Era uma vez, num tempo de pardais no verde dos quintas, quando aqueles
dois jovens se conheceram – José e Maria[1].
Ela, recém saída da adolescência no esplendor dos seus 14 anos e ele, um
jovem bacharel em Direito de 23 anos, formado na Universidade do Rio de Janeiro
em 1925, que retornava ao solo potiguar em busca do seu primeiro amor, pois se
conheceram ainda muito novos.
No cenário bucólico do Seridó, o novo bacharel assume o cargo de Adjunto
de Promotor de Justiça, em Caicó e, de pronto, reinicia um namoro interrompido
e contrai núpcias com sua amada em 04 de setembro de 1926, quando esta tinha
apenas 15 anos, com a presença do Patriarca da família “Gomes”, o Coronel João
Gomes da Costa, proprietário da Fazenda Pitombeira (Taipu-RN) e líder político
na região[2].
Dessa união, que assistiu íntegro o passar de meio século, nasceram nove
filhos – o primogênito foi Moacyr[3],
parido de uma gravidez de alto risco, agravada pela pouca idade da mãe – apenas
15 anos, o que levou “Mãe Quininha”[4] a
comentar com o amigo comum Dinarte Mariz [5],
sobre o perigo que corria Lígia de Zé Gomes, cujo nascitura estava em posição
inverna à natural e que não teria habilidade para resolver o problema. O amigo, político influente na região, mandou motorista em seu automóvel
até Currais Novos para trazer o renomado médico Mariano Coelho [6].
Pelos dotes competentes do médico e pelas mãos santas da parteira Mãe
Quininha, nasce de parto laborioso Moacyr Gomes da Costa.
O menino Moacyr teve uma infância normal, mas sem fartura, cercado do
carinho e do desvelo dos muitos familiares do lado dos Miranda e dos Gomes da
Costa.
Por circunstâncias profissionais, seus pais vieram para Natal e aqui se
desenhou a sua mocidade, entre as dunas das cercanias de Natal e o rio Potengi,
enriquecida pelos amigos e pelos devaneios e sonhos bem sonhados, de criar asas
e buscar o seu lugar ao sol.
No ano de 1934, com sete anos de idade, morou na Avenida Deodoro, em uma
das casas de propriedade dos “Palatinic”, no quarteirão entre a Ulisses Caldas
e a João Pessoa. A avenida tinha apenas pequeno trecho calçado e no centro
passavam os trilhos do bonde elétrico que chegava até o alto da ladeira do sol.
Natal deveria ter em torno de 30 mil habitantes. Em 1935 foi para a Av. Duque de Caxias, bairro da Ribeira e centro comercial da cidade.
Já datava desse tempo o pendor pelo esporte, pois papai o levava aos
jogos no “Stadium” Juvenal Lamartine inaugurado em 1928, a maior novidade em
matéria de lazer da cidade. Esse proceder ele repetiu com todos os filhos
homens, sempre incentivando a torcer pelo América Futebol Clube, o que somente
não logrou êxito com o caçula, José Gomes Filho, que se tornou inexplicavelmente
“abecedista”. Mas a democracia sempre prevaleceu em nossa família, onde já residira o nosso avô Xavier
Miranda (em frente à atual Associação
Comercial, vizinha ao Grande Hotel), que se tornou tempo depois
comerciante naquele bairro, com a sorveteria Eldorado, em parceria
com Jessé Pinto Freire, seu genro, compadre do Interventor Rafael Fernandes, era o
Chefe da Mesa de Rendas do Estado, sendo protagonista de um gesto histórico: abrigou o Interventor em sua casa, quando
eclodiu a “insurreição comunista” de novembro de 1935. Moacyr presenciou o
episódio, pois estava na casa de “Paié”, quando começou um tiroteio.
