RELÍQUIAS DA HISTÓRIA DA MÚSICA V
Ainda sobre o tema Carnaval, a história da música, como concebida no trabalho denominado "A fábrica de melodias", atribuído aos pesquisadores: Moacir Barbosa de Souza (2) e Luiz Maranhão Filho(3), nos aponta os grandes nomes da música pernambucana, ainda através do selo “Mocambo”.
Os dois gênios do carnaval de Pernambuco... e da Mocambo
Nelson Heráclito Alves Ferreira, o Nelson Ferreira – “Frevo não se ensina e nem
se aprende. Quem dança frevo é porque já nasceu para o frevo”.
Ele nasceu em Bonito, Pernambuco, a 9 de dezembro de 1902. Foi pianista
profissional aos 13 anos de idade, quando começou a tocar em cafés noturnos,
apresentando-se das 20 horas à meia-noite. Tocou na Pensão Chantecler, Pensão Mirim,
Pensão Boemi e Pensão de Júlia Peixe-boi. Apresentava-se interpretando valsinhas,
polcas e maxixes, mas seu pai achou o ambiente impróprio e proibiu-o de continuar se
apresentando em tais lugares. Trabalhou no Café Chile, na Praça da Independência, e
depois no Café Chileno, na Avenida Rio Branco, no Centro de Recife, e aos 15 anos já
tocava na orquestra do cine Royal, na rua Nova, em Recife, quando teve sua primeira
composição editada, a valsa Vitória, feita por encomenda para a Companhia de Seguros
Vitalícia Pernambucana.
Atuou ainda na sala de espera do Cinema Pathé, fazendo acompanhamento ao
piano para filmes mudos, com um salário de 150 mil-réis por mês. Em 1919, foi
convidado a integrar a Orquestra do Cine-Teatro Moderno, ganhando 7 mil-réis por dia.
Dirigida pelo maestro Suzinha, a orquestra era composta de piano, dois violinos, sete
clarinetas, violoncelo, contrabaixo, flauta, trompa, pistom e bateria. Pouco tempo
depois, o maestro Suzinha deixou a orquestra e Nelson passou a dirigí-la.
Prosseguiu os estudos musicais, tendo aulas com o pianista Manuel Augusto dos
Santos. Em 1920, fez sua primeira composição de sucesso, a valsa Milusinha. Em 1922,
viajou para a Europa quando tocou piano a bordo do navio Caxias, que fazia a rota Rio-Hamburgo, cujo pianista adoecera e Nelson Ferreira o substituiu. Em 1929, o Cine-
Teatro Moderno foi arrendado pelo empresário da indústria cinematográfica Luiz
Severiano Ribeiro, obrigando Nelson a se transferir para o Teatro Helvética, levando
consigo toda a orquestra. Quando o teatro fechou, Luiz Severiano convidou a orquestra
a ir para o Rio de Janeiro, oferta aceita apenas por Nelson e pelo baterista João Gama.
No Rio, trabalhou no Cine-Teatro Central, na Avenida Rio Branco, dirigindo uma
orquestra de variedades. Ficou cinco meses no Rio de Janeiro, voltando para inaugurar o Cine Parque em Recife, de Severiano Ribeiro.
A chegada do cinema sonoro a Recife em 1930 decretou o fim das orquestras
que acompanhavam os filmes mudos, entre elas a de Nelson Ferreira, que passou a
sobreviver dando aulas de piano. Em 1931, foi contratado por Oscar Moreira Pinto para
trabalhar na Rádio Clube de Pernambuco onde apresentou o Programa Guararapes, que
revelou, entre outros nomes importantes da música nordestina, o instrumentista
paraibano Sivuca.
Em 1933, foi vencedor do concurso carnavalesco promovido pelo Jornal do
Comércio, de Recife, com a marcha A virada. Em 1934, ganhou o cargo de diretor
artístico da Rádio Clube, onde regeu orquestra, tocou piano, foi produtor e locutor do programa A hora azul das senhorinhas. Todos os cantores que se apresentavam na
Rádio Clube eram acompanhados por ele, por ser o único pianista da emissora. Em
1936, tornou a vencer o concurso do Jornal do Comércio, com No passo, arrebatando
também o segundo lugar com Palhaço. Na Rádio Clube de Recife, viveu a era de ouro
do rádio pernambucano, tendo atuado ao lado de Fernando Lobo (pai do cantor e
compositor Edu Lobo) e do grande cronista Antônio Maria.
