sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

 

 

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-12

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

A PROMOVEC é show.



                Na imensidão de um mar em plena calmaria, nas brancas areias de uma saudável enseada, se deslumbrava bela e suave como a cotovia, uma praia repleta de natureza ainda a ser desbravada.

         Até os idos do final da Segunda Grande Guerra, nem mesmo possuía um nome próprio seu, sendo conhecida como praia de Pium, de pescadores e moradores pobres, mas uma gente pacata e obreira ansiosa para conhecer o seu eu.

         Entre moradores e eventuais veranistas foi crescendo a sua ocupação por pessoas que procuravam o silêncio, a natureza ou até mesmo a solidão.

         Não durou muito esse estado primitivista, pois cresceu aceleradamente com a presença do veranista para gozar do que de bom oferece a natureza duradoura, sem, contudo, perder a vida solidária dos seus caiçaras, formando uma comunidade mais forte e promissora.

         Com a modernidade, a partir dos anos sessenta, alguns empreendedores arriscaram investir naquele lugar, a saber os Senhores Kalil Aby-Farah e Ernani Cabral, Edgardo Praxedes de Medeiros, João Porfírio da Trindade, depois vieram outros, como o empresário José Garcia e Maria /Zélia que construíram o Recanto do Garcia e a família Lamartine, que ainda hoje permanece em nosso meio e foi criado um loteamento do Banco do Rio Grande do Norte e daí em diante o crescimento foi inevitável.

Nos anos oitenta, mais precisamente em 1983, os veranistas José Augusto Bezerra de Medeiros Sobrinho e Genário Fonseca, em reuniões na garagem de Neuri Abrantes, levantaram a possibilidade de se criar uma associação. Ela nasceu em 1987, precisamente no dia 11 de fevereiro, tendo completado ontem, 34 anos, com o nome de Associação dos Proprietários, Moradores  e Veranistas da Praia de Cotovelo - PROMOVEC.

Foram seus Presidentes:

Gestão                                        Nomes

Fev./87 a fev./89           - José Augusto Bezerra de Medeiros Sobrinho

Fev./89 a fev./90           - Maria do Socorro Fernandes Ferreira

 Jul. a nov./89                 - Antonio Neury Abrantes ( vice, em exercício, de 

                                               26/07 a 24/11/89 ).

Fev./90 a jan./92           - José Narcélio Marques Souza

Jan./92 a jan.93             - Eudivar Correia de Farias

                                           

Jan./93 a fev./94            - Ramzi Giries Elali

Fev./94 a fev./95            - José Marlúcio Diógenes Paiva

Fev./95 a fev./96            - Carlos Alberto Salustino Dutra

Fev./96 a jan./97            - Maria do Socorro Fernandes Ferreira

Fev./97 a fev./98            -  Augusto Coelho Leal

Fev./2000 a fev./2001   - Paulo Roberto Salustino Dutra

 

Fev./2006 a fev./2007   - Aldanira Costa Barros

Fev./2007 a fev./2008   - Maria das Neves Pereira Pinto

Nov./2015 a dez./2016 -  Carlos Alberto Salustino Dutra.

1º jan.2017 a dez./ 2020-  Esam Giries Elali

1º jan./2021 a Dez./2022- Octávio Lamartine de Azevedo

 

34 ANOS DE HISTÓRIA

Principais lutas, conquistas e realizações:

