quinta-feira, 10 de julho de 2014



 
Do alpendre de Cotovelo  
 Augusto Coelho Leal, engenheiro civil

                A vista é muito bonita, dele vejo a pequena baía, desde a falésia da Barreira do Inferno, até o inicio do Condomínio Porto Brasil.
A orquestra da natureza, com a sinfonia das ondas do mar e harmonia dos ventos nas palhas dos coqueiros, me traz certa paz e me leva ao entendimento das coisas belas e tristes do nosso viver.
           Na linha do horizonte observo certas nuvens negras carregadas como quem avisa que vão cair pesadas chuvas. Um pouco adiante o céu esta claro, poucas nuvens e um sol brilhante, talvez querendo me mostrar que na nossa vida temos momentos de tristezas e alegria. Eu pensava em pessoas queridas, que ali já se sentaram várias vezes para visitar minha família ou papear e tomar umas e outras, alegrar aquele meu pedacinho de chão, mas que só estarão ali presentes em nossas lembranças.
              Maurício Coelho Maia, meu primo, meu irmão de fé, foi o último a partir. Tenho certeza absoluta que hoje tirando a esposa, filhos, netos e genros, as duas pessoas mais ligadas a ele, sem dúvida eu estava incluso.
         Era apaixonado por Isolda, fazia tudo por ela. Muitas vezes era motivo para umas boas doses de uísque, pois eu dizia para ele que na juventude minha esposa era uma das moças mais bonita de Caicó. Ele se arruma na cadeira, dava uma tragada no cigarro, dava uma risada, olhava para mim e dizia. – Guguinha Você não conheceu Isolda e por aí ia defendendo a sua tese que eu forçava com réplicas e tréplicas para que o litro de uísque fosse todo consumido.
                Maurício foi por vários anos diretor da Sumov, depois Semov e agora Semopi. Engenheiro competente conhecia Natal na palma da mão. Fui seu colega na administração Vauban Bezerra de Faria, e vi de perto a sua capacidade de trabalho. Honesto de nascença e criação.
O projeto do prolongamento da Avenida Prudente de Morais começou na nossa administração. Eu ele e Clovis Veloso Freire - que era nosso superintendente- éramos grandes amigos, tanto na vida familiar como na vida profissional. Certo dia, um dos três, não recordo qual, teve a idéia de ver o preço dos imóveis na área que ia ser prolongada para comprarmos, depois fazer a revenda com lucro, já que sabíamos que a área ia ser super valorizada.
                Pois bem, fomos até o local. Chegando lá começamos a fazer o nosso inventário. Eram pessoas pobres. Depois de certo tempo, Maurício nos chama em um canto da rua e nos pergunta.
            - Será que estamos agindo certo? Tirando dinheiro dessas pobres pessoas?
                Olhamos um para o outro, juntamos as mãos e foi dito.
                - Vamos embora, sabemos que outros vão fazer o que íamos fazer, mas sairemos daqui com nossas consciência tranquilas. Não compramos nada.
              Maurício era um homem bom, e assim terá com certeza lugar entre os justos no Reino do Céu.
             João Faustino Ferreira Neto, meu grande amigo. Partiu muito rápido. Meu vizinho de praia, nós nem sabíamos que estava doente, pois no sábado antes de sua morte, estava na praia jogando futebol. No domingo logo cedo batemos um animado papo na padaria do Pium. Uma terça ou quarta feira, soubemos da morte de João, e abismados paramos nosso carro na Via Costeira, olhamos um para o outro (eu e minha esposa) e ficamos sem palavras por certo tempo. Tristeza, mas... São os desígnios Deus.
                João era um bom homem, sem dúvida nenhuma. Bom esposo, bom pai de família, bom amigo. Mas o destino nos prega umas peças que não sabemos explicar.
      João de todos os meus amigos foi o mais injustiçado, mas como bom católico empregou bem como filosofia de vida, os escritos da Bíblia; “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.” Acho que Deus talvez o tenha levado tão repentinamente para livrar-lhe de mais sofrimentos.
            Tentaram lhe humilhar de maneira covarde e mesquinha, mas ele suportou tudo isso com grandeza e deu uma lição de humildade e honradez a todos que lhe conheciam, a todos que tentaram lhe desonrar, a toda maldade humana. Que a sua lição em vida sirva de exemplo aqueles que ocupam cargos públicos para viverem debaixo dos holofotes da vida.
                No seu velório, tive o depoimento de Geraldo Melo, seu adversário político, mas sempre seu amigo, falando e contando da sua lealdade, da sua dignidade. – Nunca fomos inimigos, sempre fomos amigos.
                Às vezes penso que meu alpendre com passar do tempo fica mais triste. Mas Deus com sua sabedoria me enche de netos, dos amigos das minhas filhas, de outros bons amigos, aí vejo que a velhice não é tão ruim assim. Por enquanto ele está vivo e é lá que converso com Deus.
                

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