terça-feira, 6 de agosto de 2024
“A história se repete”: novos bispados
Padre João Medeiros Filho
Há muito de verdade no supracitado axioma popular. Dom Marcolino Esmeraldo de
Sousa Dantas, baiano de Inhambupe, quando bispo de Natal, desvelou-se para dotar o RN de
mais duas circunscrições eclesiásticas. Foram quase dez anos de árduo trabalho, entre 1929-
1939, coroado de pleno êxito. Sentiu a alegria de ver as origens das dioceses de Mossoró e
Caicó, das quais foi administrador apostólico até a posse de seus primeiros bispos. Pelas bulas
papais “Pro eclesiarum omnium” (datada de 28/07/1934) e “E dioecesibus” (promulgada em
25/11/1939), Pio XI e Pio XII erigiram os bispados, respectivamente, de Mossoró e Caicó.
Dom Marcolino foi além. Durante mais de oito anos, empenhou-se juntamente com Dom
Moysés Sizenando Coelho, arcebispo de João Pessoa, em prol da elevação de Campina
Grande à categoria de sé episcopal. Teve mais um sonho realizado. Em 14 de maio de 1949,
pelo documento pontifício “Supremum Universi”, Pio XII constituiu diocese aquela cidade
paraibana, desmembrando-a dos bispados de João Pessoa e Cajazeiras.
Dom Marcolino foi um prelado diligente e de grande atuação pastoral. A elevação
daquela cidade paraibana à condição de bispado possibilitaria Natal em se tornar sé
metropolitana, separando o RN da Província Eclesiástica da Paraíba. Isto ocorreu, em 16
de fevereiro de 1952, pela bula “Arduum onus”, de Pio XII, menos de três anos após
Campina Grande ser constituída sé diocesana. Há de se reconhecer que para as condições
da época, o bispo de Natal foi célere em suas decisões e gestões, em favor do Povo de Deus.
Decorridas mais de oito décadas, Dom João dos Santos Cardoso (também baiano,
de Dário Meira), arcebispo de Natal, em seu dinamismo, zelo pastoral e ampla visão
eclesial, dá prosseguimento à tarefa de tornar a Igreja mais próxima dos fiéis. Em apenas
sete meses de pontificado em solo potiguar, propôs a criação de duas dioceses no RN: uma
na Região Trairi (sediada em Santa Cruz); a outra no Vale do Assú (com sede nessa cidade),
incluindo a Região Salineira pertencente ao arcebispado natalense. A iniciativa conta com
o total apoio do metropolita, as bênçãos do bispo mossoroense, Dom Francisco de Sales
Alencar Batista e a colaboração do clero e fiéis católicos. Gesto nobre do arcebispo, que,
além de ceder parcela significativa do território de sua jurisdição, sugeriu que a sede fosse
em Assú, freguesia pertencente a outro bispado. A comissão interdiocesana, responsável
pela elaboração do projeto, é presidida pelo eminente canonista Monsenhor José Valquimar
Nogueira do Nascimento. Cumpre o seu cronograma, estando na fase de formação das
subcomissões e escolha de assessores para o desempenho de sua missão.
Em 25 de julho passado, recebi um primoroso estudo do advogado assuense e
militante católico, Dr. Gregório Celso Medeiros de Macêdo Silva, sobre o futuro bispado.
A obra resulta de pesquisas, iniciadas em 2022, sobre a região do Vale do Assú e seu
entorno. Será de grande valia para ajudar a comissão a atingir os objetivos propostos. O
ilustre autor de “Uma nova diocese no Rio Grande do Norte”, não poderia inicialmente
vislumbrar a perspectiva pastoral do metropolita natalense, quando integrou a Região
Salineira no projeto da sede diocesana a ser criada.
Dr. Gregório aborda aspectos e dados geográfico-históricos, patrimoniais,
socioeconômicos, pastorais e antropológico-culturais da futura diocese. A partir de
elementos hauridos das paróquias que integrarão o novo bispado, a equipe responsável pela
elaboração do texto final delineará o perfil da tão desejada sé episcopal. “Ad maiorem Dei
gloriam”, tudo para a maior glória de Deus, afirmava Santo Inácio de Loyola, cujos
discípulos evangelizaram os habitantes da primitiva paróquia do Assú na época colonial.
Os católicos vinculados ao território da sonhada circunscrição eclesial não poderão ficar
indiferentes a este projeto de Igreja, devendo cooperar com recursos humanos, financeiros e
orações. Ele é obra do Reino de Cristo e uma necessidade do Povo de Deus. “Somos servidores
inúteis” (Lc 17, 9), afirmara Cristo. É salutar que os fiéis leiam atentamente o trabalho de Dr.
Gregório, com a participação do Professor Nestor Vieira de Melo Neto. Nosso reconhecimento
aos que abraçaram essa causa. Convém lembrar as palavras do apóstolo Pedro: “Do mesmo
modo, também vós, como pedras vivas, formai um edifício espiritual” (1Pd 2, 5).
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