O início de sua carreira como compositor de frevos deu-se com Borboleta não é
ave. No carnaval carioca de 1957, o frevo Evocação nº 1, obteve o primeiro lugar,
vendendo cerca de 60 mil cópias. Nelson Ferreira ganharia por face do disco vendida
um cruzeiro e oitenta centavos, logo chegando à venda de cem mil discos. Outras
composições de grande aceitação por parte do público foram os frevos Isquenta muié,
Come e Dorme e o hino do Sport Clube de Recife Casá Casá. O sucesso de Evocação
nº 1 deu origem a uma série de sete LPs com músicas carnavalescas na interpretação de
Claudionor Germano.
Nelson Ferreira explicou o significado do “apois fum”, do seu sucesso Evocação (Filinto, Pedro Salgado/ Guilherme e Fenelon,/ Cadê teus blocos famosos? / Bloco das flores/ Andaluzas, Pirilampos,/ Apois fum/ Dos carnavais saudosos). A expressão significa pois sim. É que havia no Recife um mendigo muito popular que possuía uma fenda no lábio superior e quando, por um motivo ou outro tinha de pronunciar “pois sim” emitia um som parecido com “apois fum”. A pronúncia ganhou popularidade, passando ao vocabulário de rua da cidade, até que surgiu o bloco (11)Apois Fum. Em 1958, compôs em parceria com Osvaldo Santiago o Evocação nº 2. Nos anos seguintes e até 1964 comporia outros frevos da série Evocação, alcançando o número de sete. Em 1967, aposentou-se do rádio, quando criou a Orquestra de Frevos Nelson Ferreira. Compôs ainda o hino oficial da cidade do Recife, com letra de Manuel Arão. Recebeu as Medalhas do Mérito do Recife e de Pernambuco e teve concedido pela Câmara Municipal o título de Cidadão do Recife, entre outras homenagens.
Como diretor artístico da Mocambo, viveu sempre a solicitar empréstimos para a
reestruturação da fábrica. Tinha 300 músicas gravadas, mas não chegou a enriquecer
com os direitos autorais de sua produção. Cerca de duas mil pessoas acompanharam seu
enterro entoando seus frevos. Desde 1926 foi casado com Dona Aurora, que durante
toda sua vida lhe serviu de musa inspiradora. Nelson confessava sempre aos amigos
que os maiores orgulhos de sua vida era ser pernambucano e poder despertar para
Aurora. Na rua onde morou, onde hoje se encontra a Praça Nelson Ferreira, em sua
homenagem foi erigido um busto. Morreu no dia 21 de dezembro de 1976, no Hospital
Português do Recife, vitimado por um aneurisma; o corpo foi transportado para a
Câmara Municipal, onde foi velado. Gilberto Freyre escreveu no Diário de Pernambuco:
"O vazio que deixa é o que nos faz ver como era grande pela sua música, pelo seu
sorriso, pela sua fidalguia de pernambucano."
O veterano radialista pernambucano Aldemar Paiva escreveu em Monólogo para Nelson Ferreira: “[...] Nelson Ferreira,/figura soberana/que na paisagem luminosa e humana/criava a pauta musical, pernambucana,/singular e incomum/com o gostoso sabor do guaiamum/e a quentura infernal da ‘cana’!/José Lins do Rego/que tinha apego/ao Recife antigo.../À hora da extrema-unção/pediu ao seu mais íntimo amigo/que entoasse a sua ‘Evocação’!/E era quando o ‘Recife adormecia/e ficava a sonhar/ao som da triste melodia!’/Quando chega o Carnaval/quase todo mundo vê/que o Recife passa mal/com saudade de você!”
Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba –
“Tomei parte no Movimento Armorial, lançado por Ariano Suassuna no início da década de 70, compondo uma peça em 3 movimentos, que se chama Sem Lei nem Rei, título do romance de Maximiano Campos, publicado pela Editora O Cruzeiro em 1968. Essa peça foi a primeira coisa que se fez, no gênero, a pedido do próprio criador do movimento.” (12)
Ele nasceu a 28 de outubro de 1904 em Surubim, Pernambuco, e faleceu a 31 de
dezembro de 1997 em Recife. Foi o 10º filho de uma família de 13 irmãos. Começou a
compor aos 10 anos de idade. Em 1912 fazia parte da Banda Lira da Borborema, que era
regida pelo pai, Severino Athanásio. Este criou com os filhos a banda de música Lira da Borborema, da cidade de Taperoá, na Paraíba. Seu pai dirigiu a Charanga Afonso
Campos, a famosa Bacurau, banda de música da oposição na cidade de Campina
Grande, na Paraíba. Capiba apresentava-se na banda e cantava músicas sacras nas festas da padroeira da cidade. Com 14 anos de idade, compôs a Suíte Nordestina para piano.
