quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


RELÍQUIAS DA HISTÓRIA DA MÚSICA (final)
Com o presente texto, encerro a série em que procurei contar um pouco da história da música no nordeste, reproduzindo o trabalho denominado "A fábrica de melodias", atribuído aos pesquisadores: Moacir Barbosa de Souza, Professor adjunto da UFRN, coordenador do curso de Comunicação Social. Pesquisa a história da mídia sonora, com ênfase na indústria fonográfica e a evolução tecnológica da radiodifusão. Blog:http://www.historiadoradio.myblog.com.br E-mail: moacirbs8@oi.com.br; moacirbs@click21.com.br e Luiz Maranhão Filho, Professor adjunto da UFPE e Faculdade Maurício de Nassau. Pesquisa a história do rádio pernambucano. Foi diretor da TV Universitária e Rádio Universitária. em que nos aponta os grandes nomes da música pernambucana, ainda através do selo “Mocambo”. O meu objetivo foi incentivar os leitores a acessarem na internet as pesquisas desses dois professores e as suas referências publicadas.
O fim da fábrica de melodias
Mesmo com a indústria consolidada e já sendo conhecida em todo o nordeste, atraindo valores desde o Ceará até a Bahia, o fim da gravadora Mocambo é atribuído, em primeiro lugar, à perda gradativa de espaço na cultura regional, a partir do aparecimento do rock’n’roll. Em segundo lugar, como golpe de misericórdia, aparece a tragédia que se abateu sobre a capital pernambucana em 1977: fortes chuvas fizeram com que o Rio Capibaribe, que banha a cidade, sofresse um transbordamento atingindo
afluentes e canais, provocando o caos em vários bairros e deixando quarteirões inteiros alagados e destruídos.

José Rozenblit se encontrava no eixo Rio-São Paulo, fechando contratos, quando recebeu a notícia da catástrofe. Embarcou no primeiro avião e assistiu, desolado, lá do alto, o cenário dantesco. Do desembarque no Aeroporto Guararapes, seguiu direto para a Estrada dos Remédios e não teve acesso à sua fábrica. A rua estava interditada pelo Corpo de Bombeiros e a Mocambo estava embaixo dágua. Os jornais do dia seguinte registraram a sua imagem aos prantos diante do ocorrido. Não teve para quem apelar.
Autoridades públicas não lhe deram respaldo: apenas promessas vãs. Foi o melancólico
fim de um sonho.
Referências:
BANDEIRA, Manuel. Os maracatus de Capiba. In: ___. Poesia e prosa. Rio de Janeiro:
J. Aguilar, 1958. v.2, p.274-276.
CÂMARA, Renato Phaelante da; BARRETO, Aldo Paes. Capiba: é frevo meu bem. Rio
de Janeiro: Funarte - Instituto Nacional de Música, 1986.
FERNANDES, Aníbal. Estudos pernambucanos. Recife: Editora Massangana/Fundação
Joaquim Nabuco, 1982.
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Por oportuno, quero dizer do grande prazer que tive em reviver momentos inesquecíveis dessa história, que em parte acompanhei, quando entre 1948 e 1954 participei da vida artística do nordeste, como artista da Rádio Poti de Natal, com passagem por Fortaleza, onde gravei um disco com a orquestra do maestro Mozart Brandão, na PRE-9 - Rádio Clube de Fortaleza, de cuja orquestra participava o consagrado compositor Evaldo Gouveia.
Foi exatamente em Fortaleza onde conheci o Sr. Jones, representante da Rosenblit e que me convidou a ir a Recife fazer uma temporada na Rádio Tamandaré e gravar na Mocambo, o que deixei de atender por exigências familiares (eu tinha 11 anos), sendo substituído pelo cantor Agnaldo Rayol, levado pelo meu então empresário Francisco Gomes de Sales. Certamente se eu tivesse cumprido esse contrato a minha história teria sido outra, pois eu já conhecia e cantara junto com outro jovem da minha geração chamado Paulo Molin, nome já consagrado no mundo artístico do nordeste e já tinha em meu repertório a música de Dosinho - "Ponta Negra" e ele era um representante da Mocambo em Natal. De qualquer forma veleu a pena relembrar os tempos de ouro da minha juventude.
A propósito, recomendo a leitura do "Dicionário da Música do Rio Grande do Norte",

da autoria da escritora Leide Câmara.


Obrigado pela atenção dos meus leitores e amigos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

RELÍQUIAS DA HISTÓRIA DA MÚSICA V
Ainda sobre o tema Carnaval, a história da música, como concebida no trabalho denominado "A fábrica de melodias", atribuído aos pesquisadores: Moacir Barbosa de Souza (2) e Luiz Maranhão Filho(3), nos aponta os grandes nomes da música pernambucana, ainda através do selo “Mocambo”.