·         Medidas para coibir erosão do solo na beira mar, Denúncias sistemáticas contra a retirada de areia da praia, Medidas preventivas de contaminação da água, Plantação de coqueiros na orla marítima, Intervenções junto ao poder público pela coleta adequada do lixo, Contribuição para identificação das ruas, Luta para funcionamento sistemático do correio, Instalação da telefonia, Conquista na justiça de não pagamento de ligações interurbanas para a região da Grande Natal, Calçamento das vias públicas, Construção de redutor de velocidade nas vias públicas, Significativas melhorias na estrada de Cotovelo/Natal, Luta efetiva pelo saneamento básico (não concluído), Promoção de atividades esportivas, Promoção de festas culturais, Debate pró-prevenção de favelas na comunidade, Luta pela instalação de subdelegacia de polícia na Vila de Pium, Luta junto às empresas para funcionamento do transporte coletivo, Proibição de tráfego de veículos na orla marítima, Instalação de box  da polícia militar na beira mar (desativado), Instalação de posto do Banco do Brasil, Contestação contra a construção do presídio de Alcaçuz, Ampliação da educação na rede pública de ensino: 7ª e 8ª séries do 1º grau no Colégio da Vila de Pium, Aquisição de terreno e construção da sede da PROMOVEC, Criação da logomarca da PROMOVEC , Regularização jurídica e fiscal da Associação, Mutirões de limpeza na orla marítima e ruas adjacentes, Apoio ao projeto “Atitude”-Judô, Aquisição de acervo para  futura biblioteca (doações), Edição mensal de boletim informativo (desde Janeiro/2016), Instalação de manilhas coletoras de lixo na orla marítima, Instalação de tubos de marcação de distância na beira mar(250m), Incremento da receita da PROMOVEC: inclusão dos condomínios-2017, Mais Segurança:  instalação de câmeras nas ruas, com monitoramento, e ronda motorizada nas vias públicas, Aquisição de um drone Publicação de livro:’ PROMOVEC- Uma bela  história’. Autor: Carlos Roberto de Miranda Gomes (Apoio da PROMOVEC), Instalação de Rádio Web PROMOVEC, em parceria com a Rádio Poste Litorânea. Contrato cancelado em 2019, Gestões sistemáticas, junto ao poder público municipal, pró melhoria da limpeza urbana, incluindo coleta seletiva do lixo. Promoção da 1ª. Gincana Ambiental do Litoral de Parnamirim-RN, envolvendo alunos das Escolas de Pium e Cotovelo (apoio do poder municipal), Reconhecimento da PROMOVEC como de utilidade pública pelo Poder Estadual e Poder Municipal de Parnamirim-RN, Melhorias na estrutura da sede da PROMOVEC, Melhoria significativa na iluminação pública da Praia de Cotovelo, Instalação da Rádio Web PROMOVEC, em parceria com a Rádio Poste Litorânea, Solenidade de homenagens aos ex-presidentes da PROMOVEC e a outras personalidades de destaque, em comemoração aos 30 anos de fundação da PROMOVEC, Construção e inauguração da ESCADARIA DA CULTURA POTIGUAR (dia 25 de julho de 2019), Intervenção junto aos órgãos competentes contra a construção do presídio de Alcaçuz, Apoio à Ferira Multicultural do Litoral, em 10 de agosto de 2019, na sede da PROMOVEC, Reforma do Estatuto da PROMOVEC em outubro de 2020, Ações sistemáticas para impedimento de circulação de veículos na orla marítima, visando evitar acidentes.

OBS: Estas informações não estão organizadas numa ordem cronológica dos acontecimentos.

         Ontem foi realizada uma solenidade singela, com a presença da Diretoria, representantes da Prefeitura Municipal de Parnamirim e associados da PROMOVEC.

 

 

 

 

 

 

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

 


Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-11

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Um livro revelador

       Após uma jornada demorada – são 724 páginas, mas prazerosa, terminei de ler o livro do amigo e confrade ROBERTO DA SILVA sobre a saga de um extraordinário piloto chamado JEAN MERMOZ.

         O conteúdo do trabalho foi para mim uma sucessão de revelações de uma época gloriosa da aviação e seus pilotos, criaturas dedicadas ao engenho das máquinas de voar e, particularmente, com um objetivo inalterável – conduzir a qualquer custo o correio aéreo, como que conduz uma arca sagrada.

         Em relação a JEAN MERMOZ, foi indiscutivelmente o maior deles, pela coragem, competência, desapego com as coisas materiais, com a fama e uma disposição inarredável de valorizar a classe e enaltecer a aviação da França.

         O livro faz narrativas históricas e heroicas de maior relevo, como o capítulo da  primeira viagem transatlântica – Senegal a Natal, com partida no dia 12 de maio de 1930, pelas 10h,48m, onde uma multidão se aglomerava em Saint Louis na margem do rio Senegal, tendo como acompanhantes Dabry e Gimié no avião Laté 28.3 Comte de La Vaulx. Eram 7h,20m do dia 13 de maio de 1930, e o rio Potengi, em Natal, recebia os bravos azes recordistas.

