COPA DO MUNDO 2014 - DIA 12 DE JULHO
sábado, 12 de julho de 2014
Assunto: Lucidez
“O
general Golbery do Couto e Silva dizia que dentro de cada vitória há
uma derrota. E que dentro de cada derrota há outra derrota. O dito do
mago da ditadura não era para ser levado a sério, apesar de ter o seu
sal de verdade. Tomar de sete a um é chato. Mas não é uma tragédia.
Outras derrotas virão, quem sabe até maiores. É do jogo.
O
futebol é o mais internacional dos esportes, centenas de milhões de
pessoas no mundo todo torcem, sofrem e discutem interminavelmente
partidas e campeonatos. Ele pertence ao domínio do entretenimento,
existe para divertir, no seu âmago está o prazer. Na Copa do Mundo, boa
parte da espécie humana acompanha os jogos, dando origem a uma narrativa
global que envolve bilhões de espectadores. Há uma tensão planetária
que não redunda em violência. É uma beleza.
Tudo
isso em nada altera a realidade material da vida e o rumo da história. O
juiz apita o final do jogo, as luzes se apagam e em poucos dias tudo
volta ao que era dantes na arena de Abrantes. Salvo para os diretamente
envolvidos, os jogadores. Pagos a peso de ouro, eles são profissionais
no topo da carreira, astros adulados em centenas de países. Na Copa,
pelo que se percebeu, a maioria deles se comportou a contento.
Trabalharam com diligência e seriedade, deram o melhor de si. Com
emoção, também — vibrando na vitória e sofrendo na derrota.
Talvez
porque se preste mais atenção nela, a seleção destoou um pouco. Havia
uma estranha infantilização do time. Adotou-se o termo “família” para
designá-lo, e nela os jogadores faziam o papel de filhos. Adultos
experientes, versados em contratos milionários, com casa, família e
trabalho no exterior, entravam em campo numa ordem unida de quadra de
escola, com a mão no ombro do amiguinho da frente. O técnico era chamado
de “professor” e se comportava como tal. Cantavam o hino nacional com o
civismo de meninos. Usavam bonés virados para o lado como se tivessem
14 anos.
O
misticismo também os apartava da maioria dos jogadores de outros
países. Fazia-se o sinal da cruz para entrar e sair do campo.
Beijavam-se medalhinhas no pescoço. Prostrado de joelhos e com os olhos
fechados, quem fazia gol apontava para o céu e agradecia a graça
recebida. Promoviam-se rezas coletivas. Repetiu-se várias vezes que era
preciso ter fé. Thiago Silva juntou crença e criancice e referiu-se a
“papai do céu” numa entrevista. Quando Neymar teve de se afastar do
torneio, passou-se a falar com insistência em milagre.
Nada
disso é novo, exceto os excessos. No Brasil, o fervor futebolístico tem
ânimo religioso. Já na Copa de 1970, Jairzinho marcou um gol na final
contra a Itália, se ajoelhou e fez o sinal da cruz. Salvo engano, foi o
único lance religioso do time nacional. Os tempos eram outros e a reação
ao gesto foi diferente da adesão de agora. Os tricampeões responderam
depois da partida a perguntas de personalidades variadas. Na enquete,
publicada no Brasil pela revista “Manchete”, Pasolini perguntou a
Jairzinho se não achava que o seu gesto poderia ser “apropriado pelos
reacionários”.
A
definição de um processo é determinada pelo seu desenlace. Se a seleção
fosse hexacampeã, sua infantilização seria considerada um lance de
gênio, a estratégia definitiva da autoajuda. Ficaria provado que a fé
move montanhas e marca gols. Talvez até papai do céu desse a volta
olímpica no Maracanã.
Mas
não houve milagre. A Alemanha jogou melhor e a seleção desmoronou. Os
jogadores se comportaram em campo como vinham fazendo — como crianças,
parte delas mimadas. Ainda bem que cirurgiões ou pilotos de avião não
agem como eles nas adversidades.
A
seleção não representa o Brasil. Se o Congresso e os políticos, que são
eleitos, não o representam, por que uma equipe de jogadores poderia
fazê-lo? O raciocínio é absoluto e vale quando invertido: também nas
grandes vitórias o time brasileiro não encarnava, nem virá a encarnar, a
nação. Essa história de que a seleção é a pátria de chuteiras é balela,
uma metáfora mal-ajambrada.