Os dois gênios do carnaval de Pernambuco... e da Mocambo
Nelson Heráclito Alves Ferreira, o Nelson Ferreira – “Frevo não se ensina e nem
se aprende. Quem dança frevo é porque já nasceu para o frevo”.
Ele nasceu em Bonito, Pernambuco, a 9 de dezembro de 1902. Foi pianista
profissional aos 13 anos de idade, quando começou a tocar em cafés noturnos,
apresentando-se das 20 horas à meia-noite. Tocou na Pensão Chantecler, Pensão Mirim,
Pensão Boemi e Pensão de Júlia Peixe-boi. Apresentava-se interpretando valsinhas,
polcas e maxixes, mas seu pai achou o ambiente impróprio e proibiu-o de continuar se
apresentando em tais lugares. Trabalhou no Café Chile, na Praça da Independência, e
depois no Café Chileno, na Avenida Rio Branco, no Centro de Recife, e aos 15 anos já
tocava na orquestra do cine Royal, na rua Nova, em Recife, quando teve sua primeira
composição editada, a valsa Vitória, feita por encomenda para a Companhia de Seguros
Vitalícia Pernambucana.
Atuou ainda na sala de espera do Cinema Pathé, fazendo acompanhamento ao
piano para filmes mudos, com um salário de 150 mil-réis por mês. Em 1919, foi
convidado a integrar a Orquestra do Cine-Teatro Moderno, ganhando 7 mil-réis por dia.
Dirigida pelo maestro Suzinha, a orquestra era composta de piano, dois violinos, sete
clarinetas, violoncelo, contrabaixo, flauta, trompa, pistom e bateria. Pouco tempo
depois, o maestro Suzinha deixou a orquestra e Nelson passou a dirigí-la.
Prosseguiu os estudos musicais, tendo aulas com o pianista Manuel Augusto dos
Santos. Em 1920, fez sua primeira composição de sucesso, a valsa Milusinha. Em 1922,
viajou para a Europa quando tocou piano a bordo do navio Caxias, que fazia a rota Rio-Hamburgo, cujo pianista adoecera e Nelson Ferreira o substituiu. Em 1929, o Cine-
Teatro Moderno foi arrendado pelo empresário da indústria cinematográfica Luiz
Severiano Ribeiro, obrigando Nelson a se transferir para o Teatro Helvética, levando
consigo toda a orquestra. Quando o teatro fechou, Luiz Severiano convidou a orquestra
a ir para o Rio de Janeiro, oferta aceita apenas por Nelson e pelo baterista João Gama.
No Rio, trabalhou no Cine-Teatro Central, na Avenida Rio Branco, dirigindo uma
orquestra de variedades. Ficou cinco meses no Rio de Janeiro, voltando para inaugurar o Cine Parque em Recife, de Severiano Ribeiro.
A chegada do cinema sonoro a Recife em 1930 decretou o fim das orquestras
que acompanhavam os filmes mudos, entre elas a de Nelson Ferreira, que passou a
sobreviver dando aulas de piano. Em 1931, foi contratado por Oscar Moreira Pinto para
trabalhar na Rádio Clube de Pernambuco onde apresentou o Programa Guararapes, que
revelou, entre outros nomes importantes da música nordestina, o instrumentista
paraibano Sivuca.

Em 1933, foi vencedor do concurso carnavalesco promovido pelo Jornal do
Comércio, de Recife, com a marcha A virada. Em 1934, ganhou o cargo de diretor
artístico da Rádio Clube, onde regeu orquestra, tocou piano, foi produtor e locutor do programa A hora azul das senhorinhas. Todos os cantores que se apresentavam na
Rádio Clube eram acompanhados por ele, por ser o único pianista da emissora. Em
1936, tornou a vencer o concurso do Jornal do Comércio, com No passo, arrebatando
também o segundo lugar com Palhaço. Na Rádio Clube de Recife, viveu a era de ouro
do rádio pernambucano, tendo atuado ao lado de Fernando Lobo (pai do cantor e
compositor Edu Lobo) e do grande cronista Antônio Maria.
O início de sua carreira como compositor de frevos deu-se com Borboleta não é
ave. No carnaval carioca de 1957, o frevo Evocação nº 1, obteve o primeiro lugar,
vendendo cerca de 60 mil cópias. Nelson Ferreira ganharia por face do disco vendida
um cruzeiro e oitenta centavos, logo chegando à venda de cem mil discos. Outras
composições de grande aceitação por parte do público foram os frevos Isquenta muié,
Come e Dorme e o hino do Sport Clube de Recife Casá Casá. O sucesso de Evocação
nº 1 deu origem a uma série de sete LPs com músicas carnavalescas na interpretação de
Claudionor Germano.

Nelson Ferreira explicou o significado do “apois fum”, do seu sucesso Evocação (Filinto, Pedro Salgado/ Guilherme e Fenelon,/ Cadê teus blocos famosos? / Bloco das flores/ Andaluzas, Pirilampos,/ Apois fum/ Dos carnavais saudosos). A expressão significa pois sim. É que havia no Recife um mendigo muito popular que possuía uma fenda no lábio superior e quando, por um motivo ou outro tinha de pronunciar “pois sim” emitia um som parecido com “apois fum”. A pronúncia ganhou popularidade, passando ao vocabulário de rua da cidade, até que surgiu o bloco (11)Apois Fum. Em 1958, compôs em parceria com Osvaldo Santiago o Evocação nº 2. Nos anos seguintes e até 1964 comporia outros frevos da série Evocação, alcançando o número de sete. Em 1967, aposentou-se do rádio, quando criou a Orquestra de Frevos Nelson Ferreira. Compôs ainda o hino oficial da cidade do Recife, com letra de Manuel Arão. Recebeu as Medalhas do Mérito do Recife e de Pernambuco e teve concedido pela Câmara Municipal o título de Cidadão do Recife, entre outras homenagens.
Como diretor artístico da Mocambo, viveu sempre a solicitar empréstimos para a
reestruturação da fábrica. Tinha 300 músicas gravadas, mas não chegou a enriquecer
com os direitos autorais de sua produção. Cerca de duas mil pessoas acompanharam seu
enterro entoando seus frevos. Desde 1926 foi casado com Dona Aurora, que durante
toda sua vida lhe serviu de musa inspiradora. Nelson confessava sempre aos amigos
que os maiores orgulhos de sua vida era ser pernambucano e poder despertar para
Aurora. Na rua onde morou, onde hoje se encontra a Praça Nelson Ferreira, em sua
homenagem foi erigido um busto. Morreu no dia 21 de dezembro de 1976, no Hospital
Português do Recife, vitimado por um aneurisma; o corpo foi transportado para a
Câmara Municipal, onde foi velado. Gilberto Freyre escreveu no Diário de Pernambuco:
"O vazio que deixa é o que nos faz ver como era grande pela sua música, pelo seu
sorriso, pela sua fidalguia de pernambucano."

