quarta-feira, 3 de agosto de 2022

 



OBSOLESCÊNCIA PLANEJADA

Tomislav R. Femenick – Mestre em Economia e Contador

 

Quando a produção de uma mercadoria é planejada para que ela atinja o estado de obsolescência em tempo determinado, nessa programação há um componente importante: a assimetria de informação – o produtor sabe o tempo projetado para duração do produto, enquanto o consumidor não. Por isso, a Obsolescência Planejada tem mais probabilidade de êxito quando a produção da mercadoria sob a qual está sendo aplicada é exercida por empresas monopolista ou oligopolista. Na maioria das vezes esse monopólio ou oligopólio é em decorrência de tecnologias cujas patentes são de propriedade do fabricante ou cujo direito de uso foi por ele adquirido.

O exemplo mais citado como fato concreto é o mercado automobilístico norte-americano nos anos 1960 e 1970. Até essa época, as montadoras do país praticamente só faziam veículos grandes e com alto índice de caducidade. Quando chegaram os carros japoneses, mais compactos e projetados para terem “maior tempo de vida”, as fábricas americanas tiveram que redefinir o tamanho e tempo de uso dos seus carros.

Vários mecanismos de planejamento são usados para fazer surgir a obsolescência de uma mercadoria ou serviço, uma delas é o desuso por causas técnicas. Essa é a principal causa da obsolescência das mercadorias em geral. Aqui se tem dois tipos de desuso por causas tecnológicas: a) porque foram descobertos novos processos após o lançamento do produto ou b) porque o primeiro lançamento da mercadoria com tecnologia inferior tinha como objetivo financiar as pesquisas para desenvolver as inovações do segundo lançamento, e assim repetidamente. No primeiro caso uma descoberta científica não programada que provoca a caducidade. O segundo caso é o que se identifica com o conceito técnico de oPlanned obsolescence is made more likely by making the cost of repairs comparable to the replacement cost, or by refusing to provide service or parts any longer.obsolescência planejada – os produtos antecessores e sucessores são elaborados pela mesma corporação. 

Há ocorrências que fazem aflorar o “estado obsoleto” de um bem, como resultado de programação industrial. Uma delas é quando há necessidade de se fazer manutenção preventiva ou corretiva que envolva reparos ou substituição de peças. Nessas situações, o custo dos reparos se aproxima, é igual ou é superior ao de substituição do bem antigo por um novo, contendo as inovações mais modernas. Outra forma é simplesmente o fornecedor suspender a assistência técnica e a reposição de peças. Uma terceira forma de evidência de obsolescência é quando um produto novo (com novas tecnologias) não oferece condições de interagir com produtos antigos (com tecnologias anteriores). Os exemplos mais comuns são os periféricos de computadores e alguns tipos de máquias industriais que não funcionam com softwares ou equipamentos recém-lançados.

            Outro caso é o desuso por oPlanned functional obsolescence is a type of technical obsolescence in which companies introduce new technology which replaces the old.bsolescência funcional, quando os fabricantes introduzem novas tecnologias que substituem totalmente as tecnologias antigas. Uma loja de Mossoró pode servir de exemplo. Quanto inaugurada, vendia os antigos discos de vinil, fitas cassetes e fitas de videocassete, por isso seu nome: “Disco Fitas”. Hoje a loja ainda existe, porém não vende nem discos de vinil, nem fitas cassetes, nem videocassete; produtos que não mais existem e que foram substituídos por outros.

 

Tribuna do Norte. Natal, 03 ago. 2022

 

OBSOLESCÊNCIA PLANEJADA

Tomislav R. Femenick – Mestre em Economia e Contador

 

Quando a produção de uma mercadoria é planejada para que ela atinja o estado de obsolescência em tempo determinado, nessa programação há um componente importante: a assimetria de informação – o produtor sabe o tempo projetado para duração do produto, enquanto o consumidor não. Por isso, a Obsolescência Planejada tem mais probabilidade de êxito quando a produção da mercadoria sob a qual está sendo aplicada é exercida por empresas monopolista ou oligopolista. Na maioria das vezes esse monopólio ou oligopólio é em decorrência de tecnologias cujas patentes são de propriedade do fabricante ou cujo direito de uso foi por ele adquirido.