A
derrota de quarta-feira — a hecatombe, a catástrofe, o vexame, a
vergonha, o massacre, qualquer que seja a designação estentórea que se
lhe dê — é uma humilhação apenas para os que nela estavam implicados.
Sendo o futebol o que é, não parece razoável esperar que ela produza
grandes modificações na organização do esporte. Alguns nomes serão
trocados e, como eles mesmos dizem, bola pra frente.
Para
os outros, para nós, restarão as palavras. O espantoso jogo contra a
Alemanha será analisado, interpretado, discutido e dissecado como um
cadáver. Ao contrário do piripaque de Ronaldo na final da Copa de 1998,
não haverá o que revelar do episódio. A queda se deu à vista de todos.
Mas é com palavras que se fazem os mitos.”
Anônimo, porém lúcido.
___________________
Enviado pelo Amigo Roberto (Bob) Furtado
sexta-feira, 11 de julho de 2014
MENDICÂNCIA SOCIAL E CULTURAL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor
Não podia ser mais lamentável, depois do desânimo pela acachapante derrota do Brasil para
Alemanha = A Casa do Bem vai fechar as suas portas.
Li no JH o desabafo de Flávio Rezende: "Nós não temos carência de fazer o bem. Temos carência financeira. Estou desistindo porque já me sinto fragilizado".
Esse jovem jornalista, há muitos anos, deu-se ao trabalho meritório de ajudar a sua comunidade carente de Mãe Luíza e vinha mantendo esse seu ministério social às custas da ajuda da população, fazendo promoções, convocando intelectuais, desportistas e outras pessoas abnegadas para conseguir manter as diversas atividades desenvolvidas pela Casa do Bem. Fui um dos mais modestos colaboradores, mas não me omiti aos apelos do Amigo Flávio, dentro das minhas possibilidades.
Contudo, esse gesto está a merecer uma meditação de todos - até quando vamos aceitar que a atividade social, como igualmente a de natureza cultural, continuem à mercê da mendicância!
Tenho sofrido algo semelhante na minha atividade junto ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, onde vivemos, também, de verdadeira mendicância, formalizando apelos, pedindo ajudas constantes aos associados e às pessoas de boa vontade, pois esta nossa centenária Instituição pertence ao povo e à história do Rio Grande do Norte, como maior fonte documental dos últimos três séculos.
No Instituto, além da falta de recursos, contamos com a inveja de algumas pessoas frustradas na vida, que veiculam notícias mentirosas e tendenciosas somente para diminuir os abnegados dirigentes, que ali trabalham sem remuneração e, muitas vezes, tirando de suas economias pessoais para não deixar perecer tão rico e importante acervo, sob o comando dedicado do Presidente Valério Alfredo Mesquita.
Recentemente, uma colunista informou que "conhecido pesquisador" alertara o Ministério Público para fiscalizar os mais de 1 milhão de reais recebidos pelo Instituto em 2013. E penso eu, que qualidade de pesquisador é essa, a merecer credibilidade de uma jornalista, quando em verdade a única ajuda financeira pública recebida no ano passado pelo IHGRN, foi de R$ 5.000,00, da Prefeitura de Natal, a qual já foi feita a prestação de contas.
Este ano, após desesperados apelos aos Parlamentares do Estado, conseguimos a liberação de R$ 200.000,00 do Governo do Estado, através da Fundação José Augusto, com o que estamos restaurando o prédio, comprando mobiliário e preparando o levantamento do acervo, unicamente para melhor servir aos pesquisadores e estudantes, observando o devido processo legal.
Todavia, não possuímos receita ordinária suficiente para o custeio da manutenção básica, temos que batalhar muito, registrando, por inteira justiça, a ajuda mais permanente das entidades Fecomércio e outras que compõem o complexo da Federação da Indústria.
É preciso uma conscientização para a importância de se dar maior atenção a esses organismos que primam pela melhoria da qualidade de vida do povo, evitando a delinquência e pela cultura histórica do nosso Estado, sem o que perderemos a identidade.
Há momentos de desânimo, somente superada pela união dos nossos poucos colaboradores e pela admiração das pessoas que se valem do nosso acervo para realizar suas pesquisas e estudos e que nos presenteiam com exemplares de suas obras, dando continuidade à difusão das coisas importantes do nosso Rio Grande do Norte.