O veterano radialista pernambucano Aldemar Paiva escreveu em Monólogo para Nelson Ferreira: “[...] Nelson Ferreira,/figura soberana/que na paisagem luminosa e humana/criava a pauta musical, pernambucana,/singular e incomum/com o gostoso sabor do guaiamum/e a quentura infernal da ‘cana’!/José Lins do Rego/que tinha apego/ao Recife antigo.../À hora da extrema-unção/pediu ao seu mais íntimo amigo/que entoasse a sua ‘Evocação’!/E era quando o ‘Recife adormecia/e ficava a sonhar/ao som da triste melodia!’/Quando chega o Carnaval/quase todo mundo vê/que o Recife passa mal/com saudade de você!”
Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba

“Tomei parte no Movimento Armorial, lançado por Ariano Suassuna no início da década de 70, compondo uma peça em 3 movimentos, que se chama Sem Lei nem Rei, título do romance de Maximiano Campos, publicado pela Editora O Cruzeiro em 1968. Essa peça foi a primeira coisa que se fez, no gênero, a pedido do próprio criador do movimento.” (12)
Ele nasceu a 28 de outubro de 1904 em Surubim, Pernambuco, e faleceu a 31 de
dezembro de 1997 em Recife. Foi o 10º filho de uma família de 13 irmãos. Começou a
compor aos 10 anos de idade. Em 1912 fazia parte da Banda Lira da Borborema, que era
regida pelo pai, Severino Athanásio. Este criou com os filhos a banda de música Lira da Borborema, da cidade de Taperoá, na Paraíba. Seu pai dirigiu a Charanga Afonso
Campos, a famosa Bacurau, banda de música da oposição na cidade de Campina
Grande, na Paraíba. Capiba apresentava-se na banda e cantava músicas sacras nas festas da padroeira da cidade. Com 14 anos de idade, compôs a Suíte Nordestina para piano.
Aos 16 anos, trabalhou como pianista no Cine Fox, de Campina Grande, em
substituição à irmã Josefa, que estava de casamento marcado. Mesmo sem saber tocar
piano, aprendeu a tocar sete valsas em 11 dias e foi contratado, chegando depois a ser convidado a integrar a Jazz Campinense como pianista.
Gostava do futebol, tendo chegado a jogar de center forward, como eram
chamados os atacantes na época, no América, de Campina Grande. Atuou, ainda, no
Campinense Clube e no Recife. Mais tarde, foi artilheiro do Satélite, time dos
funcionários do Banco do Brasil. Em 1924, aos 20 anos de idade, foi mandado pelos
pais de volta para João Pessoa a fim de estudar no Liceu Paraibano, com instruções
paternas de não se envolver com futebol e música. Por essa época, assumiu cada vez
mais o apelido de família Capiba, que foi, segundo ele, herdado do avô materno, e que é sinônimo de jumento teimoso.
Em 1924, ao chegar a João Pessoa para estudar, recebeu a notícia do falecimento
da mãe em Recife, vítima de cirurgia mal sucedida. Na ocasião, compôs com o irmão
Antônio a valsa Lágrimas de mãe, que seria sua primeira música editada. Na capital da
Paraíba, assumiu o lugar do pianista do Cine Rio Branco, que havia falecido. No mesmo
período, ingressou como atacante no time do América de João Pessoa e fundou a Jazz
Independência, onde atuou até 1930, quando voltou para Pernambuco.
Ainda em João Pessoa, conheceu o mecenas Oliver von Shosten, homem rico e
educado na Inglaterra, que gostava de financiar orquestras para brincar o carnaval. A
partir da amizade entre os dois, foram surgindo bandas carnavalescas dirigidas por
Capiba e financiadas por von Shosten. Em 1930, sua composição Não quero mais foi
classificada em quarto lugar no concurso de músicas para o carnaval no Rio de Janeiro, patrocinado pela revista O Malho e a Casa de Discos Odeon. No concurso, Capiba e seu parceiro João dos Santos Coelho registraram-se com os pseudônimos de Pé-de-Pato e Joca da Beleza, respectivamente. A composição foi gravada por Francisco Alves, permanecendo a autoria com os pseudônimos, o que obrigou Capiba e o amigo a
apresentar inúmeros documentos para provar a autoria da música e receber o prêmio a
que faziam jus, uma vez que outra pessoa apresentara-se no Rio de Janeiro como autor
da música, tendo desaparecido após receber o prêmio.
Capiba formou diversas orquestras, entre elas, a Jazz Band Acadêmica, a mais
famosa, em 1931. No mesmo ano, passou em concurso para o Banco do Brasil, no qual
havia sido inscrito pelo irmão mais velho. Foi nomeado para trabalhar na cidade do
Recife, para onde foi acalentando o desejo de criar uma orquestra formada por
estudantes. Quando se aposentou do Banco, em 1961, após 31 anos de serviços, atribuiu
a sua disciplina diária ao período em que trabalhou na instituição.
Em 1932, organizou a primeira excursão da Jazz Band Acadêmica que atuou em
diversas cidades do Norte e Nordeste, tendo-se apresentado em Fortaleza, Natal e João
Pessoa, com grande sucesso. A excursão teve como finalidade angariar fundos para a
Casa do Estudante Pobre.
Em 1933, seu irmão mais velho e conselheiro, Tantão, morreu no dia em que
Capiba completaria 29 anos de idade. Sob o impacto da morte do irmão, inscreveu-se no
concurso do Diário de Pernambuco para o carnaval do ano seguinte com o frevo É de
amargar. A Jazz Band Acadêmica se encarregou de popularizar o frevo, que foi
escolhida por aclamação no certame, tornando-se um dos mais tocados na história dos
carnavais de Pernambuco. Foi gravado na RCA Victor pelo cantor Mário Reis, além de
tornar-se um dito popular.
Desentendendo-se com alguns dos integrantes da Jazz Band Acadêmica, deixou