O exemplo mais citado como fato concreto é o mercado automobilístico norte-americano nos anos 1960 e 1970. Até essa época, as montadoras do país praticamente só faziam veículos grandes e com alto índice de caducidade. Quando chegaram os carros japoneses, mais compactos e projetados para terem “maior tempo de vida”, as fábricas americanas tiveram que redefinir o tamanho e tempo de uso dos seus carros.

Vários mecanismos de planejamento são usados para fazer surgir a obsolescência de uma mercadoria ou serviço, uma delas é o desuso por causas técnicas. Essa é a principal causa da obsolescência das mercadorias em geral. Aqui se tem dois tipos de desuso por causas tecnológicas: a) porque foram descobertos novos processos após o lançamento do produto ou b) porque o primeiro lançamento da mercadoria com tecnologia inferior tinha como objetivo financiar as pesquisas para desenvolver as inovações do segundo lançamento, e assim repetidamente. No primeiro caso uma descoberta científica não programada que provoca a caducidade. O segundo caso é o que se identifica com o conceito técnico de oPlanned obsolescence is made more likely by making the cost of repairs comparable to the replacement cost, or by refusing to provide service or parts any longer.obsolescência planejada – os produtos antecessores e sucessores são elaborados pela mesma corporação. 

Há ocorrências que fazem aflorar o “estado obsoleto” de um bem, como resultado de programação industrial. Uma delas é quando há necessidade de se fazer manutenção preventiva ou corretiva que envolva reparos ou substituição de peças. Nessas situações, o custo dos reparos se aproxima, é igual ou é superior ao de substituição do bem antigo por um novo, contendo as inovações mais modernas. Outra forma é simplesmente o fornecedor suspender a assistência técnica e a reposição de peças. Uma terceira forma de evidência de obsolescência é quando um produto novo (com novas tecnologias) não oferece condições de interagir com produtos antigos (com tecnologias anteriores). Os exemplos mais comuns são os periféricos de computadores e alguns tipos de máquias industriais que não funcionam com softwares ou equipamentos recém-lançados.

            Outro caso é o desuso por oPlanned functional obsolescence is a type of technical obsolescence in which companies introduce new technology which replaces the old.bsolescência funcional, quando os fabricantes introduzem novas tecnologias que substituem totalmente as tecnologias antigas. Uma loja de Mossoró pode servir de exemplo. Quanto inaugurada, vendia os antigos discos de vinil, fitas cassetes e fitas de videocassete, por isso seu nome: “Disco Fitas”. Hoje a loja ainda existe, porém não vende nem discos de vinil, nem fitas cassetes, nem videocassete; produtos que não mais existem e que foram substituídos por outros.

 

Tribuna do Norte. Natal, 03 ago. 2022

 


terça-feira, 2 de agosto de 2022

ASPECTO DE UMA PERSONALIDADE ILUSTRE

“NOILDE PESSOA RAMALHO”

 

 

Valério Mesquita

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Noilde Pessoa Ramalho foi uma personalidade a quem Bertoldt Brecht classificaria como indispensável, pois se enquadrou, perfeitamente, entre aquelas que lutaram com afinco em todos momentos de sua profícua existência em prol da causa que abraçou. E essas pessoas o grande poeta e dramaturgo alemão chamou-as definitivamente de “imprescindíveis”.

Nascida em Nova Cruz/RN, veio no início de sua juventude – juventude essa que conservou, em muitos aspectos, para Natal, com a finalidade de estudar na recém-criada Escola Doméstica. Essa escola especial e peculiar era, e ainda é, única no cenário educacional brasileiro.

A Escola Doméstica de Natal, fundada por Henrique Castriciano, meu ilustre conterrâneo macaibense, mas cidadão do mundo, surgiu no cenário cultural do Rio Grande do Norte como obra de um intelectual superiormente dotado, culto, de elevadíssima inteligência, de sentimentos altruísticos, viajado e realizado como homem público e educador. Acometido na juventude pela tuberculose, buscou tratamento médico na Suíça e em outros centros médicos europeus. Sua temporada nos sanatórios da Suíça e sua passagem pela Bélgica, revigorou-o e restabeleceu-lhe, em grande parte, a saúde.

