HOJE, dia 21.11.2015, contam-se 180 anos da morte do Padre Leiros, meu trisavô, primeiro pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Ó, Município de Nísia Floresta-RN. Com um forte e fraternal abraço, W. Leiros
“HÁ CENTO E OITENTA ANOS
- 21.11.1835 –
(Wellington Leiros)
O Padre ANTONIO GOMES DE
LEIROS, natural da Paraíba, primeiro vigário-colado da então recém criada
Paróquia de Nossa Senhora do Ó (31.07.1833), em Papari (hoje Município de Nísia
Floresta), desmembrada de São José de Mipibu, fora nomeado pelo Bispo de
Pernambuco, tendo assumido o “munus
eclesiastico” na então Vila de Papari, aos 30 de agosto de 1833.
Aos 21 de novembro de 1835, isto
é, dois anos, dois meses e vinte e três dias depois, fora assassinado, em plena
via pública de Nísia Floresta (nas proximidades da frondosa e secular “baobá”).
O Monsenhor Severino Bezerra
“in” Levitas do Senhor – vol. II, refrindo-se ao Padre Leiros, escreveu:
“Sacerdote moço, com boa
disposição para o trabalho, numa paróquia recentemente criada, com vivência
popular no meio de seus paroquianos, que bem o estimavam.”
Pois bem, consta que o Padre
Leiros descobrira que as terras onde TOMAZ MARINHO, membro da família Marinho
de Papari, seu paroquiano, fundara, com muita dedicação e capricho, um
dos “sítios” mais bonitos da Povoação de Papari, eram propriedade de Nossa
Senhora do Ó, porquanto, para a formação do patrimônio da paróquia, Diogo
Malheiros Rebouça e sua mulher Felipa Rodrigues de Oliveira haviam doado, em
1762, “...mil e cem braças de terra em
Papari, sendo seiscentas em taboleiro e quinhentas em terra boa para
plantações...” e, exatamente nelas, estariam encravadas as terras do sítio
de Marinho.
A família Marinho, juntamente com as famílias Gusmão e Pires, todas de
Papari, construíram a Matriz daquela localidade.
O sítio de TOMAZ MARINHO,
graças a seu esforço e dedicação, sem falar na excelência de suas terras para a
agricultura, a cada dia se transformava em um dos mais vistosos, seduzindo os
olhos do povo.
MARINHO, apesar de ter
recebido várias propostas de compra, algumas bastante consideráveis, dizia: ”de modo algum está à venda”.
O Vigário, por sua vez, também
aguçara os olhos no sítio tão desejado. Sabedor de que MARINHO não possuía os
documentos da propriedade e alegando que as terras pertenciam à Paróquia,
propôs ação judicial de reintegração de posse, através do rábula Antônio
Gabriel de Carvalho.
Aliás, sobre as terras de
MARINHO, há duas versões que, de certo modo, deságuam no mesmo estuário.
“In” Levitas do Senhor, o Mosenhor Severino Bezerra diz que “...o povo quer adquirir o sítio de MARINHO
com ofertas em dinheiro mas, o Vigário quer, à força de questão, tomar posse do
bem alheio”.
O historiador Luiz da Câmara
Cascudo, por seu turno, “in” artigo (acta diurna) publicado em A República de
24.11.1939, diz, textualmente:
“O Padre Leiros ofereceu compra e obteve uma recusa imponente. O dono
do sitiozinho não possuía seus documentos em ordem. O Padre Leiros adquiriu
terra vizinha, outrora de âmbito maior e não demarcada. Veio a Natal e entregou
a questão ao melhor e mais sagaz dos rábulas daquele tempo, Manoel Gabriel de
Carvalho.”
De Antônio Gabriel de Carvalho (citado pelo Monsenhor Severino
Bezerra) a Manoel Gabriel de
Carvalho (citado por Câmara Cascudo), a dubiedade não faz diferença ao caso.
O que se tinha, e se teve,
de certo, e o povo todo de Papari já sabia disso, é que MARINHO iria perder suas terras. Vindo à
Natal, constatara a veracidade das informações: “...aquele sítio é minha vida e vale tanto quanto ela....”, dissera
MARINHO, “...vamos perder nós dois e ele,
o padre, perde muito mais”. Comprou uma pistola e as respectivas balas.
Aos 21 de novembro de 1835 (a narração é
de Luiz da Câmara Cascudo) “...sol
descendo, Marinho passava por uma tavérnola em Papari quando o Padre Leiros
chamou-o, com voz alegre e alta: perdeste
a terra, Marinho! E você a vida, bradou o expoliado, arrancando a pistola e
desfechando-a, num estampido, no peito do vigário. Houve um tumulto. Gritos,
correrias, ordens. Marinho não procurou fugir. Foi preso. Coberto de sangue, o
Padre Antônio Gomes de Leiros agonizava. Duas horas da tarde. Enterram-no no
dia seguinte, com solenidade, na Matriz...”
Nada há, quer nos registros civis, quer nos da
igreja, quaisquer assentamentos sobre a morte do Padre Antônio Gomes de Leiros.
Também não há provas de que o Padre Leiros tenha sido sepultado na Matriz de
Nísia Floresta (antiga Papari). Não existe, ali, qualquer sepulcro que possa
ser identificado como sendo o jazigo perpétuo do Vigário Antônio Gomes de
Leiros, o que é lamentável, inclusive para a instituição à qual servira, até à
trágica morte.
...e nunca mais se ouviu falar do Padre Leiros.
O Padre ANTÔNIO GOMES DE LEIROS, teve, apenas, ao
que se sabe, um único filho, fruto de sua relação com Isabel Gomes de Souza:
Antônio Gomes de Leiros (este, meu bisavô), que fora casado com Florência de
Castro Barroca, filha de Duvina Renovata da Rocha Fagundes (irmã do Vigário
Bartolomeu da Rocha Fagundes) e Diogo Apolônio de Castro Barroca.