Aos 16 anos, trabalhou como pianista no Cine Fox, de Campina Grande, em
substituição à irmã Josefa, que estava de casamento marcado. Mesmo sem saber tocar
piano, aprendeu a tocar sete valsas em 11 dias e foi contratado, chegando depois a ser convidado a integrar a Jazz Campinense como pianista.
Gostava do futebol, tendo chegado a jogar de center forward, como eram
chamados os atacantes na época, no América, de Campina Grande. Atuou, ainda, no
Campinense Clube e no Recife. Mais tarde, foi artilheiro do Satélite, time dos
funcionários do Banco do Brasil. Em 1924, aos 20 anos de idade, foi mandado pelos
pais de volta para João Pessoa a fim de estudar no Liceu Paraibano, com instruções
paternas de não se envolver com futebol e música. Por essa época, assumiu cada vez
mais o apelido de família Capiba, que foi, segundo ele, herdado do avô materno, e que é sinônimo de jumento teimoso.
Em 1924, ao chegar a João Pessoa para estudar, recebeu a notícia do falecimento
da mãe em Recife, vítima de cirurgia mal sucedida. Na ocasião, compôs com o irmão
Antônio a valsa Lágrimas de mãe, que seria sua primeira música editada. Na capital da
Paraíba, assumiu o lugar do pianista do Cine Rio Branco, que havia falecido. No mesmo
período, ingressou como atacante no time do América de João Pessoa e fundou a Jazz
Independência, onde atuou até 1930, quando voltou para Pernambuco.
Ainda em João Pessoa, conheceu o mecenas Oliver von Shosten, homem rico e
educado na Inglaterra, que gostava de financiar orquestras para brincar o carnaval. A
partir da amizade entre os dois, foram surgindo bandas carnavalescas dirigidas por
Capiba e financiadas por von Shosten. Em 1930, sua composição Não quero mais foi
classificada em quarto lugar no concurso de músicas para o carnaval no Rio de Janeiro, patrocinado pela revista O Malho e a Casa de Discos Odeon. No concurso, Capiba e seu parceiro João dos Santos Coelho registraram-se com os pseudônimos de Pé-de-Pato e Joca da Beleza, respectivamente. A composição foi gravada por Francisco Alves, permanecendo a autoria com os pseudônimos, o que obrigou Capiba e o amigo a
apresentar inúmeros documentos para provar a autoria da música e receber o prêmio a
que faziam jus, uma vez que outra pessoa apresentara-se no Rio de Janeiro como autor
da música, tendo desaparecido após receber o prêmio.
Capiba formou diversas orquestras, entre elas, a Jazz Band Acadêmica, a mais
famosa, em 1931. No mesmo ano, passou em concurso para o Banco do Brasil, no qual
havia sido inscrito pelo irmão mais velho. Foi nomeado para trabalhar na cidade do
Recife, para onde foi acalentando o desejo de criar uma orquestra formada por
estudantes. Quando se aposentou do Banco, em 1961, após 31 anos de serviços, atribuiu
a sua disciplina diária ao período em que trabalhou na instituição.
Em 1932, organizou a primeira excursão da Jazz Band Acadêmica que atuou em
diversas cidades do Norte e Nordeste, tendo-se apresentado em Fortaleza, Natal e João
Pessoa, com grande sucesso. A excursão teve como finalidade angariar fundos para a
Casa do Estudante Pobre.
Em 1933, seu irmão mais velho e conselheiro, Tantão, morreu no dia em que
Capiba completaria 29 anos de idade. Sob o impacto da morte do irmão, inscreveu-se no
concurso do Diário de Pernambuco para o carnaval do ano seguinte com o frevo É de
amargar. A Jazz Band Acadêmica se encarregou de popularizar o frevo, que foi
escolhida por aclamação no certame, tornando-se um dos mais tocados na história dos
carnavais de Pernambuco. Foi gravado na RCA Victor pelo cantor Mário Reis, além de
tornar-se um dito popular.
Desentendendo-se com alguns dos integrantes da Jazz Band Acadêmica, deixou
a orquestra e envolveu-se com a organização do Bando Acadêmico do Recife, criado
nos moldes da Jazz Band Acadêmica. A nova orquestra estreou na Festa da Primavera
no Clube Náutico Capibaribe em 1935, quando teve sua composição Vou cair no frevo
gravada por Almirante. Em 1937, quase morreu afogado durante banho de mar na Praia
de Boa Viagem, ocasião na qual faleceu seu colega e estudante de Medicina Roberto
Hugo de Andrade. Após o incidente, viajou para o Rio de Janeiro em companhia de
Fernando Lobo, onde passou um mês em licença do banco para tratamento de saúde. No
mesmo ano, a Rádio Tupi apresentou um programa carnavalesco exclusivamente com
músicas pernambucanas, incluindo as composições de Capiba.
