sábado, 13 de abril de 2019


CONSIDERAÇÕES SOBRE O BEIJO
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor
Romeu e Julieta numa obra de Sir Frank Dicksee

        Acordei neste 13 de abril com a divulgação de ser o “dia do beijo”, o que chamou a minha atenção, pois acabara de beijar o retrato de THEREZINHA para matar a saudade de sua ausência e homenageá-la como expressão maior do meu amor, coisa que não o fiz com a frequência que deveria ter feito quando em minha companhia.
        Por conseguinte, desde logo aconselho: BEIJEM MAIS, para que não se acusem no futuro!
        Diante desse fato vieram-me à mente alguns questionamentos – o que significa o beijo e, em que pese ser um gesto simples, obriga a uma reflexão imensurável.
        O beijo é acolhimento, recepção, é carinho, amor, desejo sexual, cumprimento, despedida, devoção, reverência, sinal de respeito ou traição. Enfim, um gesto marcante para as relações entre os humanos.
        A história está prenha de fatos importantes onde o beijo protagonizou momentos marcantes entre Estados e pessoas/personalidades notáveis.
        Em sua definição vocabular, o beijo (do latim basium) é o toque dos lábios em outra pessoa ou objeto.              
        O conhecimento do beijo vem de época remota, dizem que remonta a 2500 a.C., nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia, onde as pessoas enviavam beijos às divindades ou nos guerreiros quando retornavam das suas pelejas.
        Em verdade representa um gesto indelével, que provoca emoções de toda natureza ou sentimentos que têm reflexo imediato no recôndito da alma.
        O tempo se encarregou de normatizar as formas, oportunidades, efeitos e vedações essências do beijo – cumprimento formal aos superiores (beija mão), entre os amigos e os amantes ou cumprimento obrigatório entre os mandatários do poder.
        O protocolo religioso, antes mesmo do cristianismo, já adotava o beijo como gesto ritual, ainda em voga no beijo do lava-pés, no anel das autoridades religiosas, nos livros de oração de variadas religiões, em vestes, nos santos e heróis religiosos.
        Uma das primeiras referências ao beijo podemos encontrar no segundo verso familiar do livro Cântico dos Cânticos, no Antigo Testamento, através do poema:
Beije-me ele com os beijos da sua boca:
Porque teu amor é melhor do que o vinho.
            No mundo animal existem registros interessantes, inclusive sobre a forma desse carinho, como "o raspar de bicos dos pássaros, o jogo de antenas de alguns insetos", o esfregar entre gatos, cães e ursos.
        Os estudiosos ainda não se definiram sobre a origem orgânica do beijo – é aprendido nos costumes ou é um instinto natural quando da comida feita pelas mães para seus filhotes. Entre os primatas o fato se repete em gestos como lambidas e carícias entre si, ou quando se entrelaçam nas pessoas.
        Em certos momentos, beijar foi motivação para muitos romances, filmes[1] e peças que encantaram os expectadores ou provocaram ódio, haja vista a traição de Judas. 
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Cinema
[1] 1927: O primeiro filme vencedor do Oscar de melhor filme, Wings (Asas), também foi o primeiro filme (de que se tem registro) a mostrar dois homens beijando-se. Trata-se de um beijo na face, entre dois grandes amigos, os personagens Jack Powell e David Armstrong, no momento em que esse último estava à morte, ferido em batalha aérea. O beijo foi apresentado de forma fraternal, absolutamente não-sexual e não-erótica.
1942: O filme Casablanca emocionou audiências do mundo inteiro com a cena do beijo de despedida que o personagem de Rick (Humphrey Bogart) dá em Ilsa (Ingrid Bergman).
1953: O filme From Here to Eternity (A Um Passo da  Eternidade) apresentou uma das cenas mais reconhecidas de beijo da história do cinema: a que ocorre entre as personagens de Burt Lancaster e Deborah Kerr enquanto estão deitados na areia da praia.1955: No filme de animação da Disney Lady and the Tramp (A Dama e o Vagabundo), enquanto os personagens-título comem um macarrão espaguete simultaneamente, de lados opostos, seus lábios se encontram no meio.
1967: O filme Guess Who's Coming to Dinner (Advinhe Quem Vem Para Jantar) causou furor por mostrar o relacionamento de um bem-sucedido médico afro-americano (Sidney Poitier) e uma garota branca da classe média alta (Katharine Houghton). Em uma das primeiras cenas do filme, os dois personagens beijam-se num táxi que pegam ao sairem do aeroporto.
1968: Rock Hudson e Julie Andrews se beijam em uma cena do filme Darling Lili.
1989 Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore, presta, na sequência final, uma homenagem ao beijo no cinema. O projetista Alfredo (Philippe Noiret) deixa de herança para seu amigo e auxiliar Salvatore (Jacques Perrin) um rolo de filme onde estão montadas todas as cenas de beijo (e algumas de nus) que haviam sido cortadas pelo padre de localidade, pois os cinemas da Itália, pertenciam, em sua maioria, à Igreja.
1992: A partir desta data são entregues anualmente os MTV Movie Awards. Dentre as categorias dos prêmios está a de melhor sequência de beijo, cujos primeiros premiados foram Anna Chlumsky e Macaulay Culkin pelo filme My Girl (Meu Primeiro Amor).
2002: Numa das principais cenas do filme Spider-Man (Homem Aranha), o personagem-título (Tobey Maguire) beija Mary Jane (Kirsten Dunst) de cabeça-para-baixo.
2005: O filme Brokeback Mountain causa furor em praticamente todos os lugares do mundo em que foi lançado. A cena em que Ennis (Heath Ledger) reencontra Jack (Jake Gyllenhaal) pela primeira vez em anos, e se beijam logo imediatamente, é uma das mais lembradas. Acabou por levar um MTV Movie Award de melhor sequência de beijo.
    
                 Literatura
No conto do príncipe encantado, a princesa dá um beijo ao sapo, transformando-se este em príncipe. Em Branca de Neve, o beijo do Príncipe a ressuscita do envenenamento. Em Dom Casmurro de Machado de Assis, o protagonista Bentinho começa seu romance com Capitu com um beijo enquanto ele penteava os cabelos da jovem.