LABIRINTOS
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
A verdadeira razão deste artigo está numa circunstância pessoal: a da convivência com o ser humano. Nessa arte, passei por múltiplas experiências entre as atividades política e funcional. Creio não errar ao presumir que conheço bem a natureza dissimuladora de muitos com os quais me relacionei. Fixei tudo em moldes e formatos de realidade nos compartimentos da memória. Desde o tempo em que exerci a política (e que gama imensa de caracteres eu achei!). Ninguém se dá conta que é cadáver adiado que procria, fala, finge, falha, sem saber que tudo que sonha passa. Alguns têm emoções vivas, mas sem auxilio crítico da inteligência ou da cultura.
Na vida política os personagens parecem ser de ficção. Partem da premissa da honra ser uma palavra e na palavra conter vento. São divorciados da constituição intima das coisas porque não falam através dos sentimentos e sim por metáforas. Exemplo: não enxergam nunca o mar mas a praia do seu veraneio, o bem, o patrimônio, o negócio, o lucro, a fartura, a espada de Dâmocles de trinta polegadas. Confidencio impressões que vivi de bons políticos do passado que recusavam aliciamentos de governos à hora do crepúsculo. Os de hoje se rendem sol à pino. Portanto, vi que tudo foi tecido de incoerências e mutações até chegar a podridão institucional de hoje, prenhe do horror e do mistério da impunidade. Por que está tudo assim, parecido com um pacto constitucional de permissividade e de não punição. O presidente da república tem a chave do cadeado que abre e liberta todos os malfeitores da sua empatia.
Aqui, e agora, contemplo um baile de máscaras, onde sorrisos punhais escondem. Fingir, eis a outra questão. Colho tudo onde vivo com o olhar e a razão. Freud, fundador da psicanálise desaprovaria vários dos seus alunos hoje, mas explicaria certos comportamentos. Hoje somos todos transeuntes de tudo. Os egoístas e vaidosos precisam se lembrar que são passageiros do abstrato. Pertencem a alguma coisa, desejam sempre algo mais, mas não visualizam no espelho o rosto caído por falta de humildade. Nem sabem, ao certo, se são felizes ou não. E nesse declive transformam-se em estátuas de si mesmo.
Desculpe o leitor, se divago com aquilo, ou com aqueles que nos oprimem. Mas, quantos que me lêem agora, não gostariam de falar assim? A paranóia, o delírio das grandezas habitam e germinam com mais adubo nos porões do poder. São figuras embalsamadas tipo Fernando Collor, Jader Barbalho, Arthur Lyra, Renan Calheiros, almas mortas, dentro de corpos inutilmente vivos, todos de natureza parasitária, ungidos pela plutocracia dominante no país. E nesse jogo de simulação, de servidão, impunidade, nenhuma reação ou atitude social de repulsa se ouve no Brasil. Parece um fenômeno mental onde o povo deixou de ser dono do seu país, da sua história, para entregar os seus valores a um bando de anarquistas. Não seria simulação, todos se abraçarem, inimigos que foram em passado recente, vítimas da chacota vermicida dos próprios partidos políticos. Provarão que toda celebridade quando não é célere e celerada. Uma contradição. Este é o mundo que nós habitamos. Labirintos. Apenas, labirintos.
Se há mais bandidos e malfeitores do que policiais militares e civis que não podem ser onipresentes e oniscientes para tudo coibir, qual a saída imediata, se não for a de modificar a permissiva legislação penal? É visível o gigantismo e o triunfo do poder nas mãos dos maus, como já pregava Rui Barbosa. Viver está se tornando extremamente perigoso. A convulsão armada foi deflagrada. O cacetete prende e o papel solta. A Justiça que existe para regular e defender a convivência, o equilíbrio, o bem comum, a dignidade humana e os seus direitos de nada têm servido ao cidadão porque não há paz nem segurança nas ruas e nas cidades. A continuar o mercado competitivo desses poderes, lugar nenhum presta para se morar. Nem no município de Triunfo Potiguar.
(*) Escritor