Do alpendre de Cotovelo
Augusto Coelho Leal, engenheiro civil
A vista é muito
bonita, dele vejo a pequena baía, desde a falésia da Barreira do Inferno, até o
inicio do Condomínio Porto Brasil.
A orquestra da natureza, com a
sinfonia das ondas do mar e harmonia dos ventos nas palhas dos coqueiros, me
traz certa paz e me leva ao entendimento das coisas belas e tristes do nosso
viver.
Na linha
do horizonte observo certas nuvens negras carregadas como quem avisa que vão
cair pesadas chuvas. Um pouco adiante o céu esta claro, poucas nuvens e um sol
brilhante, talvez querendo me mostrar que na nossa vida temos momentos de
tristezas e alegria. Eu pensava em pessoas queridas, que ali já se sentaram
várias vezes para visitar minha família ou papear e tomar umas e outras,
alegrar aquele meu pedacinho de chão, mas que só estarão ali presentes em
nossas lembranças.
Maurício Coelho
Maia, meu primo, meu irmão de fé, foi o último a partir. Tenho certeza absoluta
que hoje tirando a esposa, filhos, netos e genros, as duas pessoas mais ligadas
a ele, sem dúvida eu estava incluso.
Era
apaixonado por Isolda, fazia tudo por ela. Muitas vezes era motivo para umas
boas doses de uísque, pois eu dizia para ele que na juventude minha esposa era
uma das moças mais bonita de Caicó. Ele se arruma na cadeira, dava uma tragada
no cigarro, dava uma risada, olhava para mim e dizia. – Guguinha Você não
conheceu Isolda e por aí ia defendendo a sua tese que eu forçava com réplicas e
tréplicas para que o litro de uísque fosse todo consumido.
Maurício foi por vários
anos diretor da Sumov, depois Semov e agora Semopi. Engenheiro competente
conhecia Natal na palma da mão. Fui seu colega na administração Vauban Bezerra
de Faria, e vi de perto a sua capacidade de trabalho. Honesto de nascença e
criação.
O projeto do
prolongamento da Avenida Prudente de Morais começou na nossa administração. Eu
ele e Clovis Veloso Freire - que era nosso superintendente- éramos grandes
amigos, tanto na vida familiar como na vida profissional. Certo dia, um dos
três, não recordo qual, teve a idéia de ver o preço dos imóveis na área que ia
ser prolongada para comprarmos, depois fazer a revenda com lucro, já que
sabíamos que a área ia ser super valorizada.
Pois bem, fomos
até o local. Chegando lá começamos a fazer o nosso inventário. Eram pessoas
pobres. Depois de certo tempo, Maurício nos chama em um canto da rua e nos
pergunta.
- Será que
estamos agindo certo? Tirando dinheiro dessas pobres pessoas?
Olhamos um para o
outro, juntamos as mãos e foi dito.
- Vamos embora,
sabemos que outros vão fazer o que íamos fazer, mas sairemos daqui com nossas
consciência tranquilas. Não compramos nada.
Maurício era um
homem bom, e assim terá com certeza lugar entre os justos no Reino do Céu.
João Faustino
Ferreira Neto, meu grande amigo. Partiu muito rápido. Meu vizinho de praia, nós
nem sabíamos que estava doente, pois no sábado antes de sua morte, estava na
praia jogando futebol. No domingo logo cedo batemos um animado papo na padaria
do Pium. Uma terça ou quarta feira, soubemos da morte de João, e abismados
paramos nosso carro na Via Costeira, olhamos um para o outro (eu e minha
esposa) e ficamos sem palavras por certo tempo. Tristeza, mas... São os
desígnios Deus.
João era um bom
homem, sem dúvida nenhuma. Bom esposo, bom pai de família, bom amigo. Mas o
destino nos prega umas peças que não sabemos explicar.
João de todos
os meus amigos foi o mais injustiçado, mas como bom católico empregou bem como
filosofia de vida, os escritos da Bíblia; “Não se deixem vencer pelo mal,
mas vençam o mal com o bem.” Acho que Deus talvez o tenha levado tão
repentinamente para livrar-lhe de mais sofrimentos.
Tentaram lhe
humilhar de maneira covarde e mesquinha, mas ele suportou tudo isso com
grandeza e deu uma lição de humildade e honradez a todos que lhe conheciam, a
todos que tentaram lhe desonrar, a toda maldade humana. Que a sua lição em vida
sirva de exemplo aqueles que ocupam cargos públicos para viverem debaixo dos
holofotes da vida.
No seu velório,
tive o depoimento de Geraldo Melo, seu adversário político, mas sempre seu
amigo, falando e contando da sua lealdade, da sua dignidade. – Nunca
fomos inimigos, sempre fomos amigos.
Às vezes penso
que meu alpendre com passar do tempo fica mais triste. Mas Deus com sua
sabedoria me enche de netos, dos amigos das minhas filhas, de outros bons
amigos, aí vejo que a velhice não é tão ruim assim. Por enquanto ele está vivo
e é lá que converso com Deus.
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