a orquestra e envolveu-se com a organização do Bando Acadêmico do Recife, criado
nos moldes da Jazz Band Acadêmica. A nova orquestra estreou na Festa da Primavera
no Clube Náutico Capibaribe em 1935, quando teve sua composição Vou cair no frevo
gravada por Almirante. Em 1937, quase morreu afogado durante banho de mar na Praia
de Boa Viagem, ocasião na qual faleceu seu colega e estudante de Medicina Roberto
Hugo de Andrade. Após o incidente, viajou para o Rio de Janeiro em companhia de
Fernando Lobo, onde passou um mês em licença do banco para tratamento de saúde. No
mesmo ano, a Rádio Tupi apresentou um programa carnavalesco exclusivamente com
músicas pernambucanas, incluindo as composições de Capiba.
Musicou versos de diferentes poetas e escritores, como Joaquim Cardoso,
Ariano Suassuna, Manoel Bandeira, Jorge de Lima, Carlos Pena Filho, Guilherme de
Almeida, João Cabral de Mello Neto, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de
Andrade e Castro Alves. Em 1943, fez por encomenda a canção Maria Betânia, que
faria parte de uma peça baseada na obra Senhora de Engenho, do autor pernambucano
Mário Sette, a ser encenada por um grupo teatral no Sindicato dos Bancários do Recife.
Em 1944, ao passar por Recife, Nelson Gonçalves cantou-a no rádio. Um lojista da
capital pernambucana insistiu junto a RCA para que Nelson gravasse a canção,
comprometendo-se a comprar pelo menos 200 discos. O disco fez tanto sucesso, que
certa vez um marinheiro americano embriagado tocou-o dezenas de vezes ininterruptas,
na eletrola do bar Gambrinus, localizado na zona portuária do Recife. Irritados, os
freqüentadores do bar espancaram o marinheiro e quebraram a eletrola e o disco. A
composição, além do sucesso na voz de Nélson Gonçalves, teve mais de 10 gravações.
Em 1949, Capiba conheceu o maestro Guerra Peixe que fora pesquisar a
música do Nordeste e trabalhar na recém-inaugurada Rádio Jornal do Comércio. Teve
aulas de composição e harmonia com o maestro de quem se tornou amigo. No mesmo
ano, compôs uma suíte baseada em quadros do pintor pernambucano Lula Cardoso
Ayres para comemorar o centenário do Teatro Santa Isabel.
Em 1960, o Duo Guarujá gravou em forma de guarânia Serenata suburbana,
originalmente uma valsa. Como guarânia, a composição obteve grande sucesso, sendo
tocada em todo o país e no exterior, chegando a fazer parte do repertório de grupos e
conjuntos vocais no Chile, Paraguai e Peru. Na mesma época, casou-se com Zezita, de
apenas 20 anos de idade, 34 anos mais nova do que ele. Em 1962, a cantora Maysa
gravou aquele que seria um dos maiores sucessos do compositor, o samba canção A
mesma rosa amarela, feito em parceria com o poeta Carlos Pena Filho, e que conheceria
mais de 10 gravações, entre as quais as do Conjunto Farroupilha, Claudionor Germano,
Paulinho Nogueira e Jair Rodrigues. Em 1963, musicou o poema Soneto da fidelidade,
de Vinicius de Moraes.
Em 1967, participou do II Festival Internacional da Canção com o baião São os
do norte que vem, em parceria com Ascenso Ferreira e defendido por Claudionor
Germano, obtendo o quinto lugar. No mesmo ano, participou do III Festival da Música
Popular da TV Record com a Cantiga pra Jesuíno, defendida pela cantora De Kalafe.
No início dos anos de 1970, participou do Movimento Armorial criado no Recife por
Ariano Suassuna, de quem foi considerado o patrono. Em 1979, foi homenageado no
Festival da Música Popular Brasileira da Rede Globo, sendo presidente de um dos júris.
Faleceu dia 31 de dezembro de 1997, aos 93 anos, de infecção generalizada, no Hospital
Jayme da Fonte, em Recife. O governo do estado e a prefeitura local decretaram luto
oficial de três dias. Com mais de 200 músicas no currículo, Capiba afirmou que nunca
viveu da música, e sim na música.
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2 Professor adjunto da UFRN, coordenador do curso de Comunicação Social. Pesquisa a história da mídia sonora, com ênfase na indústria fonográfica e a evolução tecnológica da radiodifusão. Blog:http://www.historiadoradio.myblog.com.br E-mail: moacirbs8@oi.com.br; moacirbs@click21.com.br
3 Professor adjunto da UFPE e Faculdade Maurício de Nassau. Pesquisa a história do rádio pernambucano. Foi diretor da TV Universitária e Rádio Universitária. ...
12César Guerra Peixe, maestro e compositor carioca, morreu a 26 de novembro de 1993, de edema pulmonar, no Rio de Janeiro, aos 79 anos de idade. Era considerado um dos maiores compositores brasileiros de música erudita.
Compôs mais de 250 obras em 60 anos de carreira. Apesar de receber convites para trabalhar na Europa, nunca deixou o Brasil. Instalando-se no Recife, tornou-se maestro e arranjador da Rádio Jornal do Comércio. Pesquisou o folclore brasileiro.
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CONVITE IMPORTANTE





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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

RELÍQUIAS DA HISTÓRIA DA MÚSICA IV
Dando continuidade à história da música, como concebida no trabalho denominado "A fábrica de melodias", atribuído aos pesquisadores: Moacir Barbosa de Souza (2) e Luiz Maranhão Filho(3), e divulgado na internet, reproduzo a temática voltada para a tradição do carnaval na capital pernambucana, em que a Fábrica de discos “Mocambo” teve um papel marcante.


