OBRIGADO AOS 430853 LEITORES DO MEU BLOG. FELIZ 2022 PARA TODOS.
CARLOS GOMES
ENQUANTO NASCE O POEMA
O que me encanta, vida
é que tudo pode ser criado
e que navegar
não é mais que viver
e que amar sonhar e recordar
são afagos líricos
de meu navegar.
Por isso tenho tantas saudades
de mim mesmo
de Macau
da infância e do Alagamar
das águas tranquilas da gamboa
daquelas águas infinitas
onde o impossível era naufragar.
- Horácio Paiva
Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-52
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Esta é a derradeira Carta de Cotovelo do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2021. Nada a pedir. Tudo a agradecer.
A solidão é amiga da velhice, ampliada pela saudade da eterna namorada, que partiu para perto do Criador.
Tudo que faço, tudo o que crio e tudo o que vivo é para honrar a memória de THEREZINHA ROSSO GOMES, a quem dediquei 71 anos de convivência.
A leitura tem trazido pronunciamento de muitos, inclusive de imortais, de que devemos viver tantos amores quantos sejam precisos. Discordo, quando se ama de verdade não há necessidade de busca de outros relacionamentos.
Não existe verdade absoluta para esses assuntos. Cada pessoa tem o seu sentimento, constrói o seu Castelo. O meu não desmoronou. Continua firme como foi construído. Resta a sua conservação até o fim dos tempos.
A ausência, que me faz sofrer, não merece consideração no campo da racionalidade, pois tenho a certeza que ela está em boa companhia. Mas que dói, não posso desconhecer. Aí somente a solidão do meu quarto, da minha vida, agora traduzida nas telas que me foram inspiradas pelos grandes momentos da vida - uns alegres, outros nem tanto.
Vou voltar para o meu exílio consentido de Cotovelo. Lá sou amigo da rainha Natureza, estou mais perto de Deus, convivendo da simplicidade do lugar e recordando os muitos anos que desfrutei passeando com ela nas areias brancas daquela maravilhosa praia, momentos lúdicos de um verdadeiro amor que o tempo não ousou arrefecer. Fomos amantes até o último verão de 2018/2019.
O físico se foi, mas o emocional ficou para nunca sair, apesar do sofrimento da ausência. Lamento não ser poeta para cantar em verso e prosa a figura da minha doce amada.
Senhor, não procuro a razão de que me tirastes a minha musa, certamente cumpriu a sua missão nesta dimensão da existência e está recebendo uma missão na altitude estelar.
Desculpem meus amigos leitores, hoje é dia para cultuar esperanças para o ano que começará logo mais e não para assistir a proclamação do martírio de um amante solitário.
Tenham todos um feliz Ano Novo e recebam essa minha lamúria como exemplo de que devem sempre olhar para quem com vocês repartem a vida e a felicidade.
Termino com o grande Fernando Pessoa, afirmando que, em mim, a dor ainda dói:
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi e voou
E hoje é já outro dia.
· LUZES QUE SE APAGAM
Valério Mesquita*
Apagaram-se as luzes dos natais de antigamente? A avenida Rio Branco era um corredor resplandecente do Baldo à Ribeira. Abraços, cantos e risos povoavam as calçadas: Boas Festas! Feliz Ano Novo! Era um planeta diferente. Foi pensando e revivendo os velhos natais que ressurgiu na memória o antigo comércio da avenida Rio Branco com suas lojas, magazines, armazéns que constituíam a força do capital da classe produtora potiguar.
Era o chamado comerciante da cidade, inscrito na Associação Comercial do Rio Grande do Norte, movido a Banco do Brasil de Otávio Ribeiro Dantas, lá da avenida Duque de Caxias, na Ribeira. Da calçada do Cinema Rex, onde Luís de Barros tocava a cigarra mandando começar o filme, contemplei, olhar acima, olhar abaixo, o mundo desaparecido de estabelecimentos comerciais fundados por natalenses e hoje substituídos por lojas de Pernambuco, Paraíba e Ceará.
De frente, onde me achava, me lembrei da Casa Costa que servia o mais saboroso sorvete; Omar Medeiros e Cia., Lojas Setas; os “estrangeiros”: o Novo Continente, CêBarros, Quatro e Quatrocentos e Lojas Paulistas; J. Resende e a Casa Régio dominavam o mercado de eletrodomésticos; Casa Hollywood e Casa Garcia além do Cine-Foto Jaecy que depois foi para a João Pessoa; a resistente e desfraldada Livraria Universitária, vizinhas a Casa Duas Américas e a Formosa Syria; a Casa Tic-Tac e a Casa Rubi sem esquecer a Nova Paris; quase de frente a Casa Rio que ainda sobrevive (Rio Center), em outros locais da cidade, pluralizada e redimensionada; Ótica Brasil, a Farmácia Barbosa e juntinho o bar Granada; a casa Letière, o Armazém Natal e antes do Banco do Brasil, a lembrança mais dolorosa do velho e trágico mercado público da cidade do Natal. Tudo sumiu. As vitrines desse tempo se apagaram e com elas um grupo de comerciantes que desapareceram, permanecendo, apenas, uma foto intacta suspensa no ar e as imagens dos natais de quarenta e cinquenta anos passados.