No dia seguinte, pela manhã, veio um
grupo de insurretos em nossa casa, levando papai para abrir as portas da firma
em que trabalhava, de lá retirando pertences. Soubemos que papai não foi
sacrificado pela interferência de João Galvão[7], que era primo do nosso avô Xavier
Miranda.
Da Ribeira a família foi residir em uma casinha acanhada no baldo, última casa
da 13 de Maio, nº 890 (hoje Princesa Izabel), por curto período, pois a casa
não cabia todos os seus integrantes.
De lá houve a mudança para a Av. Rio Branco, 710, onde nasceu o autor
destas memórias, quase vizinho ao prédio onde hoje funciona o Banco Santander, pertinho do Cinema Rex.
Nessa época havia como hábito de lazer alugar bicicletas conhecidas como contrapedal, importadas da Europa, última novidade tecnológica no assunto, causando a admiração das prendadas senhorinhas que se postavam ao longo dos muros altos em relação ao
calçadão da Av. Rio Branco, desde a esquina em frente à Escola de Artífices,
até o fim da ladeira do baldo, passando pela casa de seu Jorge Câmara, dos
Motas até Abel Viana, formando uma seleta platéia para ver a moçada pegar morcego na
traseira do bonde na porta do Cinema Rex, e quando o bonde chegava a 9 pontos,
soltavam-se dos estribos e faziam o acrobático “cavalo-de-pau” para receber os
aplausos da plateia feminina e carão dos mais velhos.
Flertes na “sessão das moças” nas
tardes das quartas-feiras no cinema Rex. Por isso ainda há casais
daquele tempo que já comemoram bodas de diamante. Os heróis residiam na cidade alta, como seu irmão
Fernando, Edgard Mãozinha e a rapaziada da Rua Santo Antonio e Santa Cruz da
Bica e até alguns primos que moravam no bairro aristocrático do Tirol.
Peladas no meio da rua
em frente ao Seminário de São Pedro, na Av. Campos Sales e ali nas proximidades
da Igreja de Santa Terezinha também sem calçamento, e vários outros terrenos
baldios do Tirol e Petrópolis eram os pontos principais dos vários “craques”, que
posteriormente cresceram na vida, tanto no futebol, como em outras atividades,
por exemplo, no futebol profissional, Renato Magalhães, Antonio Viana, que foi
dentista na Bahia e consagrado profissional de futebol, Demóstenes, (Botafogo
do Rio, Seleção Carioca e Milionários de Bogotá, onde jogou com Heleno de
Freitas, tendo como rival o consagrado Di Stefano), Natanael, e, Ivanildo
“Deus”,[8] Armando e Aníbal Cavalcanti (filhos do
Tem. Júlio Gomes), Aldo Viana e o próprio Moacyr que não foram além daquele
time de amadores que chamavam de “Aspirantes”, que enchiam o tempo para segurar
a paciência dos torcedores enquanto aguardavam o jogo principal do velho
Juvenal Lamartine. Aqueles meninos eram de modo geral dirigidos por “técnicos
amadores” como Euclides Lira, Djalma Maranhão e outros apaixonados pelos
esportes, ao que dedicavam o maior esforço possível, fora suas atividades de
sobrevivência. Cabe lembrar os saudosos Santa Cruz de Euclides Lira e Evaldo
Reis e do Atlético de João Machado.
Assim, aquela geração produziu muitos valores diferentes em várias
atividades, desde profissionais liberais, até comerciantes, funcionários
públicos, enfim, todos que deram sua participação importante na vida da
sociedade, chegando a registrar-se com especial destaque, para nosso orgulho, a
ascensão de um dos nossos mais assíduos “peladeiros”do Tirol, à Academia Brasileira de Letras, Murilo Melo Filho, “Murilinho” entre
tantos valores que dignificam nosso pequeno Estado. No futebol profissional,
tivemos um Dequinha, um Jorginho, Alberi e Marinho Chagas, como expoentes
máximos.
