sexta-feira, 21 de setembro de 2018


















PRESENÇA ACADÊMICA

Cadeira 2 Humberto Hermenegildo
Cadeira 5 Manoel Onofre Jr.
Cadeira 13 Eulália Barros
Cadeira 15 Lívio Oliveira
Cadeira 17 Ivan Maciel
Cadeira 24 Sônia Faustino 
Cadeira 26  Diogenes da  Cunha Lima
Cadeira 27 Vicente Serejo (palestrante) 
Cadeira 31 Leide Câmara
Cadeira 33 Carlos Gomes

Fotos Leide Câmara e Lívio Oliveira









O MATUTO COMBOIEIRO E O BISTURI DO DR. RAUL FERNANDES.

 Jair Eloi de Souza
 

Ásperos tempos, início das eras de quarenta, os rosários bentos por Padre Cícero ainda eram adereços sacros obrigatórios, atados ao pescoço do sertanejo para as rezas dos que professavam a fé católica. A medicina nos grotões do Seridó era exercida pelas rezadoras de ramo e nos limites do consumo de meizinhas ou chás caseiros. 

Um velho comboieiro é acometido de “doença da cabeça”. sinusite crônica, localizava-se na parte posterior do ouvido direito e não só na região paranasal. Exaurido o uso da flora medicinal sertaneja, como os chás de cabacinha, raiz de vassourinha de baixio e entrecasca de quixabeira da caatinga, tornaram-se insuportáveis as dores, o que reclamava um procedimento cirúrgico de médico especialista. 

Tomando informação nas terras do Caicó, soubera aquele, que no Hospital da Base de Parnamirim, havia um médico do ofício, de nome Raul Fernandes. Matuto comboieiro, acostumado às grandes travessias no coice da burrarada desde a adolescência, portanto estradeiro, “botou os bois n’água” e toma os caminhos de Natal. 

Viagem longa e sem recurso, não havia montaria. Perdera o pai no ano de mil novecentos e seis, e conhecia a crueza da vida desde tenra idade, o que lhe fez conhecedor das veredas do sertão, pois, vez por outra, partindo da Ribeira do Rio Piranhas, tomava os caminhos do Crato no Ceará a buscar farinha e rapadura ou do Brejo Paraibano no carrego de peixe escalado e salpreso, o que lhe dava uma idéia da viagem que se proponha, embora não tivesse uma similar da burra melada”, que Juvenal Lamartine sempre utilizava no percurso de Serra Negra a Natal nos idos tempos e de quem se lembrava e pedia informação quando exilado estava, nas cercanias de Paris. 
Assim tomou a empreitada, muringa de couro curtido, pequena provisão de rapadura e farinha seca, para as eventualidades. No primeiro percurso imaginava ser conhecedor, pois, tinha em mente pernoitar nos pontos de arranchação no Seridó nascente, passando pela Serra da Rajada, Boqueirão de Carnaúba dos Dantas e tomar rumo esquerdo em Picuí, para alcançar Melão na grota na Serra do Cuité. Logo em seguida pelo Trairy aportar nas terras agresteiras vizinhas ao litoral. 

O rojão era cadenciado, além da moléstia da cabeça, sofria de avançado reumatismo, saldo das idas ao Crato, além do mais, já era um homem de idade meã, pois, nascera duas primaveras antes do alvorecer do século vinte. Fato é... que aportou em Parnamirim, trazia no badaneco de couro, uma carta de apresentação do Velho Marinheiro Saldanha, de quem nas travessias das grandes secas, era seu tangerino-mor. 

Ao chegar àquela pequena cidade litorânea, tomou informação da existência desse médico, sempre precedendo de sua história e da necessidade de fazer a cirurgia. Até que certo dia dera com o Dr. Raul Fernandes e lhe entrega a missiva, que de logo é lida pelo operador, de quem ouvira fazer o possível para o atendimento, não podia faltar ao velho Marinheiro Saldanha, pois, tinha este, boas relações comerciais com seu pai Rodolfo Fernandes. 

Havia um pequeno problema, a unidade hospitalar não possuía estrutura para internamento a contento, o que lhe foi cientificado pelo referido médico, e não representou tal situação, obstáculo para o sertanejo lograr êxito no seu intento de ser cirurgiado. Na quinta do hospital, havia grandes árvores que lhe eram desconhecidas, mas com o olhar de experiente comboieiro, quando escolhia galhas de ganchos nas caatigueiras de era, para armar sua rede nos peadores no velho sertão, vislumbrou dois pés de pau-ferro taludos, e foi nesse lugar que fez seu descanso e a espera do atendimento hospitalar. 

