quinta-feira, 20 de outubro de 2022

 

AVE, PÁSSARO!

 

Diogenes da Cunha Lima

 

         Ninguém teve maior sabedoria do que Jesus Cristo. Um dia ele ensinou: “Olhai os pássaros do céu. Eles não plantam nem colhem, nem guardam alimentos em celeiros, pois seu pai certamente os alimenta.” Na mesma linha, Ele orienta sobre a beleza dos simples: “Olhai para os lírios (xananas) do campo, como eles crescem: não trabalham, nem fiam. Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles."

         Na sabedoria popular dinamarquesa existe um ditado dizendo que Deus dá comida aos pássaros, mas não dentro do ninho. Ou seja, esta função é dos pais.      

A oração de louvor à Nossa Senhora tem o título de saudação. Ave (que quer dizer salve) Maria. As aves não existiriam para louvar a mãe de Jesus?

         Um menino caçava passarinhos de baladeira. Comia coração de beija-flor para ter mão certeira. Chegou em sua casa com as rolinhas mortas. O pai reclamou: “como você tem coragem de matar os bichinhos que Deus fez para serem bonitos?” Envergonhado, nunca mais caçou. Hoje, adulto, sente-se feliz ao contemplar pássaros e servir alimentos escolhidos para serem ao gosto deles.

         No dilúvio, Noé conseguiu salvar um casal de cada espécie de animais, mas as águas cobriam toda a face da Terra. Ele precisava ter para ele, e todos os bichos, algum sinal de esperança. Soltou uma pomba e depois ela voltou dando esperança de terra firme, uma folha de oliveira no bico.

         Os pássaros se comunicam através do canto e dos gestos. Falam buscando parceria amorosa, advertem do perigo, talvez cantem pela alegria que o som lhe transmite. Galos e bem-te-vis cantam na madrugada para avisar do seu território. Enfim, segundo suas espécies, os pássaros exercitam linguagem própria. Está no Talmude que a sabedoria que Deus concedeu a Sansão incluía o entendimento da língua dos pássaros. Os celtas antigos acreditavam que os pássaros eram profetas vestidos de penas. Seria preciso muita habilidade para que os homens entendessem o sentido das profecias, encobertas no canto.

         Na mitologia grega, a matéria-prima da figura de proa do barco de Jasão era feita da madeira do bosque sagrado. E pelo fato mesmo, poderia falar a língua dos pássaros.

Da mesma maneira que Santo Antônio falava para os peixes, São Francisco, o padroeiro da ecologia, falava com os pássaros, que lhe seguiam os passos.

Na Cabala, a língua dos pássaros, langue verte, era perfeita e secreta. Seria a chave do máximo conhecimento.

Nos hieróglifos egípcios, há muitas representações de aves. Eles falariam a linguagem divina. A escrita seria O Alfabeto dos Pássaros.

De onde se conclui que ouvir o canto dos pássaros é aproximar-se de Deus.

        

 

 

 

Desintoxicar-se e desapaixonar-se

Padre João Medeiros Filho

Após o primeiro turno das eleições, vamos dar uma chance à paz, desarmar os corações e serenar os espíritos. Urge desintoxicar-se e desapaixonar-se. Cristo pregou no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os mansos, pois eles herdarão a terra” (Mt 5, 9). Não esqueçamos que somos todos brasileiros e irmãos (para quem professa o cristianismo). As eleições devem ser concebidas como espaço da democracia. É assim que se precisa entender. Vivemos dias e semanas apreensivos, num clima raivoso, de intimidação, desconstrução de pessoas, radicalismo e agressões. Não é justo nem salutar quebrar os laços familiares e de amizade, dividindo o nosso lar, odiando nosso próprio sangue por conta de política. Podemos ser adversários, mas nunca inimigos. É necessário que assim ajam as pessoas civilizadas e cristãs. O ódio não faz bem, por isso foi condenado pelo Mestre da Galileia. “Fazei o bem aos que vos odeiam. Abençoai os que vos amaldiçoam. Orai pelos que vos caluniam (Lc 6, 27-28). Durante a campanha, sofismas e mentiras confundiram, desorientaram, desvirtuaram fatos e enlamearam pessoas.

Como fazer cessar a aversão e a ira, o desrespeito vil e a agressividade?  Primeiramente, é preciso desarmar os corações. Somos efêmeros, peregrinos na vida, “cidadãos de uma outra pátria” (Fl 3, 20). E para fazer esta experiência é necessário envolver-se e conviver. O que nos une, supera aquilo que nos separa. Somos participantes de uma mesma natureza, temos problemas idênticos ou semelhantes, dificuldades análogas, pertencemos a uma só família. Deus nos dá a chance de nos realizar juntos, apesar de nossas limitações e pecados. Saibamos compreender e perdoar. “Ninguém é perfeito no país dos homens”, afirmava o Pequeno Príncipe. Ou como proclama com mais precisão o Evangelho: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8, 7).