Tudo isso representou o paraíso daquela belle époque de
Natal, aliando-se a prática dos banhos e travessias em
pequenos botes de aluguel do Rio Potengi, os pegas dos botes da Redinha com nome dos poetas Segundo
Wanderley e Palmira Wanderley, com o campeoníssimo Ferrinho, o mesmo condutor dos veranistas da Redinha e paralelamente da elegância dos remadores Alvamar Furtado, Humberto Nesi, Marito Lira,
Armandinho de Góis, Jaú, Pedro Mamoeiro e muitos mais, e seus competentes
timoneiros, valia a pena apreciar as braçadas vigorosas e elegantes dos grandes
estilistas do nado livre olímpico de Johnny Weismuller (o Tarzan), o nado
“crawl” de José Guará, Amaury Moura, Jahyr
Navarro, Gilvan de Sá Leitão, tendo como ponto principal o Cais Tavares de Lira, lugar preferido para o footing da Dr.
Barata, dando uma esticadinha até o cais para apreciar e aplaudir aqueles
guapos atletas dos esportes fluviais, que juntamente com o futebol, eram as
principais opções de lazer da província além dos bailes do Aero Clube.
Moacyr estudava no Colégio Pedro II, do saudoso Professor
Severino Bezerra, na Ribeira, ao lado do Teatro, depois para o curso ginasial
do Atheneu da Avenida Junqueira Aires, em 1939.
Com carinho e emoção o mano comenta a Copa do Mundo de 1938, na
França, a qual era transmitida precariamente num velho rádio Philips holandês,
cheio de estática e de transmissão quase imperceptível do locutor Gagliano Neto
cujo slogan era “A.E.I.O.URCA” (patrocínio do Cassino da Urca) e românticos da cidade como Raimundo do Cartório, Ney Marinho, Dr. Grácio Barbalho, Luis
Tavares[9] e o próprio Xixico, um dos donos do
Rex.
Em 1939 eclode a 2ª Grande Guerra em 1939, Moá com 12 anos, época em que eu nasci na Av. Rio Branco. Em 1941 tivemos a chegada dos primeiros americanos a Natal
para implantar a Base Aérea de Parnamirim (Parnamirim Field), ou ‘Trampolim da
Vitoria’ iniciando grandes transformações nos costumes da cidade, que começava
a assimilar posturas cosmopolitas, com um aumento populacional partindo dos 55.000 habitantes recenseados, de cerca de mais 10.000 pessoas, período onde recebemos na velha Ribeira de guerra figuras notórias como Tyrone
Power, Joe Brown (Boca Larga), Nelson Eddy e Janet Mc Donald na Rua Dr. Barata.
Paralelamente, começava a tertúlia pela prática de basquete e
vôlei no avião da Praça Pedro Velho, pequeno bar de apoio entre uma quadra de vôlei de
um lado e uma de basquete do outro, com destaque para os talentos de Alberto e
seu irmão Biliu, Professor Serrano, Humberto Nesi, Chico Lamas, Demóstenes,
Irineu e seus irmãos do time da Escola de Artífices, alguns rapazes da
Aeronáutica, servindo na base de Parnamirim, jogadores dos times do Rio, São
Paulo e outros estados do sul e alguns militares americanos, jogadores das
ligas profissionais ou universitárias dos Estados Unidos. Entre os juvenis
aspirantes, jogavam Moacyr e seus contemporâneos, Leyde Morais, Altanir,
Aurino, Armando, Paulo e Sinésio Dias e outros não identificados pelo
retrovisor embaçado, e depois iam lavar o suor nos tanques das tartarugas. O
local dessas quadras era exatamente onde hoje está o Palácio de Esportes Djalma
Maranhão.
