sábado, 23 de março de 2019



O TEATRO DA VIDA
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor
        Mesmo em momentos adversos, o escritor não abandona a sua pena e volta a se envolver no universo da realidade ou nas expressões telúricas das emoções.
        Ainda na mesinha do quarto de hospital, rabisquei pensares dizendo que a vida é consumada com encenações ariadas entre a prosa do cotidiano, a comédia, o romantismo, o drama e a tragédia.
        Cada momento dita um gênero ou dá o tom, como se fora uma sessão de Teatro na longa estrada da existência.
        A infância convoca, geralmente, a alegria, a despreocupação e por isso representa momentos de contentamento, onde cabe até a comédia, posto que a felicidade rodeia essa fase existencial, com o mútuo conhecimento das coisas e das pessoas, sem a exigência de uma responsabilidade extrema.
        Depois a adolescência e o começo de desenvolvimento dos sentidos, do romantismo que se agrega naturalmente à personalidade, a busca do amanhã no desvendar do desconhecido, já somando tudo a uma perspectiva de responsabilidades.
        Com a maturidade e a assunção de encargos, surgem as dificuldades, as contradições, os desafios, as frustrações e as conquistas.
        Nesse contexto pode surgir o drama, o mais indesejado da caminhada natural, que nos chegam sem aviso, trazendo sofrimentos e apreensões.
        Nem todos passam o dissabor da fase da tragédia, do sofrimento, do martírio, representado por fatores variados – ingratidão, a doença com seus remédios cruéis, dores atrozes, noites mal dormidas e os incômodos de toda ordem, que se repetem dia a dia, aliviados com reiterados gemidos – bom para o paciente e péssimo para quem o cerca.
        De tudo isso resulta o aumento da fé, da crença transcendental, da esperança através de apelos ao Criador, aos Santos protetores da dimensão superior e dos da convivência diária, tais como familiares, médicos, enfermeiros, “cérebro e coração unidos trabalhando”, enfim, aos samaritanos da limpeza, da cozinha, da portaria, dos intercessores que doam suas orações, passes magnéticos, levam a comunhão ou simplesmente fazem visita.
        A ansiedade é extrema para ver a feliz notícia de alguma melhora, alimentando a crença de uma alta consagradora.
        Esse é o ambiente que vive a nossa família há quase um mês com a nossa querida THEREZINHA, no Hospital da UNIMED, na solidariedade dos amigos, na insônia dos acompanhantes, no desvelo dos filhos e no pranto incontido deste marido, cuja vida é espiritualmente dependente da sua amada, recompensado, de quando em vez, com um seu sorriso, no afago e cada vez que consegue levar-lhe alimento do corpo, colher a colher e também para a alma sofrida.
        Desculpem os meus leitores pela divulgação desses sentimentos, mas acredito que minhas anotações possam difundir a experiência, não desejada, de tantas emoções de um sofrimento indescritível.
        Obrigado aos amigos e até desconhecidos que compreenderem esse desabafo, que nos transmite o bálsamo da coragem de lutar por uma justa causa.
        Ansiamos solidariamente um grande final, somente com aplausos!

2 comentários:

  1. Somente os grandes e talentosos escritores são capacidades de pintar,maravilhosamente, o TEATRO DA VIDA. Meu abraço de admiração e solidariedade.

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  2. ...são capazes de...e não, capacidades(correção)

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