O
TEATRO DA VIDA
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor
Mesmo em momentos adversos, o escritor não abandona a sua
pena e volta a se envolver no universo da realidade ou nas expressões telúricas
das emoções.
Ainda na mesinha do quarto de hospital, rabisquei pensares
dizendo que a vida é consumada com encenações ariadas entre a prosa do
cotidiano, a comédia, o romantismo, o drama e a tragédia.
Cada momento dita um gênero ou dá o tom, como se fora uma
sessão de Teatro na longa estrada da existência.
A infância convoca, geralmente, a alegria, a despreocupação e
por isso representa momentos de contentamento, onde cabe até a comédia, posto
que a felicidade rodeia essa fase existencial, com o mútuo conhecimento das
coisas e das pessoas, sem a exigência de uma responsabilidade extrema.
Depois a adolescência e o começo de desenvolvimento dos
sentidos, do romantismo que se agrega naturalmente à personalidade, a busca do
amanhã no desvendar do desconhecido, já somando tudo a uma perspectiva de responsabilidades.
Com a maturidade e a assunção de encargos, surgem as
dificuldades, as contradições, os desafios, as frustrações e as conquistas.
Nesse contexto pode surgir o drama, o mais indesejado da
caminhada natural, que nos chegam sem aviso, trazendo sofrimentos e apreensões.
Nem todos passam o dissabor da fase da tragédia, do
sofrimento, do martírio, representado por fatores variados – ingratidão, a
doença com seus remédios cruéis, dores atrozes, noites mal dormidas e os
incômodos de toda ordem, que se repetem dia a dia, aliviados com reiterados
gemidos – bom para o paciente e péssimo para quem o cerca.
De tudo isso resulta o aumento da fé, da crença
transcendental, da esperança através de apelos ao Criador, aos Santos
protetores da dimensão superior e dos da convivência diária, tais como
familiares, médicos, enfermeiros, “cérebro e coração unidos trabalhando”,
enfim, aos samaritanos da limpeza, da cozinha, da portaria, dos intercessores
que doam suas orações, passes magnéticos, levam a comunhão ou simplesmente
fazem visita.
A ansiedade é extrema para ver a feliz notícia de alguma
melhora, alimentando a crença de uma alta consagradora.
Esse é o ambiente que vive a nossa família há quase um mês
com a nossa querida THEREZINHA, no Hospital da UNIMED, na solidariedade dos
amigos, na insônia dos acompanhantes, no desvelo dos filhos e no pranto
incontido deste marido, cuja vida é espiritualmente dependente da sua amada,
recompensado, de quando em vez, com um seu sorriso, no afago e cada vez que
consegue levar-lhe alimento do corpo, colher a colher e também para a alma
sofrida.
Desculpem os meus leitores pela divulgação desses
sentimentos, mas acredito que minhas anotações possam difundir a experiência,
não desejada, de tantas emoções de um sofrimento indescritível.
Obrigado aos amigos e até desconhecidos que compreenderem
esse desabafo, que nos transmite o bálsamo da coragem de lutar por uma justa
causa.
Ansiamos solidariamente um grande final, somente com
aplausos!