A tenda rupestre estava montada, pequeno anteparo feito de lona surrada, que albergou durante toda a viagem sua velha tipóia de dormir. Seus teréns compreendiam uma quenga de coloração tosca, uma quicé de picotar o fumo de rolo, colher e uma tabaqueira, que o seu uso lhe servia para espirrar e expulsar as mazelas dos sinos nasais. Esse era o cênico da choça campônia do matuto Eloi de Souza, meu ancestral em segundo grau, bem alí nas biqueiras do hospital de parnamirim, em plena beligerância mundial. 
Exímio prosador das noites sertanejas, em seu estado vesperal da cirurgia aprazada, sempre levava quando raro entrava naquela velha casa de saúde, uma anedota jocosa aos enfermos, daí não demorara a construção de uma récua de admiradores, o que consolidara, quando finalmente é cirurgiado e lhes extirpam o abcesso ósseo, pois, ganha o direito de tecer paleio durante horas com os internados. 
O procedimento cirúrgico foi um sucesso, cura repentina, pois, embora portasse um dreno craniano, as dores desapareceram, era um baita refrigério para quem estava desenganado, naquele longínquo grotão nos confins do Seridó. Passaram-se sete meses, quando, um certo dia, já livre do dreno e fechada a cavidade, peita o Dr. Raul e diz-lhe está com saudade das terras do sertão, deixara a mulher Ana Vicência, filhos, os velhos compadres Quinca Salvino, os primos amansadores de podros, Ananias Gonçalves , Juvenal Barão e o gracejoso Ciço Gago, em fim os amigos sitiantes do Piranhas. 

O Médico não obstaculou sua saída do hospital, porém perguntou-lhe, e o dinheiro para a viagem já arrumou? Respondeu o seridoense: “recebi alguns adjutórios dos amigos que fiz nesta casa, dar para começar a empreitada”. Insistente perguntara ainda, qual o rumo da volta? No que respondeu o ansioso sertanejo: o rumo esta traçado, vou de trem até Angicos, depois tomo o azimute da ribanceira do Rio Piranhas, em chegando aí, tomo o norte contrário às águas descentes, até topar na minha terra, esse é meu intento. 
Muita ousadia para transpor os sertões do Cabují e a agresteza dos taboleiros de Angicos. Havia muita saudade acumulada, e a desinformação do paradeiro do velho matuto, já levava a família a acreditar na morte deste. Chegara a hora, a “alta” estava dada, os últimos instantes em Parnamirim foram permeados de agradecimentos ao Dr. Raul Fernandes, o autor do milagre da cura, e despedidas dos que ficavam. 

Manhã dezembrina de terça-feira, o saco estava arrumado, toma transporte até natal, uma velha sopa improvisada e aporta na estação da Ribeira. Coração partido, pela gratidão recebida e o banzo de está há tantos meses fora de casa. O sibilo em forma de eco chamativo é detonado, era a partida do velho trem, começa a travessia, não sem saber de que a chegada à última estação, era o início de longa e penosa caminhada em terras desconhecidas e de culturas diferentes, eis a grande interrogação. Como enfrentar as distâncias carrascais? Flora desconhecida, choradouros incertos, gente sofrida, quase à semelhança dos mais pobres do seu torrão o Seridó, até chegar a sua terra natal. 

A tarde já agonizava, quando chegara a Angicos. Em passos trôpegos, alma acabronhada, procura as últimas choças da periferia do lugarejo, e tira pequenas informações quando ao trajeto a percorrer entre Angicos e o Piranhas-assu, mais no objetivo imediato de encontrar alguém que lhe desse uma dormida, para no “quebrar da barra”, iniciar a travessia e romper a distância carrascal a fim de atingir o barranco do velho Piranhas. 

Imaginava aquele que ali havia água, a batata doce plantada no pós-chuvoso estava maturada. E sendo feito na arte de assar este tubérculo em bafo de areia quente, não encontraria obstáculo quanto a sua alimentação. E assim se fez, no segundo dia de viagem a pé, alcança as ingazeiras ribeirinhas daquele vale. As canafístulas d`água em meia deitada, balançavam-se indicando o azimute do vento do norte que soprava, enquanto isso os regatos do alvéolo ainda marejavam em direção ao oceano distante, entrecortados de poços rasos em cujo interior podia ver pequenos cardumes de curimatãs, piranhas beba e preta, corrós e piaus pardo e lavrado. 

Landuazeiro na pesca de traíras nos açudes do sertão se sentia impotente, pois, não conduzia qualquer instrumento de pesca, o que obstaculava-o uma pescaria eventual, e poder comer algo que fazia tempo não degustava, peixe assado também no bafo de areia quente, a exemplo do que fazia com a batata doce. A viagem ribeirinha embora longa, foi um refrigério, aqui, acolá dava com moradas de pequenos criadores, gente das bandas de São Rafael velha, que lhe ofertava refeição, após terem certeza de que não se tratava de gente remanescente do cangaço ou delinqüente comum em travessia por aquelas paragens. 

