quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

 

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2020/21-1

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Após alguns dias de preparação – pintura, limpeza, revisão elétrica, reposições, afinal chegamos de malas e bagagens para o veraneio em Cotovelo, neste raiar de ano novo.

            Na noite de 30 de dezembro, do nosso alpendre, vislumbramos a lua cheia despontando entre as nuvens e logo nos lembramos da nossa THEREZINHA, que adorava o luar, em especial aquele vislumbrado em nossa varanda. Sei que ela está entre as nuvens como anunciou antes de partir,
e é isso que nos dá força para continuar a vida, para garantir a imortalidade de quem foi o esteio da família.

            Notei, nesses dias em que, quase diariamente, vinha verificar os trabalhos, que passou a existir uma atmosfera promissora de calmaria, sem o barulho inconsequente e visando apenas ganhos do Circo da Folia e outros folguedos da área de Pirangi, contaminando a comodidade dos moradores e veranistas das cercanias.

            O fluxo da normalidade nos fez retornar há alguns anos atrás, quando escolhemos a acolhedora Cotovelo para armar acampamento para restauração das canseiras do trabalho e da cidade. População pacífica, ordeira, apesar da proximidade de Alcaçuz e, de quando em vez, com uma balada descabida de grupos sem escrúpulos infernizando a vizinhança até a madrugada – fato já denunciado às autoridades públicas que já estão apurando o abuso, que tem a conivência dos proprietários de imóveis descompromissados com o meio ambiente.

            Este ano, a iluminação pública está incensurável, deixando a população com mais confiança, aliada ao bom serviço de segurança motorizada da PROMOVEC, que continua a sua luta pela melhoria da comunidade, em vários sentidos e que terá neste primeiro dia de 2021 a liderança de Octávio Lamartine.

            Na parte de Cotovelo nova houve várias melhorias na circulação das ruas, mas ainda existem outros pontos esperando complementação.

            A feirinha de Pium, graças a Deus, continua no mesmo lugar, com novo e melhor visual para a satisfação dos moradores, veranistas e turistas, até que o Poder Público solucione o problema definitivamente.

            Ademais de tudo isso, a presença dos rostos amigos, da maravilha das caminhadas pela praia mais pela e limpa do nosso Estado, prometendo que teremos um veraneio diferente, mais familiar, mais solidário, aguardando a bendita vacina contra o Covid19, que deve acontecer no início do ano novo.

            Registro o sucesso de ações sociais da comunidade, alentando a população mais necessidade dos residentes.

            Estamos aqui para engrossar os missionários do amor por Cotovelo e suas cercanias, reivindicando melhorias em todos os sentidos, com a cobertura da PROMOVEC e pessoas de boa vontade que aqui estão se instalando, como são exemplos, Iaperi Araújo e Franklin Jorge, com projetos de cultura e ecologia para a região.

                 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

 


 

Futebol, carnaval e política

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia

 

O filósofo e sociólogo francês Émile Durkheim  dizia queo conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado que tem sua vida própria; poderemos chamá-lo: a consciência coletiva ou comum (1979). A pergunta que daí deriva é: como se consolida a consciência coletiva das pessoas, sendo estas as células que formam a sociedade?

Há três maneiras como o ser humano se apercebe da vida, como vê as outras pessoas, a natureza e os objetos em seu entorno. A primeira, por meio do hábito, é influenciada pelo ambiente familiar e social em que vive e, em muito menor grau, pela herança genética. Um gaúcho, por exemplo, tem propensão a adorar um belo churrasco de picanha na brasa e um chimarrão; se nordestino, um bom prato de carne de sol com feijão-verde e macaxeira frita.

A segunda, pela consciência da existência. Parece incrível, mas a maioria das pessoas não tem essa visão; simplesmente vive e nunca se questiona sobre o assunto, nunca pensa no mistério da vida, no fato de que o mundo existia antes do seu nascimento e continuará existindo após a sua morte. Uma parcela até pensa no assunto, mas de forma mística, apelando para a reencarnação do espírito, como forma de garantir a sua perpetuidade.

A terceira forma de se aperceber da vida é um pouco mais complicada. É pela faculdade de apreender, por meio dos sentidos ou da mente, a perfeita divisão e, ao mesmo tempo, o entrelaçamento do passado, do presente e do futuro – não estou falando de física quântica, mas da vida simples, sem “arrodeios” e salamaleques. Pois bem, muitas pessoas não percebem que seu comportamento no passado formulou o seu ser presente e que o seu comportamento no presente formulará o que será o seu ser futuro.