Com muito sacrifício e com um amor ainda maior, estaremos em agosto, possivelmente, reabrindo a Casa da Memória para desenvolvermos uma programação marcante neste final de ano e dando posse a novos sócios, verdadeiras sementes para a continuidade do nosso desiderato.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Do alpendre de Cotovelo
Augusto Coelho Leal, engenheiro civil
A vista é muito
bonita, dele vejo a pequena baía, desde a falésia da Barreira do Inferno, até o
inicio do Condomínio Porto Brasil.
A orquestra da natureza, com a
sinfonia das ondas do mar e harmonia dos ventos nas palhas dos coqueiros, me
traz certa paz e me leva ao entendimento das coisas belas e tristes do nosso
viver.
Na linha
do horizonte observo certas nuvens negras carregadas como quem avisa que vão
cair pesadas chuvas. Um pouco adiante o céu esta claro, poucas nuvens e um sol
brilhante, talvez querendo me mostrar que na nossa vida temos momentos de
tristezas e alegria. Eu pensava em pessoas queridas, que ali já se sentaram
várias vezes para visitar minha família ou papear e tomar umas e outras,
alegrar aquele meu pedacinho de chão, mas que só estarão ali presentes em
nossas lembranças.
Maurício Coelho
Maia, meu primo, meu irmão de fé, foi o último a partir. Tenho certeza absoluta
que hoje tirando a esposa, filhos, netos e genros, as duas pessoas mais ligadas
a ele, sem dúvida eu estava incluso.
Era
apaixonado por Isolda, fazia tudo por ela. Muitas vezes era motivo para umas
boas doses de uísque, pois eu dizia para ele que na juventude minha esposa era
uma das moças mais bonita de Caicó. Ele se arruma na cadeira, dava uma tragada
no cigarro, dava uma risada, olhava para mim e dizia. – Guguinha Você não
conheceu Isolda e por aí ia defendendo a sua tese que eu forçava com réplicas e
tréplicas para que o litro de uísque fosse todo consumido.
Maurício foi por vários
anos diretor da Sumov, depois Semov e agora Semopi. Engenheiro competente
conhecia Natal na palma da mão. Fui seu colega na administração Vauban Bezerra
de Faria, e vi de perto a sua capacidade de trabalho. Honesto de nascença e
criação.
O projeto do
prolongamento da Avenida Prudente de Morais começou na nossa administração. Eu
ele e Clovis Veloso Freire - que era nosso superintendente- éramos grandes
amigos, tanto na vida familiar como na vida profissional. Certo dia, um dos
três, não recordo qual, teve a idéia de ver o preço dos imóveis na área que ia
ser prolongada para comprarmos, depois fazer a revenda com lucro, já que
sabíamos que a área ia ser super valorizada.
Pois bem, fomos
até o local. Chegando lá começamos a fazer o nosso inventário. Eram pessoas
pobres. Depois de certo tempo, Maurício nos chama em um canto da rua e nos
pergunta.
- Será que
estamos agindo certo? Tirando dinheiro dessas pobres pessoas?
Olhamos um para o
outro, juntamos as mãos e foi dito.
- Vamos embora,
sabemos que outros vão fazer o que íamos fazer, mas sairemos daqui com nossas
consciência tranquilas. Não compramos nada.
Maurício era um
homem bom, e assim terá com certeza lugar entre os justos no Reino do Céu.
João Faustino
Ferreira Neto, meu grande amigo. Partiu muito rápido. Meu vizinho de praia, nós
nem sabíamos que estava doente, pois no sábado antes de sua morte, estava na
praia jogando futebol. No domingo logo cedo batemos um animado papo na padaria
do Pium. Uma terça ou quarta feira, soubemos da morte de João, e abismados
paramos nosso carro na Via Costeira, olhamos um para o outro (eu e minha
esposa) e ficamos sem palavras por certo tempo. Tristeza, mas... São os
desígnios Deus.
João era um bom
homem, sem dúvida nenhuma. Bom esposo, bom pai de família, bom amigo. Mas o
destino nos prega umas peças que não sabemos explicar.
João de todos
os meus amigos foi o mais injustiçado, mas como bom católico empregou bem como
filosofia de vida, os escritos da Bíblia; “Não se deixem vencer pelo mal,
mas vençam o mal com o bem.” Acho que Deus talvez o tenha levado tão
repentinamente para livrar-lhe de mais sofrimentos.
