O PAÍS DOS PESADELOS
Tomislav R.
Femenick
- Historiador
Houve uma época em que ser brasileiro
nos dava orgulho. Aqui e lá fora, o Brasil era um país respeitado, embora que
menos conhecido. Tínhamos heróis nos esportes. Pelé iniciava o seu reinado,
ainda hoje inabalável. Airton Sena, celebrando mais uma vitória na Fórmula 1 e
acenando com a bandeira nacional, era uma visão esperada e comemorada por todos
nós. Maria Ester Bueno imperou nas quadras de tênis por três décadas. Acelino “Popó”
Freitas, era tetracampeão Mundial de Boxe, fazendo parceria com Eder Jofre.
Nas artes, tínhamos nomes como Jorge
Amado – cujos livros foram traduzidos em 49 idiomas e publicados em 80 países –
e Mário de Andrade, Joaquim Inojosa, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto
Freyre e Manuel Bandeira. Na pintura tivemos Anita Malfatti, Portinari, com
mais de mais de cinco mil obras, inclusive o monumental painel Guerra e Paz,
exibido na sede da ONU, em Nova Iorque. José Panceti pintava suas marinhas. Na música tivemos o estouro da Bossa Nova,
capitaneado por Antonio Jobim (brasileiro até no nome), Vinícius de Moraes e
tantos outros. São tantos, que a citação somente dele serve para nomear a todos
os outros músicos. Mas vale a pena mencionar Nelson Gonçalves, as irmãs
Batista, Francisco Alves e as Rainhas do Rádio, Emilinha Borba e Marlene.
Nas ciências, despontava a psiquiatra
Nise da Silveira, com seu inovador método de terapia por meio da arte,
principalmente pintura e música. Lembremos de Mário Schenberg, considerado o
maior físico teórico do país, também atuante nas áreas de termodinâmica,
mecânica quântica, mecânica estatística, relatividade geral, astrofísica e
matemática. Entra também nessa
lista Milton Almeida dos Santos, que renovou a percepção da geografia e foi
professor das universidades de Sorbonne, Columbia, Toronto, Dar es Salaam, UFBA
e da USP. Josué de Castro, com sua Geografia da Fome, e Celso Furtado, com sua
Formação Econômica do Brasil, abriram campo para os estudos econômicos e
sociais do nosso país.
Aqui, em lugar de destaque, o nosso Luís
da Câmara Cascudo. Historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo,
folclorista, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista. Embora tenha
passado toda a sua vida em Natal, dedicando-se ao estudo da cultura brasileira,
seu nome tem ressonância internacional. Ainda vivo, recebeu comenda da Ordem
das Artes e Letras da França, da Real Academia Espanhola, do Instituto
Português de Arqueologia, História e Etnografia; da Sociedade de Geografia de
Lisboa.
Na política despontavam nomes como
Juscelino Kubitschek, Afonso Arinos, Carlos Lacerda, Otávio Mangabeira, San
Tiago Dantas, Gustavo Capanema, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, José Maria
Alkmin, Adauto Cardoso, Almino Affonso, Petrônio Portella, Paulo Brossard,
Jarbas Passarinho, Marcos Freire, Roberto Campos, Nelson Carneiro, Ulysses
Guimarães, Pedro Simon, Fernando Henrique Cardoso, Antânio Carlos Magalhães e
Darcy Ribeiro.
E hoje, o que temos? Pablo Vittar, Anita,
o BBB, um desfile de modelos despudoradas, jogadores celebridades,
desmantelamento das instituições de pesquisas e práticas científicas, Tiririca,
Romário e obscuridade em nosso futuro.
Estava bem errada a previsão do
judeu-austríaco Stefan Zweig, quando escreveu o seu livro “Brasil, país do
Futuro” Nem do passado somos. Talvez sejamos o país dos pesadelos.
Tribuna do Norte.18 jun. 2022
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