Na época do carnaval, uma festa popular de muito apelo no Recife, os catálogos
de discos Continental e RCA Victor inseriam sempre compositores locais, embora os
cantores fossem do sul do país. O grupo Rozenblit conseguiu distribuir com exclusividade, três selos americanos: Decca, Seeco e Mercury. Para divulgar sua mercadoria, a firma atraiu um apresentador de programa radiofônico, bastante conceituado, Fernando Castelão, e a ele confiou um programa que tinha por título Parada De Ritmos, veiculado todos os sábados, às 14.30 horas, na onda da PRA-8, Rádio Clube de Pernambuco. Era fazer a divulgação e esperar a abertura da loja na segunda-feira, para vender rapidamente os estoques. Isto impulsionou o sonho: uma estrutura fabril permitiria receber as matrizes do estrangeiro e prensar as cópias no Recife.

Logomarca da Fábrica de Discos Rozenblit – a Mocambo
A Fábrica Rozenblit nasceu na Estrada dos Remédios, no bairro de Afogados,
em outubro de 1953, buscando a primeira meta, a prensagem de discos. Deram-lhe o
nome de Mocambo (6), e logo a família se aproximou do diretor artístico da PRA-8,


o maestro Nelson Ferreira, e confiou-lhe o comando para uma meta mais ambiciosa: gravar os artistas da terra com os músicos da emissora, motivando os compositores locais que já tinham fama nacional, tais como os Irmãos Valença, João e Raul,verdadeiros autores de um grande sucesso nacional O Teu Cabelo não Nega, usurpado no Rio de Janeiro por um outro autor, Lamartine Babo, o que motivou rumoroso
processo judicial. Nelson Ferreira compunha frevos – o ritmo local que fazia a dimensão do carnaval – e seus lançamentos para a folia garantiam a receita da fábrica.


O frevo tinha participação de 25% dos lançamentos da gravadora, que chegou a controlar 22% do mercado fonográfico nacional e 50% do mercado regional.
Na linguagem dos jornalistas da época, alguns lançamentos “estouraram” no sul.
Principalmente, dois destaques: um bolero-versão que teve por título Nunca Jamais,
gravado por uma jovem estrela do rádio, Onilda Figueiredo, e o frevo de bloco
Evocação nº 1, de autoria do Maestro Nelson Ferreira, com orquestra de pau e corda
(7) - uma novidade na época - e coral feminino7, recrutado nos cordões carnavalescos da cidade.


Foi o disco Mocambo que lançou o menino-cantor Paulo Molin gravando
músicas de Capiba (Serenata Suburbana), este já conhecido nacionalmente. Duas
canções, louvando as cidades de Recife e Olinda, fizeram o auge das vendas. Quando a
seleção brasileira voltou da Suécia, em 1958, cada jogador recebeu um compacto
simples com as músicas Rei Pelé, de Aldemar Paiva, e Brasil Campeão do Mundo, de
Nelson Ferreira, uma edição especial gravada, prensada e distribuída em um tempo
reduzido para aproveitar as comemorações da conquista do título mundial.
José Rozenblit tinha uma visão ampla acerca dos negócios. Enquanto a família
conduzia a loja para frente, já com uma ampliação de espaço, ele queria sempre mais.
Preocupado com o tempo e o custo de fazer as capas do seu selo – Discos Mocambo –
no Rio de Janeiro, resolveu montar moderna gráfica, operando no sistema Off-Set,
porque já antevia a chegada do processo de vinil no sistema Long-Playing. Assim,
contratou o gráfico Vicente Machado, e mobilizou artistas plásticos locais para a criação dos desenhos, em cujo grupo se incluiu, entre outros, o consagrado Lula Cardoso Ayres,e logo depois já dispunha de um moderno estúdio que gravava discos em 16 canais, um parque gráfico composto por impressoras coloridas, uma fábrica de vinis e uma oficina mecânica para manutenção das máquinas.
O frevo, a jovem guarda e outros ritmos O momento mais importante do frevo no cenário da música nacional ocorreu entre os anos de 1950 e 1960, e está associado ao surgimento e consolidação da fábrica de discos Rozenblit, que teve influência direta na expansão do frevo na indústria fonográfica brasileira. A gravadora marcou culturalmente toda uma geração de pernambucanos: maestros, arranjadores, músicos, compositores, autores, intérpretes e consumidores.