Tentaram lhe
humilhar de maneira covarde e mesquinha, mas ele suportou tudo isso com
grandeza e deu uma lição de humildade e honradez a todos que lhe conheciam, a
todos que tentaram lhe desonrar, a toda maldade humana. Que a sua lição em vida
sirva de exemplo aqueles que ocupam cargos públicos para viverem debaixo dos
holofotes da vida.
No seu velório,
tive o depoimento de Geraldo Melo, seu adversário político, mas sempre seu
amigo, falando e contando da sua lealdade, da sua dignidade. – Nunca
fomos inimigos, sempre fomos amigos.
Às vezes penso
que meu alpendre com passar do tempo fica mais triste. Mas Deus com sua
sabedoria me enche de netos, dos amigos das minhas filhas, de outros bons
amigos, aí vejo que a velhice não é tão ruim assim. Por enquanto ele está vivo
e é lá que converso com Deus.
N O T A S E X I S T E N C I A I S
POR: GILENO GUANABARA, do IHGRN
Tenho
recebido manifestações de leitores acerca das matérias que público nas
quartas-feiras no JH. Certo dia, uma delas revelou-se grata com a informação de
que D. Pedro II fora favorável à abolição da escravatura, no Brasil. Os fatos
da nossa historiografia são intencionalmente mal difundidos, com prejuízo da
memória nacional.
Com
frequência encontramos em nossa História fatos e personagens que em nada são diferentes
na História da Humanidade. Guardadas as proporções de tempo e de latitude, o
mundo é uma aldeia, cujos habitantes interagem em torno de si e à distância,
desenvoltos, às vezes com traumas, com aventuras e negócios. Se para uns a
História não se repete, para outros a repetição é uma tragédia, só passível de
ser remediada pela lógica da cultura acumulada. Acredito que as pessoas têm a clarividência
instintiva para se rebelarem contra fórmulas arcaicas, repetidas e já superadas
algures e alhures. Enquanto isso, a vida continua.
A ciência econômica
do século XVIII, pela intensificação dos estudos inovadores da economia, revelou
um modus novo, segundo o qual a realidade
se antepõe a práxis do meramente penso,
logo existo. Assim, a ideia em si se submeteria à determinação prévia e
natural das necessidades sentidas e satisfeitas através do trabalho,
decorrência da carência que é motivadora e a razão de ser da sobrevivência da
espécie humana. Tal dicotomia especulativa é também pragmática e não se esgota automaticamente,
nem é excludente entre si.
À determinada
verdade um dos postulados se sobrepõe ao outro, cabendo à intervenção investigativa
definir qual deles é temporal ou permanente. Brotam as teorias, ora contra, ora
a favor de um dos conteúdos divergentes, independente das certezas ou
incertezas que se revelem, ou que se esgotam no estágio vestibular.
Ás vezes, semelhantemente
a duas linhas paralelas vistas a partir de um mesmo ponto, casos ocorrem em que
os conteúdos diferenciados, embora tenham a aparência divergente, quando postos
ao rigor do exame, convergem e se revelam, ao final, como se uma unidade. Assim,
não havendo propriamente uma exclusão, observa-se com facilidade a confusão de conceitos
que eram só divergentes na aparência, pois se tratam de versões assemelhadas,
servindo apenas de pretexto para confundir a realidade.
Ocorrem mudanças significativas de
definições ou de comportamentos, em face de novas especulações, de novas
influências, ou de novos utensílios tecnológicos. O progresso que daí se verifica
contribui para a revolução dos conceitos. É fatível que surjam experimentos
novos, fórmulas experimentais diferenciadas, capazes de se insurgirem contra as
verdades até então estabelecidas. Nada se descarta. Dá-se um acúmulo permanente
de conhecimento, cujo acervo se torna um fato cultural a mais que se armazena e
é disponibilizado em DNA futuro.
Sem muito
esforço, é possível admitir-se uma estreita ligação, mesmo que cartesiana, das
conclusões a que chegou Adams Smith, acerca do valor e da acumulação
capitalista, até chegar-se às formulações de Carl Marx; ou dos postulados filosóficos
individualistas de Emmanuel Kant até as formulações sociológicas de Engels. A partir
do século XVIII as concepções do pensamento aristotélico foram alvo de profundas
reviravoltas, com repercussão na vida, na arte, na política e sua representatividade.