         Em toda a sequência do livro, são descortinados episódios emocionantes, que demonstram o respeito e a dignidade pela criatura humana, sem medir esforços e o risco de perderem a suas vidas, como o resgate dos restos mortais de companheiros sinistrados numa cadeia de montanhas, onde não existiam campos de pouso, mas apenas alguma clareira encontrada ao acaso e de lá, após o recolhimentos dos despojos, partirem de forma incrível, representando uma coragem e um desprendimento inavaliáveis, próprio dos heróis.

         Posso avaliar que o confrade Roberto da Silva, na sua simplicidade – até exagerada, escreveu uma obra definitiva sobre JEAN MERMOZ, que deverá encantar os leitores contemporâneos e emocionar aqueles que estão longe daquela época de ouro de homens e máquinas de voar, quase todas experimentais.

         Fiquei gratificado em poder aumentar os meus conhecimentos sobre o assunto, principalmente pela evidência de Natal nesse contexto histórico.

         O detalhamento da vida do MERMOZ, suas andanças, seus amigos, seus encontros, deixam transparecer que, apesar da grande amizade com EXUPÈRY, não indica qualquer possibilidade da passagem deste por Natal. Contudo, bem que este mistério poderia ter continuidade em nova pesquisa do nosso escritor, cuja palavra merece integral respeito.

         Parabéns ROBERTO DA SILVA, você escreveu uma obra que imortaliza qualquer escritor.

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 

CATARSE VERNACULAR

Valério Mesquita*


Completei setenta e oito anos e não pretendo jogar fora os meus livros por causa da despropositada reforma ortográfica. Ela me parece altamente predadora, levando ao prejuízo milhares de bibliotecas públicas e privadas dos países de língua portuguesa. Novos acentos, tremas e hífens nos são impostos, sem necessidade. Para unificar o idioma português? Que tipo de parceria ou dependência cultural liga o Brasil aos países de língua lusitana, à exceção apenas de Portugal, onde tal reforma foi também amplamente criticada. Hoje, os poetas, contistas, ensaístas, historiadores, economistas, professores, juristas, escritores, enfim, os que escreveram milhares de compêndios como se sentirão diante dela ante a obrigação de abandonar seus autores preferidos para consultas e releituras?

Sejam bem-vindos ao alfabeto e à escrita o K, o W e o Y. Era hipocrisia não inseri-los no contexto. Mas, o problema educacional dos povos de língua e linhagem camoniana não reside na ortografia. E sim na fome, no desemprego, na violência, na corrupção, nas diferenças sociais e raciais. As nações que falam o português lidam com o subdesenvolvimento econômico. Portugal, ainda se salva, porque integra a comunidade europeia. Contudo, dela ainda é o primo pobre. Quanto ao Brasil, de todas as carências que já ouvi falar, ao longo do tempo, nunca soube que o gargalo estava na ortografia. No vernáculo de palmo e meio dos muitos políticos pode até ser verdade. As academias brasileiras de letras, habitadas majoritariamente de sexagenários a octogenários, todos iniciarão, em breve, o lento e fatigante retorno às aulas para a competente reciclagem.

Será que o mesmo acontece nas ortografias do alemão, do francês, do inglês, do espanhol ou do italiano, só para ficar por aqui? Ou o que ocorre com os compatrícios são frutos das estações, das safras e entressafras (tem hífen?). Será que a língua portuguesa, tão antiga, ainda não atingiu a plenitude como ciência? A tal ponto que a gramática viva precisando de reparos, como se tudo aquilo escrito e publicado, anteriormente, esteja errado?

Por isso, entendo inócua e pífia, essa minirreforma ortográfica na escrita do já tão difícil idioma pátrio. Foi no governo de Luiz Inácio. O então presidente, que não escreve porra nenhuma, não estava nem aí! Jamais cometerá erros ortográficos. Os seus tropeços acontecem exclusivamente na oralidade. O melhor, é que o povo gosta. E também não vai dar a mínima para acento, trema e hífen. 

Acima do efeito purificador ou purgador do vernáculo, a minirreforma ortográfica parece mais uma trama bem urdida para faturamentos imediatos. A Última Flor do Lácio vai ficar inculta e feia...