Ao animar o carnaval carioca de 1945, a Orquestra Tabajara, da Paraíba, que gravou inúmeras músicas carnavalescas pela Mocambo anos mais tarde, mereceu o seguinte destaque da imprensa nordestina(8):
“Sábado passado, das 21 horas em diante a Rádio Tupy, da cadeia dos Associados
deu o grito de carnaval na Capital da República, apresentando para todo o Brasil
a música mais típica e ardente, música que arremeda o pião, o curripio, os toques
de trombeta, a algazarra, o pastoril, tudo enfim o que é do nordeste – o frevo. Os
salões da Rádio estavam apinhados. No meio da multidão que se comprimia no
auditório, o general Fulgêncio Batista, ex-presidente da República de Cuba; junto
a ele o [ex] interventor Ruy Carneiro. Assis Chateaubriand e um punhado de
figuras de destaque no cenário político da atualidade, e, mais, cumprimida [sic]
ainda a multidão daqueles que descem os morros para escutar lá em baixo, -
porque não puderam adquirir lugares no quinto andar da G-3 – os acordes da
música pernambucana [...] No palco do auditório da Tupy, era a presença do
locutor numero 1, Carlos Farias,[sic] a Orquestra Tabajara, sob a batuta de
Severino Araújo, que abria a noitada de frevo, com o maravilhoso ‘Tabajaras no
Rio’, ficando a parte coreográfica a cargo do rei-do-passo em Recife, Milton
Moreira, que arrancou da platéia uma ovação jamais presenciada em qualquer
programa radiofônico [...] Não há quem se contenha dentro do auditório...A
algazarra vai tomando foros de uma vibração de massa jamais presenciada nesses
últimos tempos. Silvio Caldas, de maneiras tão distintas, e meio comedido a
cantar seus sambas, aparece para interpretar o frevo de Nássara e Frazão ‘Eu vou
pra Pernambuco’, e, sem se sentir, começa a gingar e requebrar, e, Carlos Farias,
de quando em vez a elogiar os rapazes que não há muito deixaram a capital da
Paraíba para uma aventura em pagos distantes.”
A empresa diversificou os gêneros musicais, como a música da jovem guarda,
produzindo compactos simples de Martinha, os Baobás, grupos de garagem como
Beatniks, De Kalafe e a Turma, lançando ainda músicas estrangeiras, com as cantoras
Célia Cruz, cubana, e Françoise Hardy, francesa. A gravadora foi notícia na imprensa
do sul do país(9): “A Mocambo vem ampliando seu quadro de artistas que interpretam o
gênero sertanejo, aliás, um dos mais apreciados. Prado e Pradinho também integram o
elenco da gravadora, e aí estão com cateretê A palavra ladrão e a toada Vestidinha de
anjo”. Entre os campeões de popularidade do disco, conforme publicado na imprensa(10), constava em 5º lugar, em São Paulo, a rumba Cachito, com a dupla Doris e Rossie, da gravadora Mocambo. Nos anos 1960 e 1970, a gravadora ampliou seu cast com artistas da MPB, como Jorge Ben, e passou a editar intérpretes e grupos estrangeiros, a maioria alternativos para a época, como os americanos Lovin' Spoonful. Também divulgou a música negra norte-americana e gravou e divulgou canções do tropicalismo e introduziu nos país a moda das trilhas de novela.
Para o jornalista paraibano José Teles, autor do livro Do Frevo ao Mangue Beat,
da editora 34, pela Rozenblit passou parte da história da música popular pernambucana,muito embora, segundo ele, a empresa tivesse matizes conservadoras, e fosse pouco afeita às inovações de tropicalistas e artistas do underground: "Nelson Ferreira, diretor artístico da gravadora, era ótimo, mas não era vanguarda. A bossa nova daqui não teve registro em disco. O grupo de Naná Vasconcelos nunca gravou aqui, nem Robertinho de Recife ou Geraldo Azevedo. O mangue beat não seria registrado se fosse assim."
Em 1937, o jornal A União, de João Pessoa, Paraíba, incentivava a divulgação da
música carnavalesca. Vale destacar que os sucessos da época eram exclusivamente de
autores pernambucanos, incluindo até um maracatu(11):
CARNAVAL DE 1937
Já se acham á venda na CASA ODEON as marchas carnavalescas Pernambucanas
(MUSICAS)
QUEM VAE PRA FAROL É O BONDE DE OLINDA (frevo canção)
QUE FIM VOCE LEVOU (frevo canção)
ALEQUIM (frevo canção)
PIERROT MEU PIERROT (frevo canção)
UM SONHO QUE DUROU TRES DIAS (frevo canção)
EH: UA CALUNGA (Maracatu)
(DISCOS)
UM SONHO QUE DUROU TRES DIAS (frevo canção)
SEBASTIANA (frevo canção)
ARLEQUIM (frevo canção)
NÃO HÁ MAIS VALE (Marcha frevo)
QUE FIM VOCE LEVOU (frevo canção)
DIABO SOLTO (Marcha frevo)
NOIÔ NOIÔ (Maracatu)
CHORA MEU GÓGUE (Maracatu)
Á VENDA NA “CASA ODEON” RUA
MACIEL PINHEIRO Nº 165
- JOÃO PESSOA -
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2 Professor adjunto da UFRN, coordenador do curso de Comunicação Social. Pesquisa a história da mídia sonora, com ênfase na indústria fonográfica e a evolução tecnológica da radiodifusão. Blog:http://www.historiadoradio.myblog.com.br E-mail: moacirbs8@oi.com.br; moacirbs@click21.com.br
3 Professor adjunto da UFPE e Faculdade Maurício de Nassau. Pesquisa a história do rádio pernambucano. Foi diretor da TV Universitária e Rádio Universitária. .......
6 A acepção dicionarizada de mocambo é cabana, ou uma construção feita com palhas de coqueiro, muito comum no nordeste.
7 A orquestra de pau e corda era formada por clarinetes, saxofones, às vezes flautas, banjo, bandolim, violão e percussão. O coral feminino que canta Evocação nº 1 foi preparado pelo próprio Nelson Ferreira.
8 Jornal A União, João Pessoa, Paraíba, pág. 3, 25 jan.1945.
9 Revista do rádio nº 226, 2/8/1958, p.49
10 Radiolândia, em 4/10/1959
11 Jornal A União, João Pessoa, Paraíba, 31 jan. 1937, p. 2

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

RELÍQUIAS DA HISTÓRIA DA MÚSICA III
Na sequência das nossas informações sobre a história da música, obtidas na internet, através de trabalho denominado "A fábrica de melodias", atribuído aos pesquisadores: Moacir Barbosa de Souza (2) e Luiz Maranhão Filho(3), trazemos a participação do Rio Grande do Norte nesse contexto musical.