Durante a campanha eleitoral, talvez tenhamos caído na armadilha de alguns, que em vez de unir, nos polarizaram. Em lugar de agregar, nos tornaram inimigos, desejando que eliminássemos com violência e rapidez os rivais. Esqueceram que precisamos de todos para superar e sair das ruínas, juntar os cacos deixados pela pandemia e outras desgraças que possam nos ter atingido. Importa desintoxicar-se de tanta coisa que veicularam as redes sociais e a mídia. Vamos nos voltar para as nossas tradições de povo pacífico, generoso, hospitaleiro e fraterno. As campanhas passam. O poder não é eterno. Lembremo-nos da imagem de Cristo do Corcovado, plantado como símbolo e ícone de nossa hospitalidade e do acolhimento cristão. Ele está de braços abertos para nos receber.

A filosofia ensina que o homem é um ser inacabado. Necessita dos outros para se completar. Por isso, é preciso aprender a dialogar, buscar convergências, transigir, unir e aproximar. É ilusório pensar que o vencedor nas eleições só receberá os louros. Ele terá diante de si antigos, novos e gigantescos desafios.  Quem foi derrotado nas urnas, não pode fazer uma oposição irresponsável e raivosa. Não sejamos egoístas, pensando tão somente em nós, em nossos interesses e partidos. O Brasil vale mais que as ideologias e suas concepções. É preciso ter em mente o futuro. A pátria não pertence apenas aos que vivem agora. Não há nenhuma escritura passada em cartório de que grupos, pessoas ou partidos são proprietários desta rica e querida Terra de Santa Cruz. Vencedores e vencidos precisam estar conscientes de que o Brasil é de todos!

É hora de pensar alto e grande, como fazem os verdadeiros políticos, estadistas e pacifistas da história. Sigamos os ensinamentos de São Francisco de Assis: “Senhor, fazei de mim instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor”. Nossa pátria precisa de serenidade. O Brasil é um país cristão.  Jesus não veio incendiar o mundo com rancor e violência. Pregou e ensinou o amor. “Nisto conhecerão que sois os meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros” (Jo 13, 35). Que Deus nos conceda alegria, esperança e coragem, para trilharmos juntos um caminho de união, justiça, paz e solidariedade. E que o Senhor esteja sempre no meio de nós. Meditemos as palavras do salmista: “Vede como é bom e agradável os irmãos viverem unidos” (Sl 133/132, 1).

 TEMPO DE OUVIR SINAIS

 

Valério Mesquita*

mesquita.valerio@gmail.com

 

Guatama é a personagem histórica que fundou o budismo no século V antes de Cristo. Essa religião, que se opôs ao bramanismo, conta com mais de quinhentos milhões no Extremo Oriente, incluindo-se Índia, China e Japão. Já Maomé, profeta e fundador do islamismo, lá pela era de 632 D.C., domina, hoje, dezenas de países muçulmanos. Pois bem. Não se vê ninguém sistematicamente refutar, distorcer, incriminar, blasfemar através da literatura mundial, sobre a vida pregressa dos fundadores das duas religiões. Apenas, como objetivo deliberado de desmerecer e lambuzar o culto, de desestabilizar a fé, assiste-se, apenas, tal proceder, através de festejados escritores com relação à vida de Jesus Cristo, imputando-lhe comportamento mundano, incompatível com a imagem santa traduzida e ensinada pelo Novo Testamento das Sagradas Escrituras.

Os milhões de cristãos do mundo, entre católicos, evangélicos, ortodoxos, etc., já começam a indagar: por que? Cumprem-se as profecias dos anticristos? A própria Bíblia previu, em várias situações, tanto no Antigo como no Novo Testamento, o aparecimento dos perseguidores do Cristo, que jamais deixou de admitir a influência de Satanás sobre os humanos. Ele próprio sofreu a tentação do maligno e triunfou com o seu poder de Filho de Deus para que se cumprissem as escrituras. Ora, a minha indignação é contras as maledicências de obras ficcionistas de livros e filmes que procuram imprimir comportamentos duvidosos e profanos em Jesus Cristo, tais como: conjunções carnais com Maria Madalena e que foi casado, pai de filhos. Além do mais, desacredita a Bíblia cristã ao afirmar que o imperador de Roma, Constantino, autorizou a elaboração de uma nova, a fim de ocultar informações depreciativas sobre Jesus. Todas essa alegações e outras, integram a trama literariamente bem urdida, porém corrupta, porque falseia, calunia uma verdade histórica que muitos pensadores e gênios da humanidade, através dos tempos, jamais contestaram. Creram.

As minhas despretensiosas assertivas não constituem crítica literária e nem é esse o meu propósito. Agora, difamar a vinda do Cristo subvertendo a vida e a mensagem legadas, sem apresentar qualquer prova documental, histórica, nenhum estudo, pesquisa ou descoberta antropológica,  para exercício de vaidade cultural, literária, com o fito de vender o livro, é ser trapaceiro. É crucificar Jesus de novo.