A viagem iniciava dia a dia, logo após o quebrar da barra, quando o anfitrião tirava o leite da primeira vaca, e lhe dava ainda quente colhido na ordenha manual. O sol escaldante permitia andar até onze horas da manhã, quando o velho mal do reumatismo lhe atacava de forma inclemente, era hora de arranchação ou em sombra de juazeiro ou quando, e era comum encontrava gente já com “ar” de sertanejo. Assim, se consumia todos os dias a peleja para chegar a sua terra. Cruzando o Município de Jucurutu, olhando a direita, podia ver as empenas da Serra de João do Vale, bate a velha lembrança de quando ainda moço, como tangerino ter freqüentado aquele rincão trazendo as retiradas de Marinheiro Saldanha para refrigério alimentar, nas grandes secas de quinze e dezenove. 

Assim, aportara em Jardim, sua terra, após sete meses e alguns dias, derrotando a caetana*, que lhe batera a porta algumas vezes. Salvo graças às mãos divinas de Dr. Raul Fernandes.

H O J E





terça-feira, 18 de setembro de 2018

H O J E

Academia Norte Riograndense de Letras <academianrl@gmail.com>





    
CONVITE  
Encontro com a Academia

           O Presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Diogenes da Cunha Lima, convida para o lançamento do livro “Memória Acadêmica” de autoria de Leide Câmara,
          pelo Selo  "Notáveis do RN" da Editora IFRN, conforme Convênio de Cooperação Técnica com a ANRL.
Na ocasião será distribuído para cada um dos senhores acadêmicos e entidades convidadas, um exemplar.
Venha prestigiar a nossa Academia

“Memória Acadêmica (Leide Câmara): Repositório de riqueza da vida da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, sintetizando a vitalidade acadêmica nos mais de oitenta anos de existência da Instituição”.
     
     Dia 18 de setembro (terça-feira), às 17 horas.
Rua Mipibu, 443 – Petrópolis.


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domingo, 16 de setembro de 2018


 CASA DE DRINK – Berilo de Castro

CASA DE DRINK –
Natal, em épocas passadas e bem vividas, guarda  histórias curiosas e animadas de Casas de Drinks. Local muito bem frequentado, sem brigas e sem ocorrências fatais.
Ambiente noturno de mais puro e gostoso divertimento, onde era coroado com belos espetáculos de striptease,  com a participação das mais belas e formosas bailarinas.
Um desses bons lugares foi a Casa de Drinks – Nira Drinks, localizada no bairro de Neópolis. Muito conhecida e super frequentada.
Recinto pequeno, aconchegante, pouca iluminação, com um salão central, rodeado de muitas mesas e cadeiras, com destaque para um pequeno palco sub iluminado e cortinas em grená. Um bom serviço de bar, garçons bem receptivos e,  o melhor, muitas garotas de belezas bem diversificadas.
Apesar do encolhido espaço interior, Nira Drinks se dava o luxo de possuir, no próprio ambiente, um miniapartamento para  os seus frequentadores mais apressados e mais acessos fornicarem.
O local, muito solicitado e estratégico, só tinha uma inconveniência:  era vizinho do bar e dividido  apenas por uma fina  parede de gesso.
Conta um velho amigo, frequentador assíduo, fã de carteirinha, cadeira cativa da alegre casa noturna, que em uma de suas muitas incursões, ao conquistar uma bela dançarina, convidou-a para fazer amor no reservado ninho de rolinhas.  Pediu a chave e se dirigiu para o local do embate romântico/amoroso. Começou  a organizar a operação, com todos os direitos a uma excitante e merecida preliminar. Logo chega o momento tão desejado de unir a fome com o desejo de comer.Tudo armado e bem armado. Entusiasmo total.
Na hora H, escuta o amigo um senhor grito e uma bruta pancada no balcão do bar: duas doses de Ron Montilla com bastante gelo e uma Coca-Cola. Em seguida: um filé com fritas e uma dose de uísque com pouco gelo; duas cervejas Bhrama, uma jarra de água de coco; um balde de gelo, uma dose dupla de Martini, rápido. As pancadas no balcão e as vozes estridentes de um bom tuíte ressoaram  bem dentro dos meus  tímpanos e no pequeno recinto amoroso, chegando a estremecer a cipoadeira, atingindo profundamente o corpo cavernoso do meu catano.  A ação inesperada causou uma mudança estranha e inibitória no meu comportamento emocional e excitatório. Comecei a suar frio e percebi um freio em ABS na arma maior e responsável pelo ato copulatória. O boneco murchou e voltou a sua real insignificância. Tudo foi por águas abaixo, apesar de várias tentativas em vão. O que realmente cresceu e aumentou foram, sim, os insistentes gritos e as pancadas dos garçons em meus ouvidos e na minha alma, tirando  o total desejo de executar a minha tão desejada noite de um belo e gostoso embate concúbito.
Infelizmente, nada aconteceu de bom naquela minha  noite de gala (nem saiu), disse o amigo, super frustrado e tristemente  encabrunhado.
Berilo de CastroMédico e Escritor –  berilodecastro@hotmail.com.br
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