Em Natal,por exemplo, em 1955, o compositor Dozinho convidou o Trio Puracy (do qual fez parte o cantor Agnaldo Rayol) para gravar um disco na Mocambo. A gravadora exigiu do produtor (o próprio Dozinho) a garantia de serem colocados no comércio natalense pelo menos quatro mil discos para evitar um fracasso financeiro, já que o trio era desconhecido. O impasse foi resolvido por Aldo Medeiros, diretor-superintendente da recém-inaugurada Rádio Nordeste e proprietário da Importadora Omar Medeiros, que tinha uma seção de comercialização de discos. A venda superou as expectativas e lançou Agnaldo Rayol, na sua primeira gravação profissional.

O cantor ficou pouco tempo no trio; em 1956 seu pai, Agnelo Rayol, que era militar, foi promovido a suboficial e transferido para o Rio de Janeiro para reger uma banda. Como Agnaldo ainda dependia financeiramente do pai, acompanhou-o ao Rio onde deu início à sua carreira artística.
Outro nome que fez a Mocambo Dozinho – Seu nome verdadeiro é Claudomiro Batista de Oliveira. Embora ficasse conhecido como compositor de frevos, sua carreira teve início com composições
para campanhas publicitárias e políticas. Foi assistente de orquestra da Rádio Nacional no Rio de Janeiro e trabalhou na Gravadora Copacabana como agente e na Mocambo como representante (em Natal, nos anos 1960, produziu e apresentou um programa na Rádio Trairy, aos domingos, denominado Fábrica de Melodias, onde tocava os últimos sucessos da gravadora Mocambo, que ele recebia com exclusividade; foi em
homenagem à Mocambo que este trabalho leva aquele título). Começou a compor na
década de 1940. Em 1952, teve suas primeiras composições gravadas, o samba-choro
Há sinceridade nisso, e o baião Se tocá eu danço, feitos em parceria com Manezinho
Araújo e Carvalhinho e gravados por César de Alencar, dois de seus maiores sucessos.
Compôs a música de carnaval "Marta Rocha", em homenagem à então miss Brasil, que visitava a cidade de Natal e que permaneceu inédita. Em 1955, Os Cancioneiros gravaram, de sua parceria com Genival Macedo, o baião Menino de pobre.
Em 1957, Os Cancioneiros gravaram pelo Mocambo os frevo-canções Tempero de
pobre e Fantasia de capim, que também figuram entre seus maiores sucessos. Quando
lançou o LP "Primeiro ensaio", recebeu o seguinte elogio de Câmara Cascudo:
"Dozinho tem a linguagem musical. Diz todas as suas emoções na linha melódica, doce,
clara, fácil, com uma naturalidade de fonte. E uma grandeza espontânea de
predestinado". Compôs também O mais querido, hino do ABC Futebol Clube, popular
clube de futebol de Natal. É considerado um dos grandes do carnaval brasileiro ao lado de nomes como Capiba e Nelson Ferreira. Depois de atuar no Rio de Janeiro e no
Recife, retornou para a cidade de Natal, onde vive atualmente. Foi homenageado no
carnaval natalense de 2007.
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2 Professor adjunto da UFRN, coordenador do curso de Comunicação Social. Pesquisa a história da mídia sonora, com ênfase na indústria fonográfica e a evolução tecnológica da radiodifusão. Blog:http://www.historiadoradio.myblog.com.br E-mail: moacirbs8@oi.com.br; moacirbs@click21.com.br
3 Professor adjunto da UFPE e Faculdade Maurício de Nassau. Pesquisa a história do rádio pernambucano. Foi diretor da TV Universitária e Rádio Universitária.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

RELÍQUIAS DA HISTÓRIA DA MÚSICA II

Dou continuidade às informações preciosas obtidas na internet, localizada sob o título "A fábrica de melodias", atribuídas aos pesquisadores: Moacir Barbosa de Souza (2) e Luiz Maranhão Filho.(3)

No Brasil, o primeiro disco em vinil foi prensado e vendido em janeiro de 1951
pela gravadora Sinter. Era um disco para o carnaval com músicas interpretadas por
Oscarito, Geraldo Pereira, Heleninha Costa e os Cariocas. Os discos tinham ainda o
tamanho de 10 polegadas, e eram gravados no sistema monofônico (um só canal) – a
estereofonia (dois canais) só iria chegar no final de 1958. O sucesso, entretanto, não foi
o esperado, porque o preço era muito alto e os toca-discos ainda não estavam adaptados
à nova rotação de 33 1/3 dos Long-playing (os equipamentos trabalhavam em 78 rpm).
A primeira gravação comercial no mundo ocorreu em 1896. Setenta anos depois,
a cadeia France-Culture transmitiu uma série de programas divulgando discos raros,
entre eles Sarah Bernhardt declamando Racine, que nunca esteve à venda nas lojas. A
gravação de programas em fita magnética teve início nos Estados Unidos em 1949
permitindo correções antes de serem passados para o acetato. Em 1953 chegaram ao
Brasil os primeiros gravadores de áudio. Os alemães criaram o magnetofone, que
gravava e reproduzia em fita, em 1930; na mesma época, os norte-americanos usavam
máquinas de gravação em arame magnético, com resultados inferiores às gravações
feitas pelo magnetofone. Os discos de alta-fidelidade (high-fidelity, ou Hi-Fi) surgiram
nos Estados Unidos em 1948, e tinham até uma hora de duração.