Voltou da Europa entusiasmado com as inovações na área da educação e encantado com a ideia de uma Escola Doméstica para Natal. Aqui chegando, tratou de aplicar na prática, os conhecimentos trazidos da Europa. Funda a Liga de Ensino que é – até hoje, a entidade mantenedora da Escola Doméstica, o educandário padrão e modelar da mulher brasileira, especialmente da mulher potiguar. Nesta hercúlea tarefa foi assessorado por outros pioneiros entre os quais cumpre destacar o nome do Dr. Varela Santiago.

Foi nessa Escola destinada à formação integral do caráter e da personalidade dos educadores voltados para a administração de lares, que a futura professora e depois Diretora Noilde Ramalho ingressou para nunca mais de lá sair. Estudou todo o seu curso no antigo prédio da Ribeira, na Praça Augusto Severo, onde tempos depois funcionou a Faculdade de Direito, local onde cursei e conclui o meu curso jurídico.

Em 1945, assumiu a professora Noilde Ramalho a Direção Geral do já famoso estabelecimento, pelo qual passou a trabalhar com redobrado afinco. Foi sob sua égide que se desenvolveram as reformas indispensáveis para que a Escola Doméstica atualizasse sua grade curricular, nos moldes das reformas educacionais que estavam sendo implementadas no país pelo Ministério da Educação e Cultura, MEC, e assim se equiparasse ao ensino regular. Mas a Diretora Noilde Ramalho jamais deixou de zelar para que os ideais, os princípios e as características diferenciadas da já tradicional Escola Doméstica fossem mantidas. Promoveu as reformas exigidas pela legislação, mas sem “desfigurar” as características da educação voltada para o lar e para a família.

Foi também o trabalho e a competência da professora Noilde Ramalho, auxiliada por homens, mulheres e governantes de visão que tornaram possível a transferência da Liga de Ensino, da Escola Doméstica, para suas atuais instalações na Avenida Hermes da Fonseca. Nessas novas instalações iniciaram-se os trabalhos de educação primária, com Henrique Castriciano, e de educação superior, com a FARN, Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte. O seu trabalho, a sua competência e a sua perseverança fizeram com que a instituição crescesse, sendo atualmente, um complexo de ensino que oferece da educação infantil à superior.

Pelos seus relevantes serviços prestados à Educação, a professora Noilde Ramalho merecidamente recebeu medalhas, comendas, distinção e títulos honoríficos relacionados com educação e cultura nas esferas municipal, estadual e nacional. A professora Noilde Ramalho foi um exemplo de vida e de trabalho. Raramente se encontra uma família no Rio Grande do Norte que não tenha se beneficiado do seu magnífico trabalho educacional, formando gerações e gerações de estudantes que mais tarde se destacaram nos mais variados campos e nas diferentes atividades humanas, sem prejuízo de sua formação básica - a educação doméstica para a administração do lar e da família.

Em minha própria casa, minha querida irmã Nidia, encheu o nosso lar de alegria ao concluir o curso da Escola Doméstica e a minha filha Isabelle. E os benefícios de seu trabalho educacional não se restringem ao nosso Estado, pois a cada ano mais e mais alunas, de outros Estados, principalmente da região nordeste, vêm buscar a cultura, o saber e a solidez do ensino e da educação oferecida pela Escola Doméstica de Natal.

Por tudo isso, e por muito mais que o espaço não me permite registrar aqui, a realização de seu trabalho impar, a colocou entre as mais destacadas mulheres que figuram nas páginas da história do Rio Grande do Norte e do nosso país, pela sua cultura, pela sua inteligência, pela sua alegria, solidariedade e dedicação.