Às tardes dos domingos, no coreto central assistia-se o espetáculo da
Banda da Polícia Militar, da Base aérea ou do ATC, cercados por lindas moças
circulando de braços dados fotografados pelas lentes de Jaecy Emerenciano,
depois um vesperal de filmes românticos no cinema Rex, e um sorvete na
Sorveteria Polar. Meia hora de flerte e as meninas sumiam de repente enquanto
os rapazes iam para onde existiam os serviços de alto falantes de Luiz Romão,
para ouvir a BBC de Londres, com Luis Jatobá e fundo musical de Orlando Silva,
depois um lanche no Dia e Noite e outras estrepolias dos jovens de então ...
A partir de 1942 o futebol juvenil em Natal passou a contar com um
grande esportista na pessoa do jovem adolescente Paulo Fernandes Dantas, que
criou um campeonato juvenil que empolgou a rapaziada. Paulinho era filho do
General Fernandes Dantas, então Interventor Federal no Rio Grande do Norte,
torcedor apaixonado do CR Flamengo do Rio de Janeiro, e teve permissão do pai
para fazer uma reforma no imenso quintal da Vila Cincinato na Praça Pedro
Velho, então residência oficial do governador do estado, com fundos para a Rua
Mipibú onde hoje se situa a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, e onde
existia até bem pouco tempo a Escola de Engenharia da UFRN, e assim
transformá-lo num campo de futebol criando um empolgante torneio de futebol
juvenil que tinha dois times em destaque, a saber, CR Flamengo, obviamente
tendo como presidente o próprio Paulinho, com carteirinha de atleta e tudo
tendo como técnico o saudoso Eudes Caldas Moura, e com a seguinte escalação
João Bicão, Zezé Moura e Ignácio Meira Pires, Armando, Ademar Maroca e Waldir, Rolé, Moacyr, (mexicano) Joãozinho, Francisco, Ivanildo
Polegar e Jacques Saraiva. Seu grande adversário era o Olímpico que contava com
Antomar Ferreira de Souza, Tuninho Melo Lima, Heriberto Bezerra, Altanir,
Aurino, Jarbas Bezerra e outros que o velho retrovisor não consegue mostrar. O torneio terminava com festa, até com a participação da Orquestra Tabajara, com Severino
Araujo (nosso Glenn Miller), K-Ximbinho e tudo, e esses fantásticos músicos
tocaram a noite toda em nosso baile de comemoração, no próprio salão nobre da
casa do governador, cheio das meninas mais bonitas da cidade.
Nova mudança, desta vez para a Rua Princesa Izabel, vizinho a Paié e
Vozinha (Aline), defronte do Colégio 7 de Setembro, do Professor Antônio
Fagundes e a casa da conhecida e estimada parteira Dona Adelaide, que trouxe ao
mundo parte dos irmãos.
O Brasil entra na guerra e Natal tornou-se famosa, conhecida como
“Trampolim da Vitória”, na defesa do continente na 2ª Guerra Mundial. A cidade vivia constantemente em estado de alerta, com as noites em
“black-out”, obrigando as pessoas a fazerem abrigos antiaéreos, com o céu
rasgado por holofotes rastreando possíveis inimigos e os nossos aviões fazendo
patrulhamento nas costas, voando pela cidade, deixando a população em
permanente estado de tensão.
Ocorreu então o agravamento da situação, já difícil, em que papai vinha
atravessando, em virtude de insidiosa doença (polinevrite), que o prendeu ao
leito, quase inválido, durante longo tempo, tendo suportado tudo pela ajuda de
Deus, pela solidariedade de seus parentes e amigos e, sobretudo, pela sua
paciência chinesa e enorme força espiritual, com a dedicação de samaritana de Dona Lygia. Os filhos tinham que se virar - Fernando tomava conta de uma cigarreira em frente à Cia. Força e Luz, na
Av. Tavares de Lira, próximo ao Cartório de Antídio Azevedo, e Moacyr, ajudava
como vendedor “pracista” da firma Gomes & Cia. Ltda., instalada num velho
sobrado da Rua Dr. Barata, vizinho à sede do “Carneirinho de Ouro” (prédio que
ainda existe), pois a Ribeira entrou em decadência e ali quase nada mudou.