(*) Escritor


 

 

S
A leitura mágica

Thomas Mann (1875-1955), que conheci por meio de “Carlota em Weimar” (1939), é um dos maiores escritores do século XX. Produziu romances, contos, ensaios e engajou-se na política, em especial contra os nazistas que emergiram em sua terra natal. É o maior romancista em língua alemã, superando, nesse gênero, até o enorme Goethe (1749-1832).
Nascido na cidade alemã de Lübeck (que conheci, há um bocado de anos, prestando-lhe a devida homenagem), em tradicional família de comerciantes, Thomas Mann era filho de uma brasileira, Júlia da Silva Bruhns (1851-1923). Ponto para nós! Seu pai faleceu jovem. A família foi viver em Munique. Seu irmão mais velho, Heinrich Mann (1871-1950), foi também escritor badalado. Alegadamente possuidor de desejos homossexuais, Thomas Mann, entretanto, casou com Katia Pringsheim (1883-1980). Tiveram seis filhos, todos eles intelectuais. Com Adolf Hitler (1889-1945) no poder, ele foi para o exílio. Primeiro Suíça, depois EUA, retornando à Suíça, onde faleceu e está sepultado. Thomas Mann foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1929 e com o Prêmio Goethe em 1949, entre muitas outras homenagens.
A extraordinária obra de Thomas Mann foi escrita ao longo de cinquenta anos. De “Os Buddenbrooks” (1901), passando por “Morte em Veneza” (1912) e “José e os seus Irmãos” (1933-1943), até “Doutor Fausto” (1947), entre outros títulos. São maravilhas que fazem a defesa do humanismo – não do antropocentrismo, que é coisa diversa –, contra um mundo atormentado pelo extremismo e totalitarismo, pelo preconceito estúpido, pela violência e opressão. Tão atual!
Mas considero “A montanha mágica”, de 1924, como a opus magnum de Thomas Mann, a que mais representa o desejo do autor de nos presentear, discutindo todas as tendências do pensamento, os conflitos morais, psicológicos, políticos e sociais pelos quais um dia passamos, com um “romance de formação” (“Bildungsroman”), no qual os alemães são mestres, desde “Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister” (1796) de Goethe.
Formatado logo após a 1ª Guerra Mundial, o romance é a representação de uma Europa enferma e dividida, espiritual e socialmente. Como consta da edição que possuo (Nova Fronteira, 1980), a ação se dá “na aldeia suíça de Davos-Platz, no sanatório Berghof. Aí se veem reunidos pela doença elementos de todas as raças e credos humanos. Aí se entrelaçam problemas, inquietações, sofrimentos, ilusões dos mais diversos matizes psicológicos. Aí, ainda que isolados do mundo da ‘planície’, os personagens, conscientemente ou não, padecem a influência dos acontecimentos de um continente dilacerado. Hans Castorp, o herói, chega a Berghof em visita a seu primo. Ao seguir o conselho médico de que nada perderia se passasse alguns dias cumprindo o mesmo regime de vida dali, descobre, quase por acaso, que também está doente. Inicia-se assim seu período de adaptação. (…). Entra em contato com diferentes personalidades, dedica-se ao exame das ideias de cada uma delas, ao mesmo tempo que se põe a aprofundar os grandes temas da Fé, da Morte, da Ciência, da Filosofia, do Amor e do Tempo”. Ao fim, o livro é a história de uma vida, de Hans Castorp ou de um qualquer de nós, à procura de um sentido.
A leitura de “A montanha mágica” teve para mim um componente especial. Li-a faz um tanto de anos. Coisa de abril de 1997, segundo anotado no meu exemplar. Acima do peso, resolvi passar uns dias em um spa de águas quentes, muito quentes, em Mossoró/RN. Levei o dito cujo para fazer algo que faço sempre que posso: ler um livro no local – ou em ambiente assemelhado – em que se passa sua estória. É uma imersão. É mais que maravilhoso. E quem não tem Davos vai de Mossoró mesmo. Devemos agradecer o que alcançamos.
Bom, embora as condições de Mossoró – em especial, o clima – não fossem as mesmas de Davos, coisas extraordinárias aconteceram nesse meu retiro. Elas – ou ela – amadureceram-me. Formaram-me, tal qual a Hans Castorp. De toda sorte, o que à época foi ardente, hoje está frio e não deve ser ressuscitado. Para o bem de todos. Mas que foi uma leitura mágica, isso foi.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL