sábado, 17 de dezembro de 2011

Isso será autoritarismo?
Carlos Roberto de Miranda Gomes*

Ainda no nascedouro, o Governo Rosalba Ciarlini tem tomado atitudes unilaterais que apontam para o que se chama de autoritarismo, que tem conceito no site “Infopedia”, como Derivando do absolutismo, o autoritarismo caracteriza-se pelo exercício do poder por uma só pessoa, que toma medidas sobre os súditos a seu bel-prazer e em exclusividade, caracterizando-se pelo arbítrio na prática desse mesmo poder.
Não se trata de acusação leviana, mas calcada em atos e gestos tomados no correr da administração, sem o resguardo do art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, que todos os agentes políticos, por dever regimental, se obrigam a respeitar.
Começou por revogar a Instrução Interadministrativa nº 01/2001, editada pela Controladoria e Procuradoria Geral do Estado, a qual obrigava a publicação dos chamamentos para a licitação na modalidade convite, que somente trouxe benefícios para a economia do erário público. Os órgãos signatários, ou não foram ouvidos – o que é mais provável, ou se omitiram.
Outros fatos têm sido registrados pela imprensa e cobrados pelos administrados, como a falta de cumprimento de acordos e pagamentos de programas, como o do leite; a saúde pública tem sido prejudicada de uma maneira geral, como igualmente a segurança, motivando sucessivas greves, como também acontece com o segmento educação.
O orçamento público enviado faz redução de percentuais para a saúde e segurança, segundo foi noticiado. A cultura, que foi um dos compromissos de campanha, teve a indicação de apenas, 0,5%, metade do que fora prometido, gerando uma Nota Oficial da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte, através do seu Presidente Eduardo Gosson, que reclama ter sido o projeto do Fundo Estadual de Cultura (Mensagem 30/2011) enviado sem a audiência das partes interessadas, sem qualquer debate mais aprofundado.
Por outro lado, se alardeia pela fala da própria governadora uma onda de “leilões” de bens públicos, de valor histórico, como o Juvenal Lamartine, o Aéro Clube e o Parque Aristofanes Fernandes. Já nem discuto mais a forma equivocada, porém, já agora, a falta de sensibilidade, ao mesmo tempo em que se desprezam o “Presépio de Natal”, desfigurado e depredado, espaços físicos sem utilização, com o terreno vizinho ao Jornal de Hoje e a grande área do antigo leprozário, também a falta de recuperação da biblioteca Câmara Cascudo, seguindo o exemplo da Praça das Flores (Prefeitura), da velha Faculdade de Direito da Ribeira (UFRN), da estação de cargas da Ribeira (Rede Ferroviária), do prédio da Rampa (Governo Federal), contando com o silêncio dos seus administradores ou, pelo menos, com o descaso em ofertar transparência a tais ocorrências.
Temo que a falta de sensibilidade, já demonstrada na alegria do dia da derrubada total do complexo esportivo do Machadão, possa atingir outros bens de importância histórica, quem sabe o Forte dos Reis Magos.ou outro qualquer, fazendo valer o ditado – “Natal é a terra do já teve e não tem mais”.
Registro o meu repúdio e cobro explicações, como um direito de cidadão.
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*Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor e advogado

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

MARINGÁ, A CIDADE CANÇÃO 
Por Daladier Pessoa Cunha Lima – reitor da Farn

Estive em Maringá por três dias, em novembro passado. Localizada no norte do Paraná, decorrem pouco mais de seis décadas desde a fundação e, hoje, conta com cerca de 350 mil habitantes. A qualidade de vida é uma das melhores do Brasil, condição fácil de se notar pelo bem-estar das pessoas que vivem na cidade.
Ruas e avenidas largas, limpas, trânsito sem transtornos; praças, calçadas e canteiros amplos. Mas algo chama a atenção de forma particular: a arborização. Nunca tinha visto tantas árvores entre casas e prédios, tornando os ambientes urbanos calmos e amenos. Procurei logo saber os tipos daquelas diversas árvores: acácia, acácia imperial, sibipiruna, flamboyant, ipê – amarelo, roxo e branco -, quaresmeira, tamareira do oriente, jacarandá mimoso e paineiras, entre outras.
Dentro da cidade existem três áreas de reserva de Mata Atlântica, com cerca de 20 hectares cada uma: Horto Florestal – donde saem as mudas para recomporem a arborização do entorno -, Parque do Ingá e Bosque Tupinambá.
Fui a Maringá a fim de participar do IX Seminário Nacional dos Centros Universitários, com temas relevantes para o momento atual do ensino superior do país. Uma das palestras de muitos aplausos foi a do Professor Wilson de Matos Silva, Reitor do Cesumar – Centro Universitário de Maringá -, instituição anfitriã. Ele falou da ênfase ao mérito acadêmico, do rigor quanto aos horários e aos programas, da tônica na aprendizagem, do combate à cola e ao plágio.
Defendeu que a Educação Superior merece ser financiada a fundo perdido. Disse que recursos do FGTS e do FAT deveriam ser usados para financiar o setor, por exemplo: o trabalhador que ganhasse de 1 a 6 salários-mínimos poderia retirar até 50% do FGTS para pagar a educação da família. O Reitor Wilson de Matos é um empreendedor vitorioso, pois o Cesumar, criado em 1990, situa-se entre as melhores instituições do país, pujante em estrutura, em organização e em qualidade acadêmica.
Maringá é chamada de “Cidade Canção”, porquanto seu nome repete o nome de uma bela canção do grande compositor Joubert de Carvalho (1900 – 1977), que era médico por formação. Com letra e melodia belíssimas, Maringá foi composta em 1932, fazen-do sucesso em todo o Brasil e até no exterior.
Por que o batismo da nova urbe com o nome da canção? Leio no livro sobre a cidade, autoria de Edgar Werner Osterroht, que essa sugestão partiu da senhora Elizabeth Shirlaw Thomas, esposa de Mr. Arthur Thomas, o principal pioneiro no desbravamento do norte do Paraná. No entanto, em conversa com pessoas que nasceram e residem em Maringá, fiquei sabendo de outra versão, a qual vincula tal batismo ao próprio sucesso da música, cantada e ouvida sem parar nos confins das matas do norte do Paraná, pelos primeiros habitantes da região.
Ao falar com o amigo Manoel de Medeiros Brito sobre a minha viagem a Maringá, ele, que sabe das coisas e tem muitas histórias para contar, disse-me de um texto que leu, escrito pelo próprio Joubert de Carvalho, sobre a origem da canção Maringá.
Mineiro, Joubert foi morar no Rio de Janeiro, onde, no começo da década de 1930, conheceu o paraibano Rui Carneiro, Chefe de Gabinete do Ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida, brilhante político e homem de letras da Paraíba. O artista, então, quis homenagear o Nordeste, em especial a Paraíba, terra natal das duas ilustres figuras.
A canção reporta-se à beleza da cabocla Maria do Ingá, à seca do Nordeste, ao sertão e à saudade deixada e sentida pelos retirantes, e até a Pombal, cidade onde nasceu Rui Carneiro. Pouco depois, Joubert de Carvalho foi nomeado médico dos Marítimos, quando exerceu com êxito a profissão para a qual se graduou. Porém, sua vida foi voltada muito mais à música, por dois motivos: paixão e vocação.
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postado por O Santo Ofício
dezembro 15, 2011

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

É notável a inteligência e a criatividade do brasileiro. Veja esta reinterpretação da morte do cisne, na visão de um modesto jovem patrício.


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Colaboração do meu leitor DIDI AVELINO - RJ
O HOMEM NA CADEIRA
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor advogado

Em uma tarde agradável neste dezembro festivo, após assistir o DVD “Man in the chair”, dei-me à tarefa da reflexão e a ela acresci devaneios acerca da realidade do presente estágio da nossa cidade do Natal e do próprio Estado potiguar.
O filme apresenta inúmeras personalidades, mas destaco, apenas, Flash – famoso e esquecido diretor de cinema e Cameron, um jovem estudante ainda do colegial, ambos problemáticos, seja pela velhice desprezada de um, seja pela juventude incompreendida do outro.
O encontro teve por ponto comum, o amor ao cinema. Flash, premiado em sua produção, termina num asilo de velhos, juntamente com inúmeros outros artistas da 7ª arte – atores, roteiristas, escritores, cinegrafistas, operadores de som, de imagem e outras habilidades mais.
A amizade fez despertar no jovem o sonho de fazer um filme e foi buscar socorro no velho diretor que, pelas razões próprias do seu estado de espírito o repudia, tornando o jovem ainda mais rebelde. De repente se encontram na ideia do filme, com outro roteiro – precisamente a forma de vida e de tratamento dados nessas casas de velhos, numa denúncia de medicamentos mal administrados, falta de cuidados mínimos de sobrevivência, tanto quanto Flash tanto combatia com o tratamento dado aos cães vadios, sacrificados pela saúde animal.
Para a concretização daquele sonho, são convocados aqueles velhos jogados ao abandono que, num passe de mágica, ou milagre mesmo, retomam sua auto-estima e voltam a desenvolver suas habilidades de antanho, até mesmo o encontro de Michey com o computador e se espantar com o acesso ao Google de lá constatando que eles não foram esquecidos e ainda tinham valor.
Os trabalhos são iniciados, conseguem financiamento com outro velho ícone do passado, que a vida concedeu o sucesso e o filme é realizado com toda a emoção que só os experientes são capazes de oferecer.
A amizade entre Flash e Cameron foi capaz de modificar vidas, restabelecer sentimentos familiares e, enfim, o filme é concluído com total sucesso.
Pensei então em transformar aqueles velhos artistas em monumentos de barro e concreto que fizeram a história e a cultura em algum tempo e que hoje são desprezados, como aquelas almas do asilo.
Estou agora estudando um filme que retrate todo esse descaso, os remédios inadequados que aplicam para alimentar um acervo mal preservado, uns até demolidos. Nesse filme existem os Flash e os Cameron. O primeiro, que no personagem do filme morre no final, seria o Machadão e o jovem Cameron o rebelde de qualquer idade, que ainda acredita no poder de resgatar a memória de tantas relíquias, para o conhecimento e uso de gerações futuras (o Juvenal Lamartine, o Aéro Clube, o Forte dos Reis Magos, a Biblioteca Câmara Cascudo, o Atheneu, o Parque de Exposição, por exemplo).
No devaneio deste escrito, para ambos os casos – das pessoas e dos monumentos, valem as expressões que encerram o filme:

“Nietzshe era cheio de merda a maior parte do tempo.
Não há massas dispensáveis no mundo.
Qualquer pessoa tem importância.
O que fazemos, quem somos pode afetar uma geração.Não é a força, mas a duração dos grandes sentimentos que fazem grandes homens.
Nietzshe acertou essa.”

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011


DISCURSO DE JURANDYR NAVARRO NA POSSE DOS NOVOS SÓCIOS DO IHGRN
"A aprovação destes títulos, pela Diretoria, datam de algum tempo. Os trabalhos de restauração deste prédio e do imóvel defronte, motivaram o atraso da sua entrega solene, aos ilustres destinatários, daí ser feita na presente Assembléia.

Esta sessão solene, de entrega de Títulos de Sócios Efetivos, a historiadores, é oferecida à pessoa de Enélio Lima Petrovich, dirigente desta Casa de Memória há quase meio século, no momento hospitalizado, e que todos anseiam pela sua pronta recuperação.

O ilustrado historiador é nome consagrado nos Anais da nossa Cultura. Devotou os preciosos anos de sua vida a este templo do saber histórico. Nele, foi, Enélio Petrovich, espécie de guardião do tesouro de suas relíquias, encerradas em seus arquivos, estantes e coleções de peças arqueológicas, paginações da imprensa escrita, documentos aros e todo acervo de períodos passados, adormecidos pelo tempo.

Várias as gerações que ele viu desfilar, debruçadas em suas mesas, estudando, pesquisando, qual laboratório inesgotável, da herança dos séculos.

A sua presença foi permanente no expediente de anos continuados, na sala da Presidência, administrando as demandas apresentadas, de toda ordem, contanto fossem relacionadas, principalmente, aos superiores interesses da ciência que o sábio Heródoto chamou de"Mestra da Vida".

Que na consciência dos presentes, gravado fique o seu exemplo magnífico de incansável labor e que em cada um de nós, o mesmo seja imitado. Qual seja, o de prosseguir no operoso trabalho iniciado pelos nossos maiores, em prol da cultura histórica e das suas tradições milenares.

Jurandyr Navarro Costa"

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

HÁ 18 ANOS

Registro, com plena felicidade, os 18 anos de LUCAS ANTÔNIO ROSSO GOMES CALDAS, meu neto, que superando as dificuldades familiares do início da sua adolescência, soube valorizar a vida junto à sua mãe Thereza Raquel e seu irmão Carlos Victor.
Com ele, este avô e sua avó Therezinha, souberam complementar os cuidados com sua criação e vida social, tornando-se companhia diária.
Os encargos de deixer e buscar na escola, participar dos eventos festivos, registrar a sua primeira comunhão, aniversários, passeios, ver o seu crescimento físico, moral e espiritual, estão perenizados através de fotografias e filmagens e foram recebidos como dádiva de Deus.
Hoje, ao completar a sua maioridade civil, nos presenteia com a conclusão do seu curso secundário e oferece o grande presente de ser um novo acadêmico do Curso de Direito da FARN, onde já está matriculado.
Parabéns meu neto querido - o mais velho, de uma sequência de sete. Obrigado Senhor por tanta felicidade.

