sábado, 16 de março de 2019



NO TEMPO, O AMOR QUE NÃO PASSOU.
Por: CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
                Desde que retornei a morar em Natal em 1948, onde passei a residir na Rua Meira e Sá, nº 120, no Barro Vermelho, tendo como único vizinho ao lado (casa nº 118), um cidadão italiano chamado Rocco Rosso, casado com Dona Rosina e que tinha duas filhas: Rachelle, a mais velha e Therezinha. Éramos somente vizinhos.
            Estudávamos inicialmente no Instituto Batista do Natal, localizado bem próximo das nossas casas, precisamente na Rua Professor Clementino Câmara (que antes era o prolongamento da nossa rua), mas em tempos diferentes e classes distintas.
            Em 1950 tornei-me cantor da Rádio Poti e os meus encantos convergiam para as minhas fãs. Tendo resolvido abandonar a vida artística, pelos idos de 1954 e estudante, então, do Ginásio Natal (local, hoje, das Lojas Americanas) e Therezinha no Colégio Nossa Senhora das Neves e depois na Escola Profissional Feminina, na Praça da Independência (defronte ao Palácio Potengi) e nossos caminhos, eventualmente, se cruzavam após as aulas e, então alguma coisa despertou em mim, quando então escrevi algo um tanto indicativo - Inspiração 03.02.1954.
            A minha primeira atração foi pelas tranças de Thereza, como sempre a chamei, pois não tinha coragem de enfrentar a fera (seu pai). Contudo, quando tomava conhecimento de algum rapaz rodeando a casa de Thereza eu ficava irado e fazia comentários, até que um dia ela mandou um recado, se eu estava querendo alguma coisa com ela. Era o que precisava, pois chegou a coragem e eu confirmei. Daí por diante meus escritos eram mais diretos: Teca 10.8.56 - A você meu anjo de candura, Que conseguiu abrir meu coração, Para libertar-me de uma masmorra escura E conduzir-me para a amplidão. Teca, que nome mais lindo! Nome que pronuncio a todo instante. Sua imagem nos meus olhos é constante. Dizendo o teu nome, Teca Vivo sorrindo...
            E aí “desembestou”. Um pequeno hiato quando, após servir ao Exército Nacional resolvi ir estudar no Recife e as coisas ficaram um tanto difíceis e a tônica dos meus versos mudou - Solidão 08.9.59 - Solidão, oh! Solidão! Por que andas a perseguir meu coração? Se a noite é fria tu vens a mim, se ela é morna, Só penso em ti. E os meus cabelos já estão prateando. Não posso mais esperar e a chama do meu pensamento só vive a me fazer pensar: Por que não tive a sorte de conseguir esse amor? Vai solidão, não maltrates mais. Deixa-me em paz, por favor.
            Voltei para Natal, e a coisa pegou: Final 05.01.1961: Afinal, terminou nosso amor, mas de um modo banal. Afinal acabou esse nosso idílio irreal. É melhor assim não terei dissabores, é melhor assim, buscarei outros amores. Não me procures mais eu te peço por favor! Não me atormentes mais - Tudo entre nós terminou. Terminou, Prá nunca mais, foi final O nosso amor acabou, mas não fiquemos de mal.
            Que nada – era só uma dor de cotovelo. Seguiu-se o noivado em 06 de janeiro de 1962 e logo no ano seguinte o casamento em Belém do Pará, no dia 16 de março na igrejinha de Santo Antônio, na Praça Batista Campos, por autorização da Paróquia da Trindade.
            E vieram os filhos: ROSA LIGIA, em 20 de janeiro de 1964; THEREZA RAQUEL em 01 de julho de 1967; CARLOS ROBERTO, em 02 de março de 1969; ROCCO JOSÉ, em 29 de abril de 1971, com eles, genros e noras Ernesto, Pedro, Valéria e Daniela e os meus 7 netos - Lucas Antônio, Carlos Victor, Raphael Flôr, Gabriela, Maria Clara, Carlos Neto e Guilherme. Está garantida a continuidade da família.
            Hoje completamos 56 anos de casados e 65 de convivência. Vamos convalidar as bodas do amor eterno nas alianças, inusitadamente em um leito de hospital, com o carinho da família e dos amigos, dos médicos, pessoal de enfermagem, limpeza e da cozinha, rogando a Deus que se compadeça dessa criatura adorável e insubstituível que é THEREZINHA ROSSO GOMES, Minha Mulher e lhe restitua a saúde.
“Na juventude, o viço, o ardor; Na maturidade, a maternidade, a dor; Na velhice, a doçura eterna do amor. À minha mulher, a doação de mim”.