A era dos governos despóticos, teatralizados no centralismo aristocrático, deu
lugar aos embates parlamentares próprios da múltipla representação republicano/burguesa,
no que se consolidou o ente nacional, consequência da Revolução Francesa.
Portanto ciência, política, religião e economia andam juntas, a par de
contradições inerentes.
Eis a Era das Revoluções - 1789/1848, no dizer
de Eric Hobsbawn, um período da História, de conflitos contundentes entre o modus econômico novo a se insurgir
contra o velho modelo, com reflexo na ciência, na religião, na literatura, nas
artes e na gerência da representação política. Mudanças que se deram não pelo
triunfo da liberdade e igualdade em si, uma utopia, mas pela emergência do que
se chamou “middle class”, a classe intermediária, e, por isso, a contradição, espremida
entre, de um lado, a monarquia, a nobreza e a igreja; e, de outro, os
camponeses, os artífices, os burgueses e os pequenos/burgueses. O idealismo, como
fórmula que promoveu a ação produtiva, submeteu-se à produção para satisfazer o
mercado, a “indústria capitalista”, a sociedade burguesa e liberal, mais
precisamente com sede na Grã-Bretanha e França, Estados de onde o modus se consolidou e se disseminou pelo
mundo.
Portanto, a
sociedade burguesa individualista destacou o aparecimento de forças sociais
novas, sua estratificação, complexidade e necessidades. O nascimento do parque
fabril de Lancashire, os princípios da revolução burguesa, as primeiras
ferrovias e a publicação do Manifesto Comunista, foram o sintoma das verdadeiras
contradições que o mundo pariu e assistiu a partir daquele momento. O mundo
continuou a crescer.
Afinal, agora
torço para que os recursos infinitos da internet, a mídia
e os eventos a que se propõem, não se destinem a alienar, como ocorreu a partir
das fábricas ou das igrejas. Temo que, no vazio da ópera, a intolerância desnature
a dialética da realidade: o trabalho, a solidariedade, a propriedade, a ética e
as instituições políticas não sejam descaracterizados. O altar musicalizado dos
hinos e letras grandiloquentes, em louvor de conquistas de menor significado, difundidos
a cabo e a cores, podem contaminar o bom senso. A gravidade estará na difusão de
contradições menores, que subutiliza o pensamento e subestima a inteligência.
Adams Smith e Carl Marx sonharam diferentemente. Pode até o comitê dos negócios e o poder político reprimirem
para não se falar em o ópio do povo.
Mas a verdade nos espera na esquina mais próxima.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
Copa do Mundo 2014
Futebol, Carnaval
e Cinzas
Por
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor
Foi uma tarde sombria, uma derrota
drástica para um pentacampeão do mundo. Mas amanhã será outro dia.
Futebol é um esporte que nos fornece
alegrias ilusórias, pois depende de muitos fatores: preparo físico,
conhecimento dos fundamentos, amor à camisa e desempenho dos adversários.
Tive o privilégio de acompanhar o
Brasil na Copa do Mundo, desde 1950, onde os craques foram Barbosa, Augusto e
Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir, Jair e Chico e que
perderam na última etapa para o Uruguai.
No jogo de hoje contra a Alemanha
foi demais, mas não culpo ninguém em particular. Tivemos torcida, conforto,
apoio, promoção, carnaval, mas o adversário foi mais valoroso, sério, eficiente
e soube respeitar a nossa seleção jogando cuidadosamente e com integral
responsabilidade.
A derrota não é o fim, mas pode ser
um começo para todos – governantes, dirigentes e desportistas. O futebol de
hoje é mercenário, diminuindo aquele amor que existia nos atletas, que até
levavam as camisas para lavar em casa diante da precariedade financeira dos
clubes. Hoje, já no intervalo, a roupa do atleta é descartada, pois por trás
disso existem os patrocinadores que ganham muito dinheiro, como igualmente os
jogadores, que dividem a sua tarefa com propaganda lucrativa.
Quando se tornam craques são
cobiçados pelos times tradicionais do País, como mercadoria de grande valor e
vão logo para o estrangeiro, criando um espaço entre o seu interesse e o do seu
País de origem.
Enfim, são as coisas dos tempos
atuais, de difícil compreensão e recuperação.
Vamos aprender uma lição com esse
resultado – primeiro mostrando aos nossos governantes que existem prioridades
para a qualidade de vida do povo e o excessivo gasto com estádios ou arenas bem
que poderia ser dividido com inúmeros outros equipamentos urbanos de primeira
necessidade. Terminou a Copa e o legado foi muito menor do que deveria ser. A
FIFA não perdeu nada, e certas categorias do comércio e da indústria, também.