Rozenblit: o começo de tudo

(A.Rosenblit e jornalistas)

Ao final da Primeira Guerra Mundial – o conflito que abalou a Europa nos anos
1917/18 – verificou-se no Brasil um grande fluxo de imigrantes. Diferentes regiões
foram visadas, instalando-se em cada uma colônias que envolviam povos típicos, com
seus costumes e suas práticas. O Nordeste que, em tempos idos, acolheu sírios e
libaneses, foi mais uma vez o destino escolhido por povos do Oriente, dedicados
principalmente ao comércio. O Recife atraiu os judeus. Famílias inteiras lá se
estabeleceram e promoveram uma concentração tão grande em determinados bairros
que passaram a ser identificados por essas populações migratórias.
Luis Rozenblit(4) e sua esposa adotaram o bairro da Boa Vista e desde logo
optaram pela rua da Alegria, uma via pacata que era favorecida pela proximidade do
comércio lojista principal – a Rua da Imperatriz – distante apenas de uma breve
caminhada. No bairro, criaram os três filhos: Isaac, José(5) e Adolfo. A comunidade
judaica logo passou a dominar o ramo de móveis, ocupando a Praça Maciel Pinheiro, a
Rua do Hospício, a Rua do Aragão e adjacências; todos praticamente se conheciam, os
Cherpack, os Schwartz, os Fischman, os Mesel, entre outros.
Quando se busca um marco referencial para assinalar o começo de tudo,encontra-se um estabelecimento montado à Rua da Aurora, às margens do Rio Capibaribe, com amplas vitrines, capazes de atrair o intenso fluxo de pedestres que se movimentavam entre duas pontes: a Boa Vista e o outro extremo que homenageava a Princesa Izabel. A loja se chamou Irmãos Rozenblit Ltda, onde pontificava o patriarca e o filho mais velho, Isaac. O ramo escolhido foi o nascente comércio dos receptores de rádio, de vez que Pernambuco tinha um bom mercado, em razão do pioneirismo do Estado, assinalado pela presença da primeira emissora radiofônica do país, o Rádio Clube de Pernambuco, fundado em 06 de abril de 1919 e consolidado nos anos 30.
Vendiam-se pianos para o aprendizado das senhorinhas da alta sociedade, pois vários professores de música mantinham cursos na cidade. Em conseqüência, as primeiras gravações em disco de cera começaram a formar um comércio intenso. Duas lojas tradicionais funcionavam na Rua Nova, o coração do Recife. Eram as distribuidoras das marcas nascentes, os selos Odeon e Parlophon, do Rio de Janeiro.
Rozenblit optou por uma terceira marca, a americana RCA Victor que penetrou na praça
com uma intensa propaganda em torno do slogan promocional, A Voz do Dono, cujo selo exibia um cachorrinho de ouvido atento diante de um gramofone, a radiola da época. Com uma ampla visão de mercado, os Rozenblit descobriram, além dos rádios receptores Philips, fabricados na Holanda, um amplo filão de vendas: o eletrodoméstico,que tinha por função fazer tocar os discos. Importavam do estrangeiro a estrutura eletrônica: “pick-up” Garrard (marca inglesa), alto-falantes, amplificadores e receptores. Tendo em mãos os catálogos das peças européias, copiavam os modelos de móveis oferecidos com a ajuda de oficinas de carpintaria e logo os produtos “clonados” ocupavam suas vitrines e fascinavam as famílias mais abastadas.
Os que primaram da amizade do grupo familiar sugerem que o ingresso do segundo filho, José, na atividade mercantil, foi o motivo causador do sonho de uma
fábrica de discos, sabido que as músicas de autores pernambucanos só faziam sucesso
quando produzidas no Rio de Janeiro. Capiba e Nelson Ferreira, por exemplo, os reis do frevo, não despertaram a devida atenção das gravadoras do sul do país. Só depois de terem sua produção fonográfica gravada pela Mocambo, elas demonstraram interesse,
como a gravadora RCA Victor, que produziu e distribuiu grande parte da obra musical
de Capiba. As multinacionais da época, como a Columbia e a RCA se negavam a gravar
a produção nordestina, salvo mediante uma compra antecipada de três mil cópias.
Essa prática de antecipação era comum entre as gravadoras da época.
Resumo
A fábrica de discos Mocambo representou para a cultura nordestina a valorização do
artista local. Fundada pela família Rozenblit, que se instalou no Recife nos anos 1950 a gravadora teve altos e baixos, porém nunca abandonou o papel de incentivadora da música nordestina. Foi apontada como conservadora demais na sua política de promover os artistas da terra. Apesar disso, na época da jovem guarda, chegou a gravar e distribuir discos de artistas que tomaram parte daquele momento da música brasileira, como Martinha, De Kalafe e a Turma, Os Baobás, e outros. O sonho dos Rozenblit literalmente foi de água abaixo quando as enchentes do rio Capibaribe, em Recife,inundaram toda a fábrica na Estrada dos Remédios, fechando um ciclo importante para a cultura regional.
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2 Professor adjunto da UFRN, coordenador do curso de Comunicação Social. Pesquisa a história da mídia sonora, com ênfase na indústria fonográfica e a evolução tecnológica da radiodifusão. Blog:http://www.historiadoradio.myblog.com.br E-mail: moacirbs8@oi.com.br; moacirbs@click21.com.br
3 Professor adjunto da UFPE e Faculdade Maurício de Nassau. Pesquisa a história do rádio pernambucano. Foi diretor da TV Universitária e Rádio Universitária.
4 Rozenblit em russo quer dizer rosa de sangue.
5 Principal fundador da gravadora Mocambo e sócio majoritário, nunca foi reconhecido por seu trabalho. Apenas no
carnaval de 2003 foi homenageado no carnaval do Recife. Faleceu em 2007.