(*) Escritor


 A festa de Sant’Ana e suas datas 

Padre João Medeiros Filho 

Há poucos dados históricos sobre Santa Ana ou Sant’Ana. As referências que nos chegaram a seu respeito provêm do Protoevangelho de Tiago. Este documento data do primeiro século do cristianismo e não integra os escritos bíblicos reconhecidos pela Igreja. Apesar de ser um texto apócrifo, trata-se de uma importante obra da antiguidade cristã, citada pelos teólogos da Igreja Oriental, notadamente Epifânio de Salamina e Gregório de Nissa. O nome Ana provém do hebraico “Hanna” e significa graça. A genitora da Virgem Santíssima descende de Aarão. Segundo a tradição cristã, era esposa de Joaquim que, por sua vez, pertencia à estirpe real de Davi. Dessa nobreza, portanto, participam Maria e Jesus. O culto à mãe da Virgem de Nazaré é bem antigo no Oriente, já solidificado no século VI. No Ocidente, remonta aos anos setecentos. Em 1584, Gregório XIII fixou em 26 de julho a sua festa. Entretanto, em Caicó (RN), a celebração acontece no domingo após esse dia, como iremos comentar adiante. A devoção à esposa de São Joaquim difundiu-se de tal modo que a Igreja lhe reserva o título de “Senhora”, concedido apenas a Maria Santíssima. Muitos católicos passaram a chamá-la de “Nossa Senhora Sant’Ana”. É patrona da Casa da Moeda do Brasil, por designação de Dom João VI. Exímia gestora e financista, dividia o salário do esposo em três partes: uma para a manutenção da família, outra para o culto e a terceira para ajudar os pobres. Suas relíquias são veneradas em vários países, possuindo duas versões sobre sua presença no Ocidente. Conforme a primeira, em 710, trasladaram-nas de Israel para Constantinopla e, de lá, distribuídas para várias igrejas, estando a maior delas em Düren (Alemanha). De acordo com a segunda versão, levaram-nas para Apt de Vaucluse (antiga Apta Julia, perto de Avignon, na França). Narra-se que, durante os séculos XII e XIII, os cruzados, ao retornarem do Oriente, trouxeram-nas até aquela localidade da antiga Gália para que não fossem profanadas pelos pagãos. A caicoense Déa Vale Lopes Cardoso (cujos filhos mantinhamuma casa de campo, nessa região) está empenhada em obter ali uma relíquia de Sant’Ana para a catedral de sua terra. Glorificado seja Deus nos seus santos, “louvai-o segundo a imensidão de sua grandeza” (Sl 150, 2). Conta-se que nos anos de 1624 e 1625 Sant’Ana apareceu a Yves Nicolazic, na cidadezinha francesa de Auray, identificando-se: “Eu sou Ana, mãe de Maria. Deus quer que eu seja honrada aqui, onde havia uma capela e uma imagem em minha homenagem. Desejo um novo templo erguido neste local.” Yves obedeceu-lhe e cuidou de levar muitos conterrâneos ao lugar indicado. Lá, encontraram a antiga imagem, como havia sido dito. Dom Sebastião Rosmadec, bispo da diocese de Vannes à qual pertencia o lugarejo, mandou investigar os fatos, confirmados por peritos e especialistas. Em 1996, São João Paulo II visitou a basílica ali existente, beijando o secular relicário da santa, doação dos reis franceses. Por que Caicó celebra a festa da padroeira no domingo subsequente a 26 de julho? A iniciativa partiu de Padre Francisco de Brito Guerra, pároco de Sant’Ana, de 1802 a 1845. Argumentou junto ao bispo de Olinda sobre a necessidade de participar, na qualidade de visitador diocesano, dasfestas da padroeira de Campo Grande e Santana do Matos, paróquias limítrofes e detentoras do mesmo orago caicoense. Deve-se lembrar que três vigários coadjutores de Padre Guerra eram (como ele) campo-grandenses e também dois sobrinhos seus, outrora párocos de Jardim do Seridó. Cônego Heliodoro de Sousa Pires, pesquisador paraibano, autor de Temas para a História Eclesiástica do Brasil, alude àquele fato. Monsenhor Francisco Severiano de Figueiredo (caicoense do distrito da Palma, que nos brindou com História da Arquidiocese da Paraíba) apresenta versão análoga. Segundo eles, o prelado olindense, Dom João da Purificação Marques Perdigão atendeu à solicitação do pároco inamovível do Seridó, concedendo-lhe a autorização nos termos requeridos. O estudioso presbítero Gleiber Dantas de Melo assevera que a alteração na data da festividade consta de edições do devocionário Escudo Admirável e do jornal O Povo. “Dai graças ao Senhor porque Ele é bom. Sua misericórdia é eterna” (Sl 118/117, 1).