Ao contemplar a Rio Branco sem luz e sem alma da festa natalina, resolvi homenageá-los. Natal não pode esquecer jamais os pastores da noite que fizeram feliz o Natal de tanta gente. Chegam-me alguns que a memória reteve: Fuad Salha, Zé Garcia, Chafic Abou Chacra, Reginaldo Teófilo, Habib Challita, Zé Resende, Walter Pereira, Quim-quim da Farmácia Barbosa, Nagib Assad Salha, seu José e Abess da Formosa Syria, Raimundo Chaves, Heider Mesquita, Jaecy Emerenciano Galvão e Nemésio Moquecho, Quincola (Scope) Luís de Barros, Nivaldo Feitoza Bonifácio, Alcides Araújo e uma lembrança terna da Rádio Trairi do major Theodorico Bezerra que funcionava no alto do Novo Continente. Relembro os locutores: Gutemberg Marinho, Edmilson Andrade e Vanildo Nunes, em nome dos quais homenageio a todos.
A cidade de Natal deve um preito de reconhecimento a todos aqueles que diretamente, através do seu ofício, se conscientizaram do seu papel, se fortaleceram e daí surgiram a Federação do Comércio, o Sindicato do Comércio Varejista e o próprio CDL. Ninguém pode contestar o pioneirismo dessas conquistas aos comerciantes da avenida Rio Branco. É preciso reacender as luzes dessa avenida para a história passar.
No Grande Ponto, o olhar triste e reminiscente. A procissão de relembranças das melhores figuras de Natal, espiritualizadas no eterno bate-papo, dia e noite, como se, para mim, ali, naquele instante, tudo tivesse se reencarnado. Olhei para o chão sagrado daqueles vultos e deu-me náuseas as calçadas sujas, encardidas pela desfiguração e os pés da modernidade. Mataram o Grande Ponto pletórico e no âmbito do seu quadrilátero, rasgaram a sua história em pedaços e foram transformados os seus habitantes. Daquelas calçadas, com sol matinal batido e quente desse verão sobe as narinas um odor de sebo bovino e inhaca pestilencial. Será que o IPTU não poderia lavar aquelas calçadas onde tanta gente boa pisou antigamente? Djalma Maranhão, Alvamar Furtado, Luís Tavares, José Augusto Varela, Antonio Soares Filho, Luiz Carlos Guimarães, Newton Navarro, Veríssimo de Melo, Ticiano Duarte, Américo de Oliveira Costa, Zé Areia, Gilberto Avelino e tantos outros mortos dignos de lavarmos os pés, sem precisar nem falar nos vivos?
(*) Escritor
Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-51
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Em pleno clima natalino, adquiri uma bactéria que me levou ao hospital, com medicação rigorosa e alimentação ainda mais seletiva.
Claro que perdi inteiramente a vontade de participar da Festa de Recepção ao Salvador através do tradicional jantar das famílias cristãs, pois vivi a tortura de comer migalhas ao redor de pratos primorosos confeccionados pelos familiares.
Nada disso, porém, foi capaz de tirar a minha convicção cristã da importância da renovação da chegada do Redentor e procurei abrigo em duas missas – uma pomposa em rituais celebrada pelo Papa Francisco, com coros e cantores da melhor categoria; a outra na singela capela de Santa Luzia, do Distrito de Pium, em formação humilde, mas com a mesma mensagem de fé e esperança com a chegada do menino Jesus.
Meditei e concluí que a fé é o sentimento verdadeiro para a aceitação do fenômeno do Renascimento e dos augúrios positivos para o ano que se aproxima, após um longo período de pandemia e de separação forçada dos parentes e dos amigos impossibilitando-os do abraço fraterno tão importante para a satisfação do nosso espírito.
Mesmo me ausentado circunstancialmente da minha pasárgada de Cotovelo, encontro forças para desejar a todos os integrantes das comunidades Pium-Cotovelo, os votos de um Natal de Paz e um esperançoso ano de 2022, sem mais pandemia e com a recuperação econômica das Instituições e Entidades, públicas e privadas que dão suporte às ações sociais em favor dos menos favorecidos pela sorte.
Aguardo o sinal dos médicos para retornar à minha vida comum na Comunidade que escolhi para viver o tempo que me resta nesta dimensão da existência.
Menino Jesus, olhai por nós. Amém.