Analisados em conjunto, esses três conceitos explicariam, em parte, o comportamento dos brasileiros como sociedade – vamos nos abster de outros povos. Vamos tomar como exemplo três “mundos” brasileiros: futebol, carnaval e política. Não importa se o nosso time ou a nossa escola de samba estejam ganhando ou perdendo, nós continuamos a torcer pelo Flamengo e pela Mangueira. Ninguém muda de time ou de escola. Paulinho da Viola tentou abandonar sua Portela, mas não conseguiu – resultou em uma das suas mais festejadas músicas: “Foi um rio que passou em minha vida”.

Todo esse longo introito serviu para chegarmos ao que hoje nos interessa: o mundo da política, em nossa muito coitada pátria amada. Aqui, os políticos são “popstarts”, são estrelas populares de um mundo diferente. Em um cenário em que os partidos nada significam, são as pessoas dos seus dirigentes que verdadeiramente contam. Basta ver as constantes mudanças de legenda de suas “Excelências”. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, foi eleito pelo PSL, mas já tinha sido do PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL e PSC e agora tenta fundar um partido para chamar de seu, o Aliança pelo Brasil.

Exemplos há muitos; a massa sempre segue a pessoa do líder. O Getúlio Vargas, quando ditador, fechou os partidos. Foi do antigo PSD, fundou o PTB e, por este, foi eleito presidente. Jânio Quadros foi do PDC, PTN e elegeu-se presidente pela UDN. José Sarney foi do PSD, da UDN, da Arena e do novo PSD. Fernando Collor foi da Arena, do PMDB, PRN, PRTB, PTB e PTC. Fernando Henrique Cardoso era do PMDB e foi para o DSDB, quando este foi fundado, e lá permanece. Lula sempre foi do PT. Dilma foi do PTB, PDT e PT.

Essas mudanças de partido comprovam que os nossos líderes sempre são seguidos pelos seus correligionários, não importa o que eles façam. Getúlio, um ditador cruel, foi eleito presidente; Jânio renunciou sem dizer o porquê, mas depois foi eleito prefeito de São Paulo; Collor renunciou à presidência para não ser cassado, e mesmo assim foi eleito para outros cargos; Lula e Dilma fizeram um monte de lambanças, porém ainda há quem acredite em suas boas intenções; Bolsonaro, entre outros absurdos, nega a pandemia, diz que não vai tomar a vacina e tem gente que acha que ele está certo.

Os seguidores dos chefes políticos são como torcedores de futebol, não estão nem aí sobre o que vai acontecer e não aprenderam as lições do passado.

 

Tribuna do Norte. Natal, 23 dez. 2020.    

 


ACOMODAÇÕES DA 25ª HORA 

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com 

A frase do ex-deputado federal pernambucano Thales Ramalho de que “maior que a ilusão política só a ilusão do amor” é de uma verdade tão cristalina que me fez refletir mais ainda sobre os últimos dias de Pompéia. A deterioração dos costumes políticos, as debandadas, as infidelidades à 25ª hora, a substituição das coligações eleitorais pela proliferação de legendas partidárias, as adesões no varejo e no atacado em tom promocional e de liquidação; a troca de legendas antes mesmo de o candudato assumir o mandato, tudo conduz o eleitor ao descrédito da vida pública, estarrecido com a conduta pérfida dos seus protagonistas. Em nome da mudança, do novo, do diferente, alguns agentes políticos estão destruindo a própria biografia no jogo vantajoso das premissas e das facilidades dos governos que estão por vir. Nunca a flauta mágica do fisiologismo tocou tão alto desbotando clichês, ruborizando os céticos e dissolvendo bancadas tal e qual o efeito sonrisal. O que está acontecendo hoje com a chamada classe política? Deu a louca no mundo? É tão grande assim o impacto das dívidas e das dúvidas pendentes da campanha que passou? Dir-se-á que os partidos vencedores quando trocaram a ideologia pela convivência dos contrários, os partidos de direita e de centro perderam o pudor e se misturaram no mais estranho e promíscuo hibridismo partidário da história política do país. 