Mas o povo continua mal servido de hospitais, escolas, mobilidade urbana,
segurança.
Em segundo lugar, os times precisam
olhar com mais carinho para o elemento humano das suas equipes, dando-lhe condições
materiais de vida e capacidade profissional, deixando em segundo plano o lucro
com a negociação dos jogadores.
Terceiro, uma boa parcela da imprensa
carece de mais profissionalismo e deixar de tanto besteirol, escalando time,
comentando bobagens e enchendo o saco.
A Alemanha desenvolveu um trabalho
com sua equipe por anos seguidos, enquanto o Brasil só faz convocação às
vésperas.
Não sejamos hipócritas, desde os
primeiros jogos já sentíamos a má qualidade da seleção, mas o “oba-oba” era
mais forte. Agora o resultado foi Futebol, Carnaval e Cinzas.
Aprendemos muito, principalmente com
o belo comportamento do torcedor do Brasil, que em verdade foi só quem acertou.
Vamos dar a volta por cima, encarar com mais seriedade esse negócio de futebol
e já podemos começar sábado, com uma demonstração de mais amor ao Brasil.
Tenho esperança de assistir, ainda, a próxima Copa e continuo firme na
torcida: SOU BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO E MUITO AMOR.
Mossoró e Tibau em Versos
Por Thiago Gonzaga
A literatura do Rio Grande do Norte esteve carente durante anos de antologias poéticas. Nossa história literária comprova que poucos livros foram publicados com esta característica, destacando-se as antologias de Ezequiel e Rômulo Wanderley, todavia elas se sobressaem mais pela condição de registro histórico do que pela qualidade literária. No final dos anos noventa vieram as antologias de Assis Brasil e Constância Lima Duarte e Diva Cunha dando um panorama do que se tinha publicado no Estado até então, com rigor mais critico. Veio também uma antologia temática – Poesia Viva de Natal – organizada por Manoel Onofre Jr.
No inicio do século XXI junto com um número expressivo de editoras e uma nova geração de escritores no Estado surgiu a necessidade de novos trabalhos, neste aspecto, pois além da importância histórico-literária, antologias são fontes de referências e consultas por pesquisadores e estudantes. Eis que, em momento oportuno, os escritores David de Medeiros Leite e José Edílson Segundo publicam uma antologia, que, embora enfoque apenas poetas que versaram sobre Mossoró e Tibau , tem todos os méritos pela importância histórica e significativa qualidade literária.
Na obra, os organizadores se preocuparam não apenas em reunir poetas das duas cidades homenageadas, mas uma boa parcela de escritores do Estado que versaram sobre elas. Versos variados de poetas que cantaram as cidades, desde a época da abolição em Mossoró como Paulo de Albuquerque, passando pelos celebres Othoniel Menezes, Martins de Vasconcelos, e outros importantes nomes da nossa literatura como Homero Homem, Deifilo Gurgel, Rizolete Fernandes e Paulo de Tarso Correia de Melo, dentre outros que adotaram e foram adotados pela cidade de Mossoró como Clauder Arcanjo e Aécio Cândido. Destacamos também a poesia de caráter mais popular como a de Zé Saldanha, Crispiniano Neto e Antônio Francisco. A nova geração também está presente em bons momentos com Josselene Marques, José de Paiva Rebouças e Leonam Cunha , todos os três com poemas bastante contemporâneos.
É evidente que algum leitor mais exigente ache que entre muitos poemas bons, alguns outros não mereciam figurar numa antologia. Mas precisamos compreender pontos importantes, como , por exemplo, o fato de se contextualizar o poema na época em que foi escrito, além da necessidade do próprio registro e homenagem ao poeta incluso. Ademais, há poemas com estilo mais artístico e outros mais populares; e por bem é sempre bom lembrar a famosa frase de Manuel Bandeira segundo a qual, querendo ou não, uma antologia é feita por escolhas pessoais. Para compreender trabalhos como este precisamos , além dos devidos cuidados citados, estarmos também sensíveis à causa.
Esta antologia poética constitui mais uma amostra de que estamos também com o pensamento e a preocupação na revalorização da nossa história literária. É uma iniciativa louvável e que merece ser imitada por outras cidades e outros Estados.
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