Minha decepção com o mundo de hoje também se fundamenta no fato de que mais de dez milhões de livros já foram vendidos. Deve ter atingido aquela faixa populacional que só se lembra ou invoca Jesus quando está morrendo no hospital. Ou, quando não, pede para que os serviços religiosos sejam ministrados após a morte, criteriosamente e por via das dúvidas. Só me resta como cristão pedir a Jesus que venha logo desbaratar essa quadrilha de hereges. Fortalecer os seus missionários aqui na terra, sacerdotes, pastores, com a luz do Espírito Santo. Senhor, permitam que aconteçam mais milagres, aparições, porque a incredulidade campeia. O Senhor procedeu assim naquele tempo. E agora, após a população do planeta ter crescido tanto, a ciência, a tecnologia, os anticristos, não seria oportuno ver e ouvir seus sinais?

No Apocalipse 22, versículos 12 e 13, disse Jesus: “E eis que cedo venho e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro”. Palavras fortes que para um bom entendedor, bastam. Estariam os cataclismas no mundo inteiro acontecendo sem a permissão do Senhor para testificar a segunda e anunciada vinda de Jesus ao mundo em transe? Por acaso, a primeira vinda não foi tão meticulosamente planejada, desde o Gênesis, o Êxodo, o Deuteromonio, passando pelos profetas da anunciação, até o Novo Testamento com intercorrências de muitas catástrofes?


(*) Escritor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

 

  • SALDO DE RETALHOS

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Fotos, recortes amarelecidos de jornais, álbuns perdidos, lembranças mortas, tudo se resume no que ficou de mim no caixote que mandei buscar em Macaíba. Quase cinquenta anos estavam ali amontoados sem me passar a certeza de que fui feliz. Viagens, lugares, reuniões, festas, política e políticos, o lar, as pessoas, o trabalho, os entes queridos, a entrevistas, os fatos, os enganos e os engodos, as ações e as traições, as frustrações, tudo, enfim, um baú de vida tecida e vertida em momentos fugazes mas com profundidade. Mesmo assim, era o meu inventário de aparências. O revelado e o relevante. Sim, porque as verdadeiras ações ficaram no pensamento, no que quis realizar e não consegui: porque o melhor de todos nós se encontra no irrevelado.

Sobre a mesa, o pacote empoeirado desafiava-me a memória. De plano, lembrei-me que muitos desses documentos foram náufragos há mais de quarenta anos, aproximadamente, de uma enchente que inundou a rua Francisco da Cruz nº 39, de minha mãe. Com a permissão do destino os papéis não foram afetados menos outros, levados pela correnteza. Naqueles ali apenas constatei o pó e a pigmentação do tempo. Estava diante de mim mesmo resumida a maior parte de minha vida? Perguntei-me. Vejam mesmo, meus caros leitores, o quanto é fuleira a vida quando a colecionamos ou a resumimos em vaidades. Era feliz e não sabia? Frase babaca essa e desnecessária ao texto. O fato é que enfrentei a memória contextual, os meus pedaços de vida, soltos, saídos do útero da casa mater, como único e suficiente tesouro do eterno aprendiz.

Um pacotaço maior e robusto havia me surpreendido à esquerda, naquela tarde de redescobertas. Tratava-se da coleção de diplomas, condecorações, títulos, troféus, placas, medalhas, etc. Era a coleção “vanitas, vanitatis”, que pendurara, ao longo do tempo, nas paredes da sala da frente. Testemunhas documentais de homenagens passageiras. Do mérito bajulatório umas e de fieis reconhecimentos, outras. Enfim, passatempos. De que me servirá hoje tudo isso porquanto só a mim interessa? Penso assim, porque sempre o mundo dá e ele mesmo tira. O que importa é que agora sem a casa de Macaíba não tenho onde colocar meus inúmeros penduricalhos. Resido em casa menor, despojada de arquitetura senhorial que abrigava com pompa e circunstância meus escombros de guerra.

Mas, há algo que lá deixei, além das sementes e da vida dos meus pais, em cada parede, sala e jardins. Uma iniciada biblioteca constituída de bons livros de autores nacionais e principalmente do Rio Grande do Norte. Nas boas mãos de uma bibliotecária pode representar um bom começo para os futuros habitantes. Doei a Fundação José Augusto e a  Casa da Cultura de Macaíba “Nair de Andrade Mesquita” na expectativa maior de que os jovens conheçam mais os autores potiguares. Em suma, eis o meu inventário. Modesto, raquítico, dietético, extraído daquele casarão onde habitou tanto amor, enxugou muitas lágrimas e perfumou sorrisos. Mas, ali tudo era assim mesmo: modesto, pobre, sem ostentação. Era verdadeiramente a casa do povo e que se tornou da cultura municipal, sem deixar de ser do povo. Não sei, mas sinto que há desígnio superior em tudo isso.

 

(*) Escritor

domingo, 16 de outubro de 2022