Já que não posso entender, após exaustivas reflexões, espero que tanta gente junta dê certo, tanto aqui quanto alhures, como diria o nosso saudoso Paulo Macedo. Talvez isso tudo seja mesmo uma fogueira das vaidades. E ponto final. Tudo é mesmo ilusão. Nada além de uma ilusão, sobre a qual nos falava o saudoso ator e comunista Mário Lago.
Refletir sobre os fatos e factóides da vida talvez seja a melhor postura diante do mar de Cotovelo. O dom da observação é importante para aprender a viver e dissipar os contrapontos insurgentes. Ergui-me da rede para repensar o imponderável. Vamos devagar com o andor que o santo é de barro e não faz milagre. 

Para o conhecimento do crítico de cinema Valério Andrade, o cenário é o mesmo, os figurantes idem. Mudam os atores, os diretores, produtores e roteiristas. A trilha sonora continuará sendo o hino nacional de Fafá de Belém, e por aqui a velha e ilusória marchinha carnavalesca “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...”. E o filme? O filme é o mesmo para que muitos, mais tarde, possam repetir novamente: já vi essa fita antes.  Está escrito que, na história da humanidade, todos haverão de passar e que o Messias prometido só existiu um. E uma Cleópatra, também. Política, enfim, é mais do que circunstância. É ilusão, mesmo. E muita vaidade. É ilusão gratulatória.


(*) Escritor. 


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

 

 As origens da festa do Natal

Padre João Medeiros Filho

Segundo historiadores, a celebração do Natal remonta ao ano 440, quando o Papa São Leão Magno instituiu a missa “In Nativitate Domini”. Não há registro exato da data do nascimento de Jesus. O dia 25 de dezembro é a cristianização de algumas festas romanas e gregas. Em Roma, eram tradicionais as “Saturnaliae” (Saturnais), em homenagem ao deus Saturno. De acordo com a mitologia, tendo ele sido destronado por Júpiter, fugiu para a Ausônia (Itália). Ali, reinou durante a idade áurea do Império Romano. Em memória desse reinado benéfico, celebravam-se no início do inverno as Festas Saturnais. Pode-se verificar que em tais comemorações havia aspectos análogos à celebração do Natal cristão. Nas Saturnais, suspendiam-se as atividades e serviços públicos (hoje recesso natalino), declarações de guerra, execuções de penas (indulto de Natal) e os amigos trocavam presentes. As árvores eram enfeitadas para que brilhassem (árvores natalinas). Cantava-se e dançava-se em agradecimento a Saturno, divindade da fartura e da vida.

Havia paz e fraternidade. O poeta latino Virgílio aludiu a essa época: “Eis que a Justiça está de volta com o reino de Saturno.” As Saturnais pretendiam lembrar o estado paradisíaco, obter proteção para os campos e os habitantes. Além dos festejos citados, na ocasião havia uma grande ceia, em que todos fraternalmente se colocavam à mesa. A refeição tinha por objetivo mostrar que todos os seres humanos são iguais e os bens da terra lhes pertencem. As igrejas cristãs ensinam que Jesus veio instaurar um reino de Amor, Justiça e Paz. O Filho de Deus se encarnou para proclamar a nossa fraternidade e sentar todos à mesma mesa (Eucaristia) para um banquete oferecido por Deus. Para os cristãos Jesus é o maior dom divino para os homens e seguindo o seu exemplo, há a oferta de presentes. A partir do Édito de Milão, os romanos foram se reunindo, não mais para celebrar uma deidade frágil, mas o Deus Eterno.

Na mitologia grega, Hélios (o deus Sol) é filho de uma virgem chamada Téia. Ele, conhecedor das mazelas do mundo, era a divindade da luz, capaz de trazer vida, curar, queimar e cegar. Consoante a lenda, recebeu de Netuno a cidade de Corinto, onde era adorado por seus habitantes. Estes propagaram por toda a Grécia a festa de Hélios. No solstício do inverno – entre 22 e 23 de dezembro, no hemisfério norte – os coríntios costumavam celebrar a festa do Sol, quando se cantava e pedia que ele não se afastasse da terra e ali não dominassem as trevas, encobrindo as cidades. Em geral, tal festividade tinha o seu ápice no segundo ou terceiro dia, ou seja, em 25 de dezembro.