Nesse ínterim Moacyr arranjou um emprego de escritório na Base Aérea
americana, pois era bom datilógrafo e falava um pouco de inglês, enquanto
papai, já melhorando da doença, foi incentivado pelos amigos a prestar exame
para a Magistratura, ainda no leito, sendo conduzido nos braços, logrando
aprovação e nomeação para Juiz de Direito da Comarca de Santana do Matos,
distribuindo os filhos mais velhos entre os parentes, em razão da fase de
estudos. Isso durou muito tempo, pois papai era Juiz de morar realmente nas
Comarcas e foi sucessivamente sendo promovido para Angicos, Penha
(Canguaretama), Macaíba até chegar a Natal.
Moacyr e Fernando ficaram morando com vovô João Gomes, com o beneplácito
de “Tia Nana” e “Lilia”, nos “quartinhos” que alojaram muitos outros parentes –
Clóvis e João Gomes Neto, Seu Luiz Xavier, Renato Praxedes, Benedito Benfica e
outros muitos parentes vindos das bandas de Taipu e Baixa Verde. Ali era a Embaixada dos oriundos da Pitombeira e adjacências e os rapazes (Zeco, Loló, Ici, Tonho, Ué, Pedro, Paulo e
Luiz Gomes), que não cabiam na casa grande e, mesmo que alguns ainda vivessem
no interior ou estudando fora, ali era o lugar certo de pouso em suas passagens
por Natal. Os quartinhos correspondiam onde hoje é o quintal da minha casa, construída em 1966 com
empréstimos sucessivos na Caixa Rural do Professor Ulisses, com o aval de
papai, cuja rua recebeu o nome do Coronel João Gomes.
Por esse tempo houve a partida dos tios Francisco e Luiz que foram estudar no Rio de Janeiro, o primeiro seguindo a carreira militar, chegando a General e Luis tornando-se respeitável engenheiro-calculista.
Pode-se dizer que o ingresso de papai na Magistratura, deu início a uma
fase mais amena em sua vida e impulsionou a consolidação do grande homem que
havia dentro dele e revelou para a posteridade o extraordinário magistrado e
professor das futuras gerações, deixando aos seus descendentes um legado
inestimável de exemplos positivos, sendo nome de rua, biblioteca e sala no
Tribunal de Justiça.
Nesse período, papai conseguiu comprar uma casinha na Rua Otávio
Lamartine, onde nasceu Zezinho – o último dos filhos, mas teve de vendê-la para
pagar dívidas de um parente, época em que o magistrado era pessimamente
remunerado.
Em 1945 termina a guerra – papai Juiz de Penha
(Canguaretama) e Moacyr desempregado face à desativação da base americana.
Surge a ideia de ir para o Rio de Janeiro estudar, recomendado pelo tio Luis, que recebeu nosso irmão mais velho, deu-lhe
emprego em sua empresa e a orientação necessária para o aprendizado
profissional e da vida – foi na verdade o alicerce em que edificou os objetivos
maiores daquele jovem sonhador, sem onerar o já combalido orçamento da família.
Por desenhar muito bem, já despontava como promessa de um futuro arquiteto, com a
ajuda desse tio vencedor no Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro comeu o pão que o diabo amassou, mas venceu e tornou-se arquiteto, aliás, naquele tempo Engenheiro-Arquiteto. Brilhou na Cidade Maravilhosa, ganhou concursos de projetos até que foi convidado pelo Governador Dinarte Mariz para projetar algumas obras do seu governo.
O retorno a Natal renovou o seu amor pela cidade e logo depois mudou-se com armas e bagagens e daqui nunca mais saiu.
Tornou-se um arquiteto conhecido, criou sociedades com outros colegas e ganhou prestígio.
