ASPECTO DE UMA PERSONALIDADE ILUSTRE
“NOILDE PESSOA RAMALHO”
Valério Mesquita
Noilde Pessoa Ramalho foi uma personalidade a quem Bertoldt Brecht classificaria como indispensável, pois se enquadrou, perfeitamente, entre aquelas que lutaram com afinco em todos momentos de sua profícua existência em prol da causa que abraçou. E essas pessoas o grande poeta e dramaturgo alemão chamou-as definitivamente de “imprescindíveis”.
Nascida em Nova Cruz/RN, veio no início de sua juventude – juventude essa que conservou, em muitos aspectos, para Natal, com a finalidade de estudar na recém-criada Escola Doméstica. Essa escola especial e peculiar era, e ainda é, única no cenário educacional brasileiro.
A Escola Doméstica de Natal, fundada por Henrique Castriciano, meu ilustre conterrâneo macaibense, mas cidadão do mundo, surgiu no cenário cultural do Rio Grande do Norte como obra de um intelectual superiormente dotado, culto, de elevadíssima inteligência, de sentimentos altruísticos, viajado e realizado como homem público e educador. Acometido na juventude pela tuberculose, buscou tratamento médico na Suíça e em outros centros médicos europeus. Sua temporada nos sanatórios da Suíça e sua passagem pela Bélgica, revigorou-o e restabeleceu-lhe, em grande parte, a saúde.
Voltou da Europa entusiasmado com as inovações na área da educação e encantado com a ideia de uma Escola Doméstica para Natal. Aqui chegando, tratou de aplicar na prática, os conhecimentos trazidos da Europa. Funda a Liga de Ensino que é – até hoje, a entidade mantenedora da Escola Doméstica, o educandário padrão e modelar da mulher brasileira, especialmente da mulher potiguar. Nesta hercúlea tarefa foi assessorado por outros pioneiros entre os quais cumpre destacar o nome do Dr. Varela Santiago.
Foi nessa Escola destinada à formação integral do caráter e da personalidade dos educadores voltados para a administração de lares, que a futura professora e depois Diretora Noilde Ramalho ingressou para nunca mais de lá sair. Estudou todo o seu curso no antigo prédio da Ribeira, na Praça Augusto Severo, onde tempos depois funcionou a Faculdade de Direito, local onde cursei e conclui o meu curso jurídico.
Em 1945, assumiu a professora Noilde Ramalho a Direção Geral do já famoso estabelecimento, pelo qual passou a trabalhar com redobrado afinco. Foi sob sua égide que se desenvolveram as reformas indispensáveis para que a Escola Doméstica atualizasse sua grade curricular, nos moldes das reformas educacionais que estavam sendo implementadas no país pelo Ministério da Educação e Cultura, MEC, e assim se equiparasse ao ensino regular. Mas a Diretora Noilde Ramalho jamais deixou de zelar para que os ideais, os princípios e as características diferenciadas da já tradicional Escola Doméstica fossem mantidas. Promoveu as reformas exigidas pela legislação, mas sem “desfigurar” as características da educação voltada para o lar e para a família.
Foi também o trabalho e a competência da professora Noilde Ramalho, auxiliada por homens, mulheres e governantes de visão que tornaram possível a transferência da Liga de Ensino, da Escola Doméstica, para suas atuais instalações na Avenida Hermes da Fonseca. Nessas novas instalações iniciaram-se os trabalhos de educação primária, com Henrique Castriciano, e de educação superior, com a FARN, Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte. O seu trabalho, a sua competência e a sua perseverança fizeram com que a instituição crescesse, sendo atualmente, um complexo de ensino que oferece da educação infantil à superior.
Pelos seus relevantes serviços prestados à Educação, a professora Noilde Ramalho merecidamente recebeu medalhas, comendas, distinção e títulos honoríficos relacionados com educação e cultura nas esferas municipal, estadual e nacional. A professora Noilde Ramalho foi um exemplo de vida e de trabalho. Raramente se encontra uma família no Rio Grande do Norte que não tenha se beneficiado do seu magnífico trabalho educacional, formando gerações e gerações de estudantes que mais tarde se destacaram nos mais variados campos e nas diferentes atividades humanas, sem prejuízo de sua formação básica - a educação doméstica para a administração do lar e da família.
Em minha própria casa, minha querida irmã Nidia, encheu o nosso lar de alegria ao concluir o curso da Escola Doméstica e a minha filha Isabelle. E os benefícios de seu trabalho educacional não se restringem ao nosso Estado, pois a cada ano mais e mais alunas, de outros Estados, principalmente da região nordeste, vêm buscar a cultura, o saber e a solidez do ensino e da educação oferecida pela Escola Doméstica de Natal.
Por tudo isso, e por muito mais que o espaço não me permite registrar aqui, a realização de seu trabalho impar, a colocou entre as mais destacadas mulheres que figuram nas páginas da história do Rio Grande do Norte e do nosso país, pela sua cultura, pela sua inteligência, pela sua alegria, solidariedade e dedicação.
(*) Escritor
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