A Igreja, partindo dessa tradição, começou a celebrar Aquele que é a Luz do Mundo, “Sol da Justiça e da Paz”, preconizado pelo profeta Isaías (Is 32, 1). Segundo a crença helênica, os rigores do inverno deveriam ser amenizados com a proteção do Sol (Hélios). E segundo a concepção do cristianismo, o gelo da insensibilidade, do egoísmo e ódio será eliminado por Aquele que aquece os nossos corações. “Sol divino, aquecei as nossas almas”, reza-se na Sequência da Missa de Pentecostes.

Virgílio já proclamava: “Quando o sol se põe, viaja para as entranhas da noite escura”. Assim, Cristo ausentando-se de nossas vidas e da sociedade, haverá trevas. Narram os relatos da Paixão do Senhor: “Quando Ele expirou, a terra cobriu-se de trevas” (Mt 27, 45). O Filho de Deus apresenta-se a seus contemporâneos como Luz: “Eu sou a Luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas. (Jo 8, 12). Carl Gustav Jung remete o simbolismo de Hélios ao próprio Cristo: “O sol nasce cada dia, é imortal, retrata a força suprema do espírito e da alma, a verdade e o amor.” O Filho de Deus é imortal e nossa fortaleza, como afirma o apóstolo Paulo: “Tudo posso Naquele que me fortalece” (Fl 4, 13). Ele assim se define: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Jesus é inegavelmente a ternura divina, como descreve o evangelista João: “Deus é Amor” (1Jo 4, 8).

 



 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

 



 O encanto dos pássaros

Daladier Pessoa Cunha Lima

Reitor do UNI-RN

Há dezenas de anos, frequento um local onde se sobressai a natureza, tanto com os vegetais ali presentes quanto com os pequenos animais que se movem livres nos espaços. A grama,  a relva, as pequenas plantas são repouso para os olhos no verde que se espraia. Plantas de jardim também são cuidadas, algumas com floradas alegres e coloridas. Três palmeiras se elevam tão lindas, tamanho médio, e exigem pouco para se manterem sempre airosas esorridentes. Em área contígua, existe um pomar com diversas árvores frutíferas, tais como pés de acerola, manga rosa e espada, pitanga, coco e jaca. As polpas das frutas não chegam pra quem quer. Vizinho à jaqueira, a mais alta e a mais robusta das espécimes do pomar, floresce um bonito Pau-brasil, a árvore nacional do país, que deu o nome à nossa Pátria. Chamo-o de Rei, e a jaqueira, de Rainha, alcunhas merecidas, pela altivez com que se destacam. Os pássaros que povoam esse espaço onde o verde domina dão um show à parte com seus cantos belíssimos, sinfonia natural, tocada por orquestra que dispensa regentes. Sei que há um regente invisível, diáfano, tão oculto e, ao mesmo tempo, tão presente, capaz de revelar a beleza na forma mais pura da criação. De todos os cantos dos pássaros desse viveiro a céu aberto, ressalto o dos sabiás, pelo timbre suave que encanta e enleva. O sabiá é citado como o pássaro que canta o amor e a primavera. O poema Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias (1823-1864), é famoso pelo apreço à natureza e aos sabiás: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá”. Desde 2002, o sabiá laranjeira passou a ser, por ato presidencial, a ave nacional do Brasil.Mas, além do sabiá, existemos lindos bem-te-vis, as rolinhas, os beija-flores, os sanhaços, e muitos outros. Há poucos dias, noto que essa alegre e bela cena sonora e visual dos seres alados desse aviário sem barreiras tornou-se meio silente, com menos cursos de voos, enfim, uma calmaria fora do comum. Passei a torcer para que uma construção vizinha logo chegasse ao fim, pois fiquei certo de que o ruído e a poeira eram a causa dessa reação desagradável para os atores do espetáculo da natureza, bem como para os espectadores.Em dias recentes, li uma crônica da neurocientista brasileira Suzana Herculano Houzel, na qual ela aponta que o canto dos pássaros melhora com o menor barulho urbano. Ela se referiu a uma pesquisa da U. do Tennessee que comparou o canto dos pássaros em pleno ruído  da cidade de São Francisco, CA, com o tempo do lockdown abril a junho de 2020 , e verificou que os gorjeios das aves se tornaram bem mais cheios de conteúdo e mais completos, durante a fase de menor barulho. A conclusão da pesquisa foi que, no auge da pandemia, os pássaros urbanos voltaram a cantar com o mesmo esmero dos seus primos da área rural. Bela e sábia natureza.Texto publicado na Tribuna do Norte em 10/12/2020.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

 

Uma conversa sobre Cenas Natalenses

Publicações

 

Gustavo Sobral é jornalista e escritor. Nasceu em Natal, onde vive e espia o mundo.  Autor, dentre outros, de “História da Cidade do Natal”, agora aparece com “Cenas Natalenses” (Natal:  8 Editora/ Offset, 2020, 60p., R$ 25,00), seu novo livro, a venda na livraria Cooperativa Cultura (UFRN) e na Flora Cafeteria.

