisando sua tese noutra oportunidade.  Seu conteúdo é muito complexo!
Passemos a observar o elemento de nossa curiosidade, que passaremos a chamar de SOPHIA. Nosso mais recente achado.
Parece-nos  uma ave madura! Por sua tranquilidade e postura, sugere tratar-se de um ser vivendo sua ancianidade! Sua calma  nos demonstra segurança, domínio de si mesma, enquanto dona de seu habitat. Não há resquícios de outras aves nas proximidades de seu ninho. É possível, então, que seja uma ave anciã!
Vamos fotografá-la, batizá-la e comemorar este achado. Parabéns à nossa equipe.

Jansen Leiros*