Luzeiro do bom caminho;
Ungido pelo Divino;
Chegou para fazer o bem.
Aurora de nova vida;
Saudamos o seu futuro, amém.

Um grande agraço, o beijo e o carinho de Vovô Carlos e Vovó Therezinha 
Em Sessão Solene, presidida pelo Deputado Ricardo Motta, foi realizada ontem a homenagem ao transcurso dos 75 anos da Academia Norte-Riograndense de Letras - ANRL. A proposição partiu do Deputado Antônio Jácome e o "Plenário Deputado Clóvis Motta" viveu um dia de glória, com a presença de imortais, devidamente uniformizados com o pelerine e o colar acadêmicos e o pretígio de inúmeras entidades como a OAB/RN e ALEJURN, através do advogado Odúliko Botelho; a União Brasileira de Escritores do RN e a Academia Macaibense de Letras, através do escritor carlos Gomes; o Instituto Norte-Riograndense de Genealogia, na pessoa do seu Presidente Ormuz Simonetti, além dos Governos do Estado e Município de Natal, UFRN, TRE, TCE e outras entidades potiguares.
Os oradores apresentaram brilhantes discursos, a começar pelo propositor da homenagem, Deputado Antônio Jácome, seguido da Acadêmica Anna Maria Cascudo Barreto, também represedntando o Ludovicus - Instituto Câmara cascudo, que fez uma expressiva declamação em homenagem à ANRL; Acadêmico Juradyr Navarro, também representando o Instituto Histórico e Geográfico do RN, que traçou o perfil da Academia, desde a sua criação, até os dias presentes.  
A sessão, iniciada com a execução do Hino Nacional Brasileiro, foi encerrada com a execução do Hino Oficial do Estado do Rio Grande do Norte.
A TV Assembléia registrou todo o evento, para a perpétua memória do acontecimento.
Tarde inesquecível. Parabéns à Academia e aos seus ilustres Acadêmicos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