 

 

História, memória, literatura, jornalismo, crônica são os caminhos da sua escrita, em qual destas facetas se encontra o seu novo livro? Cenas Natalenses considero, como todos os meus trabalhos anteriores, um livro inclassificável, mas mesmo assim posso dizer que é um livro que, no mundo em que vivemos, o mundo imperativo da imagem, pretende ser uma coleção de pequenos e breves retratos da cidade em palavra e desenho. Um breve exercício de jornalismo visual, de ver e ouvir a cidade em movimento.

 

 

 

Qual o papel da ilustração neste seu novo trabalho? É uma forma de expressão. Para que descrever um edifício se posso rabisca-lo?  Mas faço um traço apressado, sem retoques, e trago o desenho também a uma condição de protagonismo.

 

 

 

E como, quando e onde, e porque nasceu esta ideia de “rabiscar”? Sempre gostei dessa coisa de ilustração para livros e queria ilustrações para um livro meu, “Petrópolis”, mas não tinha quem fizesse, eu mesmo arrisquei e saiu. Ai, não deixei mais.

 

 

 

E porque estes lugares (a Fortaleza, o Farol, o Parque das Dunas, etc) e não outros? A sentença de Cascudo, que usei na epígrafe, me concedeu uma liberdade de escolha: “a cidade do Natal é uma perspectiva indefinida”. Fechei os olhos e pensei: que lugares da cidade caberiam numa cena? Procurei os cartões postais: Ponta Negra, a Fortaleza e o Farol; sai em busca do cotidiano, feira livre e o movimento na Praça do Relógio, a maternidade e o cemitério; e não podia deixar de falar da natureza, e fui em busca da flora do Parque das Dunas.

 

 

 

E que texto é este que você faz para o livro? Sempre procurei e busco uma escrita em voz alta, ou seja, aquela que preserve um tom de oralidade e um ritmo. Gosto quando as pessoas dizem: é como ouvir você falando! A forma é tão importante quanto é o conteúdo.  É tudo uma parte do todo.

 

 

 

Um todo? O todo que nasce na proposta do livro passa pelo apelo visual e se transforma na junção de tudo isso em um projeto gráfico. Propus o desenho de todo livro, inclusive, a montagem, procurando uma fluidez na expressão do conteúdo e que o resultado fosse simples como aí está.

 

 

 

E por que escrever sobre Natal? Porque não sei ser de outro lugar. O escritor tem sempre uma forte ligação com a sua cidade, portanto, me volto para Natal nesta perspectiva meio quixotesca que Cascudo tratava por um provincianismo incurável.

 

 

 

Uma espécie de Dom Quixote tropical? Quem sabe?!  (risos). A afirmação de Lygia Fagundes Teles para mim ainda é válida: há três espécies em extinção no Brasil: a árvore, o índio e o escritor.

 

 

 

E o que resta ao escritor, esta espécie em extinção, fazer? Escrever! Já dizia o poeta Ferreira Gullar a arte, a literatura, a poesia, tudo isso existe, porque a vida não basta. Escrever é a forma certa de não deixar tudo passar e basta.

 

 

VENDA

Flora Cafeteria, na Floricultura Flor de Algodão.
Av. Rodrigues Alves, 443 - A - Petrópolis.
Horário de funcionamento: segunda a sexta, 12h às 19h;
sábados 9h às 15h.
Telefone para contato (84) 2030-4090


Livraria Cooperativa Cultura, UFRN.
Horário de funcionamento: segunda a sexta, 9h às 16h.
Entrega pelo Delivery, telefone para contato e pedidos (84) 3211-9230
ou pelo WhatsApp (84)99864-1991.


Valor do livro R$ 25,00

 

Para ler este e outros inscritos, acesse: gustavosobral.com.br