No vai e vem da vida, foi convidado para projetar um estádio, o "Castelão", depois "Machadão", depois o Complexo Desportivo Humberto Nesi e muitas outras festejadas obras, até o Pórtico de Natal, com a cauda de um cometa, uma estrela, tendo logo abaixo os três Reis Magos talhados por Manxa.
Diga-se, por oportuno, que projetar estádios já pertencia à sua essência, pois foi um deles o seu trabalho de final de curso. Jamais saiu do Brasil, não sendo verdadeira a versão de haver viajado à Alemanha para copiar um certo estádio, como irresponsavelmente insinuou um conhecido jornalista esportivo, agora aposentado.
O estádio, pela sua concepção arrojada, foi elogiado por João Saldanha e ganhou do Governador Cortez Pereira a frase de que era um verdadeiro "Poema de Concreto", que passou a ser o seu filho do coração.
Porém a avareza de uns, a irresponsabilidade de outros e a omissão de muitos permitiram a criminosa demolição do fabuloso estádio, erguendo no mesmo lugar a "Arena das Dunas", povoada de irregularidades, agora postas às mostras, desolando ainda mais a memória daquele centro de futebol que fez história.
Essa e outras histórias eu contei no livro "O menino do poema de concreto".
Hoje o velho Moá chega aos 90 anos, inteiro, ainda em atividade, cheio de memórias, bom de papo, bom de copo e curtindo a família que construiu com Iris e os incontáveis amigos de fé, camaradas. Agora é tempo de alegria, de comemorações e boas lembranças. Os fatos que o fizeram sofrer ficaram no passado - cinzas, tudo acabado e nada mais.
Se a sociedade não se lembrar de você, esteja certo que a sua família dirá presente e lhe abraça com todo o carinho deste mundo.
PARABÉNS VELHO GUERREIRO, PARABÉNS MENINO DO POEMA DE CONCRETO, vamos no caminho dos 100, como o saudoso General Costa!
[1] José Gomes da Costa, filho do Cel. João Gomes da Costa e Bernardina
Rodrigues da Costa e Maria Ligia de Miranda Gomes, filha de Jerônimo Xavier
Miranda (da tradicional família “Miranda Henriques” e Aline Miranda de Albuquerque
Maranhão (igualmente descendente da nobre família “Albuquerque Maranhão).
[2] (filho único de
Cassiano Gomes da Costa e Maria Rosa de Freitas Gomes da Costa, tendo por avós
Manuel Gomes da Costa, de nacionalidade portuguesa/Clara Maria de Paiva
(Candinha) e o Velho Freitas (Francisco de Freitas da Costa e avó Ana Rosa da
Apresentação Costa. O Coronel foi casado duas vezes e com duas irmãs –
Bernardina Rodrigues da Costa e, com a morte desta, com Anna Rodrigues da Costa
(filhas de Alexandre Rodrigues Santiago e Maria Joaquina Rodrigues de Paiva e
netas de Jerônimo Ferreira Santiago/Felipa Rodrigues Santiago e Francisco de
Paula Paiva/Bernardina Lopes de Vasconcelos).
[3] Moacyr Gomes da Costa, nascido em Caicó-RN, no dia 07 de junho de 1927.
[4] “Mãe Quininha”, como era conhecida a parteira Joaquina Dantas Gurgel,
esposa de Pedro
Gurgel do Amaral e Oliveira e mãe do Monsenhor Walfredo Gurgel.
[5] Dinarte de Medeiros Mariz, líder político do Seridó, que foi Governador
do RN e Senador da República.
[6] Dr. Mariano Coelho, médico estabelecido em Currais Novos, onde foi,
também, político conceituado.