DE UMA VEZ POR TODAS
Por Franklin Jorge



Acaba de sair em terceira edição “De uma vez por todas”, miscelânea de poesia e prosa, marcadamente autobiográficas, do queridíssimo poeta Thiago de Mello, autor de um poema que, pelo menos os jovens de minha geração sabiam de cor e salteado, “Os estatutos do homem”, que contém e resume o seu lirismo libertário, atualmente em sexta edição, desde o seu lançamento em 1977.
Perseguido pela ditadura militar, curtiu o exílio no Chile e noutros países, como a Alemanha, fazendo-se querido e admirado por onde passou, pois os deuses o bafejaram com esse misterioso dom de fazer amizade e de doar-se aos amigos, em ação e gentileza, como aproximar pessoas que ele crê estejam em sintonia ou tenham algo em comum. Para Thiago, viver é estar entre os outros, solidariamente, como nos tem ensinado Ana Arendt, lição que ele tomou como preceito e filosofia de vida.
Assim, quando nos conhecemos, cuidou logo de apresentar-me a alguns amigos seus cujos nomes são evocados, juntamente com o meu, nessa sua penúltima obra publicada que tenho debaixo da vista; digo “penúltima”, porque Thiago é desses intelectuais que não se deixam dominar pela fadiga ou o marasmo. Está sempre escrevendo, criando e inovando, como faz agora, em “De uma vez por todas” que, apesar do que há de peremptório e afirmativo nesse título, como algo feito e acabado, não pode ser tomado ao pé da letra. Em resumo, para Thiago, nada finaliza…
Acabei de adquirir o livro que leva a sua voz ardente, graças a noticia que dele me deu ao jantar em minha casa, noites atrás, o professor Antenor Laurentino Ramos, e nele encontrei nas páginas 247-50, prosificado, o longo poema que ele escreveu e marcou, como presente de aniversário, em 1992, os meus quarenta anos, transcorridos em Rio Branco, onde, por um breve tempo, caminhando ao seu lado sob um pálio de nuvens estreladas, pudemos pressupor o sentido de ser no tempo, isto é, da eternidade.
“Um rio cheio de pássaros e estrelas”, eis o titulo do poema que ele conserva em sua cálida e fluente prosa. Nesse texto, o reencontro com uma fração de minha vida: as visitas que fizemos juntos aos escritores Hélio Melo e Mário Diogo; aos ex-governadores Geraldo Mesquita e José Rêgo [este, nascido em Pau dos Ferros, o segundo dos dois governadores doados pelo Rio Grande do Norte ao Estado do Acre]; o churrasco de peixe na casa deste último, um domingo, preparado por esse grande chef boliviano, Salazar Ruela; o pato no tucupi que nos reuniu, uma noite, em torno da mesa de Dona Bela, nossos queridos amigos, Dr. Albérico Batista da Silva, Lídia e Braz, que agora também fazem parte do universo poético e sentimental do “Caboclo Thiago”, aposto que ele usa na terceira pessoa, na intimidade, ao referir-se a si próprio…
Semeador de amizades que perduram em seus versos, Thiago é cheio de surpresas, como a poesia em que se decanta, agora e a cada instante do seu viver intenso, enamorado de tudo e da própria vida, como quem sabe cantar e repartir o canto que o habita.
Thiago tem raízes enterradas no Ceará-Mirim, onde nasci, um pouco antes dele pisar o seu solo, em decorrência de convite feito por Odilon Ribeiro Coutinho, que acabara de adquirir, ali, o Engenho Ilhabela. Havia pouco, Thiago publicara o seu segundo livro, “Narciso Cego” [Editora José Olympio, 1952], enquanto eu mal saíra dos cueiros…
Veio o poeta amazônida acompanhado de um dos grandes escritores brasileiros de sua geração, o paraibano universal José Lins do Rego, a quem ele chamava de Zé Lins, Zé do Rego, ou tão somente Zé, segundo a circunstância; o que não mudava era a amizade viril e a camaradagem que se estabelecera entre o jovem poeta e aquele colosso humano vinte anos mais velho, como se repetiria entre nós há pouco mais de duas décadas, ou bem antes disso, quando comecei a ler os seus poemas, a partir da publicação de “Faz escuro mas eu canto”, de 1965, atualmente em 14ª edição, através do qual ele passou a fazer parte, efetivamente, de minha vida.
Mas, voltemos ao Ceará-Mirim e à vivência de Thiago no Ceará-Mirim, assunto por demais importante para ser ignorado por aqueles que fazem ou fingem fazer cultura entre nós. Minha sugestão é simples: que essas crônicas, escritas quando da passagem do poeta pelo Ceará-Mirim, há quase sessenta anos, sejam reunidas em livro. Não um livrinho qualquer, uma edição bem cuidada e talvez, até, “de luxo”, ilustrada por um desses jovens talentos de minha terra.
Eis minha sugestão.
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postado por O Santo Ofício

dezembro 11, 2011
Transcrito do NOVO JORNAL [Natal, 11 de Dezembro de 2011]

domingo, 11 de dezembro de 2011


Poemas de Saudade
Resolvi, hoje, tratar deste tema tão pungente - saudade e trazer a interpretação dos maiores expoentes da geografia sentimental do Brasil e de além-mar.
Saudade é um sentimento que alcança vários segmentos da vida - um amor que se perdeu, um amigo que se foi (como hoje aconteceu com o Professor Eudes Moura), um lugar num determinado tempo, entes queridos que nos deixaram nesta dimensão da vida, um poema, uma canção.
Mas não seja a saudade somente uma lembrança de dor, mas da felicidade de terem vivido momentos lúdicos, inesquecíveis, também de esperança. Mas, sobretudo de lembranças!
Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

Vinícius de Moraes

E por falar em saudade

E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou louco de tanto prazer

E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
Onde a gente ficava,onde a gente se amava
Em total solidão

Hoje eu saio da noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares,que apesar dos pesares
Me trazem você

E por falar em paixão, em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
Onde anda você.

Vinícius de Moraes

Chega de Saudade


Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser

Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer


Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai


Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca


Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim


Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim.
Vinícius de Moraes


A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond de Andrade

SORRI

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios


Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador


Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos


Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

Charles Chaplin


SAUDADE

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

[Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida...]
Pablo Neruda


 SAUDADE

Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.

Machado de Assis


 A Carta

Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor
Porque veio a saudade visitar meu coração
Espero que desculpes os meus erros por favor
Nas frases desta carta
que é uma prova de afeição
Talvez tu não a leias mas quem sabe até darás
Resposta imediata me chamando de meu bem
Porém o que me importa
é confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida mais ninguém

Tanto tempo faz,
que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão
de que já vi passar
Um ano sem te ver,
um ano sem te amar
Ao me apaixonar,
por ti não reparei
Que tu tivestes só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu...

Renato Russo

PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
Mário Quintana

Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar

Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Chico Buarque