segunda-feira, 11 de março de 2019



AS FLORES DO JARDIM DA NOSSA CASA
Por Carlos Roberto de Miranda Gomes

                Mais um dia se passou sem a presença de THEREZA em nossa casa, motivando-me a usar da pena, mais uma vez, na mesinha do quarto de hospital, para registrar os momentos mais interessantes da reclusão ditada pela necessidade médica.
            Hoje escrevo sobre as flores do jardim da nossa casa, também saudosas da sua cuidadora, mas prestando-lhe significativa homenagem florando duas novas espécies esplendorosas, como registrado nesta foto, e com um visual diferenciado das demais ali existentes, como se fosse vestidas de roupa especial para marcar a ausência da dona da casa.
            THEREZA tem um cuidado singular com o jardim, passeando entre seus habitantes, distribuindo carinhos, dialogando com todos, embora com um pendor maior para as orquídeas.
            No mesmo espaço residem nossos gatos e recebe costumeiras visitas dos pássaros que sugam o néctar das flores e da pitangueira, sempre prenha de frutos.
            A harmonia do ambiente é total e a paz frequenta diariamente nosso quintal ou quinta, consonante com a mansidão do sono dos felinos. Enfim, “minha casa é uma beleza que dá gosto a gente ver, tem varanda, tem jardim ... minha casa que tem tudo. Tanta coisa de valor”. Minha casa não tem nada quando estou só sem meu amor.
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(aproveitei alguns versos de Joubert de Carvalho: Minha Casa).

domingo, 10 de março de 2019



MESINHA DE QUARTO DE HOSPITAL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor

                Todos nós, seja como paciente ou acompanhante, temos em algum momento um encontro com um quarto de hospital.
            Em todos eles, de uma maneira muito simples ou sofisticada, encontramos, invariavelmente, uma “mesinha” onde guardamos alguns pequenos petrechos, exames, receitas, remédios, água, livros e livretos, terços, imagens, orações, esperanças e desencantos.
            No recôndito de suas entranhas, varamos horas e horas para meditar, escrever e encontrar caminhos.
            A minha família está vivendo este momento, com o internamento, já prolongado, da nossa matriarca THEREZINHA, companheira de 56 anos de casamento, mulher de fibra, conciliadora, caridosa e amiga. Por isso mesmo as mensagens que temos recebido e as correntes de orações que estão sendo feitas transcendem até mesmo o território nacional – nada de ficarmos admirados, dado que o merecimento dela é inconteste.
            No caso específico, mercê da dedicação dos seus médicos – Doutores Gilmar, Marcos Vinicius e Carlos Dutra, dos enfermeiros e enfermeiras, do pessoal de apoio, limpeza, cozinha e visitadores, recebemos um alento e proclamamos o mais pungente reconhecimento de todos nós e, particularmente da paciente.
            Mesmo assim, para tudo há um tempo certo, nas palavras sagradas do Eclesiastes e estamos no tempo da espera, da expectativa para uma gloriosa alta breve.
            Aos amigos que enviam mensagens ou comparecem para visitação, os que fervorosamente ofertam suas orações e magnetismo espiritual para o apressamento da recuperação do Thereza, recebam toda a nossa gratidão.
            O ensejo oferece momentos de riquíssimos instantes de reflexão e fé, proporcionando impetuosa inspiração para rever a trajetória da vida e constatarmos que nada é mais importante do que a solidariedade. É então que reconhecemos que essa força deveria ter sido assimilada independentemente de qualquer acontecimento. Mas isso faz parte da hipocrisia do ser humano.
            A importância da mesinha de quarto de hospital é tamanha, que num tempo passado inspirou o médico Archibald J. Cronim a usá-la para fazer anotações diárias do tempo em que internado para recompor forças de um esgotamento de trabalho, aproveitou os papéis disponíveis para os registros hospitalares e, ao ter alta os deixou sobre aquele pequeno móvel, fisicamente falando, mas de extraordinária valia para o lado psicológico do paciente. Alguém os recolheu e entregou-os à Diretoria, que fez chegar ao seu autor, com o comentário de que aquele “diário” tinha grande valor, disso surgindo um novo escritor e um novo livro: “Pelos caminhos da minha vida”, base para inúmeros outros trabalhos que se seguiram e consagraram CRONIN.
            Nesta singela crônica de domingo, deixo a certeza que amadureci um pouco mais e aproveitarei a experiência para trabalhos reflexivos futuros e mudanças comportamentais adequadas a uma vida mais saudável e compartilhadas com toda a família.
            Obrigado DEUS pela proteção!