Musicou versos de diferentes poetas e escritores, como Joaquim Cardoso,
Ariano Suassuna, Manoel Bandeira, Jorge de Lima, Carlos Pena Filho, Guilherme de
Almeida, João Cabral de Mello Neto, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de
Andrade e Castro Alves. Em 1943, fez por encomenda a canção Maria Betânia, que
faria parte de uma peça baseada na obra Senhora de Engenho, do autor pernambucano
Mário Sette, a ser encenada por um grupo teatral no Sindicato dos Bancários do Recife.
Em 1944, ao passar por Recife, Nelson Gonçalves cantou-a no rádio. Um lojista da
capital pernambucana insistiu junto a RCA para que Nelson gravasse a canção,
comprometendo-se a comprar pelo menos 200 discos. O disco fez tanto sucesso, que
certa vez um marinheiro americano embriagado tocou-o dezenas de vezes ininterruptas,
na eletrola do bar Gambrinus, localizado na zona portuária do Recife. Irritados, os
freqüentadores do bar espancaram o marinheiro e quebraram a eletrola e o disco. A
composição, além do sucesso na voz de Nélson Gonçalves, teve mais de 10 gravações.
Em 1949, Capiba conheceu o maestro Guerra Peixe que fora pesquisar a
música do Nordeste e trabalhar na recém-inaugurada Rádio Jornal do Comércio. Teve
aulas de composição e harmonia com o maestro de quem se tornou amigo. No mesmo
ano, compôs uma suíte baseada em quadros do pintor pernambucano Lula Cardoso
Ayres para comemorar o centenário do Teatro Santa Isabel.
Em 1960, o Duo Guarujá gravou em forma de guarânia Serenata suburbana,
originalmente uma valsa. Como guarânia, a composição obteve grande sucesso, sendo
tocada em todo o país e no exterior, chegando a fazer parte do repertório de grupos e
conjuntos vocais no Chile, Paraguai e Peru. Na mesma época, casou-se com Zezita, de
apenas 20 anos de idade, 34 anos mais nova do que ele. Em 1962, a cantora Maysa
gravou aquele que seria um dos maiores sucessos do compositor, o samba canção A
mesma rosa amarela, feito em parceria com o poeta Carlos Pena Filho, e que conheceria
mais de 10 gravações, entre as quais as do Conjunto Farroupilha, Claudionor Germano,
Paulinho Nogueira e Jair Rodrigues. Em 1963, musicou o poema Soneto da fidelidade,
de Vinicius de Moraes.
Em 1967, participou do II Festival Internacional da Canção com o baião São os
do norte que vem, em parceria com Ascenso Ferreira e defendido por Claudionor
Germano, obtendo o quinto lugar. No mesmo ano, participou do III Festival da Música
Popular da TV Record com a Cantiga pra Jesuíno, defendida pela cantora De Kalafe.
No início dos anos de 1970, participou do Movimento Armorial criado no Recife por
Ariano Suassuna, de quem foi considerado o patrono. Em 1979, foi homenageado no
Festival da Música Popular Brasileira da Rede Globo, sendo presidente de um dos júris.
Faleceu dia 31 de dezembro de 1997, aos 93 anos, de infecção generalizada, no Hospital
Jayme da Fonte, em Recife. O governo do estado e a prefeitura local decretaram luto
oficial de três dias. Com mais de 200 músicas no currículo, Capiba afirmou que nunca
viveu da música, e sim na música.
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2 Professor adjunto da UFRN, coordenador do curso de Comunicação Social. Pesquisa a história da mídia sonora, com ênfase na indústria fonográfica e a evolução tecnológica da radiodifusão. Blog:http://www.historiadoradio.myblog.com.br E-mail: moacirbs8@oi.com.br; moacirbs@click21.com.br
3 Professor adjunto da UFPE e Faculdade Maurício de Nassau. Pesquisa a história do rádio pernambucano. Foi diretor da TV Universitária e Rádio Universitária. ...
12César Guerra Peixe, maestro e compositor carioca, morreu a 26 de novembro de 1993, de edema pulmonar, no Rio de Janeiro, aos 79 anos de idade. Era considerado um dos maiores compositores brasileiros de música erudita.
Compôs mais de 250 obras em 60 anos de carreira. Apesar de receber convites para trabalhar na Europa, nunca deixou o Brasil. Instalando-se no Recife, tornou-se maestro e arranjador da Rádio Jornal do Comércio. Pesquisou o folclore brasileiro.
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CONVITE IMPORTANTE
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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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