[7] João Batista Galvão era natural de Mossoró. Com 25 anos de idade
tornou-se secretário do Atheneu Norte-rio-grandense. Sua participação no
movimento comunista de novembro de 1935 decorreu de ser prestigiado por parcela
da população insatisfeita e estudantes, que o aclamavam nas ruas. No período em
que vigorou o curto Governo Popular Revolucionário exerceu o cargo de “Ministro
da Viação e Obras Públicas”. Foi cognominado de “Primeiro Ministro” da
insurreição que implantou o primeiro governo marxista-leninista no continente
americano, por aclamação dos insurretos, carregado nos braços para o Palácio do
Governo, na praça Sete de setembro e para a Vila Ciccinato, na Praça Pedro
Velho, onde funcionou a sede do chamado Governo Popular Revolucionário.
Casado com Maria
Amélia da Nóbrega Santa Rosa (prima da esposa de Juvenal Lamartine – um dos
“coronéis” do Estado – dona Silvina Lamartine), e desde os 18 anos já era
membro do Partido Comunista do Brasil, com efetiva participação das lutas
estudantis de Natal e do Recife, para onde viajava constantemente para
participar das reuniões da Aliança Nacional Libertadora (1935), codinome do
Partido Comunista do Brasil. Era um homem de coragem e contam que ele e José
Macedo, "Ministro das Finanças" da revolução, foram os que mais
apanharam dos policiais. Ficou preso 18 meses na Casa de Detenção (hoje Centro
de Turismo de Natal), tendo perdido um rim em virtude dos espancamentos
sofridos. Mais tarde, João Galvão tornou-se provisionado da OAB/RN e depois de
formado monta uma banca de advogado, que funcionou, algum tempo, ibde hoje é o
‘Memorial Vicente Lemos’, nos fundos do Tribunal de Justiça do Estado.
[8] Ivanildo Correia de Paiva, filho do Professor Saturnino, jovem bastante
popular por seu espirito inteligente e brincalhão, bem humorado que de qualquer
fato trivial transformava numa piada engraçada, que logo se incorporava ao
anedotário popular. Foi apelidado de Ivanildo Deus porque de certa feita
ocorreram dois acidentes quase no mesmo instante, um na Ribeira e outro no
Alecrim, e as manchetes dos jornais estamparam os dois fatos com a foto do moço
em primeiro plano. Obvio, só Deus podia estar presente ao mesmo tempo em dois
lugares extremos da cidade.
[9] Luis Tavares, comerciante, figura popular em Natal pelos seus
dotes físicos, mãos de king-kong, muita força, costumava fazer aposta de
amassar com um bofete o paralama de um ford de bigode, e, durante a guerra,
costumava demolir os valentões americanos que criavam confusão nos cabarés.
Contam que certa vez no Wonder Bar suspendeu um marinheiro americano, quando a
policia chegou e mandou que o largasse, ao que prontamente obedeceu, só que jogou o cristão pela janela do 2º andar. Felizmente o
rio estava de maré alta, e o homem escapou sem maiores consequências. Era um
grande boêmio, dono de uma bela voz romântica, excelente seresteiro, leal
amigo, ficou no anedotário potiguar por suas “presepadas”.
10] Tudo faz crer que é da década de 1930, até pela vestimenta das pessoas que aparecem em uma foto, principalmente pelos chapéus dos homens.
Naquele tempo, não existia CAERN, o serviço de àgua e esgoto de Natal era uma concessão ao Escritório Saturnino de Brito, cujo desempenho deixou na época a cidade quase 100% saneada, e valiosas obras arquitetônicas e urbanísticas, que, infelizmente, a cultura vandálica predominante nesta "terra do já teve" deixou desaparecer. Lá compareciam os endinheirados militares americanos com as meninas igualmente "alegres" da Ribeira.O local era mesmo no inicio da ladeira do Sol, esquina da Rua Dionísio Filgueira com a avenida Getúlio Vargas, onde terminava a linha de bonde elétrico, em frente à casa do Coronel Guerreiro, a qual, por sinal, foi, na ocasião, ocupada pelo USO. BEACH CLUB, clube social instituído pelo governo americano em todas as suas bases militares, para divertir suas tropas e fazer sua integração com a população local.